FAZEI ISTO EM MINHA MEMÓRIA (Lc 22, 19)
O Magistério solene da Igreja ensina-nos o sentido e o alcance preciso destas palavras: "Se alguém disser que com as palavras: Fazei isto em Minha memória, Cristo não instituiu sacerdotes os Seus Apóstolos, ou que não lhes ordenou que eles e os outros sacerdotes oferecessem o Seu corpo e o Seu sangue, seja anátema" (Concílio de Trento, De SS. Missae sacrifício, can. 2). Edições Theologica comenta: "O Senhor, depois de instituir a Eucaristia, manda aos Apóstolos que perpetuem o que Ele fez, e a Igreja entendeu sempre que com as palavras 'fazei isto em Minha memória' Cristo constituiu os Apóstolos e os seus sucessores em sacerdotes da Nova Aliança, para que renovassem o Sacrifício do Calvário de maneira incruenta na celebração da Santa Missa. Com efeito, o que está no centro de toda a atuação de Jesus é o Sacrifício cruento que ofereceu na Cruz: Sacrifício da Nova Aliança, figurado nos sacrifícios da Antiga Lei, na oferenda de Abel (Gn 4, 4), de Abraão (Gn 15, 10; 22, 13), de Melquisedec (Gn 14, 18-19; Hb 7, 1-28). A Última Ceia é o mesmo Sacrifício do Calvário realizado antecipadamente por meio das palavras da Consagração. Igualmente a Santa Missa renova esse Sacrifício que foi oferecido uma só vez no altar da Cruz: uma só é a vítima e um só sacerdote, Cristo. Diferem unicamente pelo modo de se oferecer", e: "Nós cremos que a Missa que é celebrada pelo sacerdote in persona Christi, em virtude do poder recebido pelo sacramento da Ordem, e que é oferecida por ele em nome de Cristo e dos membros do Seu Corpo Místico, é realmente o Sacrifício do Calvário que se torna sacramentalmente presente nos nossos altares" (Paulo VI, Credo do Povo de Deus, n° 24).
"Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19).
Os Apóstolos têm de fazer "isto", da mesma maneira como Cristo o fez. a) "Fazei isto". Como o pai que recolhe em torno de si a família, consome a refeição, narra como Deus libertou seu povo, prepara o pão e o vinho, pronuncia a oração de agradecimento sobre o pão e o vinho, parte o pão e o distribui, para o cálice sagrado. b) "Em memória de mim". Na última ceia, Cristo celebrou antecipadamente o sacrifício da cruz. É preciso, para o futuro, continuar celebrando-o até a volta do Senhor, como ceia pascal do Novo Testamento, em louvor, agradecimento, alegria e expiação. c) Os Apóstolos fizeram como Jesus lhes dissera. Reuniram-se para partir o pão, por toda a parte onde havia fiéis. Em Corinto celebrava-se a ceia do Senhor (cf. l Cor 11,17ss.). São Paulo narra: "Eu, com efeito, recebi do Senhor, o que também vos ensinei, que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter rendido graças, partiu-o e disse: '. . . fazei isto em memória de mim'. . . 'Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice celebrais a morte do Senhor, até que venha" (l Cor 11, 23-24.26). d) Este culto divino denominou-se "Eucaristia", agradecimento pelas graças da Redenção. Os Apóstolos exercitaram o poder que Cristo lhes concedera e o transmitiram aos sucessores com a imposição das mãos na consagração sacerdotal. As palavras dos Apóstolos possuem o mesmo poder das palavras de Cristo. O pão e o vinho são transformados. E no universo inteiro realiza-se em memória de Cristo o que outrora Ele mesmo fez. e) Os Apóstolos e seus sucessores no sacerdócio celebram um banquete, preparam pão e vinho, pronunciam as palavras consagradoras de Jesus, celebram com reconhecimento a memória de seu sacrifício na cruz, isto é, a sagrada Eucaristia. Sacrifício e banquete são uma só coisa, como no antigo banquete pascal. O Cristo vivo põe-se no centro de sua família, renova o sacrifício da cruz e a ela se dá como alimento sacrifical. O sacrifício e o banquete são sinal do Novo Testamento e da comunidade. Sinal de Deus e, da parte dos homens, sinal de sua fidelidade. f) O banquete sacrifical não se celebrava em todos os sacrifícios. Ao banquete sacrifical tomavam parte somente os que ofereciam a vítima. A ceia pascal era para todos, para todo o povo eleito. Todos tinham sido salvos, por isso, todos deviam rezar a Deus, testemunhar-lhe seu amor; a todos o Senhor concede sua graça. Cristo ofereceu seu sacrifício para todos. Ao banquete eucarístico podem participar todos os remidos - batizados. Todos podem agradecer, isto é, participar da Eucaristia. No antigo banquete comia-se a carne morta da vítima. Na sagrada Eucaristia torna-se presente o mesmo sacrifício de Cristo - e o mesmo Cristo vivo, que um dia foi suspenso na cruz e que agora reina glorioso, é o nosso alimento. No altar se renova o sacrifício da cruz. Cristo glorificado que incessantemente oferece ao Pai no Céu seu corpo imaculado e seu sangue derramado, está presente neste sacrifício, sobre o altar, sob as espécies do pão e do vinho. Cristo é o nosso cordeiro pascal, imolado na cruz; a sua santa carne está agora aqui presente como pão de purificação. "O ministro que, atuando na pessoa de Cristo, tem o poder de celebrar o sacramento da Eucaristia, é somente o sacerdote validamente ordenado" (Código de Direito Canônico, cânon 900, 1). A validade da Eucaristia depende, portanto, da validade da ordenação: consagrar é tarefa própria do sacerdócio ministerial, e só dele. O que acabamos de dizer é verdade de fé, declarada contra os valdenses (Concílio de Latrão de 1215: cf. Dz. 424), que negavam a Hierarquia e concediam a todos os fiéis os mesmos poderes. Por sua vez, o Concílio de Trento condenou a doutrina protestante que não estabelecia diferença essencial entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial próprio dos que receberam o sacramento da Ordem (cf. Dz. 949, 961). Esta verdade foi recentemente recordada pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, em Carta dirigida aos Bispos da Igreja acerca de algumas questões respeitantes ao ministro da Eucaristia (6-VIII-1983). A prova que a Sagrada Escritura oferece é concludente: o encargo que, na intimidade do Cenáculo, Cristo deu aos seus Apóstolos e seus sucessores - "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 24) - destina-se exclusivamente a eles, e não à multidão dos seus discípulos.
"Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19).
Nosso Senhor, ao instituir a Eucaristia, mandou que se repetisse até ao fim dos tempos (cfr Lc 22, 19) instituindo assim o sacerdócio. O Concílio de Trento ensina que Jesus Cristo Senhor nosso, na Última Ceia: "Ofereceu a Deus Pai o Seu corpo e o Seu sangue sob as espécies de pão e vinho, e sob os símbolos dessas mesmas coisas os entregou, para que os tomassem, aos Seus Apóstolos, aos quais então constituía sacerdotes de Novo Testamento, e a eles e aos seus sucessores no sacerdócio mandou-lhes - com as palavras: 'Fazei isto em Minha memória' - que os oferecessem. Assim o entendeu e ensinou sempre a Igreja" (De SS. Missae sacrifício, cap. 1; cfr can 2), e: "Que seja a Eucaristia a principal e central razão de ser do sacramento do Sacerdócio, nascido efetivamente no momento da instituição da Eucaristia e ao mesmo tempo que ela" (João Paulo II, Carta a todos os Bispos, 24-II- 1980, n° 2), e também: "A palavra 'memória' está cheia do sentido de uma palavra hebraica que era usada para designar a essência de uma festa da Páscoa, como recordação ou memorial da saída do Egito. Com o rito pascal os Israelitas não só recordavam um acontecimento passado, mas tinham consciência de o atualizarem ou reviverem, para participarem nele, de alguma maneira, ao longo de todas as gerações (cfr Ex 12, 26-27; Dt 6, 20-25). Quando Nosso Senhor manda aos Apóstolos 'fazei isto em Minha memória', não se trata, pois, de recordar meramente a Sua ceia, mas de renovar o Seu próprio sacrifício pascal do Calvário, que está antecipadamente presente na Última Ceia" (Edições Theologica). O Catecismo da Igreja Católica ensina: "O mandamento de Jesus de repetir seus gestos e suas palavras 'até que ele volte' não pede somente que se recorde de Jesus e do que ele fez. Visa a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus sucessores, do memorial de Cristo, de sua vida, de sua Morte, de sua Ressurreição e de sua intercessão junto ao Pai. Desde o início, a Igreja foi fiel ao mandato do Senhor. Da Igreja de Jerusalém se diz: 'Eles eram perseverantes ao ensinamento dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações. (...) Dia após dia, unânimes, mostravam-se assíduos no templo e partiam pão pelas casas, tomando o alimento com alegria e simplicidade de coração' (At 2,42.46).
Era, sobretudo, 'no primeiro dia
da semana', isto é, no Assim, de celebração em celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus 'até que ele venha' (l Cor 11,26), o povo de Deus em peregrinação 'avança pela porta estreita da cruz' em direção ao banquete celeste, quando todos os eleitos sentarão à mesa do Reino" (n°s 1341-1344). Sobre o ataque dos Protestantes à Santíssima Eucaristia, escreve Lúcio Navarro: "Mas insistem os protestantes: - Jesus disse, referindo-se à sua Ceia e ordenando aos seus discípulos que também a fizessem: Fazei isto em MEMÓRIA de mim (Lucas 22, 19). Ora, celebra-se a MEMÓRIA de uma pessoa que está AUSENTE, não de uma pessoa que está presente. Logo, Cristo não está presente na Hóstia, e a Eucaristia não passa de um memorial. - Que a Eucaristia é um memorial, que é realizada em memória de Cristo, não temos nenhuma dúvida. Que seja EXCLUSIVAMENTE um memorial, é falso; neste ponto estão enganados redondamente os protestantes. O que é que comemoramos na Eucaristia? A Paixão e a morte de Jesus Cristo: Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, ANUNCIAREIS A MORTE DO SENHOR, até que Ele venha (1ª Coríntios 11, 26). É, portanto, o grande acontecimento da morte redentora de Cristo, que rememoramos na Eucaristia. Isto não obsta a que esta recordação seja feita com o próprio Cristo invisivelmente presente em nossos altares. Ao contrário, esta comemoração se faz muito mais naturalmente, de maneira mais viva e com muito menos esforço do que se faz entre os protestantes. Vemos no altar realmente presente o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou melhor, o discernimos pelos olhos da nossa fé. Vemos igualmente no altar, pelos olhos da nossa fé, o seu Preciosíssimo Sangue. E logo nos lembramos do Sacrifício do Calvário, onde este mesmo sangue se separou deste mesmo corpo, porque foi derramado por nós. Ao passo que é preciso muito esforço para que eu, pelo simples fato de comer um pedaço de pão (que é pão e nada mais) e beber um pouco de vinho (que é vinho e nada mais), me lembre da Paixão de Jesus Cristo. Os judeus, imolando o cordeiro na sua festa de Páscoa, faziam uma representação mais viva da Paixão do Redentor do que fazem os protestantes comendo pão e bebendo vinho. E quem foi que disse que só se pode COMEMORAR um fato, estando ausente o seu personagem principal, o autor deste feito? D. Pedro I proclamou a 7 de setembro de 1822 a independência do Brasil, que foi a nossa libertação. Não podiam muitos brasileiros nos anos seguintes fazer grandes festas em comemoração do acontecimento, COM A PRESENÇA DO PRÓPRIO D. PEDRO I, louvando-o, enaltecendo-o e dando-lhe graças pelo que fez outrora? Não se podia fazer isto indefinidamente, porque D. Pedro I havia de morrer ou havia, antes disto, de retirar-se do Brasil. Mas com Jesus é diferente: Ele foi para os Céus, mas tem poder sem limites para se tornar realmente presente nos nossos altares, quantas vezes quiser, na Santa Missa, em que comemoramos a sua Paixão e Morte Redentora".
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 30 de abril de 2008
|
|
|