COME E BEBE A PRÓPRIA CONDENAÇÃO (1 Cor 11, 28- 29)
"28 Por conseguinte, que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, 29 pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação".
Estas palavras são uma afirmação inequívoca da presença real de Jesus Cristo nas espécies eucarísticas. Nestas, Jesus Cristo encontra-Se verdadeira, real e substancialmente presente, todo inteiro - com o Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade - em todas e cada uma das partes das sagradas espécies. O Concílio de Trento ensina: "Esta foi sempre a fé da Igreja de Deus: que imediatamente depois da consagração está o verdadeiro corpo de Nosso Senhor e o Seu verdadeiro sangue juntamente com a Sua alma e divindade sob a aparência do pão e do vinho; certamente o corpo, sob a aparência do pão, e o sangue, sob a aparência do vinho em virtude das palavras. Mas o corpo mesmo sob a aparência do vinho e o sangue sob a aparência do pão e a alma sob ambas, encontram-se presentes em virtude daquela natural conexão e concomitância pelas quais se unem entre si a alma e o corpo de Cristo Senhor que ressuscitado de entre os mortos, nunca mais morre (Rm 6,9). A divindade, enfim, está presente, por causa daquela sua maravilhosa união hipostática com a alma e com o corpo. Pelo que é absolutamente verdade que o mesmo se contém sob uma das duas espécies que sob ambas. Porque Cristo, todo inteiro, está sob a espécie do pão e sob qualquer parte da mesma espécie, e todo igualmente está sob a espécie de vinho e sob as partes dela" (De SS. Eucharistia, cap. 3). Esta presença real do Senhor na Eucaristia é a razão das disposições da alma e do corpo com que deve ser recebido, e das graves consequências que tem o recebê-Lo indignamente (vv. 27,28 e 29). O Concílio de Trento, recordando as palavras de São Paulo nos vv. 27-28, ensina que "ninguém deve aproximar-se da Santíssima Eucaristia com consciência de pecado mortal, por muito arrependido que se considere, sem preceder a confissão sacramental. Este santo Concílio decretou que se deve guardar perpetuamente" (De SS. Eucharistia, cap. 7; cfr Código de Direito Canônico, cân. 916). Além disso, a Igreja recomenda preparar bem cada Comunhão com atos de fé, esperança e caridade, contrição, adoração e humildade, enchendo-se de desejos de receber Jesus Cristo (cfr Catecismo Maior, n.° 639). Também dedicar um tempo de ação de graças depois da Comunhão (cfr Ibid., n.° 640). No que diz respeito ao jejum eucarístico, posto por reverência ao Sacramento, a disciplina atual da Igreja prescreve que "quem vá receber a Santíssima Eucaristia, há de abster-se de tomar qualquer alimento e bebida pelo menos desde uma hora antes da sagrada comunhão, à exceção somente da água e dos medicamentos" (Código de Direito Canônico, cân. 919 § 1).
"Por conseguinte, que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice" (1 Cor 11, 28).
O Papa João Paulo II escreve: "Este convite do Apóstolo indica, pelo menos indiretamente, a união estreita entre a Eucaristia e a Penitência. Com efeito, se a primeira palavra do ensinamento de Cristo, a primeira frase do Evangelho - Boa Nova, era 'fazei penitência e acreditai no Evangelho' (Mc 1, 15), o Sacramento da Paixão, da Cruz e Ressurreição parece reforçar e consolidar de maneira especial este convite nas nossas almas. A Eucaristia e a Penitência tomam assim, de certo modo, uma dimensão dupla, e ao mesmo tempo intimamente relacionada, da autêntica vida segundo o espírito do Evangelho, vida verdadeiramente cristã. O Cristo que convida para o banquete eucarístico, é sempre o mesmo Cristo que exorta à penitência, que repete o 'fazei penitência" (Redemptor hominis, n° 20), e: "Quem quer receber a Cristo na comunhão eucarística deve estar em estado de graça. Se alguém tem consciência de ter pecado mortalmente, não deve comungar a Eucaristia sem ter recebido previamente a absolvição no sacramento da penitência" (Catecismo da Igreja Católica, 1415). Milhões de pessoas dizem que Jesus Sacramentado é um pedaço de pão qualquer. Se fosse um simples pedaço de pão; será que São Paulo Apóstolo teria escrito: "... pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação" (1 Cor 11, 29). Será que uma pessoa que está em pecado mortal, e come um pedaço de pão comprado na padaria, come a própria condenação? Claro que não! Em 1 Coríntios 11, 29 não se trata de um simples pedaço de pão, mas sim, do Santíssimo Corpo de Nosso Senhor. Será que os protestantes leem esse trecho da Palavra de Deus? E os católicos que desprezam o Santíssimo Corpo do Senhor; será que já leram esse trecho? Lúcio Navarro escreve: "E a prova de que a Eucaristia não é apenas uma simples recordação, mas contém o próprio corpo e sangue de Jesus Cristo, está nas palavras de São Paulo, ao indicar as disposições com que o cristão há de recebê-la. Tem que ser com a alma contrita, com a consciência limpa, porque, se assim não fizer, será culpado de crime contra o corpo e o sangue do Salvador, como tendo maltratado este corpo, conculcado, profanado este sangue: "Todo aquele que comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue do senhor. Examine-se, pois, a si mesmo o homem, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque todo aquele que o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não discernindo o corpo do senhor" (1 Cor 11,27-29). Não se podia pintar com cores mais vivas o sacrilégio daquele que, com o pecado mortal na sua alma, ousa aproximar-se da mesa eucarística para receber o próprio Jesus. Mas, se na Eucaristia está somente pão e vinho, que crime haverá para o pecador que não está contrito, em comer pão e beber vinho? Se a Eucaristia é uma recordação da Paixão de Cristo e nada mais, que crime haverá para aquele que se acha em estado de pecado, em lembrar-se daquela morte redentora? Ao contrário, em vez de ser um crime, seria uma lembrança salutar para melhor convertê-lo, excitá-lo à confiança e aproximá-lo de Deus. Nisto não haveria nunca uma ofensa ao próprio corpo e sangue de Jesus. A imagem de Jesus Crucificado, que possuímos nas nossas igrejas, em que se representa o Divino Salvador em sua agonia, todo coberto de chagas e ensanguentado, traz imediatamente àquele que a contempla uma lembrança viva da Paixão do Redentor, excitando a contrição em muitas almas; e, no entanto, segundo a mentalidade dos protestantes, não merece nenhuma veneração da nossa parte. Como é, então, que um simples pedaço de pão e um pouco de vinho, servindo apenas de símbolos da Paixão do Senhor (porque nem imagens poderiam ser), hão de ser considerados tão sagrados, tão sublimes, que quem os recebe com respeito e acatamento, mas com a alma ainda manchada pelo pecado, se torna ipso facto um réu do corpo e do sangue do Salvador? A palavra DISCERNIR, que vem neste trecho de São Paulo, corresponde no texto grego ao verbo DIAKRÍNO, que quer dizer distinguir, separar, discriminar. Aquele que recebe indignamente a Eucaristia não distingue o CORPO DO SENHOR do pão vulgar. O pão vulgar, qualquer pessoa o pode receber em estado de pecado. Não, porém, o CORPO DO SENHOR". Infeliz do católico que recebe indignamente o Corpo de Nosso Senhor: "Afirmei que o corpo do meu Filho é um sol. Um sol indivisível: onde está o corpo, aí se encontra o sangue; onde estão o corpo e o sangue, aí se acha a alma de Cristo; e onde estão o corpo e a alma, aí se encontra a divindade. A natureza divina de Cristo jamais abandonou a natureza humana; nem a morte os separou. Desse modo, é toda a essência divina que recebeis nesse dulcíssimo sacramento, sob as espécies do pão. Como o sol não pode ser desintegrado, da mesma forma não se divide o todo-Homem e todo-Deus na brancura da hóstia. Suponhamos que a partícula seja subdividida; mesmo que se obtenham milhões de pedacinhos, em cada um deles está o todo-homem e todo-Deus. Como acontece num espelho quebrado, no qual a imagem quebrada se mostra inteira, assim o todo-homem e o todo-Deus está todo em cada parte da hóstia. Igualmente ele não diminui, à semelhança da chama no exemplo que segue: se tivesses uma labareda e todos os homens se reunissem para nela acender alguma coisa, ela não diminuiria e todos a teriam por inteira. Certamente um levaria consigo mais que o outro, conforme a matéria inflamável que trouxesse. Para entenderes, cito outro exemplo: suponhamos que tais pessoas tragam diversos tipos de vela: umas de cinco centímetros, outras de dez, outras de trinta e, finalmente, outras de um metro. Todos vão à labareda e acendem suas velas. Cada um terá uma labareda completa, com seu calor, sua claridade, sua luz. No entanto, dirás que o portador da vela de cinco centímetros levou uma labareda menor do que o dono da vela de um metro. O mesmo acontece com as pessoas que recebem o sacramento eucarístico, ao se apresentarem com a 'vela' do desejo santo, pelo qual comungam. Aproximam-se com suas velas apagadas e as acendem neste sacramento. Disse 'apagadas', porque de vós mesmos, nada sois; quanto à matéria que haveis de inflamar nesta luz, sou eu que vo-la dou: é o amor! Criei-vos por amor; sem amor não podeis viver. O ser, recebido assim por amor, é acrescido no santo batismo, com uma nova disposição na força do sangue de Cristo. Sem este novo dom, seríeis como velas sem pavio, incapazes de captar a luz e acender. Realmente assim seríeis, se vossa alma não recebesse a luz da fé, através da graça e da caridade infundidas no batismo. Como disse, criei vossa alma por amor e sem amor não podeis viver. Vosso alimento é o amor. Onde vossa alma se acende? Na chama da minha caridade: amando-me, temendo-me, trilhando a mensagem do meu Filho. Como disse, vossa alma ficará acesa com maior ou menor intensidade, de acordo com as disposições com que se apresentar. De um modo geral, todos vós tendes uma disposição igual, porque todos fostes criados à minha imagem e semelhança, e recebestes o dom da fé no santo batismo. Mas cada um pode crescer, no amor e na virtude, conforme minhas disposições e os próprios esforços. Não se trata de passar de uma disposição à outra, diferente da primeira. Pela atividade livre, cresceis no amor; podeis fazer isso durante toda a vida, progredindo na caridade. Depois da morte, não. É com tal amor que deveis aproximar-vos do sol eucarístico. Entreguei-o aos ministros, para que vo-lo distribuam como alimento; vosso proveito dependerá do desejo com que vos apresentais. Como no exemplo das pessoas que acendiam velas e saíam com chamas maiores ou menores, segundo o tamanho de suas velas, vós também recebereis o sol inteiro; mas supondo-se que não haja algum impedimento de vossa parte e da parte do ministro, participareis da luz e graça do sacramento na medida de vosso desejo santo. Quem se aproximasse em pecado mortal, nenhuma graça receberia, embora acolha em si o todo-Deus e todo-Homem. Sabes a que se assemelha a pessoa que comunga indignamente? Se assemelha a uma vela molhada na água que apenas faz barulho ao ser encostada ao fogo; e, se por acaso acende, logo se apaga, fazendo fumaça. Sim, é isso que acontece com tal pessoa. No dia do batismo, recebeis uma vela; se depois pecais, derramais 'água' em vosso íntimo, umedecendo o 'pavio' de vossa graça batismal; então, sem procurar 'secá-lo' por meio da penitência, ides à mesa da comunhão receber a luz do sacramento eucarístico: recebê-la-eis materialmente, não segundo o espírito. Quando o homem não possui as devidas disposições, a luz nele não permanece. Ela se afasta e a pessoa confunde-se, apaga-se, cai na escuridão, em duplo pecado. Da comunhão conservará apenas o remorso. Não por culpa da luz, que em si mesma não padece imperfeição; é a 'água' do pecado, presente no coração, que prejudicou o amor na recepção da luz. A luz sacramental, cheia de calor e claridade, nunca se empobrece; nem pela falta de amor do comungante, nem pelos seus pecados, nem pelos pecados do ministro. Como afirmei, a luz do sacramento assemelha-se ao sol, o qual ilumina objetos imundos e não se contamina, jamais perde seu fulgor, jamais se extingue. Mesmo que o mundo inteiro se alimente na luz e no calor deste sol. Ao ser distribuído pela hierarquia da Santa Igreja, meu Filho não se afasta de mim, Pai e sol eterno. Ele continua sempre o todo-Deus e o todo-Homem perfeito, à semelhança daquela labareda de que falei no exemplo. Mesmo que a humanidade inteira venha acender-se na sua luz, todos os homens receberão sua luz inteira, e ela intacta permanecerá. Ó filha querida, fixa teu pensamento no abismo do meu amor. Todo homem deveria sentir o coração inflamado de caridade ao considerar, entre os outros favores meus, o benefício deste sacramento! Com que olhos, filha querida, tu e os demais deveríeis ver e tocar este mistério! Quero dizer: 'ver' e 'tocar' não apenas materialmente. Aqui, pouco valem os sentidos externos. O olho vê unicamente um pãozinho branco; a mão, ao tocar, nada percebe de mais profundo; o paladar sente só o gosto do pão. Enganam-se os pobres sentidos! Não se enganem, porém, os sentimentos do coração. Que o homem não queira enganar-se; que ele não recuse a luz da fé através do pecado da infidelidade. É pelo sentimento interior que o homem saboreia este sacramento; ele somente é visto pela inteligência iluminada com a fé. Somente esta enxerga na hóstia branca o todo-Deus e o todo-Homem, a natureza divina unida à humana, o corpo, alma, sangue de Cristo; sua alma unida ao corpo, o corpo e a alma unidos à divindade!" (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, 28. 1. 1). O que dizer dos católicos que recebem Jesus Sacramentado por "tradição"? Comungam porque a bisavó, a avó e a mãe comungam... isto é, comungam por costume. O que dizer daquelas senhoras e moças que se aproximam da Comunhão seminuas? O que dizer daqueles que cochilam ou conversam durante a Santa Missa e depois se levantam para comungar? Católico, tome cuidado: "Se Jesus-Eucaristia cai por terra nas santas parcelas tantas vezes sem que ninguém disto se aperceba, quantas vezes não cai de dor ao ver o pecado mortal macular uma alma. E quão mais doloroso é ainda para Jesus cair num coração infantil que o recebe indignamente quando a Ele se chega pela primeira vez. É cair num coração de gelo que o fogo do seu Amor não consegue fundir, num espírito orgulhoso e dissimulado que seu Poder não consegue tocar, num corpo humano que não passa dum túmulo cheio de podridão. Ah! Jesus chega-se à alma nesse primeiro encontro com tanto Amor e é tão mal recebido! Uma alma de criança e já tão pecaminosa! Ser tão moço, e já ser um Judas! Ah! Quão sensível é ao Coração de Jesus o crime duma Primeira Comunhão sacrílega! Todos os dias - e quantas vezes por dia! - o Deus da Eucaristia cai pela Comunhão em corações covardes e tíbios, que o recebem sem preparo, guardam-no sem piedade, deixam-no ir sem um ato sequer de amor ou gratidão. Se, portanto, Jesus, ao visitar-nos, permanece de mãos atadas, é devido à nossa tibieza. Quem ousaria receber uma alta patente da terra com o pouco caso com que recebemos diariamente o Rei do Céu?" (São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 3).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 02 de maio de 2008
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