É PRECISO EDUCAR (Pr 22, 6)
"Ensina a criança no caminho que deve andar".
Kant escreve: "Quando um ser perfeito tiver educado outro, então se saberá quais são os limites da educação".
I. A HIERARQUIA DOS EDUCADORES
Diz Guizot: "Os primeiros direitos, os direitos anteriores a todo o direito, são os direitos das famílias; estes são os direitos primitivos e invioláveis".
A quem incumbe o grande dever da educação? Mgr. Dupanloup responde: "A criança tem direito à solicitude de todas as autoridades, à ação e aos benefícios de todos os poderes da terra... O príncipe, o padre, o pai, o professor, o magistrado, a família, a sociedade e a Igreja instituíram-se para ela. A disciplina moral, o ensinamento das letras, das ciências, da religião, todos os prêmios do trabalho e da virtude, a Providência, enfim, tudo no mundo é para ela, porque ela mesma, aqui no mundo, é de Deus e para Deus. Eis porque tudo, neste mundo, deve trabalhar na sua educação, tudo deve concorrer para a educar, tudo deve fazer ou favorecer esta grande obra" (Da Educação, t. 1, p. 3).
Quais são ordinariamente os obreiros da educação cristã? Para fazer um homem, diz o R. P. Didon: "É preciso Deus, o pai, a mãe, o padre e o professor. Deus cria a alma. O padre orienta as almas para Deus. O pai tem, por seu lado, as relações exteriores; ordena e protege. O professor desenvolve a inteligência. Mas, depois de Deus, a obreira mais importante na educação cristã é a mãe; é dela que depende o futuro do seu filho; é ela que pode fazer dele um Abel ou um Caim" (Palhetas d'Ouro, 11.ª série, p. 111).
A. OS PAIS
Escreve São Jerônimo: "Salvação dos filhos, proveito dos pais", e: "É o filho que salva a mãe" (Mgr. Rozier, A arte de ser mãe).
Adolfo Tanquerey escreve: "Se Deus lhes dá filhos, recebem-nos da sua mão como um depósito sagrado, amam-nos não somente como parte de si mesmos, mas como filhos de Deus, membros de Jesus Cristo, futuros cidadãos do céu; cercam-nos duma dedicação, duma solicitude de cada instante; dão-lhes educação cristã. Esmerando-se em formar neles as próprias virtudes de Cristo Nosso Senhor; neste intuito, exercem a autoridade que Deus lhes deu, com prudência, delicadeza, força e doçura. Não esquecem que, sendo representantes de Deus, devem evitar aquela fraqueza que tende a amimar os filhos, aquele egoísmo que desejaria gozar deles sem os formar no trabalho e na virtude. Com o auxílio de Deus e dos educadores, que escolhem com o maior cuidado, fazem deles homens e cristãos, e exercem assim uma espécie de sacerdócio, no seio da família; assim poderão contar com a bênção de Cristo e com a gratidão dos filhos", e: "O dever de educar mergulha as raízes na vocação primordial dos cônjuges à participação na obra criadora de Deus: gerando no amor e por amor uma nova pessoa, que traz em si a vocação ao crescimento e ao desenvolvimento, os pais assumem por isso mesmo o dever de ajudar eficazmente a viver uma vida plenamente humana... Os pais, que transmitiram a vida aos filhos, têm uma gravíssima obrigação de educar a prole e, por isso, devem ser reconhecidos como seus primeiros e principais educadores. Esta função educativa é de tanto peso que, onde não existir, dificilmente poderá ser suprida. Com efeito, é dever dos pais criar um ambiente de tal modo animado pelo amor e pela piedade para com Deus e para com os homens que favoreça a completa educação pessoal e social dos filhos. A família é, portanto, a primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade. O direito-dever educativo dos pais qualifica-se como essencial, ligado como está à transmissão da vida humana; como original e primário, em relação ao dever de educar dos outros, pela unidade da relação de amor que subsiste entre pais e filhos; como insubstituível e inalienável e, portanto, não delegável totalmente a outros ou por outros usurpável. Para além destas características, não se pode esquecer que o elemento mais radical que qualifica o dever de educar dos pais é o amor paterno e materno, o qual encontra na obra educativa o seu cumprimento ao tornar pleno e perfeito o serviço à vida: o amor dos pais, de fonte torna-se alma e, portanto, norma, que inspira e guia toda a ação educativa concreta, enriquecendo-a com aqueles valores de docilidade, constância, bondade, serviço, desinteresse, espírito de sacrifício, que são o fruto mais precioso do amor" (João Paulo II, Exortação Apostólica "Familiaris Consortio", 36), e também: "É, portanto, da máxima importância não errar na educação, como não errar na direção para o fim último com o qual está conexa íntima e necessariamente toda a obra da educação. Na verdade, consistindo a educação essencialmente na formação do homem como ele deve ser e portar-se, nesta vida terrena, em ordem a alcançar o fim sublime para que foi criado, é claro que, assim como não se pode dar verdadeira educação sem que esta esteja ordenada para o fim último, assim na ordem atual da Providência, isto é, depois que Deus se nos revelou no Seu Filho Unigênito que é o único 'caminho, verdade e vida', não pode dar-se educação adequada e perfeita senão a cristã. Daqui ressalta, com evidência, a importância suprema da educação cristã, não só para cada um dos indivíduos, mas também para as famílias e para toda a sociedade humana, visto que a perfeição desta resulta necessariamente da perfeição dos elementos que a compõem"(Pio XI, Carta Encíclica "Divini Illius Magistri").
Pode separar-se impunemente a ação do pai e da mãe? Não; mil vezes não; porque a família é a imagem da Santíssima Trindade: "O pai, a mãe e o filho, vede que trindade sagrada! Aceitemos tudo, menos a sua desunião" (Brieux, Suzette, Act. III, 8). A mãe representa o amor; o pai, a autoridade; e os dois participam dessa clarividência que "a companhia da força e do amor, e que eternamente os ilumina" (Mgr. Dupanloup, Da Educação, t. 11, p. 134). Eis a razão por que não podem separar e devem presidir conjuntamente à educação de seus filhos. Mgr. Dupanloup escreve: "Como é falha de coração e de vida a educação em que a mãe não toma parte! E quanta hesitação e fraqueza na educação de que o pai anda arredio!" (Da Educação, t. 11, p. 134).
O pai e a mãe desempenham missões diferentes? Certamente; e as missões de um e de outro estão em relação com o caráter e com a função particular de cada um. Mas todos os esforços tentados para bem as desempenharem, devem harmonizar-se, concertar-se, conjugar-se e tender ao mesmo fim: a formação do homem e do eleito. Mas, se é verdade que, para ministrar a educação, o pai e a mãe devem ter um só espírito, um só coração e uma só vontade, não poderemos dizer que é à que, na prática, incumbe a maior parte da tarefa? Sim; e pode-se afirmar, sem medo de errar, que a mãe ocupa o primeiro lugar na hierarquia dos educadores.
Porque pertence à mãe o primeiro lugar na hierarquia dos educadores? Por três razões:
1.° Porque vive mais com os filhos. 2.° Porque é mais clarividente. 3.° Porque ama com mais dedicação.
Mas é sempre verdade que a mãe vive "mais" que ninguém, "com seus filhos?" Infelizmente, não; e isto por diversas razões, que omitimos por agora. Não obstante, em regra, é esta a lei da natureza, e as circunstâncias favorecem de ordinário a sua realização. É junto da mãe que o filho passa a maior parte do tempo, nos primeiros anos.
É também verdade que a mãe é, geralmente, mais "clarividente" nas questões de educação? É; e da mãe se pode dizer que tem o instinto da educação; esta vantagem deve à própria missão que Deus lhe confiou. Foi a ela, como outrora à filha do Faraó, a mãe de Moisés, que Deus disse: "Toma este menino e cria-o para mim". E, como Deus não emprega as suas criaturas nem opera por seu intermédio sem lhes comunicar uma centelha dos seus atributos divinos, teve de dar aos pais, especialmente à mãe, um raio de sabedoria, de inteligência e de clarividência.
E não será "o amor da mãe" um título ainda mais precioso do importante papel que lhe é distribuído na educação? Incontestavelmente, e por duas razões principais: 1.° "Porque amar a criança e fazer-se amar por ela será sempre o grande segredo da educação" (F. Kieffer, A autoridade, p. 103). "A educação é o amor" (Lachelier). Pestalozzi escreve: "A educação deve ser uma benevolência e uma bondade permanentes". 2.° Porque a educação, que exige muitos e penosos sacrifícios, supõe, no educador, um amor profundo, devotado e desinteressado. Ora, não há ninguém como a mãe que possua as ternuras e os heroísmos deste amor. E, por consequência, não se lhe pode contestar o lugar que ocupa na hierarquia dos educadores.
O amor maternal é, pois, maior que o amor paternal? 1.° O amor maternal está, desde o princípio, no seu máximo de desenvolvimento. Vindo à luz do dia, a criança encontra na sua mãe uma ternura perfeita, na plenitude da sua intensidade. O pai orgulha-se do seu novo título, contente por ter um herdeiro, mas a criancinha, em si mesma, não lhe causa os entusiasmos generosos que a mulher sente na sua maternidade expansiva e triunfante. 2.° O amor da mãe é feito de dedicação. O afeto do pai é calmo e moderado; só sente verdadeira comoção no dia em que a criança balbucia papai, e em que parece reconhecê-lo. É que ele tem dentro em si uma ponta de egoísmo: - dando, deseja ser recompensado. 3.° O amor da mãe é feito de abnegação. A mãe ama a criança na proporção dos sacrifícios que faz por ela. Quanto mais fraca, doente, desgraçada ela é, tanto maior é o quinhão de ternura que lhe reserva. Montaigne não ousaria dizer, diante dela, estas palavras cínicas que proferiu, falando de seus filhos: - "Perdi um... ou dois!" O pai, esse parece amar o filho na medida da satisfação que ele lhe proporciona. Repetiria naturalmente a conhecida expressão: "Enquanto os filhos não são asseados, pertencem exclusivamente à mãe".
Que se infere do que acabamos de dizer acerca do papel da mãe na educação? Resulta que a criança será, geralmente, aquilo que a mãe tiver feito dela. Do cuidado das mães depende a primeira educação dos homens. "Delas dependem os seus costumes, as suas paixões, os seus gostos e até a própria felicidade" (J. J. Rousseau). Sou de opinião que o bom ou mau procedimento, no porvir duma criança, depende inteiramente de sua mãe. Ozanan escreve: "Nada nos aproxima mais de Deus do que a memória duma santa mãe" (Cartas, I, p. 225). E Lamartine, após haver feito à sua mãe um elogio duma rara delicadeza, dizia: "Feliz do homem a quem Deus deu uma santa mãe!" Os Americanos dos Estados Unidos inscreveram no seu calendário nacional: A festa das mães! O mérito da mulher, escrevia J. de Maistre à sua filha, "está em governar a sua casa, tornar o marido feliz, consolá-lo, dar-lhe coragem e educar os filhos, isto é, fazer homens; é este o parto feliz, que não foi amaldiçoado como o outro" (Cartas e opúsculos, t. 1, p. 190). Um historiador protestante dizia da antiga França que era um reino feito por bispos. Nem os bispos, nem os padres reformarão a moderna França, se as mães cristãs não vierem em seu auxilio. "Deus confiou às mães o berço do homem; o berço, quer dizer, quase tudo" (Mgr. Bougaud, História de Santa Mônica, p. 21-22).
Tem, pois, as mães uma grande responsabilidade? Tem, certamente; e não o devem perder de vista; devem fazer todo o possível por erguer as suas faculdades à altura da sua missão; e, para não desfalecer, repetirão constantemente consigo mesmas: "Esta criança será o que eu fizer dela; será salva, se eu a salvar, será condenada, se eu a condenar!"
Quais são os deveres particulares do pai? Os deveres particulares do pai estão em harmonia com a natureza da sua inteligência, com a sua autoridade de chefe, com o espírito de decisão, e energia que, em geral, o caracteriza. 1.° A inteligência do pai é ordinariamente mais firme, mais equilibrada, mais segura; pertence-lhe, por conseguinte, formar o pensamento dos filhos e até das filhas. 2.° A sua autoridade de chefe de família exige, para o bom desempenho, um caráter digno e sério, cheio de força e também de suavidade; pertence-lhe, consequentemente, formar a virilidade dos filhos, com palavras autorizadas e com o exemplo duma vida de dever e de honra. 3.° O pai, em virtude da sua posição na família, é o juiz, em última instância, das decisões a tomar, e o agente inicial e principal da sua execução. Compete-lhe, portanto, formar a vontade dos filhos, dando-lhes a luz, o arrojo, a energia e a constância que lhes são necessárias.
B. O PADRE
"... Ele diz (o padre): Filhos, sede obedientes. Pais, cuidai de vossos filhos; mães, velai por vossas filhas" (A. D. Palhetas d'ouro, série XII, 74).
Qual é a parte do padre na obra da educação? O padre, como catequista, como diretor de patronato, como professor, como confessor, desempenha um papel muito importante na formação intelectual, moral e religiosa da criança. É, pois, o colaborador do pai e da mãe, e, como tal deve ser tratado. Os pais honestos visitam-no, consultam-no, informam-no, e com ele combinam, a fim de trabalhar de comum acordo, pelo emprego dos mesmos meios, ou, pelo menos, pela aplicação dos mesmos princípios, na conquista do mesmo fim.
Compreende todos os pais a vantagem desta colaboração? 1.° Muitos nem a suspeitam; ficariam deveras admirados ouvindo afirmar que o padre possa ter alguma coisa que ver, que dizer ou que fazer fora das horas que passa com as crianças nas diversas funções do seu ministério. 2.° A outros falta a curiosidade de indagar; não conhecem o catequista, o professor ou o diretor do patronato, a não ser por informações apaixonadas, tendenciosas, mais ou menos mentirosas ou exageradas, que lhes são dadas pelos filhos, em dias de preguiça, de dissipação ou de correção. 3.° Alguns até desdenham dessa missão, deixam entrever a seus filhos, como quem lhes dá coragem, o dia em que terá fim a sujeição que de aí resulta, e, sem tomar diretamente o partido do filho, que se lamenta, limitam as suas aspirações, neste ponto, a obter dele uma passividade que não se revolte, sem se preocuparem com a respeitosa docilidade, que tão eficazmente concorreria para a sua formação!
Como se deve olhar a colaboração do padre confessor? Com uma delicadeza extrema, o que não quer dizer com indiferença. As crianças são livres, e devem sempre sentir-se livres; mas esta colaboração não obstaculiza a sua liberdade, ensina-lhes a fazer bom uso dela. Os pais devem, sempre que seja possível, ajudar os seus filhos a escolher o confessor que lhes convém. Devem, ao menos, conhecê-lo, para colaborar com ele na formação da alma e da consciência; se o confessor nada pode dizer à mãe, a mãe pode informar o confessor duma infinidade de coisas. Devem inspirar aos filhos, por palavras e por ações, a confiança que merece o representante de Jesus Cristo no tribunal da penitência.
C. O PROFESSOR
"Uma tal escolha é de tão grande importância, que é preciso refletir bem nela" (Florian, Fábulas, 11-15). O Papa João Paulo II escreve: "A família é a primeira, mas não a única e exclusiva comunidade educativa: a dimensão comunitária, civil e eclesial do homem exige e conduz a uma obra mais ampla e articulada, que seja o fruto da colaboração ordenada das diversas forças educativas. Estas forças são todas elas necessárias, mesmo que cada uma possa e deva intervir com a sua competência e o seu contributo próprio. O dever educativo da família cristã tem consequentemente um lugar bem importante na pastoral orgânica, o que implica uma nova forma de colaboração entre os pais e as comunidades cristãs, entre os diversos grupos educativos e os pastores. Neste sentido, a renovação da escola católica deve dar uma atenção especial quer aos pais dos alunos, quer à formação de uma perfeita comunidade educadora. Deve ser absolutamente assegurado o direito dos pais à escolha de uma educação conforme à sua fé religiosa" (Exortação Apostólica "Familiaris Consortio", 40), e: "E sendo necessário que as novas gerações sejam instruídas nas artes e disciplinas com as quais aproveita e prospera a convivência civil, e sendo para esta obra a família, por si só, insuficiente, daí vem a instituição social da escola, primeiramente, note-se bem, por iniciativa da família e da Igreja, e só mais tarde por obra do Estado. Por esta razão, a escola considerada até nas suas origens históricas, é por sua natureza instituição subsidiária e complementar da família e da Igreja e, portanto, por lógica necessidade moral, deve não somente não contraditar, mas harmonizar-se positivamente com os outros dois ambientes, na mais perfeita unidade moral possível, a ponto de poder constituir, juntamente com a família e com a Igreja, um único santuário, sacro para a educação cristã, sob pena de falir no seu escopo, e de converter-se, em caso contrário, em obra de destruição" (Pio XI, Carta Encíclica "Divini Illius Magistri"). O professor deve ser colocado a par dos obreiros necessários para a educação? Sim, porque é quase impossível passar sem o seu concurso. 1.° Os rapazes precisam de emulação e de companhia; precisam da mão de um homem que modere e guie os seus entusiasmos excessivos; e, como é raro que o pai possa ocupar-se deles, resulta daí que a escola e o colégio são uma necessidade. 2.° Para as meninas, se a mãe tivesse tempo, forças, conhecimentos e as aptidões necessárias, seria ela a educadora ideal. Mas, como muitas vezes, uma ou outra destas condições falta, a professora é indispensável. O professor tem, pois, o seu lugar marcado entre os obreiros precisos para educação.
Qual é o papel do professor na obra da educação? Tendo a educação completa, isto é, cristã, por objetivo final fazer eleitos, todos aqueles que nisso trabalham, devem visar este alvo, para a ele subordinarem a orientação do seu concurso. O professor, para ser verdadeiramente colaborador dos pais, deve ser católico: católico nas convicções, católico na sua vida e católico nos seus ensinamentos. "Só um sofisma pode estabelecer um muro de separação entre o ensinamento das virtudes cristãs e o ensinamento das ciências e das letras humanas, visto que elas muitas vezes se tocam e se confundem indivisivelmente, e que a natureza não estabeleceu uma barreira entre o espírito e o coração, entre o homem literário ou científico e o homem religioso" (Cardeal Pio). O sábio e virtuoso Rollin dizia: "A piedade, uma piedade verdadeira, nobre, simples, amável, é de todas as qualidades dum educador a mais essencial, a mais importante, a que se deve preferir a todas as outras, e que lhe dá um valor infinito. Só ela inspira aos professores um zelo, um ardor, uma solicitude pelo bem de seus discípulos, que atraem sobre todos as bênçãos do céu".
O professor não será um colaborador aceitável, se praticar uma neutralidade respeitosa? Filosoficamente, a neutralidade é um engano e um absurdo; teologicamente, é uma falta e uma blasfêmia; em matéria de educação é uma monstruosidade e uma mutilação: "É o ateísmo, menos o nome" (Leão XIII, Encíclica "Immortals Dei". George Ohner escreve: "O livre pensamento pode ser tanto um método de educação nacional como o granizo um processo de cultura agrícola" (O Fígaro).
Será suficiente que o professor seja um bom católico? Não; é mister ainda que seja firme, reto, devotado, que tenha bom critério e boa educação. É isto que Montaigne parece resumir em poucas palavras, quando diz: "Desejaria que se escolhesse cuidadosamente para o filho um preceptor que tivesse antes um cérebro bem formado do que repleto de conhecimentos" (Ensaios, I, 25).
Que se deve pensar do Internato? 1.° O internato impõe-se aos pais, em regra geral, pelo menos: a) Quando não há perto uma boa escola. b) Quando as preocupações da vida lhes absorvem todo o tempo. c) Quando se julguem incapazes de desempenhar a missão de educadores. d) Quando os filhos são renitentes e não os doma a autoridade paterna. 2.° O internato produz alguns bons resultados: a) "O trabalho é talvez melhor, se bem que a superioridade intelectual do estudante interno sobre o estudante externo não tenha sido demonstrada nos exames" (F. Nicolay, ob. Cit., p. 459). b) A formação é mais completa, principalmente, quando a atmosfera do internato é, moral e religiosamente, mais pura que a atmosfera da família. c) Constitui uma certa aprendizagem da vida, com a condição de que a criança não se separe muito cedo da família; assim, por exemplo, é vantajosa a permanência duma menina num colégio durante o último ou os dois últimos anos dos seus estudos. 3.° Mas, a par disto, quantos inconvenientes: a) Com o regime do internato diminui forçosamente a ação dos pais; a sua autoridade sem exercício arrisca-se a tornar-se uma autoridade sem força. b) A criança privada durante longas semanas, quase sempre, das expansões tão necessárias e próprias da sua idade, do afeto paternal e maternal, está exposta a transviar-se, a cair e engolfar-se nas águas lodosas da impureza. c) A criança será tentada a abusar da liberdade de que gozará, talvez sem transição, ao deixar os constrangimentos da vida comum, os movimentos regrados e a disciplina austera do internato. d) Planta desarraigada, fixar-se-á na família, quando de volta ao lar? Não se libertará dos pais, como eles mesmos se libertaram dela, quando a meteram num colégio? Resumindo: em princípio, não é recomendável o internato, pelo menos na primeira infância.
D. O ESTADO
"O Estado têm filhos demais para que possa ser um bom pai de família" (Clemenceau, Discurso em 30 de Outubro de 1902, no Senado). "O Estado assiste à família, mas não a substitui" (Portalis). O Papa João Paulo II escreve: "O Estado e a Igreja têm obrigação de prestar às famílias todos os meios possíveis a fim de que possam exercer adequadamente os seus deveres educativos. Por isso, quer a Igreja, quer o Estado devem criar e promover aquelas instituições e atividades que as famílias justamente reclamam. A ajuda deverá ser proporcional às insuficiências das famílias. Portanto, todos os que na sociedade ocupam postos de direção escolar nunca esqueçam que os pais foram constituídos pelo próprio Deus como primeiros e principais educadores dos filhos, e que o seu direito é absolutamente inalienável" (Exortação Apostólica "Familiaris Consortio", 40).
Não proclamou o Estado certas pretensões a respeito da educação? Só a pátria tem o direito de educar os seus filhos, dizia Robespierre na Convenção (22 de Fevereiro de 1794). Ela não pode confiar este depósito ao orgulho das famílias, nem aos preconceitos dos particulares. "É preciso substituir os pais e as mães por uma educação comum e obrigatória" (Le Bon), e: "A criança pertence ao Estado antes de pertencer aos pais" (Danton). Eis a linguagem dos evolucionários. Mas a idéia por eles emitida despertou um pouco em nossos dias.
Que devemos pensar? Digamo-lo bem alto: esta confiscação da criança seria contrária ao bom senso, à natureza, à justiça e à liberdade. A criança pertence, primeiramente, àqueles sem os quais nunca teria existido. Demais, só os pais possuem o que é necessário para os educar como convém, isto é: a mais devotada e terna afeição; a autoridade mais natural e mais sagrada; o interesse mais grave e mais direto em bem se desempenharem deste dever. Ao passo que o Estado, chamando a si o cargo da educação, impõe-se uma tarefa absolutamente superior às suas forças. "O Estado, julgando-se dotado de todas as aptidões e da clarividência indispensáveis para manobrar a seu bel-prazer esta coisa mais delicada que uma flor, uma alma de criança! Faz lembrar aquele elefante do circo, fazendo ensaios a pastel, com o sucesso e a graça fáceis de imaginar" (F. Nicolay, op. cit., p. 457). O Estado não se deve ocupar das coisas do ensino, "porque não é professor, nem filósofo, nem pai de família, porque, quando se mete nestas coisas, é quase sempre desastrado e, muitas das vezes, ridículo" (E. Faguet, O liberalismo, p. 161-162).
Quer isto dizer que o Estado possa e deva desinteressar-se da educação da infância? R. P. Lahr escreve: "Certamente, não; o Estado deve coadjuvar a educação com todo o seu poder, incitando o desenvolvimento das letras, das ciências e das artes. Tem, sobre a educação, o incontestável direito de vigilância e de inspeção em tudo o que respeita à higiene, à moralidade e à segurança pública. Pode e deve intervir para reprimir os abusos, estimular a negligência culpável de alguns pais e salvaguardar o direito das crianças, assegurando-lhes o mínimo de educação indispensável para bem desempenharem os seus deveres de homens e de cidadãos" (Filosofia t. 11, p. 232).
II. A HARMONIA ENTRE OS EDUCADORES
"Todo o poder é fraco, faltando-lhe a união" (Lafontaine, Fábulas, IV, 48).
Qual é a grande lei que deve presidir à ação dos diferentes educadores? "É a harmonia" (Kieffer, A autoridade, IIª parte, cap. VIII). Ela deve reinar: 1.° Entre o pai e a mãe; 2.° Entre os pais e os professores; 3.° Entre os próprios professores, quando são muitos a compartilhar a responsabilidade da educação.
A. A HARMONIA ENTRE O PAI E A MÃE
"A formação de um homem supõe, no começo, um bom lar" (Bené Bazin, Os homens do futuro, p. 7).
Quais são, com justiça, os fundamentos desta harmonia? 1° É o casamento. O casamento tem, com efeito, por objetivo a vida comum. O casamento supõe, portanto, entre os esposos, aquele mínimo de harmonia sem o qual a vida comum seria uma tortura, e em cada um dos esposos uma virtude proporcionada às exigências desta harmonia. Os novos desposados sabem perfeitamente que no dia em que se prometeram fidelidade aos pés do altar, depositaram, em comum, na corbelha do casamento, não somente as boas qualidades, mas também os defeitos. E, se tem a felicidade de ser católicos, sentirão em si a graça sacramental, que lhes dá força para todos os sacrifícios impostos pela união e boa harmonia. 2.° É a necessidade do bom exemplo. Quando desaparece a harmonia, as crianças, testemunhas das discussões entre os pais, dos ressentimentos, que são a natural consequência, nunca esquecem essa lembrança sinistra... e quem poderá fazer uma idéia de todas as misérias de deformação que daí podem resultar?! Hervé-Bazin escreve: "Quando meu pai e minha mãe sentiam alguma dificuldade durante a semana, no domingo pela manhã, sem prévia combinação, aproximavam-se ambos da Mesa sagrada; eu fazia-lhes companhia; e, na volta, pelo caminho, quando ia aos saltos, diante deles, chamavam-me e, sem dizer uma palavra, abraçavam-me e beijavam-me na mesma face".
Que bela lição de coisas! E como fortalece! 3.° É a própria educação. Efetivamente, a educação tem por fim fazer penetrar a verdade no espírito das crianças e habituar a vontade delas à prática do bem. F. Kieffer escreve: "Mas a verdade e o bem são coisas absolutas; fazer crer na sua contingência, pela falta de continuidade nas ordens dadas, pelas contradições mesmo entre as ordens e contra-ordens emanadas de duas pessoas constituídas em autoridade e que a exercem contraditoriamente, a propósito da mesma coisa, e sobre a mesma criança, é uma verdadeira traição à verdade e ao bem" (A autoridade, p. 215).
Esta harmonia é sempre um fato? Não; e é quase sempre por culpa do pai, que comete uma destas duas faltas: 1.° Ou compromete desastradamente a sua autoridade; 2.° Ou corrompe os seus filhos.
Quando é que o pai compromete desastradamente a sua autoridade? O pai compromete a sua autoridade: 1.° Quando intervém sem saber, arriscando-se assim a colocar-se em contradição com as ordens da mãe; 2.° Quando reprova as censuras feitas pela mãe. Para evitar esta falta, o pai que não tem as qualidades requeridas para se ocupar direta e pormenorizadamente da educação de seus filhos, deve, ao menos dar à mãe o mando absoluto e pôr a sua força ao serviço da ação materna. F. Nicolay escreve: "Uma delegação do pai vale mil vezes mais que uma intervenção irregular, mal ponderada e guiada pelo acaso" (As crianças mal educadas, p. 352).
Quando é que o pai "corrompe seus filhos?" 1.° Quando amima, por demais, os filhos, e deixa à mãe o papel de desmancha-prazeres, o que é muito atraente, mas soberanamente funesto. 2.° Quando se faz o camarada alegre dos filhos, até ao momento em que, já cansado das manifestações e do enervamento por elas causado, diz à sua mulher: "Minha amiga, retiro-me; toma conta das crianças". H. Lavedan escreve: "O marido é, em geral, inconscientemente e sem maldade, um professor de anarquia familiar, um egoísta acostumado a ser servido, que desautoriza a toda a hora a sua mulher, em lugar de lhe dar força, levando o seu orgulho até lisonjear os filhos e a aprovar o que eles fazem, para os atrair a si, em prejuízo de sua mulher que não tem senão a tarefa extenuante, combativa e ingrata" (Ilustração, 6 de maio de 1916).
Qual é o resultado desta maneira de proceder? É a ruína da autoridade. A mãe quer e não pode. Quer acalmar a falta de sossego produzida pelo pai, quer restabelecer a ordem perturbada por ele, e não pode; usa da sua autoridade sem obter resultados eficazes. Durante a luta que a sua imprudência causou, ele está longe do lar; poderia remediar a situação ou teria podido não a tornar insuportável; não o quis, nem o quer; deixa tudo aos cuidados da mãe.
Quais são as impressões da criança causadas pelo desacordo entre o pai e a mãe? 1.° A princípio, a criança fica admirada; abre muito os olhos; procura compreender; seu pai, a quem ama e respeita, diz: sim; sua mãe, a quem não tem menos amor e que respeita ternamente, diz: não; e, não obstante, o sim e o não são contraditórios: a criança não compreende nada. 2.° A criança hesita em obedecer; pergunta a si mesma se entendeu bem; e não sabe nunca para que lado se há de voltar. 3.° A criança aprende a dissimular. Faça o que fizer, tem num de seus pais um aprovador, e no outro um censor: toda a sua diplomacia consiste então em iludir a vigilância, que lhe traga uma censura ou um castigo. 4.° A criança não aprende assim a distinguir com clareza o bem do mal; as idéias que forma não tem um caráter absoluto; como o sim e o não, dependem das ocasiões, das pessoas e das circunstâncias. Ora, nada há mais prejudicial à boa formação da criança, do que esta confusão de idéias e esta obliteração do senso moral. 5.° A criança explora, em proveito dos seus caprichos e dos seus defeitos, a oposição manifesta entre seu pai e sua mãe.
Não haverá um ponto sob o qual se deva considerar mais especialmente ruinosa a oposição entre o pai e a mãe? Sim: este ponto é a religião. Que triste situação a duma mãe de família, sincera e católica, cujo marido é indiferente! Geralmente não há uma franca hostilidade. Mas os filhos sabem que o pai não se confessa; notam a sua maneira de proceder em desacordo com os princípios que afirma, em oposição com as práticas de sua mãe . . . Nada compreendem a princípio. Depois admiram-se. Finalmente, escandalizam-se. E, um dia, todos estes sentimentos explodem num grito de revolta, apoiado no mau exemplo do pai, formado por ele, pouco a pouco, no fundo da alma, onde se cria o espírito de independência e germina o personalismo. - O meu pai não vai à Missa! - Farei como o papai; etc. Mgr. Baugad diz isto mesmo, numa linguagem simples e belamente expressiva: "A mãe tem fé, o pai não tem fé alguma; a mãe suplica e adora, o pai nem suplica, nem adora. As almas, em desarmonia, não se fundem. A criança nascida desta falsa união poderá ser vigorosa de corpo, mas terá uma alma raquítica... E quando a criança começa a discernir, que tristeza de lar! Aos sete anos compreende alguma coisa; aos dez, pasma; aos quinze escandaliza-se; e, ao primeiro grito das paixões, aproveita-se dessa desarmonia para livremente se entregar às suas loucuras" (Cristianismo e os tempos presentes, t. 1, p. 164).
Não deverá a harmonia que deve existir no lar estender a sua ação e os seus benefícios fora do âmbito da família? É indispensável que reine entre todos os educadores; eles trabalham na mesma obra; procuram o mesmo alvo; é mister que conjuguem a sua experiência e observações, que unifiquem os métodos, que se coadjuvem mutuamente; que se considerem atingidos por tudo o que, de alguma maneira, possa ferir a autoridade dos seus colaboradores.
B. A HARMONIA ENTRE OS PAIS E OS PROFESSORES
"É bela, e da sua beleza fala o carvalho no castanheiro; o olmeiro a saúda, mostrando-a ao bordo. Tão venerável é a infância sob a grandeza infinita do céu" (Victor Hugo, A arte de ser avô). O Papa João Paulo II escreve: "Mas, complementar ao direito, põe-se o grave dever dos pais de se empenharem com profundidade numa relação cordial e construtiva com os professores e os diretores das escolas. Se nas escolas se ensinam ideologias contrárias à fé cristã, cada família juntamente com outras, possivelmente mediante formas associativas, deve com todas as forças e com sabedoria ajudar os jovens a não se afastarem da fé. Neste caso, a família tem necessidade de especial ajuda da parte dos pastores, que não poderão esquecer o direito inviolável dos pais de confiar os seus filhos à comunidade eclesial" (Exortação Apostólica "Familiaris Consortio", 40).
Qual é o fundamento desta harmonia? Para os pais está na própria lógica da confiança que depositam nos professores que escolheram. Negar esta confiança, aceitar ou suscitar conflitos, é fazer uma obra contraditória e prejudicial.
Quais são os obstáculos a esta harmonia? São, da parte dos pães: 1.° A presunção; 2.° A indiferença; 3.° A indulgência com as más inclinações; 4.° Complacência com as espertezas maliciosas; 5.° Intervenções indiscretas.
Quando se revela a presunção? Quando os pais, posto que bem intencionados, julgam dispensar qualquer auxílio na educação íntima de seus filhos. Confiam-nos aos professores, mas só querem que os mestres os instruam; mandam os filhos ao catecismo, mas exclusivamente para o ensino religioso; levam-nos ao confesso, porque eles mesmos não podem dar-lhes a absolvição. No resto suprirão todas as necessidades. Este defeito é patrimônio de muita gente, cheia de vaidade, que, em virtude duma situação especial, adquiriu hábitos de independência.
Que aprenderá a criança em semelhante escola? Considera o professor como um explicador especializado, que nada tem a fazer fora do campo restrito das suas funções profissionais. A criança, entregue a um professor de colégio ou preceptor, recebe a instrução instintivamente, por um instinto que não é às vezes senão a voz ancestral, mas nunca aceitará a educação: "É um estranho, que tem o direito de me instruir, mas não tem o direito de me educar" (Faguet, Rousseau, p. 187). Cumpre reconhecer que muitas vezes o professor deixa de ser um estranho; mas, para isso é preciso, primeiramente, que os pais o tratem, não com arrogância e desdém, mas com respeito e simpatia.
Quando se manifesta a indiferença? Quando os pais não se preocupam em conhecer os professores de seus filhos. Nunca os vêem, nem, ao menos tem o desejo de os ver. Não sabem a respeito do ensino senão o que seus filhos lhes dizem, e é sobre esta base tão frágil que edificam todas as suas apreciações.
Qual é o resultado, quase infalível, desta indiferença? É a indulgência dos pais para com as más inclinações dos filhos. O educando está descontente com o professor; o catequizado queixa-se do catequista; o "internado" acusa o diretor de injustiça ou de preferências; os pais, que nada sabem senão por seus filhos, atendem-nos, acreditam-nos, dão-lhes razão. E, deste modo, minam pela base a autoridade própria, destruindo a dos seus colaboradores: "Todo o Reino dividido contra si mesmo será devastado; toda a casa dividida contra ela própria cairá em ruínas" (Lc 11, 17).
Em que consiste a complacência com as espertezas maliciosas? Nisto: 1.° Na curiosidade animadora com que certos pais ouvem as descrições fantasiosas de seus filhos sobre os ligeiros incidentes da classe, sobre as manias de tal professor, uma boa peça pregada a outro, a insolência que mostrou perante um terceiro, etc. 2.° Na facilidade imprudente com que certos pais toleram as alcunhas e apelidos injuriosos nas conversas dos filhos, quando falam dos seus professores.
Quando se dá a intervenção indiscreta? Quando, dando crédito a um fato, ampliado a capricho pela criança, que se quer tornar interessante, desabafar a sua cólera ou despertar a piedade, os pais se resolvem a uma tentativa de intervenção no ensino do filho, em que há mais descontentamento do que desejo de instruir, e que, começando com gestos e certeza de triunfo, acaba na humilhação e confusão, com grande detrimento da autoridade dos professores e dos pais.
C. DA HARMONIA ENTRE OS PROFESSORES
"Filha da dor! Harmonia! Harmonia!" (A. de Musset, Lúcia).
Em que consiste a harmonia entre os professores que compartilham a responsabilidade da educação? 1.° Quando os professores fazem parte do mesmo corpo (professores numa escola ou em um colégio, vigários numa freguesia), a harmonia consiste: a) Na submissão de todos à autoridade principal e ao regulamento da casa. b) Nas atenções desinteressadas e generosas entre os colegas. 2.° Quando os professores são independentes uns dos outros (professores e professoras de escola por um lado, senhoras catequistas ou diretores e diretoras de patronato por outro), a harmonia exige o sacrifício das preferências pessoais, das ilusões, das suscetibilidades; é evidente, por exemplo, que o melhor dos catecismos e o mais bem orientado patronato não podem, apesar de muito perfeitos, produzir o bem que realiza uma escola católica.
Convirá, sob pretexto de harmonia, impedir a criança de se queixar e negar-lhe razão à priori? Não parece que seja esse sempre o melhor método. F. Kieffer escreve: "À cólera e à indignação, que surdamente se agitam na sua alma, deve-se preparar uma válvula de segurança, se não se quiser que se transformem em acrimônia, penosamente contida, ou em revolta manifestada com soberba" (A autoridade, p. 232).
Que é preciso fazer quando a criança se queixa? Aqueles de quem a criança se queixa, não devem escandalizar-se, nem vingar-se. Aqueles a quem a criança se queixa, devem pôr em ação todos os recursos da sua inteligência e do seu coração para salvaguardar os direitos da autoridade, apaziguar o descontentamento da criança e levá-la a reconhecer a sua sem razão. Não devem nunca deixar-se levar a confidências prejudiciais à autoridade.
Que se há de fazer à criança que tem alguma razão? Não se lhe deve dar plenamente razão, nem atribuir-lhe toda a culpa; recorrer-se-á a uma solução média, que poupe a autoridade e salvaguarde a justiça ; os pais que possuem certo tato resolverão facilmente a questão, adaptando à idade, à inteligência e ao caráter de seus filhos as explicações que lhes derem.
Que é preciso fazer, se há conflito entre as autoridades? 1.° É preciso fazer com que a criança não o saiba, e, se é fatal que ela saiba alguma coisa, que seja o menos possível e o mais tarde que possa ser. 2.° É preciso, sobretudo, não se servir da criança para manifestar os seus maus sentimentos e satisfazer as suas vinganças mesquinhas.
Quais serão as vantagens desta harmonia? Serão imensas. Se a criança encontrar em todos os seus superiores os mesmos princípios, os mesmos métodos, as mesmas sanções; se encontrar por toda a parte a mesma recusa sistemática de escutar as suas queixas, as lamentações acrimoniosas dum mau espírito: 1.° A autoridade tomará a seus olhos um tal caráter de universalidade e de necessidade que triunfará completamente e quase instantaneamente de todas as veleidades de resistência. 2.° Esta mesma autoridade aparecer-lhe-á facilmente como uma emanação da divindade, que, como a criança, bem sabe, não pode mudar nem contradizer-se.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 07 de julho de 2008
Bibliografia
Bíblia Sagrada Abade René Bethléem, Catecismo da Educação Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística João Paulo II, Exortação Apostólica "Familiaris Consortio" Pio XI, Carta Encíclica "Divini Illius Magistri"
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