CAIM FICOU MUITO IRRITADO

 (Gn 4, 5)

 

 "Mas não se agradou de Caim e de sua oferenda, e Caim ficou muito irritado e com o rosto abatido".

 

 

Caim (hebr. qayin, "artífice, ferreiro"). Primeiro filho de Adão e Eva (Gn 4, 1), epônimo antepassado dos quenitas. Há um jogo de palavras em seu nome que, provavelmente, explica-se com Kanîti'ish "Tive um filho homem".

Abel (hebr. hebel, nome que significa "vaidade", "nulidade"; com toda probabilidade, deriva do acádico aplu, "filho", origem do nome indicaria uma origem mesopotâmica da narrativa). Abel era o segundo filho de Adão e Eva.

 

Abel tornou-se pastor de ovelhas e Caim cultivava o solo (Gn 4, 2). Passado o tempo, Caim apresentou produtos do solo em oferenda a Deus; (Gn 4, 3) Abel, por sua vez, também ofereceu as primícias e a gordura de seu rebanho. Ambos ofereciam a Deus sacrifícios do fruto de seus trabalhos: Caim, os frutos da terra; Abel, os primogênitos dos seus rebanhos.

Deus agradou-se de Abel e de sua oferenda. Mas não se agradou de Caim e de sua oferenda (Gn 4, 4-5).

As intenções de Abel eram puras e a fé era o móvel das suas oferendas: "Foi pela fé que Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim. Graças a ela foi declarado justo, e Deus apresentou o testemunho dos seus dons. Graças a ela, mesmo depois de morto, ele ainda fala!" (Hb 11, 4). Assim era agradável a Deus.

Católico, imite o exemplo de Abel oferecendo a Deus aquilo que você possui de melhor. Lembre-se de que Deus não é lixeira para receber restos.

Existem milhões de "Cains" que oferecem o melhor para o mundo e reserva o resto para Nosso Senhor. Quanta ingratidão!

Santo Tomás de Aquino escreve: "Olhou mais para o próprio oferente que para a sua oferenda, porque a oblação é aceita em virtude da bondade do oferente, quando não se trata de um sacramento" (Comentário sobre Hb, ad loc.).

A intenção de Caim "parece" que não era reta: "Não como Caim, que, sendo do Maligno, matou o seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más, ao passo que as do seu irmão eram justas" (1 Jo 3, 12). Se a sua intenção era "reta", pelo menos ficou cheio de inveja pela sorte do irmão.

Em Gn 4, 5-7 diz: "Caim ficou muito irritado e com o rosto abatido. Deus disse a Caim: 'Por que estás irritado e por que teu rosto está abatido? Se estivesses bem disposto, não levantarias a cabeça? Mas se não está bem disposto não jaz o pecado à porta, como animal acuado que te espreita; podes acaso dominá-lo?"

Católico, Caim é o "retrato fiel" da pessoa invejosa. O invejoso se IRRITA e fica ABATIDO diante do sucesso do próximo: "A inveja é uma tendência a entristecer-se do bem de outrem, como se fosse um golpe vibrado à nossa superioridade. Muitas vezes é acompanhado do desejo de ver o próximo privado do bem que nos faz sombra. Nasce, pois, do orgulho este vício, que não pode tolerar superiores nem rivais. Quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se, ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. Objeto da inveja são, sobretudo, as qualidades brilhantes; contudo em homens sérios, também o podem ser as qualidades sólidas e até a virtude. Manifesta-se este defeito pela mágoa que um sente ao ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados... Nos seus efeitos, é a inveja muitas vezes sobremaneira culpável: a) Excita sentimentos de ódio: corre-se risco de odiar aqueles de que se tem inveja ou ciúme, e, por consequência, de falar mal deles, de os desacreditar, caluniar ou de lhes desejar mal. b) Tende a semear divisões entre estranhos, mas até no seio das famílias (recorde-se a história de José), ou entre famílias aliadas; e estas divisões podem ir muito longe e criar inimizades e escândalos. É a inveja que por vezes divide os católicos de uma região, com grandíssimo detrimento do bem da Igreja. c) Impele à conquista imoderada das riquezas e das honras: para sobrepujar aqueles a quem tem inveja, entrega-se o invejoso a excessos de trabalho, a manobras mais ou menos leais, em que se encontra comprometida a honradez. d) Perturba a alma do invejoso: não há paz nem sossego, enquanto não se consegue eclipsar, dominar os próprios rivais; e, como é muito raro que se chegue a alcançá-los, vive-se em perpétuas angústias" (Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, n°s. 846 e 849).

Católico, cuidado com o invejoso; ele é capaz de cometer loucuras: "Os invejosos são piores que o diabo, pois o diabo não inveja os outros diabos, ao passo que os homens não respeitam sequer os participantes da sua própria natureza" (São João Crisóstomo), e: "A inveja assemelha o homem a Satanás" (Frei Pedro Sinzig), e também: "Os coveiros enterram os mortos. O invejoso enterra os vivos... Os porcos fuçam as coisas. O invejoso fuça as vidas... Aos olhos do invejoso, qualquer defeito dos outros é grande... O invejoso também vê o bem, mas sempre com maus olhos... Até das pessoas santas o invejoso tenta tirar alguma coisa; não podendo negar o louvor aos santos, ele o faz com avareza e reserva" (Pe. Orlando Colombo).

"Caim ficou muito irritado e com o rosto abatido".

Edições Theologica comenta: "O pensamento judaico considerou muitas vezes que as palavras de Deus a Caim: 'Por que te irritaste e por que decaiu o teu semblante? Não o levantarias, porventura, se obrasses bem? Mas se não obras bem, o pecado baterá à porta' (Gn 4, 6-7) indicam que o pecado de Caim podia considerar na mesquinhez do sacrifício, por não ter oferecido o melhor das suas primícias. A este pecado acrescentar-se-ia também a inveja para com Abel (Sb 10, 3 fala da iniquidade de Caim e do seu ódio fratricida). Diante de Caim, protótipo do homem invejoso, egoísta, violento e homicida, a literatura judaica exaltou Abel, como exemplo de generosidade, retidão e piedade".

Assim como a ferrugem consome o ferro, assim também a inveja não faz outra coisa senão roer o invejoso. A inveja é como um caruncho, é como uma serra, é como uma víbora na alma do invejoso.

O que ganham, pois, os invejosos? Ganham o que as borboletas ganham quando voam em torno da chama de uma vela, como que para apagá-la raivosamente com as suas asinhas: giram e tornam a girar, batem e se debatem até que, cansadas e queimadas, caem mortas, enquanto a chama continua a brilhar.

Católico, você poderia perguntar se é possível um parente invejar o outro ou se é possível um amigo invejar o outro. Lembre-se de que Caim e Abel eram irmãos: "A inveja matou Abel: de fato, Caim o matou porque viu que os sacrifícios do irmão eram preferidos por Deus" (Bem-aventurado José Allamano, A Vida Espiritual, Capítulo 24), e: "Caim se atirou sobre seu irmão Abel e o matou. Estais vendo, irmãos, que o ciúme e a inveja produziram o fratricídio" (São Clemente Romano, Primeira Carta aos Coríntios, 4).

Existem terríveis brigas e até assassinatos entre parentes e amigos, por causa da maldita inveja.

Em Gn 4, 8 diz: "Entretanto Caim disse a seu irmão Abel: 'Saiamos'. E, como estavam no campo, Caim se lançou sobre seu irmão Abel e o matou".

Em vão Deus admoestou Caim sobre o ódio que lhe invadia o coração. Ele deu livre curso aos movimentos da sua má natureza ressentida e matou o irmão, o primeiro homem que morreu sobre a terra, e de morte violenta, vítima de vício abominável.

Abel é figura de Jesus, o Justo por excelência morto pelos irmãos. Com esta diferença: o sangue de Abel clama do céu vingança contra Caim; o de Cristo, mais eloquente que o daquele (Hb 12, 24) clama sobre os seus, misericórdia e perdão.

O sangue de Abel é figura do sacrifício da Missa. Nela o padre pede que Deus aceite o Pão da Vida e o Cálice como se dignou de agradar com as oblatas de Abel.

Católico, Caim disse a Abel: "Saiamos". E foram os dois para o campo, e ali, Abel foi assassinado.

Cuidado católico! Seja prudente em aceitar certos convites. Não confie nas pessoas, porque o coração do homem é falso, é um abismo... Muitos poderão convidar-te para ir ao "campo", isto é, para o mundo, uma festa, um baile, uma casa noturna... e ali, te matarem física ou espiritualmente.

Boleslau, a mando da mãe, convidou seu irmão São Venceslau para uma festa com a intenção de matá-lo, e o crime aconteceu.

Quando alguém lhe disser: "Saiamos".

Pergunta-lhe: Para onde? O lugar é seguro? Não correrei o risco de ofender a Deus? Não serei ferido em tal lugar? Tal lugar me deixará com a consciência tranquila?

Católico, cuidado com os "Cains", o mundo está cheio deles. Com certeza você já cumprimentou, já apertou a mão, já se sentou, já sorriu para milhares de "Cains". Nem tudo que brilha é ouro; nem todos que são gentis e sorridentes são bons, existem muitos "Cains" escondidos por detrás de uma gentileza e de um sorriso.

Cuidado! Muitos não suportam o seu "brilho", isto é, o seu progresso, e por isso, tentarão de destruir: "Caim é o protótipo dos que pertencem ao Diabo; não só porque matou violentamente seu irmão, mas porque o ódio que se aninhava no seu coração o impedia de descobrir a bondade de Abel. Caim, pelas suas obras más, não suportava as boas obras do irmão. Também hoje pode dar-se esta atitude perante a conduta reta dos outros" (Edições Theologica).

Você já ouviu falar de certos sumiços de pessoas que nunca foram encontradas? Com certeza foram para o "campo" com os "Cains". Pobres infelizes! Quantas angústias e dores sofreram antes de morrerem! Que surpresa tiveram em conhecer os "Cains" que se escondiam por detrás daquele sorriso e gentileza!

Cuidado católico: "Maldito o homem que confia no homem" (Jr 17, 5).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 08 de julho de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Caim ficou muito irritado"

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