CONTA-ME, EU TE ROGO

(Jz 16, 6)

 

 

"Dalila disse a Sansão: 'Conta-me, eu te rogo, de onde vem a tua grande força e com que seria preciso amarrar-te para que fosses dominado".

 

 

Dalila: (hebr. delilah). Amante de Sansão, que o traiu, cortando-lhe os cabelos durante o sono e entregando-o aos filisteus (Jz 16, 4-20). Segundo A. Vicent, o nome deriva do árabe e contém um jogo de palavras composto de dois termos da mesma raiz: dalla, "comportar-se de maneira amorosa", e dalila, "um guia", neste caso, um traidor. Sua residência em Sorec permitiria não considerá-la nem hebréia nem filistéia, mas a narrativa leva a pensar que tenha sido hebréia.

 

Sansão: (hebr. shimshôn, talvez relacionada com shemesh, "sol", e com o nome divino Samas). Essa conexão etimológica levou alguns estudiosos mais antigos a sugerir que Sansão era uma figura mitológica solar; essa tese já foi geralmente abandonada. Sansão, o filho de Manué, era membro da tribo de Dã. Sua família vivia em Saraá, na Sefelá, no território que a tribo habitava antes de sua migração, sob a pressão filistéia, para Dã, no Norte.

 

Sansão se apaixonou por uma mulher do vale de Sorec, cujo nome era Dalila (Jz 16, 4).

Sorec: (hebr. soreg, significado e etimologia incertos). O Wadi no qual morava Dalila. Os geógrafos identificam-no com o Wadi es-Sur, o segundo dos cinco wadi que atravessam a Sefelá do Oeste para o Este.

Os príncipes dos filisteus foram procurá-la e disseram-lhe: "Seduze-o e descobre de onde vem a sua grande força, e com que meio poderíamos dominá-lo e amarrá-lo para então o prendermos. Cada um de nós te dará mil e cem siclos de prata" (Jz 16, 5).

Os filisteus odiavam Sansão, por isso, queriam destruí-lo: "Sansão se foi, capturou trezentas raposas, preparou tochas e, amarrando cauda com cauda de cada duas raposas, prendeu nelas as tochas. Então acendeu as tochas e soltou as raposas nas searas dos filisteus, e assim pôs fogo não só nos feixes de trigo como no que estava ainda plantado, e até nas vinhas e oliveiras" (Jz 15, 4-5), e: "Ao ver uma queixada de jumento ainda fresca, apanhou-a e com ela matou mil homens. Sansão disse: 'Com uma queixada de jumento eu os amontoei. Com uma queixada de jumento abati mil homens" (Jz 15, 15-16), e também: "Sansão, porém, ficou deitado até o meio da noite, e então se levantou, no meio da noite, pegou nos batentes da porta da cidade, bem como nos dois montantes, e arrancou-os juntamente com a tranca, colocou-os nos ombros e os carregou até o alto da montanha que está diante de Hebron" (Jz 16, 3). Eis porque os filisteus odiavam Sansão.

Não conseguindo agarrá-lo, recorrem à Dalila oferecendo-lhe dinheiro.

Sansão "fora juiz em Israel durante vinte anos" (Jz 16, 31). Ele não era um homem qualquer: "Que mais devo dizer? Não teria tempo de falar com pormenores de Gedeão, Barac, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e dos profetas. Estes, pela fé, conquistaram reinos, praticaram a justiça, viram se realizarem as promessas, amordaçaram a boca dos leões, extinguiram o poder do fogo, escaparam do fio da espada, recobraram saúde na doença, mostraram-se valentes na guerra, repeliram exércitos estrangeiros" (Hb 11, 32-34).

Católico, tome cuidado com os"filisteus" de hoje, isto é, com aquelas pessoas que vivem com as costas voltadas para o Deus Eterno, que não lutam para conquistar a vida eterna e que não suportam ouvir a verdade nem a presença do justo: "Pois virá um tempo em que alguns não suportarão a sã doutrina..." (2 Tm 4, 3), e: "Cerquemos o justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas ações..." (Sb 2, 12).

Assim como os filisteus pediram ajuda a Dalila para descobrir de onde vinha a força de Sansão, prometendo-lhe dinheiro; muitos "filisteus" de hoje, prometerão presentes para quem descobrir onde você consegue força para perseverar no caminho da santidade, desprezando as máximas do mundo e pisando o respeito humano; e poderão pedir ajuda até para pessoas de sua própria casa: "Os inimigos do homem serão os seus próprios familiares" (Mt 10, 36).

Católico, Dalila, de olho no dinheiro, aceitou o convite para seduzir Sansão. Muitos também, de olho em algum presente, aceitarão o convite dos "filisteus" de hoje para te seduzir. Cuidado! Não confie nas criaturas.

Dalila disse a Sansão: "Conta-me, eu te rogo, de onde vem a tua grande força e com que seria preciso amarrar-te para que fosses dominado" (Jz 16, 6-).

Sansão lhe disse: "Se me amarrarem com sete cordas de arco frescas, que ainda não tiveram sido postas a secar, eu perderei a minha força e seria como um homem qualquer" (Jz 16, 7).

Os príncipes dos filisteus trouxeram a Dalila sete cordas de arco frescas, que não tinham ainda sido secadas, e ela usou-as para amarrá-lo. Dalila havia escondido alguns homens no seu quarto, e então lhe gritou: "Os filisteus vêm sobre ti, Sansão!" (Jz 16, 9). Sansão arrebentou as cordas de arco como se rebenta um cordão de estopa mal lhe toca o fogo. Assim, o mistério de sua força permaneceu oculto.

Pobre Sansão! Se soubesse o perigo que lhe rondava! Infeliz daquele que aceita diálogo com pessoas malignas; cedo ou tarde será seduzido: "O que ama o perigo nele cairá" (Eclo 3, 26).

Católico, seja prudente no diálogo com as pessoas, principalmente com as estranhas.

Dalila não desiste! Com a voz dengosa volta a insistir: "Zombaste de mim e me disseste mentiras. Mas agora, eu te rogo, dá-me a conhecer com que seria preciso amarrar-te" (Jz 16, 10).

Sansão, mesmo sendo forte fisicamente, continua a "escorregar" na saliva de Dalila: "Ele lhe respondeu: 'Se me amarrarem com cordas novas que não tivessem ainda sido utilizadas, eu perderia a minha força e me tornaria como um homem qualquer" (Jz 16, 11).

A incansável Dalila tomou cordas novas, amarrou-o com elas e gritou: "Os filisteus vêm sobre ti, Sansão!" (Jz 16, 12), e ela havia escondido alguns homens no seu quarto. Mas Sansão rompeu como se fossem uma linha as cordas que tinha nos braços.

A insistente Dalila disse a Sansão: "Até agora zombaste de mim e me disseste mentiras. Conta-me com que devo amarrar-te" (Jz 16, 13).

Dalila não desiste. Está determinada em seduzir Sansão.

Católico, tome cuidado com as pessoas que insistem em saber de sua vida; quem sabe estão querendo te conhecer melhor para te destruir! É preciso agir prudentemente diante da insistência das "Dalilas" de hoje.  

Sansão respondeu a Dalila: "Se teceres as sete tranças da minha cabeleira com a urdidura de um tecido e as apertares com um pino, perderei a minha força e me tornarei como qualquer homem" (Jz 16, 13).

Dalila, agora bem mais eufórica, o fez dormir. Depois teceu as sete tranças da sua cabeleira com a urdidura, apertou-as com o pino e gritou: "Os filisteus vêm sobre ti, Sansão!" (Jz 16, 14). Ele despertou do sono e arrancou o pino com o tecido.

Sem desistir nem desanimar, disse-lhe Dalila: "Como podes dizer que me amas se o teu coração não está comigo? Três vezes zombaste de mim e não me fizeste saber onde reside a tua grande força" (Jz 16, 15).

Dalila, agora não fala superficialmente, mas fala de amor, da entrega do coração a ela e lembra-o que zombara três vezes dela. Ela mostra uma certa impaciência.

Católico, cuidado com as "Dalilas" de hoje. Muitos, para desviar-te do caminho da santidade, lembrar-te-á de certos favores e presentes que lhe deram no passado. Cuidado! Não ceda. Devolva-lhes tudo e fuja de tais pessoas.

Dalila não dava sossego para Sansão, mas o importunava todos os dias: "Como todos os dias ela o importunasse com as suas palavras e o fatigasse, ele se angustiou até à morte. Então lhe abriu todo o seu coração".

Católico, quando você perceber que uma pessoa insiste em te seduzir: seja namorado, patrão, amigo... não se fatigue, não se angustie nem lhe abra o seu coração; pelo contrário, afaste dessa pessoa que insiste em te destruir: "Meu filho, se pecadores quiserem te seduzir, não consintas!" (Pr 1, 10).

Lembre-se de que existe também os inimigos invisíveis, que não dormem nem cochilam, e insistem continuamente em te arruinar: "Sede sóbrios e vigilantes! Eis que o vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. Resisti-lhe, firmes na fé" (1 Pd 5, 8-9), e: "O infame não cessará com seus ataques até o último suspiro da alma que não soube defender-se já contra os primeiros golpes" (São João Crisóstomo), e também: "Mas o pior é que os perseguidores não são apenas os que se vêem; há também os invisíveis, e estes são muito mais numerosos" (Santo Ambrósio).

A Palavra de Deus diz que Sansão "abriu TODO o seu coração" para Dalila. Se ele tivesse se afastado de tal mulher logo no início, nada disso teria acontecido.

Católico, é melhor viver só do que ser INFIEL a Deus.

Abra o seu coração somente para o seu DIRETOR ESPIRITUAL e CONFESSOR: "Não andeis a procura de muitos conselheiros. Escolhei um, que vos oriente santamente, e obedecei-lhe" (Santa Catarina de Sena, Carta 82, 5), e: "Quem oculta ao seu Diretor uma tentação, tem um segredo a meias com o demônio. - Fez-se amigo do inimigo" (São Josemaría Escrivá, Sulco, 323).

Sansão abriu todo o seu coração para Dalila; o juiz cedeu à criatura depravada: "A navalha jamais passou pela minha cabeça... porque sou nazireu de Deus desde o seio da minha mãe. Se me cortarem os cabelos, a minha força se retirará de mim, perderei meu vigor e me tornarei um homem como qualquer outro" (Jz 16, 17).

Depois de ouvir Sansão e ter sentido que ele lhe tinha aberto todo o coração, Dalila mandou chamar os príncipes dos filisteus.

Veja que Dalila não quis mais diálogo com Sansão, mas sim, mandou chamar os inimigos de Sansão.

Católico, cuidado com certas pessoas que estão próximas de você até te seduzirem; depois que conseguirem jogar-te na lama do pecado, se afastarão para sempre de sua casa.

Sansão foi INFIEL a Deus. Cuide católico, para não ser também INFIEL ao Senhor que te criou.

Sansão era NAZIREU: (hebr. nezîr, "separado ou de alta linhagem"). Termo de significado religioso, atribuído a quem faz certo tipo de voto. Sansão é chamado nazireu (Jz 13, 5.7; 16, 17); o traço que é enfatizado é a proibição do uso de navalha no cabelo e na barba. A mãe de Sansão não devia tomar bebida alcoólica nem comer alimento impuro durante sua gravidez; essas eram obrigações do nazireu.

Dalila disse aos príncipes dos filisteus: "Vinde agora, porque ele me abriu todo o seu coração" (Jz 16, 18).

Os príncipes dos filisteus vieram, com o dinheiro na mão. Ela adormeceu Sansão nos seus joelhos, chamou um homem e o mandou cortar as sete tranças da sua cabeleira. Assim começou ela a dominá-lo, e a sua força se retirou dele. Ela gritou: "Os filisteus vêm sobre ti, Sansão!" (Jz 16, 20). Acordando de seu sono, ele pensou: "Sairei como das outras vezes e me livrarei" (Idem.). Mas não sabia que Deus tinha se RETIRADO dele. Os filisteus o agarraram, vazaram-lhe os olhos e o levaram a Gaza, onde o encadearam com uma dupla cadeia de bronze, e girava a mó no cárcere.

Sansão pagou altíssimo preço pela sua INFIDELIDADE a Deus: Deus se retirou dele, vazaram-lhe os olhos, encadearam-no e girava a mó na prisão.

Católico, não seja INFIEL a Deus, não TROQUE o Senhor pelas criaturas, não PEQUE...

Quem peca mortalmente retira Deus de sua alma: "O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é seu fim último e a sua bem-aventurança, preferindo um bem inferior" (Catecismo da Igreja Católica, 1855).

Quem peca mortalmente, vaza-lhe os olhos, isto é, VIVE na ESCURIDÃO, fica cego espiritualmente: "A pessoa cheia de amor sensual perde o sentido da gravidade do pecado mortal. Toda a sua atividade se  corrompe, desaparece sua luz interior. Nas trevas, a alma deixa de ver a verdade" (Santa Catarina de Sena, Carta 244, 2).

Quem peca mortalmente, vive encadeado, isto é, torna-se ESCRAVO do Demônio: "Aquele que comete o pecado é do diabo" (1 Jo 3, 8).

Quem peca mortalmente, gira a mó, isto é, "carrega" uma consciência pesada e sem paz: "Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo, nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões, virará moradia dos vícios" (São Macário).

Quem peca mortalmente, vive na prisão, isto é, não possui a verdadeira liberdade: "Sê livre! Tu, que andas por toda parte apregoando a liberdade, sê o primeiro a usar dela. Liberta-te de teus maus hábitos, a que andas acorrentado" (Pe. Alexandrino Monteiro).

Católico, recorda com frequência o herói do Antigo Testamento, Sansão. Como já foi comentado, uma paixão obcecara-o por Dalila. Sansão, CAÍDO UMA VEZ na cilada dessa mulher, é atado com sete cordas feitas de nervos frescos e ainda úmidos. Mas, apenas chegam os filisteus, ele põe-se em pé e rebenta as sete cordas como uma criança rebentaria um fio de estopa.

CAI na cilada uma SEGUNDA VEZ: enquanto ele dormia, a mulher atou-o com cordas novas, nunca usadas. Mas, apenas chegaram os filisteus, ele acordou e saiu dos laços como através dos fios de uma teia de aranha.

CAIU uma TERCEIRA e uma QUARTA VEZ: a mulher nefasta cortou-lhe os cabelos, e depois chamou os filisteus para se apoderarem dele. Num segundo ele foi surpreendido por uma multidão de inimigos. E, despertando, disse consigo: "Sair-me-ei desta como das outras vezes", mas não sabia que o Senhor se retirara dele, e então não pôde fazer senão esforços inúteis. Já agora era prisioneiro e joguete dos seus inimigos.

Católico, eis aí a imagem de uma alma que RECAI em pecado. Quando o demônio ou a paixão a atraem, ela, consentindo, diz: "Depois sairei deste estado como já saí de outras vezes: um esforço sobre mim, uma boa confissão, e serei livre". Mas não percebe que Deus com a sua misericórdia pouco a pouco se retirou; e, quando ela julgar oportuno converter-se, faltar-lhe-á o tempo, ou a dor sincera  ou a ocasião boa.

Se nas vossas transações ou nas vossas relações civis topais com um homem que afirma e nega, que promete e não cumpre, que jura e perjura, vós justamente vos irais, e rompeis toda relação com essa pessoa que não é um homem, porém um palhaço. E não há de Deus irar-se ante esses católicos que hoje choram as suas culpas e amanhã as cometem de novo, que hoje prometem fidelidade inviolável a Jesus Cristo, e amanhã o atraiçoam barbaramente? "Estes são semelhantes a nuvens sem água que o vento dispersa de um ângulo ao outro do céu; são semelhantes a plantas outonais infrutíferas, que o vento verga para a direita e para a esquerda; são semelhantes ao refluxo do mar em fúria, o qual reabsorve à imundície que lançara na praia" (Jd 12-13).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 10 de julho de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Conta-me, eu te rogo"

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