CÚMULO DE IMPIEDADE (2 Mc 12, 3)
"Além disso, os habitantes de Jope chegaram a este cúmulo de impiedade".
Jope: (hebr. yapô ou então yapô', gr. ioppe). Cidade na costa da Palestina, situada a Noroeste de Jerusalém. Desde os tempos antigos, sempre foi o porto mais próximo de Jerusalém; entretanto, não era um porto verdadeiro, não podendo ser usado sob mau tempo. Jope encontra-se enumerada entre as cidades cananéias conquistadas por Tutmósis III do Egito.
Os habitantes de Jope chegaram ao cúmulo de impiedade (qualidade do ímpio, crueldade...). Eles convidaram os judeus que moravam com eles a subir, com suas mulheres e filhos, a umas barcas por eles mesmos preparadas, como se não houvesse malevolência alguma contra eles (2 Mc 12, 3). Antes, pareciam agir segundo uma resolução pública da cidade. Os judeus aceitaram, como gente que deseja viver em paz e sem ter qualquer suspeita. Mas, chegados ao largo, fizeram-nos ir ao fundo. E eram não menos de duzentos (2 Mc 12, 4). Católico, foi tanta a alegria, a afabilidade e amor que os habitantes de Jope demonstraram para com os judeus, que esses entraram na barca com suas mulheres e filhos, e, sem nenhuma suspeita, cantavam e riam. De repente, entre os cantos e os sons, os falsos amigos pegaram os Judeus e os atiraram ao mar. Católico, seja prudente, ao demônio esta astúcia não é desconhecida. No meio dos cânticos, dos risos, dos prazeres, nas excursões de falsos amigos, quantos imprevistos não têm sentido a sua alma afundar-se no abismo do pecado e do inferno! Hoje, infelizmente, existem milhões de pessoas que negam a existência do demônio. Pura ilusão! Esse ser maldito existe, e batalha continuamente para nos perder. São João Crisóstomo escreve: "Não penses que, nesta minha descrição, esteja exagerando o estado das coisas. Da mesma forma não julgues que as dificuldades descritas sejam tão extraordinárias somente porque nós, encerrados neste corpo como numa prisão, não possamos perceber nada das coisas invisíveis! Verias luta mais pesada e terrível do que a descrita, se tivesses ocasião de lançar um olhar sobre a terrível linha de combate do demônio e seus ataques furiosos. Ele não tem aço nem ferro, nem cavalos de combate, nem fogo, nem flechas, nem dardos, nem quaisquer outros instrumentos materiais; as armas desses adversários são outras, muito mais perigosas. Eles não necessitam de armadura, nem de escudo, nem de espada, nem de lança. Basta o seu simples aspecto para derrubar a alma, a não ser que esta esteja preparada e exercitada na virtude e, além disso, goze de graça divina mais forte do que a própria virtude. E, se fosse possível desfazer-te deste corpo ou, mesmo com o corpo, mas sem impedimentos e sem medo, e ver com teus olhos abertos esta linha de combate do demônio e sua luta contra nós, perceberias, não rios de sangue, nem cadáveres, mas tantas almas feridas e caídas, que, comparada a isso, acharias a imagem bélica que te pintei uma simples brincadeira. Tamanho é o número dos que diariamente são derrotados (pelo demônio). As feridas recebidas nesta luta não levam à mesma morte; tanta a diferença entre corpo e alma, quanta a diferença entre as duas mortes. A alma, ao receber o golpe mortal, não se torna insensível como o corpo, mas sentirá a punição. Já nesta terra a má consciência lhe causará vexames e, uma vez passada desta para a outra vida, será submetida ao juízo que a condenará ao castigo eterno. No caso, contudo, em que alguém se mostrar insensível aos golpes do demônio, esta insensibilidade é sinal de perigo maior, pois quem não sentir o primeiro golpe, receberá um segundo e um terceiro. O infame não cessará com seus ataques até o último suspiro da alma que não soube defender-se já contra os primeiros golpes. Caso ainda queiras conhecer de perto a maneira de atacar do demônio, verificarás que é, além de intensa, muito variada. Como aquele infame, ninguém conhece as múltiplas intrigas, tramóias, astúcias e artimanhas. É isso que lhe dá tanta força. Também não há ninguém que seja capaz de manter um ódio tão implacável como aquele malicioso contra todo o gênero humano. Em seguida, considerando ainda o zelo e o afinco com que ele luta, qualquer comparação com os homens e suas atitudes tornar-se-ia ridículo. Até os animais mais ferozes e mais sanguinolentos, comparados com ele, tornar-se-iam mansos e dóceis. Com tanta raiva ele esbraveja contra as nossas almas. Ainda outras diferenças entre as lutas desta terra e as das almas poderão ser mencionadas: o tempo do combate aqui é breve e, ainda assim, interrompido por armistícios. A noite, a fadiga, a fome e muitas outras circunstâncias são motivos para os soldados descansarem. Aí podem depor as armaduras, refazer as forças, refrigerar-se com comidas e bebidas e, por estes e outros meios, recuperar as forças perdidas. Na luta com aquele maligno, porém, nunca haverá pausa; nunca poderás despojar-te das armas, nunca poderás entregar-te ao descanso, caso quiseres ficar ileso. Necessariamente acontecerá uma das duas: perecer depois de ter perdido as armas ou continuar firme, armado e vigilante. Aquele adversário infame mantém sempre sua linha de combate perto de nós, pronta para nos perder tão logo note algum relaxamento em nossa vigilância. Podes estar certo: mais zelo emprega ele para a nossa perdição do que nós para a nossa salvação! Finalmente, a circunstância de ele ser invisível para nós é prova de que essa luta é muito mais perigosa do que aquela que descrevi: pois assim pode encontrar-nos despercebidos a não ser que nossa vigilância seja constante" (O Sacerdócio, Livro VI, 13). Católico, assim como os habitantes de Jope usaram de falsidade com os judeus, tratando-os com amabilidade para que entrassem no barco, se não fores prudente, o Demônio fará o mesmo contigo: "E não é de estranhar! Pois o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz" (2 Cor 11, 14). O Demônio é FALSO e MENTIROSO: "... porque é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8, 44). A Palavra de Deus diz que os habitantes de Jope levaram os judeus ao LARGO, isto é, ao ALTO MAR, e ali, "... fizeram-nos ir ao fundo. E eram não menos de duzentos" (2 Mc 12, 4). Antes, é claro, teve sorrisos, conversas amáveis, cantos... mas a maldade estava escondida em seus coração. Infeliz do católico que dá ouvidos às promessas do Demônio... que aceita seus convites... que se entusiasma com seus "cantos"... que participa de suas "excursões"... Esse, se não fugir a tempo, será levado para o ALTO MAR, isto é, para o Inferno Eterno: "... sua porção se encontra no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte" (Ap 21, 8), e: "Todo o homem teme a morte corporal; mas há poucos que temam a morte da alma (...). O homem mortal esforça-se por não morrer, e o homem destinado a viver eternamente não se há de esforçar em não pecar?" (Santo Agostinho, In Ioann. Evang., 49, 2). Cuidado católico, assim como os judeus foram enganados pelos habitantes de Jope, você também poderá ser enganado pelo Demônio. O engano sempre foi uma das armas principais do Demônio para seduzir os homens: "Não propõe de entrada coisas evidentemente más, mas algo que tenha aparência de bem, com o fim de desviar pelo menos o homem dos seus propósitos fundamentais, porque depois uma vez desviado por pouco que seja, arrasta-o com maior facilidade para o pecado. Depois, quando conseguir que peque, amarra-se de tal forma que não deixa que se levante (...). Dois passos, pois, dá o Diabo: engana e depois de enganar retém no pecado" (Santo Tomás de Aquino, Exposição da oração dominical ou Pai Nosso, 6° pedido).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 14 de julho de 2008
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