O SENHOR O DEU, O SENHOR O TIROU (Jó 1, 21)
"Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor".
Quando falamos em TRIBULAÇÃO, sempre recorremos ao antigo exemplo de Jó. O Pe. João Colombo pergunta: "Como foi que Jó, que também era um homem como nós, soube guardar uma santíssima paciência e resignação entre todas as desgraças que o oprimiam?" Um dia, chega em sua casa, ofegantíssimo, um servo, e lhe diz: "Estavam os bois lavrando e as mulas pastando por perto, quando os Sabeus caíram sobre eles, passaram os servos ao fio da espada e levaram tudo embora. Só eu pude escapar para trazer-te a notícia" (Jó 1, 14-15). Este ainda falava, quando chegou outro e disse: "Caiu do céu o fogo de Deus e queimou ovelhas e pastores e os devorou. Só eu pude escapar para trazer-te a notícia" (Jó 1, 16). Este ainda falava, quando chegou outro e disse: "Os Caldeus, formando três bandos, lançaram-se sobre os camelos e levaram-nos consigo, depois de passarem os servos ao fio da espada. Só eu pude escapar para trazer-te a notícia" (Jó 1, 17). Este ainda falava, quando chegou outro e disse: "Estavam teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho, quando um furacão se levantou das bandas do deserto e se lançou contra os quatro cantos da casa, que desabou sobre os jovens e os matou. Só eu pude escapar para trazer-te a notícia" (Jó, 1, 18-19). Então Jó se levantou, rasgou seu manto, rapou sua cabeça, caiu por terra, inclinou-se no chão e disse: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei para lá. O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1, 21). Jó "... rasgou seu manto, rapou sua cabeça". Este duplo gesto, expressão de dor ou de luto, é referido muitas vezes pela Bíblia (Gn 37, 34; Js 7, 6; 2 Sm 1, 11; 3, 31, etc.; Jr 7, 29; 48, 37; Ez 7, 16; Esd 9, 3, etc.). Jó recebeu várias notícias, uma pior que a outra; não se desesperou, mas suportou tudo com paciência: "Notai que temos por bem-aventurados os que perseveraram pacientemente. Ouvistes falar da paciência de Jó e sabeis qual o fim que Deus lhe deu" (Tg, 5, 11). O Pe. João Colombo escreve: "Não eram os SABEUS, não era o RAIO, não era o VENTO; porém, era Deus que lhe enviava as dores". Quando Jó perdeu a saúde, e sua mulher zombou dele por causa da sua confiança na Providência, ele lhe respondeu: "Tu falas como uma mulher estulta. Assim como das mãos de Deus recebemos de bom grado as consolações, assim também das mãos de Deus devemos receber de bom grado as tribulações" (Jó 2, 10). Católico, eis o SEGREDO que deu FORÇA a Jó, e que pode dar FORÇA também a nós: "Assim como das mãos de Deus recebemos de bom grado as consolações, assim também das mãos de Deus devemos receber de bom grado as tribulações". O Pe. João Colombo escreve: "Toda tribulação vem de Deus, e das mãos de Deus devemos receber de bom grado, porque Ele é nosso Senhor e nosso Pai. Deus é senhor: Senhor nosso, dos nossos entes queridos, dos nossos bens; sendo o senhor de todas as coisas, pode fazer delas o que quiser: dar-nos ou tirá-las; dar-nos a saúde e privar-nos dela; pôr ao nosso lado uma pessoa amada e retomá-la quando lhe aprouver. Nós, suas pobres criaturas, devemos dizer sempre: seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. Deus é pai: Pai que nos ama, que quer o nosso bem, mesmo quando nos atormenta e nos faz chorar". Católico, Jó perdeu seus bois, mulas e os servos foram assassinados; ele não se DESESPEROU, mas disse: "O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1, 21). Suas ovelhas e pastores foram devorados pelo fogo; ele não se IROU, mas disse: "O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1, 21). Os Caldeus roubaram seus camelos e mataram seus servos; ele não se REVOLTOU, mas disse: "O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1, 21). Um furacão derrubou a casa sobre seus filhos e filhas e os matou; ele não IMPACIENTOU, mas disse: "O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1, 21). Católico, NÃO se DESESPERE nem se IMPACIENTE diante das TRIBULAÇÕES, mas imite o EXEMPLO de Jó que viu nos acontecimentos, mesmo amargos, a VONTADE de Deus. O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: "O caminho da santidade, que leva a Deus, só pelo próprio Deus pode ser traçado, e pela sua santa vontade. Proclamou Jesus com energia: 'Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas sim, quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus' (Mt 7, 21). E para mostrar que as criaturas a ele mais unidas e por ele mais amadas são justamente as que fazem a vontade de Deus, acrescentou: 'Quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe' (Mt 12, 50)". Na escola de Jesus Cristo, inspiraram-se os santos. Depois de ter experimentado as mais sublimes comunicações místicas, Santa Teresa de Ávila não hesita em afirmar: "Não está a suma perfeição nas doçuras interiores, nos grandes arroubamentos, nas visões e no espírito de profecia, mas na perfeita conformidade da vossa vontade com a de Deus, de tal modo que nos leva a querer firmemente o que percebemos ser sua vontade, aceitando com a mesma alegria, tanto o saboroso como o amargo" (Fd 5, 10). Diz o mesmo Santa Teresa do Menino Jesus: "Consiste a perfeição em fazer a vontade de Deus e em sermos como ele nos quer".
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 18 de julho de 2008
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