OLHOU PARA TRÁS

(Gn 19, 26)

 

"Ora, a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal"

 

 

Raiando a aurora, os Anjos insistiram com Ló, dizendo: "Levanta-te! Toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui se encontram, para que não pereças no castigo da cidade" (Gn 19, 15). E como ele hesitasse, os homens o tomaram pela mão, bem como sua mulher e suas duas filhas, pela piedade que Deus tinha dele. Eles o fizeram sair e o deixaram fora da cidade (Gn 19, 16). Enquanto o levavam para fora, ele disse: 'Salva-te, pela tua vida! Não olhes para trás de ti nem te detenhas em nenhum lugar da planície; foge para a montanha, para não pereceres! (Gn 19, 17).

Católico, a mulher de Ló não obedeceu a ordem dada pelo Anjo e olhou para trás, e CONVERTEU-SE numa estátua de sal: "Ora, a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal" (Gn 19, 26).

 

A mulher de Ló NÃO PERSEVEROU.

Ela começou bem a caminhada, mas não perseverou... e olhou para trás.

Católico, infeliz da mulher de Ló que olhou para trás; tudo seria melhor para ela, se tivesse obedecido cegamente a ordem do Anjo.

O acontecimento "da mulher de Ló é uma advertência a não abandonar o caminho empreendido. Neste sentido, Jesus recorda aplicando-o à imprevisibilidade do dia do Juízo (cfr. Lc 17, 32). A tradição cristã o aplica à perseverança no bom propósito empreendido" (EUNSA), e: "Tu, que viste claramente a tua condição de filho de Deus, mesmo que já não tornes a vê-la - não há de acontecer! -, deves continuar adiante no teu caminho, para sempre, por sentido de fidelidade, sem olhar para trás" (São Josemaría Escrivá, Forja, n.° 420).

Quando você abandonar a "cidade pecadora", isto é, a vida passada, não olhe para trás querendo RETORNAR a essa "cidade", mas PERSEVERE nos BONS PROPÓSITOS e no caminho da SANTIDADE: "... não volte atrás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Quem procurar ganhar sua vida, vai perdê-la..." (Lc 17, 31-33).

São MILHÕES os que COMEÇAM BEM: fazem bons propósitos, reservam horários para a oração, marcam dias para a mortificação e para a confissão, adquirem livros piedosos... mas com o passar dos dias, a exemplo da mulher de Ló, COMEÇAM a OLHAR para TRÁS e se "petrificam" espiritualmente, isto é, NÃO ANDAM MAIS... NÃO PROGRIDEM MAIS NA VIDA ESPIRITUAL.

A mulher de Ló se converteu numa estátua de sal ao OLHAR para TRÁS, e permaneceu assim, "olhando" para as cidades malditas. O católico que deixa de caminhar na perfeição para "olhar" com saudade para a vida passada, tempo que passou nos vícios, VIRA as costas para Deus e NÃO PROGRIDE mais na santidade: "... pois ninguém ignora que, no caminho da perfeição, não ir adiante é recuar; e não ir ganhando é ir perdendo" (São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Livro I, Capítulo XI, 5).

Católico, NÃO BASTA iniciar a caminhada rumo à santidade, não basta fazer PROPÓSITOS e ABANDONAR a vida de pecado; é preciso PERSEVERAR até o FIM: "Começar é de todos; perseverar, de santos. Que a tua perseverança não seja consequência cega do primeiro impulso, fruto da inércia; que seja uma perseverança refletida" (São Josemaría Escrivá, Caminho, n.° 983), e: "Sem constância, impossível é chegar à santidade ou à salvação: não basta ser virtuosos e generosos por alguns dias ou alguns anos; necessário é sê-lo sempre, até o fim... Quem retrocede condena-se voluntariamente e jamais atingirá a meta: é um fraco, um vil, um desertor..." (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 301, 1), e também: "De nada vale ter sido santo por longo tempo, se no fim da vida se morre pecador" (Pe. Alexandrino Monteiro).

A mulher de Ló iniciou bem a caminhada, mas parou pelo caminho, não continuou.

Milhões de pessoas começam bem, mas a exemplo da mulher de Ló, olham para trás e caem no desânimo: "Muitos começam bem, mas poucos são os que perseveram" (São Jerônimo, Lib. I contra Jovinianum), e: "Um Saul, um Judas, um Tertuliano, começaram bem, mas acabaram mal, porque não perseveraram como deviam" (Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte, Consideração XXXI, Ponto I), e também: "Nos cristãos não se procura o princípio, mas o fim" (São Jerônimo, S. Hier. ad Fur.), e ainda: "O Senhor não exige somente o começo da boa vida, quer também seu bom termo; o fim é que alcançará a recompensa" (Idem).

Católico, jamais imite o exemplo da mulher de Ló; não pare pelo caminho para olhar para trás, mas seja fiel aos seus propósitos, principalmente quando surgirem grandes obstáculos e fortes tentações de voltar atrás: "Não há dúvida: quem quiser ganhar sua alma para a vida eterna deve perseverar no bem, sem se assustar com a aspereza das provações. Dada sua fragilidade e fraqueza, não pode a perseverança do homem ser perfeita, sem quedas; por isso, cada vez que cai, deve reerguer-se imediatamente, reparar a queda, recomeçando de novo: nisto consiste propriamente a perseverança, isto é, no constante converter-se, melhorar-se até que Deus intervenha com particulares dons para estabilizá-lo no bem" (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 301, 2).

 

A mulher de Ló FOI CURIOSA.

Milhares de pessoas deixam de CAMINHAR na SANTIDADE para OLHAR para o MUNDO inimigo de Deus e das almas imortais; e assim, caem no ADULTÉRIO ESPIRITUAL: "Adúlteros, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Assim, todo aquele que quer ser amigo do mundo torna-se inimigo de Deus" (Tg 4, 4).

O Pe. Ângelo Gattesco escreve: "A mulher de Ló, curiosa, voltou-se para ver a cidade em chamas e, como castigo pela desobediência às palavras do anjo, foi transformada numa estátua de sal", e: "Na ruína dos ímpios, foi ela que salvou o justo, fugitivo do fogo que descia sobre a Pentápolis. Testemunho daquela maldade, resta ainda um ermo fumegante, árvores frutíferas de frutos malogrados e, memorial à alma incrédula, ergue-se uma coluna de sal" (Sb 10, 6-7), e também: "A mulher de Ló, convertida em estátua de sal, propõe com seu exemplo aos simples, que não devem olhar para trás com curiosidade doentia, quando avançam para um propósito santo" (São Quodvultdeus, De promissionibus 1).              

Católico, MILHÕES de pessoas, a exemplo da mulher de Ló, já deixaram de caminhar pelo CAMINHO da SANTIDADE por causa da CURIOSIDADE.

A mulher de Ló MORREU ao olhar para trás, isto é, para as cidades pecadoras. Milhares de católicos MORREM ESPIRITUALMENTE ao olharem e seguirem as MÁXIMAS oferecidas pelo mundo inimigo da SANTIDADE.

Quantos católicos já se transformaram, não em estátua de sal, mas em servos de Demônio, exatamente por serem CURIOSOS.

Católico, não imite o exemplo da mulher de Ló, mas MORTIFIQUE os seus OLHOS: "Há olhares gravemente culpados, que ofendem não somente o pudor, mas até a castidade em si mesma e que, por conseguinte, é forçoso evitar. Outros há que são perigosos, por exemplo, fixar a vista sem razão em pessoas ou objetos que naturalmente hão de suscitar tentações. Assim, a Sagrada Escritura nos adverte que não detenhamos o olhar numa donzela, não seja caso que a sua formosura seja para nós objeto de escândalo. E hoje, então, que a licença das vitrinas, a imodéstia do trajar e a imoralidade das exibições teatrais e de certos salões criam tantos perigos, que recato não é preciso para evitar o pecado?! É por isso que o cristão sincero, que quer salvar a sua alma, custe o que custar, vai mais longe; para estar seguro de não sucumbir à sensualidade, mortifica a curiosidade dos olhos, evitando, por exemplo, olhar pela janela, para ver quem passa, conservando os olhos modestamente baixos, sem afetação, nas viagens ou passeios. Pelo contrário, compraz-se em os descansar sobre algum objeto, imagem piedosa, campanário, cruz, estátua, para se excitar ao amor de Deus e dos Santos" (Adolfo Tanquerey, Compêndio de Teologia Ascética e Mística, 775-776).

Infeliz do CATÓLICO CURIOSO que despreza a família para olhar para trás, isto é, para SEGUIR a LAMA do mundo que o sufocará espiritualmente.

Se a mulher de Ló tivesse seguido o esposo e as filhas, nada de mal lhe teria acontecido.

 

A mulher de Ló DESOBEDECEU ao ANJO.

Católico, lembre-se continuamente de que você possui um Anjo da Guarda; respeite-o e seja-lhe fiel: "Por desígnio de Sua Providência, confiou Deus aos Anjos a obrigação de guardarem o gênero humano, e de assistirem a todos os homens individualmente, para que não sofram dano de maior gravidade. Assim como os pais dão aos filhos guardas, que os defendam de perigos, quando precisam de viajar por caminhos expostos e arriscados: assim também o Pai Celestial, na viagem que fazemos para a Pátria Celeste, destinou a cada um de nós um Anjo que nos proteja, com seu auxílio e vigilância, para podermos evitar as emboscadas dos inimigos, e repelir seus tremendos ataques contra nós; para que, sob a sua direção, possamos conservar-nos no caminho reto, e que nenhum ardil do falso adversário nos faça desviar do rumo que leva ao céu" (Catecismo Romano, Parte IV, Capítulo IX, 4), e: "Por sermos seus filhos, dá-nos Deus por guardas os príncipes da sua corte, que se consideram até muito honrados com este cargo, por termos a honra de lhe pertencer tão de perto. Por sermos seus membros, quer que esses mesmos espíritos, que o servem, estejam sempre junto de nós, para nos prestarem bons ofícios sem conta. Por sermos seus templos, em que Ele próprio habita, quer que tenhamos anjos que estejam penetrados de religião para com Ele, como estão em nossas igrejas; quer que lá estejam em homenagem perpétua para com a sua grandeza, suprindo o que somos obrigados a fazer, e gemendo muitas vezes pelas irreverências que cometemos contra Ele. Quer, outrossim, por esse meio, acrescenta ele, ligar estreitamente a Igreja do céu com a da terra. É este o motivo por que Ele faz descer à terra esse corpo misterioso dos Anjos, que, unindo-se a nós, e ligando-nos a eles, nos coloquem assim na sua ordem, para não fazer mais que um só corpo a Igreja do céu e a da terra" (M. Olier, Pensées, p. 171-172).

Adolfo Tanquerey escreve: "Pelo nosso Anjo da guarda estamos, pois, em comunicação permanente com o céu, e, para tirarmos disso maior proveito, não podemos proceder melhor do que pensar amiúde nesse protetor celeste, para lhe expressarmos a nossa veneração, confiança e amor: - a) A nossa veneração, saudando-o como um daqueles que vêem incessantemente a face de Deus, que são junto de nós representantes do nosso Pai celeste; não faremos pois nada, que lhe possa desagradar ou o possa contristar, mas ao contrário, esforçar-nos-emos por lhe testemunhar o nosso respeito, imitando a sua fidelidade no serviço de Deus; o que é uma maneira delicada de lhe provarmos a nossa estima; - b) A nossa confiança, recordando o poder que ele possui para nos proteger, e a bondade que tem para conosco, que estamos confiados a seu cargo pelo próprio Deus. É, sobretudo, nas tentações do demônio que o devemos invocar, pois que ele está acostumado a frustrar os ardis desse pérfido inimigo; bem como nas ocasiões perigosas, em que a sua previdência e destreza tão oportunamente nos podem auxiliar; na questão da vocação, em que ele pode conhecer melhor que ninguém os desígnios de Deus a nosso respeito. Ademais, quando temos algum negócio importante para tratar com o próximo, importa dirigirmo-nos aos anjos da guarda dos nossos irmãos, para que eles os preparem para a missão que desejamos desempenhar junto deles; - c) O nosso amor, dizendo-nos que ele tem sempre sido e é ainda para nós um excelente amigo, que nos tem prestado e está sempre disposto a prestar excelentes serviços. Só no céu nos será dado conhecer a extensão desses favores; mas podemos entrevê-lo pela fé, e isto nos basta para lhe exprimirmos o nosso reconhecimento e afeição. E particularmente, quando a solidão nos pesa, é que podemos lembrar-nos de que nunca estamos sós, pois temos junto de nós um amigo dedicado e generoso, com que nos podemos entreter familiarmente. Não esqueçamos enfim que honrar este Anjo é honrar o próprio Deus, de quem ele é representante na terra, e unamo-nos muitas vezes a ele, para melhor glorificarmos a Deus" (Compêndio de Teologia Ascética e Mística, 187).

Católico, não desobedeça ao seu Anjo, a exemplo da mulher de Ló, mas seja-lhe dócil e obediente, porque ele é fiel e protetor: "Grande é a dignidade das almas humanas, pois cada um tem um Anjo destinado à sua guarda desde o instante de seu nascimento" (São Jerônimo, Comentário de Mateus 1, 20 e 18, 10), e: "Deus não deixou nossa fraqueza sem ajuda; mas destinou-nos um Anjo para auxiliar a vida de cada um de nós; esse Anjo é de natureza totalmente incorpórea" (São Gregório Nazianzeno, no "De vita Moysis"), e também: "Que cada fiel seja assistido por um Anjo, como mestre e protetor, que lhe reja a vida, ninguém, o poderá negar, se se lembrar das palavras do Senhor quando disse: Não desprezeis ao menor desses pequeninos; seus Anjos contemplam a face de meu Pai que está nos Céus" (São Basílio Magno, Contra Eunon, 1. III, n.° 1).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 03 de agosto de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Olhou para trás"

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