SE PÔS A GRITAR E CHORAR (Gn 21, 16)
"... e foi sentar-se defronte, à distância de um tiro de arco. Dizia consigo mesma: 'Não quero ver morrer a criança!' Sentou-se defronte e se pôs a gritar e chorar".
Abraão levantou-se cedo, tomou pão e um odre de água que deu a Agar; colocou-lhe a criança sobre os ombros e depois a mandou embora. Ela saiu andando errante no deserto de Bersabéia (Gn 21, 14). Quando acabou a água do odre, ela colocou a criança debaixo de um arbusto e foi sentar-se defronte, à distância de um tiro de arco. Dizia consigo mesma: 'Não quero ver morrer a criança!' Sentou-se defronte e se pôs a gritar e chorar (Gn 21, 15-16). Deus ouviu os gritos da criança e o Anjo de Deus, do céu, chamou Agar, dizendo: 'Que tens, Agar? Não temas, pois Deus ouviu os gritos da criança, do lugar onde ele está. Ergue-te! Levanta a criança, segura-a firmemente, porque eu farei dela uma grande nação'. Deus abriu os olhos de Agar e ela enxergou um poço. Foi encher o odre e deu de beber ao menino (Gn 21, 17-19). Deus esteve com ele; ele cresceu e residiu no deserto, e tornou-se um flecheiro. Ele morou no deserto de Fará e sua mãe lhe escolheu uma mulher da terra do Egito (Gn 21, 20-21).
Agar (hebr. hagar, etimologia incerta). Escrava egípcia de Sara, esposa de Abraão.
Agar FOI EXPULSA da casa de Abraão e saiu andando ERRANTE pelo DESERTO: "Ela saiu andando errante no deserto de Bersabéia" (Gn 21, 14). Quando a água acabou, Agar colocou o seu filho Ismael debaixo de um arbusto, sentou-se longe dele, porque não queria vê-lo morrer de sede: "Sentou-se defronte e se pôs a gritar e chorar" (Gn 21, 16). Católico, Agar e Ismael estão no árido DESERTO de Bersabéia. O menino Ismael está com SEDE e Agar se desespera. Ela coloca o menino na sombra de um arbusto, depois se afasta para não vê-lo morrer. Ela senta-se, grita e chora. Agar não tem uma gota de água para MATAR a SEDE de seu filho Ismael. Na imensidão crua do deserto ela não passa de um grãozinho de areia. Mas Deus a VÊ, AMA-A e CONSOLA-A. O Senhor enviou um Anjo e Agar enxergou uma FONTE de água pura; Ismael é DESSEDENTADO e a mãe Agar não chora mais: "... o Anjo de Deus, do céu, chamou Agar, dizendo: 'Que tens, Agar? Não temas, pois Deus ouviu os gritos da criança, do lugar onde ele está. Ergue-te! Levanta a criança, segura-a firmemente, porque eu farei dela uma grande nação'. Deus abriu os olhos de Agar e ela enxergou um poço. Foi encher o odre e deu de beber ao menino" (Gn 21, 17-19).
Católico, pode acontecer com você o mesmo que aconteceu com Agar e Ismael: ser EXPULSO de um lugar que você gostava ou então ser DESPREZADO por pessoas que você confiava. Sem LUGAR para MORAR nem PESSOAS para te APOIAR, você andará errante pelo SECO e QUENTE "DESERTO" do mundo: com fome, sede, desprezado, tido por bandido... Caso isso aconteça, NÃO IMITE Agar: não se afaste (não se afaste do fardo), não senta-se (não desanime) e não chore (não queira ser consolado pelas criaturas). Católico, lembre-se de que existe um Deus que OUVE os "GRITOS" daquele que confia n'Ele; não gritos de desespero e de revolta, mas de SÚPLICA, que sai de um coração CONFIANTE. O que aconteceu com Agar no deserto é, por sua parte, um exemplo da misericórdia de Deus: "Pois se temos renascido por sua graça, ninguém prevalecerá contra nós, mas seremos mais fortes que tudo" (São João Crisóstomo, Homilia in Genesim 46, 2). Milhares de católicos se DESESPERAM diante das PROVAÇÕES da vida; não SUPORTAM o "calor", a "areia", as "feras" e as "pedras" do "DESERTO", que é esse mundo. É nas dificuldades que provamos se amamos verdadeiramente a Deus. Assim como o Senhor SOCORREU Agar e Ismael, também nos SOCORRERÁ: "Deus abriu os olhos de Agar e ela enxergou um poço. Foi encher o odre e deu de beber ao menino" (Gn 21, 19). Católico, CONFIE em Deus e Ele o ajudará: "O nosso fim é Deus, fonte de todos os bens, e devemos, como repetimos em nossa oração, confiar unicamente n'Ele e em mais ninguém" (São Jerônimo Emiliani), e: "Quando eu penso: 'Estou quase caindo!' Vosso amor me sustenta, Senhor! Quando o meu coração se angustia, consolais e alegrais minha alma" (Sl 93, 18-19), e também: "O Senhor é o refúgio do oprimido, seu abrigo nos momentos de aflição. Quem conhece o vosso nome, em vós espera, porque nunca abandonais quem vos procura" (Sl 9, 10-11), e ainda: "Só em vós eu coloquei minha esperança!" (Sl 39, 8). Católico, NÃO FIQUE TRISTE diante dos DESPREZOS das CRIATURAS. Para que se ARRASTAR diante de uma "LATA" cheia de VERMES e OSSOS? Santo Afonso Maria de Ligório escreve: "Devemos também praticar a paciência e provar nosso amor a Deus suportando em paz os desprezos que recebemos. Quando uma pessoa se dá para Deus, Ele mesmo faz ou permite que seja desprezada e perseguida pelos homens". Conta-se do Beato Henrique Suso que, certa vez, tomou consciência dos sofrimentos impostos pelos homens: "Henrique, até agora tens praticado a mortificação a teu modo. De hoje em diante, serás mortificado como os outros quiserem". No dia seguinte, vendo um cachorro rasgando um farrapo, pensou consigo: "Assim serás tu, dilacerado pela boca dos homens". Desceu do lugar onde estava, guardou um pedaço daquele pano para lembrar-se dele no meio dos sofrimentos. Os desprezos e as injúrias são desejados e procurados pelos santos. São Felipe Neri, como hóspede, sofreu muitos maus tratos durante trinta anos: apesar disso, não queria mudar-se e passar para uma nova casa que Ele mesmo fundara. São João da Cruz, precisando mudar de ares por causa de uma doença, não quis aceitar uma casa cômoda, onde havia um superior que gostava muito dele. Escolheu, porém, uma casa pobre, dirigida por um superior que não lhe tinha simpatia e que o perseguiu e o maltratou durante muito tempo e de várias maneiras. Santa Teresa escreveu: "Quem procura a perfeição deve evitar dizer: fizeram-me isso sem razão. Se queres carregar a cruz, mas somente aquela que se apóia na razão, a santidade não é para ti". É conhecida a resposta que Jesus crucificado deu a São Pedro, mártir, quando se lastimava de estar encarcerado, sem ter feito mal algum: "E eu que mal fiz para estar pregado nesta cruz sofrendo e morrendo pelos homens?" Os santos consolavam-se, quando injuriados, com as ofensas que Jesus Cristo padeceu por nós. Santo Eleazar, perguntado por sua esposa, como podia sofrer com tanta paciência as numerosas injúrias recebidas até mesmo de seus empregados, respondeu: "Penso em Jesus desprezado. Vejo que as afrontas feitas a mim não são nada, em comparação com as que Ele sofreu por mim. Assim Deus me dá força para suportar tudo em paz". As injúrias, a pobreza, os sofrimentos e todas as tribulações que sobrevêm a uma pessoa que não ama a Deus, tornam-se ocasião para mais se afastarem d'Ele. Mas, sobrevindo a quem ama a Deus, tornam-se motivo de maior união com Ele e de maior amor: "As torrentes não puderam extinguir o amor, nem os rios o puderam submergir". As tribulações, por muitas e graves que sejam, não só não extinguem, mas sim, aumentam as chamas da caridade num coração que ama somente a Deus" (A Prática do amor a Jesus Cristo, Capítulo XIV).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 06 de agosto de 2008
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