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RAQUEL CHORA SEUS FILHOS

(Mt 2, 18)

  

"Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos e não quer consolação, porque eles já não existem".

 

 

 

Quando os magos não voltaram a Herodes para lhe dizerem em que lugar nascera o Messias, ele se irou fortemente porque se viu enganado. Então mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todo o seu território, de dois anos para baixo, consoante o tempo que ele havia apurado junto aos Magos: "Então Herodes, percebendo que fora enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou matar, em Belém e em todo seu território, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo de que havia se certificado com os magos" (Mt 2, 16).

Deve ter sido uma cena de grande terror ver os soldados de Herodes arrancarem dos braços das mães desesperadas os seus pequenos inocentes, para os ferirem com as espadas no coração e os atirarem contra as pedras: "Depois que o pequeno Jesus impressionou os magos, não com um poder corporal, mas com a graça do Espírito, Herodes encheu de furor, porque não pôde conquistar, apesar do brilho e esplendor de seu trono, àqueles a quem o pequeno Jesus havia deslumbrado deitado em um presépio. O desprezo dos magos acrescentou novos motivos a seu furor, e isto é o que significa aquelas palavras: 'Então Herodes, quando viu que havia sido enganado pelos magos, se irritou muito'. A cólera dos reis é grande e inextinguível, quando nasce do desejo desordenado de reinar. Porém, o que ele fez? Enviando soldados, fez matar a todos os meninos. À maneira que a besta ferida despedaça tudo quanto encontra no seu caminho, acreditando ser a causa do dano, assim ele, enganado pelos magos, descarregava seu furor sobre os meninos. No meio do seu furor pensava: 'Indubitavelmente os magos encontraram o menino que dizem que reinará', porque, um rei cheio de ambição de reinar, suspeita e teme a tudo. Por isso mandou matar a todos os meninos, para tirar do meio um, pela morte de todos" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum Super Matthaeum, hom. 2), e: "E, enquanto ele persegue a Cristo, rei contemporâneo deste rei perseguidor, lhe deu um exército resplandecente de mártires" (Santo Agostinho, In Sermonibus de Epiphania), e também: "Jamais este inimigo terreno poderia tributar a estes bem-aventurados meninos os benefícios que lhes tributou com seu ódio, porque, quanto maior o ódio com que lhes perseguiu, mais abundante a graça que os beatificou" (Idem.), e ainda:  "Ó bem-aventurados meninos! Somente poderá duvidar da coroa que haveis merecido com vosso martírio por Cristo, aquele que duvida da graça que os meninos recebem com o batismo de Cristo. Ele que pôde ter anjos que o anunciaram, magos que o adorasse, poderia também arrancar-lhes desta morte sofrida por Ele, se não soubesse que esta morte não fosse a ruína, mas o triunfo daqueles meninos. Longe de nós o pensar que ao vir Cristo para a salvação do mundo, não houvesse feito nada para salvar aqueles que deram seu sangue por Ele, que pendendo de um madeiro rogou pelos mesmos que o crucificaram" (Idem., Sermones, 373, 3), e: "Porém, Herodes não se contentou em encher de luto e desolação a Belém, mas levou a morte aos lugares vizinhos, e sem ter compaixão alguma pela tenra idade, mandou matar a todos os que tinham desde uma só noite de nascido até os que contavam com dois anos. E isto é o que nos quer dizer pelas palavras: 'Em Belém e em toda sua comarca de dois anos abaixo" (Rábano), e também: "Os magos não haviam visto, dias antes, esta estrela desconhecida, mas já fazia dois anos, como se deduz da resposta que deram a Herodes. Por isso, este rei mandou matar a todos os meninos de dois anos abaixo, por isso acrescenta o texto sagrado: 'Conforme o tempo que havia averiguado os magos" (Santo Agostinho, In Sermonibus de Epiphania), e ainda: "Talvez temia que este menino, a quem as estrelas obedeciam, mudasse sua idade para ocultar-se e houvesse tomado a forma de uma idade maior ou menor, e por isso, mandou matar a todos os meninos de dois anos até os que só tinham um dia" (Idem., In Sermonibus de Epiphania), e: "Possivelmente Herodes, retinha seu pensamento em matar aos meninos, porém, pelo perigo que via muito perto, estendeu aquela matança. Ou talvez acreditou que os magos, enganados pela aparência de uma falsa estrela, tiveram vergonha de voltar a ele sem haver encontrado o menino. Assim, afastado todo temor, Herodes deixou de perseguir ao menino, e desta maneira, cumpridos os dias da purificação, seus pais puderam com toda tranquilidade subir ao Templo. A quem pode estranhar que um rei ocupado com tantas coisas não notasse este acontecimento? E só mais tarde, quando se divulgou tudo o que havia acontecido no Templo, Herodes compreendeu que havia sido enganado pelos magos. Então foi quando começou a matança de tantos meninos, como refere o evangelista" (Idem., De Consensu Evangelistarum, 2, 11), e também: "A morte destes meninos foi uma profecia do sacrifício de todos os mártires de Cristo. Este martírio de meninos nos ensina que é pela humildade que se consegue a graça do martírio. O martírio, que se estende desde Belém aos arredores, prefigura a perseguição que desde a Judéia, contra a Igreja, devia estender-se por toda a terra. Os mártires de dois anos representam os mártires perfeitos na doutrina e nas obras; os menores de dois anos, às almas simples que sofrem pela fé. Que eles fossem sacrificados e que Cristo escapasse das mãos de seus perseguidores, nos ensina que os ímpios podem fazer perecer os corpos dos mártires, porém, não separá-los de Cristo" (São Beda, Homilia in Nat. Innocent

Mas, sobre esse sangue que banha as casas de Belém, desses membros horrivelmente esfacelados, levantam-se as almas inocentes para cantarem a glória de Cristo: "Senhor, - dizem elas - Senhor nosso, quão admirável é o teu nome por toda a terra! Da boca de nós, crianças, tiraste um louvor perfeito contra os teus inimigos" (Sl 8, 2-3).

Herodes era o grande inimigo de Jesus; não queria nem sequer ouvir falar d'Ele: "Nasce uma criancinha, que é o grande Rei. Os magos chegam de longe; vêm adorar, ainda deitado no presépio, aquele que reina no céu e na terra. Ao anunciarem os magos o nascimento de um Rei, Herodes se perturba e, para não perder seu reino, quer matar aquele que lhe daria reinar em segurança nesta terra e para sempre na outra vida, se nele tivesse crido. Por que temes, Herodes, ao ouvir que nasceu um Rei? Ele não vem expulsar-te, mas vencer o demônio. Como não compreendes isso, tu te perturbas e te enfureces; para perderes o único menino que procuras, tens a crueldade de matar tantos outros" (São Quodvultdeus, Dos Sermões).

Herodes o Grande, do qual aqui se trata, era filho de pais não judeus; tinha conseguido reinar sobre estes com a ajuda e como vassalo do Império Romano. Desenvolveu uma grande atividade política e, entre outras coisas, reconstruiu luxuosamente o Templo de Jerusalém. Sofreu de mania de perseguição, vendo por toda a parte competidores da sua realeza; célebre pela sua crueldade, matou a maioria das dez mulheres que teve, alguns filhos (Alexandro, Aristóbulo e Antípater) e bom número de pessoas influentes na sociedade do seu tempo (seu genro José, a Salomé, ao sumo sacerdote Hircano II, a sua mulher Mariamne, ao irmão dela, Aristóbulo, à mãe destes, Alexandra, a Kostobaro, nobre idumeu, a outra mulher chamada também Salomé, a Bagoas...).  

A selvagem matança dos inocentes, não causa admiração se se tem presente a índole sanguinária de Herodes: "Não foram somente adversários políticos que caíram vítimas do seu furor, mas também amigos e familiares, entre os quais a própria mulher e três filhos. O número das crianças degoladas, como tenras florzinhas, pela espada dos soldados de Herodes, não deve ser exagerado. Supondo-se que em Belém e arredores houvesse uns 2.000 habitantes e anualmente nascessem umas vinte crianças do sexo masculino - algumas das quais presa fácil da morte nos primeiros meses de vida - devemos dizer que as vítimas de Herodes foram de 30 a 40. Que podia valer a vida de uns vinte meninos para aquele monstro coroado?" (PIB), e: "Concretamente, Belém em 1940 tinha 7.000 habitantes. E desde 01 de abril de 1938 a 01 de abril de 1940, nasceram 561 crianças; destas, 262 meninos e 299 meninas" (FISHER, El Oriente Medio (1952) 267; HOLZMEISTER, Quot pueros urbis Bethlehem Herodes rex occiderit (Mt 2, 16): VD (1935) 373-379), e também: "Se Belém tinha nos dias do nascimento de Cristo umas 1.000 pessoas, corresponderia em dois anos o nascimento de umas 80 crianças. Porém, sendo o índice de mortalidade infantil na atualidade quase a metade antes de chegar aos cinco anos, e sendo aproximadamente igual o número de nascimento de meninos e meninas, e supondo que Herodes não tivesse interesse em mandar matar as meninas, se pode calcular em 22 o número dos inocentes" (Pe. Manuel de Tuya).

Os Inocentes deram a Nosso Senhor o testemunho mais belo: a vida. Ainda não sabiam falar, e souberam morrer: "Visto que não podiam fazer uso da sua liberdade, como se pode dizer que morreram por Cristo? (...) Deus não teria permitido esse morticínio se não tivesse sido útil para aqueles meninos" (Santo Tomás de Aquino), e: "Duvidar de que tal morticínio foi útil para esses meninos é o mesmo que duvidar de que o Batismo seja útil para as crianças. Pois os inocentes sofreram como mártires e confessaram Cristo - não falando, mas morrendo" (Santo Agostinho, Comentário sobre São Mateus, 2, 16).

Uma vez, pois, que Jesus foi para o Egito, eles, com o seu sangue derramado no lugar do de Jesus, mataram a sede e o furor cruel de Herodes. Este cessou de perseguir Jesus, porque acreditava que Ele houvesse morrido, do contrário ainda o teria procurado.

Herodes era o grande inimigo de Jesus: queria a todo custo tirar-Lhe com violência a vida: e, em vez disso, os Inocentes foram "salvadores" de Cristo, oferecendo, em lugar d'Ele, a sua existência: "Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel chora seus filhos e não quer consolação, porque eles já não existem".

Edições Theologica comenta: "Ramá foi a cidade em que Nabucodonosor, rei da Babilônia, reuniu os prisioneiros israelitas. Por estar situada na tribo de Benjamim, Jeremias põe na boca de Raquel, mãe de Benjamim e José, as lamentações pelos filhos de Israel. A magnitude da desgraça dos desterrados para a Babilônia era tal, que Jeremias exprime poeticamente que a dor de Raquel é demasiado grande para aceitar consolação", e: "Quando morreu Raquel foi enterrada no hipódromo próximo de Belém. Como o sepulcro estava próximo e a  herdade pertencia a seu filho Benjamim - Ramá era da tribo de Benjamim -, pelo cabeça da tribo e pelo lugar do sepulcro, pôde razoavelmente chamar filhos de Raquel aos meninos degolados em Belém" (São João Crisóstomo,  Hom. sobre Mateus, 9).

São João Crisóstomo escreve também: "Depois de haver-nos enchidos de horror com a narração de tão sangrento martírio, o evangelista, para acalmar um pouco esta desagradável impressão, nos manifesta que todas estas coisas sucederam, não porque Deus não podia impedir ou porque as ignorasse, mas já o havia anunciado por boca de seu profeta. Por ele disse: 'Então foi cumprido"    (Homilia in Matthaeum, hom. 9), e: "São Mateus não refere esta passagem conforme o texto hebreu, ou conforme os Setenta, o qual prova que os evangelistas e os apóstolos não seguiram a interpretação de ninguém, mas que expressaram, como hebreus que eram e em sua mesma língua, o que segundo eles, continha o texto hebreu" (São Jerônimo, In Jeremiam, 31, 15), e também: "Não devemos tomar Ramá pelo nome do lugar que se encontra perto de Gueba. Ramá quer dizer alto, como se dissera: 'Voz foi ouvida no alto', isto é, desde muito longe" (Idem., In Matthaeum), e ainda: "Talvez porque se tratava da morte dos inocentes, se diz que se ouvia nas alturas conforme àquelas palavras: 'A voz do pobre penetra as nuvens' (Eclo 35, 21). A palavra choro significa o pranto dos meninos, e lamento, os lamentos das mães. A dor dos meninos acaba com a morte, porém, a dor das mães renova sempre com a memória, Por isso disse: 'Muito lamento. Raquel chorando seus filhos" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum super Matthaeum, hom. 2), e: "Tendo nascido Benjamim de Raquel, cuja tribo não corresponde Belém, poderia perguntar-se, por que Raquel chorava como a seus próprios filhos aos filhos de Judá, isto é, aos de Belém? A isto poderia responder-se brevemente que foi enterrada perto de Belém, em Efratá, e tomou o nome de mãe do lugar onde descansam seus restos. Ou que, sendo Judá e Benjamim duas tribos unidas, e havendo mandado Herodes matar os meninos não só em Belém, mas em todos os seus limites, o falar da matança em Belém, pode entender-se que também foram sacrificados muitos meninos da tribo de Benjamim" (São Jerônimo, In Mattaeum), e também: "Para pintar o evangelista com cores mais vivas a grandeza da dor, disse que ainda depois de morta, Raquel havia chorado seus filhos e não quis ser consolada porque já não existiam" (Remígio), e ainda: "Não é certo que houvessem deixado de existir aqueles que se tinham por mortos. A glória do martírio os havia transportado à vida da eternidade. Devia, pois, oferecer-se consolo por uma coisa perdida, não por uma coisa acrescentada. Raquel era a figura da Igreja, por muito tempo estéril e agora fecunda; não geme e chora pelos filhos que lhe arrebataram, mas porque arrebataram aos que ela quisera conservar como seus filhos queridos" (Santo Hilário, In Matthaeum, 1), e: "Pode também significar a Igreja que chora os santos mortos a este mundo. E não deseja ser consolada como se os que venceram ao mundo com a morte, fossem chamados novamente aos mesmos combates, porque certamente não voltarão ao mundo" (Rábano), e também: "Talvez não quisera ser consolada neste mundo, porque não existem mais, e põe todo seu consolo e sua esperança na vida eterna" (Glosa), e ainda: "Raquel - cujo nome significa ovelha ou o que vê -, é figura da Igreja, cujo único desejo é contemplar a Deus. É também a centésima ovelha que o pastor leva sobre seus ombros" (Rábano).

Referindo à crueldade de Herodes, São Quodvultdeus escreve: "Não te detém o amor das mães em lágrimas, nem o luto dos pais que choram seus filhos, nem os gritos e gemidos das crianças. Trucidas esses pequeninos no corpo porque o medo te trucida no coração; julgas que, se realizares teu propósito, poderás viver muito tempo, mas é a própria Vida que procuras matar".

São estes os dois pensamentos sobre os quais nos devemos deter, ou, melhor, são estes os exemplos que devemos aprender. Isto é, como os Santos Inocentes, devemos ser testemunhas de Cristo e "salvadores" de Cristo.

 

1.  Testemunhas de Cristo

 

 

São Quodvultdeus escreve: "Essas crianças não sabem que morrem pelo Cristo, os pais choram a morte dos mártires. Ainda não sabem falar e Cristo faz delas dignas testemunhas suas. Eis como reina aquele que assim viera reinar. Eis que o libertador já liberta e o salvador concede a salvação. Tu, porém, ó Herodes, ignoras isso, te perturbas e te enfureces; e, ao te enfureceres contra o Menino, já lhe prestas serviço, sem o saberes. Ó imenso dom da graça! Quais foram os méritos dessas crianças para obterem tal vitória? Ainda não falam e já proclamam o Cristo. Não podem ainda  servir-se de seus membros para a luta e já ostentam a palma da vitória" (Dos Sermões).

Católico, você que já é BATIZADO e CRISMADO, é CAPAZ de ser TESTEMUNHA de Cristo? É CAPAZ de consumir-se para tornar Cristo Jesus CONHECIDO? É CAPAZ de sair da "poltronice" para ACORDAR aqueles que estão adormecidos nas trevas?

Não venha com desculpa de que anda muito OCUPADO. Você foi criado para ser LUZ que ilumina e SAL que salga: "Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos; a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Nem sequer seria necessário expor a doutrina se a nossa vida fosse irradiante a esse ponto, não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos como verdadeiros cristãos" (São João Crisóstomo, Hom. X in ITm.; Migne, PG LXII, 551), e: "Cada um é obrigado a difundir no meio dos outros a sua fé, seja para instruir ou confirmar os outros fiéis, seja ainda para repelir os ataques dos infiéis" (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 3, a. 2, ad 2).

São Ladislau, rei da Boêmia e da Hungria, quando ainda era pequeno, saiu, um dia, do palácio para ir para o meio dos seus soldados. Aqueles homens de armas, ao verem o seu reizinho, aproximaram para lhe dizerem cada um alguma bela palavra. O sorriso do seu juveníssimo soberano tornava-os delicados e gentis. Houve alguns que lhe ofereceram algum presentinho, e o menino aceitava satisfeito, dando em compensação alguma moedinha das que sua mãe lhe dera.

Quando eis que, abrindo passagem por entre os outros, adianta-se um soldado, um rapaz ainda imberbe, que com grande valor já combatera em defesa do pequeno soberano e de seu pai. Chegado diante do rei, não tendo nenhum presente para lhe oferecer, mostra-lhe, com nobre orgulho, as feridas e as cicatrizes que diziam todo o seu amor e toda a sua fidelidade.

O rei ficou tão comovido, que não somente deu-lhe uma moeda, mas toda a bolsa que seu servo segurava, derramando-a nas mãos daquele ufano soldado, e acrescentou: "Sinto muito por ora não poder dar-te mais".

O nosso pequeno rei, Jesus Cristo, "desceu do céu para vir para o meio de nós, na terra. Mas, comprimindo-nos em torno do sou berço, nós, mais do que palavras e luzes e ofertas, deveríamos, como aquele heróico rapaz, poder mostrar-lhe os sinais de havermos combatido por Ele" (Pe. João Colombo).

"Senhor, eu era soberbo e ambicioso. Não aceitava nenhuma observação, nenhuma ordem de meus pais e superiores, sem pronunciar a palavra da queixa e da desobediência. A última palavra devia ser sempre a minha. Mas vê que procurei combater-me, vencer-me, e alguma coisa cheguei a obter. Ainda sinto o sangue ferver-me nas veias, mas, com a tua graça, parece-me que melhorei. O sinal mais belo da minha luta contra a soberba é o meu caráter, a minha alma tornada mais humilde e mansa".

"Eu, ao invés, - deveria poder dizer um outro - era muito apegado às minhas comodidades, aos meus gostos e ao prazer do meu corpo. Só pensava em me divertir, em comer e beber, em frequentar lugares onde se goza uma alegria imoderada. Algumas vezes também, ó Senhor, ofendi-te gravemente para satisfazer as minhas paixões. Mas posso dizer que me corrigi. Compreendi que é preciso cuidar da alma primeiro do que do corpo, e é por isto que não quero descurar os deveres que tenho para Contigo, para com a minha família e para comigo mesmo".

"Para mim - deveria poder dizer um outro a Jesus Menino - a oração era a última coisa. Agora, ao contrário, tu vês, ó Senhor, que todos os dias eu rezo as minhas orações pela manhã e à noite, todos os dias rezo o Santo Terço, em todas as festas e domingos participo com devoção da Santa Missa, e frequento os Santos Sacramentos".

Católico, "... são estes os presentes que Jesus espera de nós; são estes os sinais de vitória na luta contra nós mesmos. Este é o verdadeiro modo de imitar os Santos Inocentes, que deram a Cristo testemunho de fatos, e não de palavras" (Pe. João Colombo).

Cristo Jesus quer que você mesmo pegue a "espada" da BOA VONTADE, e "degole" TODAS as coisas que te AFASTA d'Ele, principalmente os APEGOS: "... é preciso livrar-se do gosto de todas as coisas criadas, pois a criatura atormenta e o espírito de Deus gera alegria..." (São João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Livro I, Capítulo VII, 4).

 

2.  "Salvadores" de Cristo

 

Certamente fez um grande favor ao rei Davi sua mulher Micol quando, de noite, o desceu por uma janela, por estar ele sendo procurado de morte, e em lugar dele, no leito, pôs uma estátua bem coberta de peles; mas a Micol esta astúcia não custou muito trabalho. Ao contrário, "... aos Santos Inocentes, desde o momento que cada um deles foi considerado Cristo, o substituir-se à pessoa de Jesus custou a vida justamente no início" (Pe. João Colombo).

Católico, nós também podemos ser "salvadores" de Cristo num momento mais perfeito do que foram os Inocentes: eles não sabiam de nada, ao passo que nós conhecemos Jesus Cristo e sabemos que devemos defendê-lo dos que querem matá-lo em tantas almas: "Se é crime enorme o homicídio, crime sem comparação muito maior deve ser matar uma alma imortal, isto é, tirar-lhe a vida da graça. Se o sangue de Abel bradou ao céu por vingança, qual não será o brado do Sangue de Jesus Cristo contra aqueles que dão escândalo! Se o Sangue de Jesus Cristo, qual chuva de maldição, caiu sobre os juízes, que o mandaram à morte, que será daqueles que roubam a Jesus Cristo almas que remiu com seu Sangue Preciosíssimo! É bem verdade que ninguém, absolutamente ninguém, ainda que contra nós se conjure o próprio inferno, pode fazer-nos cometer um pecado, se não dermos o nosso consentimento, mas verdade também é, que maus exemplos, mais que os bons, impressionam a nossa natureza corrompida, e sobre ela exercem uma força muito grande. Quem dá escândalo, completa a obra do demônio, seduzindo as almas e levando-as à eterna perdição; é pior que o demônio, que afinal nada mais pode fazer senão rodear-nos qual leão que ruge, porém, dum modo invisível, e em certa distância, sempre em atitude de fugir quando nota resistência da nossa parte. Inteiramente outra é a influência de quem dá escândalo. Este, com semblante de amigo se acerca de nós; à nossa resistência ele opõe suas blandícias, e não desiste dos seus maus intentos enquanto não os tiver realizado" (Pe. João Batista Lehmann).

Na praça de um lugarejo da França elevava-se uma grande cruz de madeira. A cruz era o coração de toda aquela gente, e lá, elevada ao alto no meio das casas, ela parecia querer projetar-se para abençoar, para defender e para manter em todos a vida da fé. Os primeiros passos das crianças eram em direção àquela cruz; no domingo, depois da Missa, todos, em procissão, entre as orações e os cânticos, iam da igreja até à cruz.

Quando vieram os tristes dias da revolução, um bando desabusado de gente ébria de ódio, entrou no lugarejo e dirigiu-se à praça para pôr a baixo a cruz. Mas não puderam fazer nada. Aos pés daquele lenho bendito acharam uma mulher sozinha, tendo nas mãos um machado de rachar lenha, pronta a tudo antes que a ver o mais leve atentado sacrílego.

Era a avó de Luís Veuillot, o maior jornalista católico do século XVIII. Certamente, na fé ardente do neto, o Senhor premiou a coragem daquela heroína.

Católico, "... no centro dos nossos lugarejos eleva-se a igreja, que, além de ser a casa de Deus, deve ser também a casa das almas. Mas há tantos que não sabem o que fazer dela, e vivem afastados dela, satisfeitos talvez se amanhã ela fosse abatida, e em seu lugar surgisse um teatro, um campo de esportes ou algo pior. A nós, que sabemos o bem que ela produz, compete fazer de modo que ela exista também para aqueles que não a frequentam" (Pe. João Colombo).

O coração, ó pais, de vossos filhos, é algo ainda mais sagrado do que uma cruz de madeira. Ele é o templo vivo onde habita o próprio Jesus Cristo, com a sua vida divina. Mas quantas conjuras, quantas lutas o demônio e o mundo promovem para destruir a graça de Cristo, para fazer perder a fé n'Ele! Apliquemo-nos, então, a uma obra de defesa para salvar todo o patrimônio santo que nos transmitiram os nossos antepassados.

Difundamos a boa imprensa, impeçamos a blasfêmia e os palavrões, conservemos longe dos perigos aqueles que pudermos, e teremos "salvado" Jesus em muitas almas.

Católico, você não pode ficar INDIFERENTE diante de TANTA IMORALIDADE.

Você já CONVERSOU com aquele senhor que possui uma banca onde se vende revistas pornográficas? Disse-lhe que é pecado mortal vender essas CARTILHAS de Satanás? Cuidado! O seu silêncio pode levá-lo ao INFERNO, principalmente se você é BISPO ou SACERDOTE: "Ai de mim! Calar, jamais! Gritai em cem mil línguas! Vejo que, por ter alguém calado, o mundo se arruinou e a Santa Igreja encontra-se pálida, sem cor, sem sangue nas veias" (Santa Catarina de Sena, Carta 16, 6).

Você já CORRIGIU aquele que se diz católico e que CRITICA e NEGA abertamente a Santa Doutrina da Igreja? Não perca tempo, corrige-o; principalmente se você faz parte do CLERO: "Dormem os pastores, cuidando de si mesmos na ganância e na impureza. Dormem ébrios de orgulho, sem notar que o lobo infernal, o diabo, lhes retira a graça, bem como a seus súditos... Como é prejudicial o egoísmo nos prelados e nos súditos! Nos prelados, porque não corrigem os defeitos dos súditos. De fato, quem vive no egoísmo ama a si mesmo e nada corrige nos outros. Mas quem ama a si mesmo em Deus, foge do amor interesseiro, denuncia corajosamente os defeitos nos súditos, nunca se cala ou finge não ver" (Idem., 5).

Você já CORRIGIU aquela moça que usa ROUPAS IMORAIS? Aquele jovem que possui locadora de FILMES PORNOGRÁFICOS? Aquele senhor que conta PIADAS IMORAIS? Aquela criança que diz PALAVRÕES?

Cuidado! Se você permanecer em SILÊNCIO diante desses "satélites de Satanás", você poderá se PERDER ETERNAMENTE; principalmente se tratando de BISPO ou SACERDOTE: "Quando eu disser ao ímpio: 'Ó ímpio, certamente hás de morrer' e tu não o desviares do seu caminho ímpio, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas o seu sangue o requererei de ti" (Ez 33, 8), e: "Nós, porém, além de cristãos, tendo de prestar contas a Deus de nossa vida, somos também bispos e teremos de responder a Deus por nossa administração" (Santo Agostinho, Início do Sermão sobre os pastores), e também: "Ó grande dignidade do sacerdote, mas também grande responsabilidade do sacerdote. Muito te foi dado, ó sacerdote, mas também muito de ti será exigido..." (Santa Faustina Kowalska, Diário, 941), e ainda: "Abandonamos o ministério da pregação e, reconheço-o para pesar nosso, chamam-nos de bispo a nós que temos a honra do nome, não o mérito. Aqueles que nos foram confiados abandonam a Deus e nos calamos. Jazem em suas más ações e não lhes estendemos a mão da advertência. Quando, porém, conseguiremos corrigir a vida de outrem, se descuramos a nossa? Preocupados com questões terrenas, tornamo-nos tanto mais insensíveis interiormente quanto mais parecemos aplicados às coisas exteriores... Postos como guardas às vinhas, de modo algum guardamos a nossa, porque, enquanto nos embaraçamos com ações exteriores, não damos atenções ao ministério de nossa ação verdadeira" (São Gregório Magno, Homilia sobre os Evangelhos).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 09 de agosto de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Raquel chora seus filhos"

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