EIS COMO A FARÁS (Gn 6, 15-16)
"Eis como a farás: para o cumprimento da arca, trezentos côvados; para sua largura, cinquenta côvados; para sua altura, trinta côvados. Farás um teto para a arca e o rematas um côvado mais alto; farás a entrada da arca pelo lado, e farás um primeiro, um segundo e um terceiro andares".
Católico, a Palavra de Deus diz que Noé OBEDECEU CEGAMENTE ao Senhor: "Noé fez tudo o que Deus lhe ordenara" (Gn 7, 5). Se o Senhor nos pede algo que achamos impossível executar, não Lhe demos uma RESPOSTA NEGATIVA, mas confiemos n'Ele e Ele que é cheio de Bondade nos ajudará. Noé não murmurou contra Deus nem mostrou pouca vontade, mas cumpriu tudo com perfeição: "Frente à desobediência de Adão, origem de toda maldade sobre a terra, Noé cumpriu com perfeição as indicações do Senhor até em seus menores detalhes (cf 6, 22). Por sua obediência Noé será exaltado como crente que põe sua fé em Deus: 'Foi pela fé que Noé, avisado divinamente daquilo que ainda não se via, levou a sério o oráculo e construiu uma arca para salvar a sua família. Pela fé, ele condenou o mundo, tornando-se herdeiro da justiça que se obtém pela fé' (Hb 11, 7)" (EUNSA). FAÇAMOS a vontade de Deus com perfeição... com alegria... com generosidade... e Ele nos abençoará: "Toda a santidade consiste em amar a Deus, e todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade. Devemos, pois, acolher sem reserva todas as disposições da Providência a nosso respeito e, consequentemente, abraçar em paz tudo o que nos acontece de favorável ou desfavorável, nosso estado de vida, nossa saúde, tudo o que Deus quer. Todas as nossas orações devem ser dirigidas pedindo que ele nos ajude a cumprir sua santa vontade" (Santo Afonso Maria de Ligório, A Prática do amor a Jesus Cristo, Resumo das virtudes), e: "O segredo para ser feliz ainda neste mundo, é cumprir a vontade de Deus" (São Basílio), e também: "Quem vive e morre perfeitamente fazendo a vontade de Deus, é impossível que Nosso Senhor não o receba imediatamente no céu" (São Francisco de Sales). Noé obedeceu a Deus, construir a arca e se SALVOU do dilúvio. Aquele que se revolta contra Deus e que FAZ a própria vontade se AFOGARÁ no "dilúvio" da infelicidade. São Bernardo compara a vontade própria à sanguessuga e à víbora: "Defende-te desta sanguessuga que é a vontade própria, pois atrai tudo a si. Defendamos-nos dela como de uma víbora perigosa e venenosíssima. À semelhança da sanguessuga que, chupando o sangue, debilita e esgota as forças, assim a vontade própria elimina o princípio de todos os méritos - a vontade de Deus. E como a víbora envenena o sangue, assim a vontade própria danifica todos os nossos pensamentos, todas as nossas ações e conduz à morte da alma" (In cant., Sermo 71, 14).
Arca (a tradicional tradução portuguesa do hebr. tebah). Navio sobre o qual Noé e sua família se salvaram do dilúvio (Gn 6, 14 ss). O termo indica uma caixa ou cofre. Segundo a descrição de Gn 6, 14 ss, a arca deve ter sido feita de goper (?), madeira calafetada com betume; devia ter trezentos côvados de comprimento por cinquenta de largura, com trinta côvados de altura (respectivamente, cerca de cento e cinquenta, vinte e cinco e quinze metros); deve ter sido construída com três planos ou pontes com "ninhos" (cabinas ou celas?), com um teto e uma porta lateral (DB). Santo Agostinho escreve: "O mandar Deus a Noé, homem justo e, segundo a fidedigna expressão da Escritura, perfeito em sua geração (não com a perfeição com que na imortalidade os cidadãos da Cidade de Deus hão de igualar os anjos de Deus, é verdade, mas com a perfeição de que são capazes nesta peregrinação), que construa uma arca para nela escapar à devastação do dilúvio com os seus, com a mulher, filhos, noras e os animais que por ordem de Deus também fez entrar na arca, é, sem dúvida, figura da Cidade de Deus peregrina neste mundo, quer dizer, da Igreja, que se salva pelo lenho de que pendeu o Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus. As medidas de seu comprimento, largura e altura são símbolos do corpo humano, em cuja realidade veio aos homens, como fora predito. Com efeito, o comprimento do corpo humano, do alto da cabeça aos pés, é seis vezes a largura que vai do lado direito ao esquerdo e dez vezes a altura, medida no lado das costas ao ventre. Assim, se mede alguém, estendido de bruços ou de costas, o comprimento, da cabeça aos pés, é seis vezes maior que a largura, da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, e dez vezes que a altura, do solo ao ventre. Por isso, a arca foi feita de trezentos côvados de comprimento, cinquenta de largura e trinta de altura. A porta aberta no costado da arca significa, sem dúvida, o ferimento aberto pela lança, ao atravessar o lado do Crucificado. Os que vêm a Ele entram por ele, porque dele manaram os sacramentos, com que os crentes são iniciados. O mandar construí-la de tábuas de madeira quadradas significa a vida plenamente estável dos santos, porque o quadrado, para qualquer lado que o vires, fica sempre firme. Em suma, todas as coisas que se fazem notar na estrutura da arca são sinais de futuras realidades na Igreja. Seria muito demorado explicá-los agora e, além disso, já o fizemos na obra intitulada Contra Fausto Maniqueu, que negava existisse nos livros dos judeus alguma profecia acerca de Cristo. Pode ocorrer que alguém o exponha com mais competência que eu e outro com mais do que esse, mas tudo quanto se diga deve relacionar-se com a Cidade de Deus de que falamos, viajante no meio deste mundo corrompido como em meio do dilúvio, se tal expositor não quer apartar-se do sentido do autor. Se, por exemplo, alguém não quiser entender as seguintes palavras: Farás de dois e de três pavimentos as partes inferiores como dissemos na obra citada, quer dizer, que os dois pavimentos significam que a Igreja se congrega de todas as nações, ou seja, de dois gêneros de homens, a circuncisão e o prepúcio, ou, segundo a expressão do Apóstolo, de judeus e de gregos, e os três pavimentos figuram a restauração de todos os povos, depois do dilúvio, mercê dos três filhos de Noé, que esse alguém dê outra interpretação, mas não estranha à regra de fé. Porque não quis que fosse a arca habitável somente nas partes inferiores, mas também nas superiores, chamou-a de dois pavimentos e, como também nas em cima das superiores havia de sê-lo, chamou-a de três pavimentos, de forma que do entressolo ao teto havia terceira habitação. Outro poderia entender pelos três pavimentos as três virtudes recomendadas pelo Apóstolo, a fé, a esperança e a caridade. Pode-se entender também (e é o que parece mais razoável) as três abundantes colheitas do Evangelho, em que um rende trinta, outro, sessenta, outro cem. Em tal gradação, o último posto caberia à castidade conjugal, o segundo à vidual e o superior à virginal. E assim diríamos de qualquer outra interpretação que possa ser proposta em conformidade com a fé da Cidade Santa. Considere-se, pois, dito o que devia expor agora, porque, embora não idêntica a exposição, não deve discordar da fé católica" (A Cidade de Deus, Vol II, XXVI).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 13 de agosto de 2008
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