PÔS FOGO (Jz 15, 3-5)
"Sansão, porém, lhes replicou: 'Desta vez, ficarei quite com os filisteus fazendo-lhes mal'. Sansão se foi, capturou trezentas raposas, preparou tochas e, amarrando cauda com cauda de cada duas raposas, prendeu nelas as tochas. Então acendeu as tochas e soltou as raposas nas searas dos filisteus, e assim pôs fogo não só nos feixes de trigo, como no que estava ainda plantado, e até nas vinhas e oliveiras".
O Frei Luis Arnaldich escreve: "O texto hebraico fala de raposas (shuhal), porém o termo se emprega também para designar aos chacais (Sl 63, 11). E é tanto mais recomendável esta última significação aqui, porquanto, existiam e existem ainda hoje na Palestina grande quantidade de chacais. O número de trezentos parece excessivo. Trezentos é múltiplo de trinta (Jz 14, 11). Não indica o texto o tempo que empregou Sansão em capturar tão grande número de animais, nem se realizou sozinho esta façanha ou se foi ajudado por outros. Ao atar aos chacais dois a dois e cauda com cauda, com uma tocha acesa entre ambas, se propunha moderar o passo dos animais para que sua ação nos trigais fosse mais efetiva. Sansão os soltou durante a noite para evitar o ser surpreendido em sua trama e para que a devastação fosse mais completa, pela ausência de pessoas que pudessem apagar o fogo. Aqueles campos de trigo, colhidos já em parte, e outros, todavia, em pé, foram logo devorados pelas chamas. Esta ação de colocar fogo nas plantações por motivo de vingança (2 Sm 14, 30) ou como ação de guerra (Jt 2, 27) estava muito em uso entre os romanos e os árabes".
Sansão irado contra os Filisteus, recorreu a um estratagema para fazer-lhes mal. Estava nos dias da colheita: as aveias pálidas e as espigas de ouro enchiam os campos, e aqui e ali já se erguia alguma pilha. Sansão pegou trezentas raposas, ligou-as duas a duas pela cauda, e no meio pôs-lhes uma tocha. Depois colocou fogo a esta, e soltou os animais ardentes pelos campos de aveia e de trigo. Logo pela região dos Filisteus ateou-se um incêndio imenso: ardia toda a terra com a palha ainda não ceifada e com a já amontoada.
Católico, o DEMÔNIO, nosso terrível inimigo, usa do mesmo estratagema usado por Sansão para fazer uma dolorosa "carnificina" entre os filhos de Deus. O Demônio NÃO pode mais se salvar, então luta continuamente para nos perder: "Toda a sua inteligência e todo o seu poder concentram-se agora em afastar do céu as almas a ele destinadas. Os seus esforços encaminham-se agora incansavelmente no sentido de arrastar o homem ao seu mesmo caminho de rebelião contra Deus" (Pe. Leo J. Trese, A fé explicada, Capítulo IV). Sansão usou as RAPOSAS para espalhar o fogo na plantação dos Filisteus. O Demônio, inimigo infernal, "... pega os escandalosos, e incendeia-os do seu FOGO INFERNAL, e depois os lança, como raposas, para, com as paixões e com o mal, queimarem as almas dos bons. O homem que dá escândalo é, pois, uma raposa que já arde. E talvez fosse esta a imagem que Jesus tinha em mente quando disse que o escandaloso Herodes era uma raposa (Lc 13, 32)" (Pe. João Colombo).
O que é o escândalo?
O escândalo é toda palavra, ação ou omissão que se converte, para o próximo, em ocasião de pecar.
1. Escândalo com palavras
Uma noite, há alguns anos, os guardas da Galeria do Prado, de Madri, onde estão recolhidos estupendos quadros, deteram um homem misterioso. Tendo penetrado na Galeria como um visitante apaixonado de arte, ele fora surpreendido quando lançava salpicos de um líquido negrejante contra o magnífico retrato equestre de Carlos V, obra de Ticiano. Mal se espalhou a notícia, foi uma explosão de protestos: um chamava-lhe delinquente, outro julgava-o um maníaco de destruição, e todos fremiam com a profanação artística. Católico, "...há outros homens que são bastante mais delinquentes do que esse infeliz, mais maníacos, mais sacrílegos: e são aqueles que dão escândalo com más conversas. As palavras que eles difundem são como gotas de líquido negrejante contra a inocência do próximo. Não se trata apenas de manchar uma tela onde o gênio e a perícia de um pintor fixou tanta luz e tanta alegria de cores, mas sim, de manchar um espírito imortal, de lhe escurecer a luz da graça que o inunda, e a cor da virtude que o embeleza. Não se trata apenas de estragar numa tela a imagem de um rei da terra, mas de desfigurar a imagem do Rei do céu impressa como um selo sublime na alma de todo homem. Não se trata apenas de arruinar a obra de um homem, por maior que queiras esse homem, mas de lançar na perdição a obra do Deus Criador, a obra de Jesus Salvador, a obra do Espírito Santo santificador" (Pe. João Colombo). Católico, os escandalosos, "raposas" ardentes de paixões, estão espalhados por TODOS os lugares. Estão nos ônibus, trens, metrôs, aviões... dando escândalos com conversas imorais. Estão nos restaurantes, praças, lojas, esquinas... seduzindo as almas com sua línguas sujas e malignas: "Numa parte proferem-se palavras ímpias, contrárias à fé e à religião: há quem escarneça os Sacramentos, quem injurie o Papa e os sacerdotes, quem se gabe de ser incrédulo. Noutra parte, proferem-se conversas desonestas, são cantigas obscenas, são palavras equívocas, são feias blasfêmias. Por toda parte são tições de fogo infernal, são gotas de tóxico que caem sobre as almas. Assim as almas são lançadas no caminho do mal, e impelidas sempre mais avante na via da perdição eterna" (Idem.). Jesus Cristo disse que Lúcifer foi um assassino (Jo 8, 44). Ora, de que instrumento se valeu o demônio para "matar" a alma de Adão e Eva? Não foi armado de espada, não foi cingido de ferro que ele veio para a árvore proibida, mas sim, provido de más palavras que induziram Eva à fatal desobediência. Santo Ambrósio escreve: "Não penses que não és um homicida tu que espalhas a cizânia das tuas más conversas: se a tua palavra escandalizou teu irmão, mataste-o" (In Joan., Trat. XLII, cap. 8). Católico, FUJA dessas "raposas" infernais, que com suas línguas depravadas contam piadas e falam palavrões. Se forem pessoas de sua família, do seu trabalho, de sua escola... chama-lhes a atenção, dizendo que a boca imoral é um túmulo aberto e cheira mal. Em Turim, no palácio do senhor Gaetano della Rovere, São Luis Gonzaga viu um velho que julgava alegrar um grupo de jovens com algumas palavras pouco polidas. São Luis não pôde calar-se; e, ardendo no rosto, gritou: "Velho! Não tens vergonha de falar assim? As palavras más fazem apodrecer o coração". Santo Edmundo, que mais tarde foi arcebispo de Cantuária (Inglaterra), evitava cautelosamente a companhia de jovens levianos. Estando, de uma feita, com alguns companheiros, cujas conversas iam tomando um rumo perigoso, afastou-se deles no mesmo instante. Quando ia caminhando, eis que se encontra com um jovem de formosura encantadora, em cuja fronte se lia em letras de um brilho incomparável o nome de Jesus. Disse-lhe a visão: "Pois que te apartaste daqueles, venho eu fazer-te companhia".
2. Escândalo com as ações
A 20 de junho de 1792, a revolução caminhava no palácio do rei de França. Os membros da família real, apavorados com o clamor e com a ruína, haviam-se refugiado nas salas mais internas. Até lá chegaram os revolucionários: o filho pequeno do rei, chorando, correu a asilar-se nos braços de sua mãe, que o estreitou bem a si, como se quisesse escondê-lo no seu coração. Porém, uma mão cruel agarra-o, arranca-o para fora, leva-o à prisão. Confundido entre os delinquentes, não lhe farão chegar senão fraca luz e escasso pão, e, ao invés, queimar-lhe-ão o estômago com licores e com vinho. Que dor e que ultraje para o coração da rainha sua mãe! Católico, "... no lugar desta infeliz mulher, ponde a Igreja: ela também tem filhos crescidos sob o seu olhar materno, criados com todas as atenções, instruídos com as mais belas verdades. E eis que os iníquos os arrancam do seu seio, os lançam nas trevas do horror, embriagam-nos com os prazeres da corrupção, e fazem-nos acabar nos cárceres do inferno: e estes que assim fazem, são os que dão escândalo com as suas ações. Perguntai a tantas almas: Como pudestes chegar a este mísero estado? E elas vos responderão: 'Foi o mau exemplo que eu vi em minha casa. Foi aquela pessoa que me incitou ao primeiro pecado. Foi aquele livro que me foi emprestado por um amigo. Foi aquela companhia que me arrastava às salas de espetáculo e de baile'. Outros dizem: 'Eu aprendi a trabalhar em dia de festa com o meu vizinho de casa, que nunca respeitava o repouso mandado pelo Senhor. Aprendi a violar os dias de abstinência com um homem que trabalhava a meu lado na oficina. Aprendi a vestir-me indecentemente com uma parenta" (Pe. João Colombo). O escândalo é um pecado enorme. O escandaloso torna-se um demônio em carne, que faz estragos entre o bom grão da Igreja de Deus. São milhões as "raposas" que com suas roupas imorais seduzem as almas imortais. Outras "raposas" vendem revistas imorais, constroem clubes para bailes... prostíbulos... botecos para bebedeiras... cinemas para filmes pornográficos...
3. Escândalo com omissões
Mas não é somente com as palavras e com as ações que se pode dar escândalo, mas também com as omissões. Uma mãe percebe que sua filha se demora demais à tarde, ao voltar do trabalho, e omite indagar onde e com quem ela esteve. Com isso essa mãe dá escândalo, porque, descurando um seu dever tão grande e tão importante, oferece a sua filha ocasião de cair em pecado. Um chefe de oficina ou um pai de família que abertamente deixa de fazer a Páscoa comete pecado de escândalo, porque induz os seus dependentes a imitá-los. Quantos filhos têm-se esquecido de rezar de manhã e à noite porque nunca viram seu pai rezando! Católico, o mundo está cheio de escandalosos, isto é, de "RAPOSAS" ARDENTES, que correm desesperadamente com o FOGO das PAIXÕES para seduzir as almas imortais. Melhor se esses INFELIZES não tivessem nascido: "Caso alguém escandalize um destes pequeninos que crêem em mim, melhor será que lhe pendurem ao pescoço uma pesada mó e seja precipitado nas profundezas do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos" (Mt 18, 6-7). Católico, o Pe. João Batista Lehmann escreve: "Quem deu escândalo, deve rezar e fazer penitência pelas almas, vítimas de sua maldade, para que se salvem, se ainda vivem sobre a terra, ou que fiquem livres das penas do Purgatório se lá estiverem por sua culpa".
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 16 de agosto de 2008
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