SACRIFICAI-VOS! (Jz 7, 6)
"O número daqueles que lamberam a água levando as mãos à boca foi de trezentos".
O EXÉRCITO de Gedeão tinha trinta e dois mil soldados. Deus disse a Gedeão que os soldados que estivessem tremendo de medo voltassem e observassem do monte Gelboé: "Vinte e dois mil homens voltaram e restaram ainda dez mil" (Jz 7, 3). Deus disse a Gedeão: "Este povo ainda é muito numeroso" (Jz 7, 4). Então Deus colocou o EXÉRCITO de Gedeão à PROVA: "Faze-os descer à beira da água e lá os provarei para ti. Aquele de quem eu disser: 'Este irá contigo', esse contigo irá. E todo aquele de quem eu disser: 'Este não irá contigo', esse não irá'. Gedeão fez, pois, todo o povo descer à beira da água..." (Jz 7, 4-5). Os que lamberam a água com a língua como faz o cão foram colocados de um lado. E todos os que se ajoelharam para beber, foram colocados do outro lado. O número daqueles que lamberam a água levando as mãos à boca foi de trezentos. Todos os outros se ajoelharam para beber. Então Deus disse a Gedeão: "É com os trezentos que lamberam a água que vos salvarei e entregarei Madiã nas tuas mãos" (Jz 7, 7).
Católico, de um EXÉRCITO formado por trinta e dois mil homens, sobraram somente TREZENTOS. Esses TREZENTOS são soldados AUTÊNTICOS, que não ajoelharam para beber água, não mostraram CORPO MOLE, mas sim, lamberam a água; são homens prontos para uma VIDA de SACRIFÍCIO: "Lamber a água atirando-a com a mão para a boca e recolhendo-a com a língua como faz o cão; é ato de gente mais despachada e não comodista" (PIB). Católico, NÃO se SERVE a Deus pelo caminho espaçoso, pela porta larga, pela vida cômoda, vida de "poltronice", com preguiça... mas sim, através do SACRIFÍCIO. Jesus Cristo, o Deus Eterno e Puríssimo Senhor, trilhou o caminho da cruz: "Em vez do gozo que se lhe oferecera, ele suportou a cruz, desprezando sua ignomínia" (Hb 12, 2). Cristo Jesus SOFREU; por que você católico busca uma vida sem SACRIFÍCIO? O Bem-aventurado José Allamano escreve: "Nosso Senhor deu-nos exemplo de sacrifício, sofrendo na alma e no corpo, quando teria podido levar vida tranquila" (A Vida Espiritual, Capítulo 25), e: "Jesus Cristo podia salvar-nos sem padecer, nem morrer; mas não. A fim de nos fazer conhecer até que ponto nos amava, quis escolher uma vida de tribulações" (Santo Afonso Maria de Ligório), e também: "Pensas tu que podes evitá-la? Que santo houve jamais neste mundo sem cruz e sem tribulações? Nem ainda Jesus Cristo Nosso Senhor esteve, enquanto viveu, uma hora sem padecer" (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Livro II, Capítulo XII, 6). Católico, para servir a Cristo Jesus é preciso viver uma VIDA de SACRIFÍCIO. O Bem-aventurado José Allamano escreve sobre os soldados de Gedeão: "Os poucos que escolhera, que se contentaram de beber apressadamente um pouco de água recolhida no côncavo da mão, foram vitoriosos; ao passo que os outros não tiveram tal merecimento, porque não demonstraram tal virtude. Assim um missionário de boa vontade, impregnado de espírito de sacrifício, pode até realizar o trabalho de quatro ou cinco" (A Vida Espiritual, Capítulo 25). NÃO se conquista o céu VIVENDO COMODAMENTE, mas sim, através de muitos SACRIFÍCIOS. É vergonhoso ver milhões de católicos fugirem do SACRIFÍCIO para buscarem uma vida CÔMODA e PREGUIÇOSA; esses estão longe do espírito de sacrifício dos trezentos soldados de Gedeão. São Paulo Apóstolo foi um verdadeiro SOLDADO de Cristo Jesus; ele passou por inúmeras provações, mas não se prostrou diante da vida fácil: "Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Três vezes fui flagelado. Uma vez, apedrejado. Três vezes naufraguei. Passei um dia e uma noite em alto-mar. Fiz numerosas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de estirpe, perigos por parte dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos! Mais ainda: fadigas e duros trabalhos, numerosas vigílias, fome e sede, múltiplos jejuns, frio e nudez! E isto sem contar o mais: a minha preocupação cotidiana, a solicitude que tenho por todas as Igrejas!" (2 Cor 11, 23-28), e: "Sabeis que sofremos e fomos insultados em Filipos. Decidimos, contudo, confiados em nosso Deus, anunciar-vos o evangelho de Deus, no meio de grandes lutas" (1 Ts 2, 2). Os exemplos do Apóstolo São Paulo são uma censura para os católicos que covardemente fogem do sacrifício e da luta pelo bem, para viverem na "poltronice". É uma censura aos católicos que buscam uma vida fácil e sem compromisso. Não foi somente o grande Apóstolo São Paulo que viveu uma vida de SACRIFÍCIO, mas pode-se dizer que todos os santos percorreram o caminho da cruz. Quando alguém ia confortar Santo Inácio de Loiola na prisão, este dizia: "Não necessito de consolações, porque sofro com alegria por amor de Jesus Cristo" (Ribadeneira, Vita di Sant' Ignazio, p. 69, ed. 1863). São Francisco Xavier, embora mergulhado em sofrimentos, repetia: "Ó Senhor, mais ainda!" (Bartoli, Vita di San Francesco Zaverio, p. 38, ed. 1890). São João da Cruz sofreu ultrajes, não só da parte de estranhos, como também de seus próprios confrades, que se sentiam censurados por seu grande zelo pela observância. Esse santo só pedia uma coisa a Nosso Senhor: "Sofrer e ser desprezado por tua causa!" (In festo S. Johan. A Cruce -14 de dez.-, lectio III). Católico, não estamos nesse mundo para vivermos numa CAIXA de ALGODÃO, mas sim, para trabalharmos para CONQUISTAR o céu, e esse só se conquista com o SACRIFÍCIO: "Aqui, na terra, tudo se realiza no sacrifício" (Bem-aventurada Elisabete da Trindade). Quem não ama a Deus e não possui zelo pelas almas imortais foge do sacrifício: "Quanto mais amamos, mais necessitamos e desejamos o sacrifício" (Santa Teresa dos Andes, Carta 121). Sabemos que tudo passa, que a vida é breve, que não estamos aqui para sempre... por isso, preenchamos a nossa vida com pequenos e grandes sacrifícios: "Não percamos um só sacrifício; há tantos que podem ser feitos durante um dia!" (Bem-aventurada Elisabete da Trindade).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 17 de agosto de 2008
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