SALMO 01
"1 Feliz o homem que não vai ao conselho dos ímpios, não pára no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores. 2 Pelo contrário: seu prazer está na lei de Deus, e medita sua lei, dia e noite. 3 Ele é como árvore plantada junto d'água corrente: dá fruto no tempo devido e suas folhas nunca murcham; tudo o que ele faz é bem sucedido. 4 Não são assim os ímpios! Não são assim! Pelo contrário: são como a palha que o vento dispersa... 5 Por isso os ímpios não ficarão de pé no Julgamento, nem os pecadores no conselho dos justos. 6 Sim, Deus conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perece".
O Salmo 1, 1-3 diz: "Feliz o homem que não vai ao conselho dos ímpios, não pára no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores. Pelo contrário: seu prazer está na lei de Deus, e medita sua lei, dia e noite. Ele é como árvore plantada junto d'água corrente: dá fruto no tempo devido e suas folhas nunca murcham; tudo o que ele faz é bem sucedido".
O Católico que sabe dizer um não decidido ao conselho do homem ímpio, isto é, ao conselho do incrédulo, descrente, herege e ateu, é um católico feliz. É feliz porque permanece unido a Deus e percorre o caminho que conduz à Morada Eterna: "Fomos feitos para a felicidade, para sermos felizes: o nosso coração tem uma capacidade de infinito, e só Deus o pode saciar perfeitamente" (Bem-aventurado Columba Marmion). Feliz do católico que corre apressadamente em busca da Vida Eterna, e que não pára no caminho dos pecadores, isto é, daqueles que viraram as costas para Deus e para os seus Mandamentos. Ditoso também o que não se assenta na roda dos zombadores; isto é, daqueles que se escarnecem da Santa Religião, que zombam de seus ministros, que criticam a sua Santa Doutrina... Venturoso o católico que não perde tempo com esse tipo de gente, mas que vive como filho obediente e que defende tão boa Mãe: "Não demoreis mais, não durmais o sono da negligência. Empenhai-vos em fazer o possível para ajudar a Santa Igreja. Ela é nossa. Cada pessoa deve fazer a sua parte" (Santa Catarina de Sena, Carta 339, 4). O católico que despreza as máximas do mundo e que tapa os seus ouvidos para a sua "voz" convidativa para o mal, é uma pessoa feliz; esse, verdadeiramente escolheu o melhor, porque virou as costas para o mundo, para se alegrar espiritualmente na lei de Deus e meditá-la dia e noite. Quem verdadeiramente ama a Deus, sente alegria em obedecer e meditar sua lei; enquanto que o mundano e pecador fingem serem alegres seguindo os conselhos caducos do mundo: "O mundo não é nada. Só Deus é tudo" (São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 3), e: "O mundo nada tem de bom, de estável. Seus bens não passam de vaidade, decepção e amargura. Suas promessas são estéreis, falsas e pérfidas. Suas honras, seus prazeres, suas amizades geram a escravidão, o pecado e a apostasia" (Idem.). O católico que segue fielmente a lei de Deus se assemelha a uma árvore plantada junto d'água corrente; ele, com a ajuda do alto dá muitos frutos durante a vida, não se deixa vencer pelo desânimo e obtém excelentes resultados no que faz: "Felizes os íntegros em seu caminho, os que andam conforme a lei de Deus!" (Sl 118, 1), e: "É grande a paz dos que amam a tua lei, para eles não existe um tropeço" (Sl 118, 165). O Pe. Maximiliano Garcia Cordero escreve: "A conduta do justo é narrada negativamente, enquanto que se abstém de tomar parte entre os ímpios, pecadores e zombadores da Lei. Os três termos expressam enfaticamente os graus de oposição sistemática a Deus. Os ímpios são os ateus que não querem reconhecer a autoridade suprema de Deus. Os pecadores são os que não se preocupam da observância de suas leis; e os zombadores são os 'espíritos fortes', que consideram debilidade o deixar-se levar pelos sentimentos religiosos. Na frente de todos eles se levanta como uma muralha a conduta do homem justo, que por ser justo é saudado como bem-aventurado, porque se encontra seguro em seu proceder. Diante das ironias dos zombadores, que acreditam que o único modo de triunfar na vida é aproveitar sem escrúpulos das boas ocasiões - dispensando as exigências da Lei divina - , o salmista sublinha que a verdadeira felicidade está na consciência tranquila e na segurança da proteção divina, pois com ela lhe vêm todas as bênçãos, terminando por triunfar na vida. É de notar a mudança do pensamento no emprego dos termos: não anda, não se detém, não se senta: 'O Justo é o homem que não se deixa influenciar pelos conselhos e máximas dos ímpios, que não aceita o modo de vida dos pecadores, e, com maior razão, não toma parte na agressão dos zombadores contra a religião e contra a moral' (E. Podechard, Le Psautier - Lyon 1949 - 10). Na realidade, se o justo toma esta atitude longe dos pecadores, é porque possui a Lei de Deus bem enraizada em seu coração. É o centro de sua vida espiritual e moral, e por isso, nela encontra sua satisfação, e de dia e de noite é o objeto de sua meditação. Aqui, Lei de Deus significa o conjunto de prescrições pela qual se regula a vida religiosa do justo. Conforme as prescrições do Deuteronômio, o bom israelita deve ter presente em sua vida os preceitos do Senhor: 'Tu as inculcarás aos teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando em teu caminho, deitado e de pé. Tu as atarás também à tua mão como um sinal, e serão como um frontal entre os teus olhos; tu as escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas portas' (Dt 6, 7-9). A Lei era a expressão da vontade de Deus, e, por isso, o fiel israelita devia meditar constantemente sobre suas prescrições para descobrir suas mínimas admoestações. O prêmio ao seu cuidado por modelar a conduta à Lei, são as bênçãos de toda ordem que farão prosperar ao justo como árvore plantada à beira do rio. No Antigo Testamento se compara muitas vezes o homem com as árvores (Jr 11, 19 ss; Ez 17, 3 ss; Sl 52, 10; 92, 13) e incluso com um jardim (Is 58, 11) bem regado (Jó 29, 23). Como a árvore plantada junto às correntezas das águas se desenvolve vigorosa e com rapidez - em contraposição a plantada em terra ruim -, assim o justo, que confia e vive conforme a Lei divina, é protegido e prospera pela bênção de Deus (Dt 7, 12 ss). Perseverante no caminho da virtude, dá frutos a seu tempo, e sua força (viço) permanece longo tempo sem se murchar. No salmo 91, 13 diz que o 'justo florescerá como a palmeira e crescerá como o cedro do Líbano'. A Lei de Deus dá vigor espiritual e viço também na ordem material, pois cumula de bênçãos a seus prediletos, que são os que vão por seu caminho. Ao contrário, os ímpios se murcharão como palhas levadas pelo vento", e: "Salmo anônimo que, de certo modo, serve de introdução ao livro. Indica ao mesmo tempo o caminho reto da vida e a sua meta feliz, base de todo procedimento sábio e da verdadeira religião... Os petulantes ou insolentes, são os homens frívolos muitas vezes censurados nos Provérbios; vaidosos, desprezadores da religião e da virtude (Is 28, 5-22). O que cumpre piedosamente a lei, qual árvore profundamente arraigada, resiste a todas as tempestades, ao passo que basta um leve sopro de vento para derrubar o malvado"(PIB), e também: "O homem justo é caracterizado, sobretudo, por sua conduta, afastada daqueles que desprezam a Lei divina. Os termos 'seguir', 'deter-se' e 'assentar-se', indicam três estações sucessivas de afastamento da conduta reta (v. 1). O justo busca e encontra na Lei de Deus o critério para orientar sua vida (v.2). Será feliz porque terá êxito (v. 3). A imagem da árvore frondosa significa a prosperidade e o bem-estar" (EUNSA). Santo Agostinho comenta: "Feliz o homem que não entrou no conselho dos ímpios'. Trata-se de nosso Senhor Jesus Cristo, homem e Senhor. 'Feliz o homem que não entrou no conselho dos ímpios', como o homem terreno, que consentiu na sugestão da mulher, enganada pela serpente, e desobedeceu aos preceitos de Deus. 'Não se deteve no caminho dos pecadores'. Cristo, de fato, veio pelo caminho dos pecadores, ao nascer como os pecadores, mas não se deteve, porque não o retiveram as seduções do mundo. 'Nem se sentou em cátedra pestífera'. Recusou o reinado terrestre e a soberba, com razão considerada cátedra pestilencial, pois quase não existe quem esteja isento da ambição de dominar e do desejo de glória humana. A peste é epidemia que em larga escala se propaga e atinge a todos, ou quase todos. Em sentido acomodatício, cátedra pestífera, representaria antes uma doutrina perniciosa, a corroer como gangrena (2 Tm 2, 17). Em seguida, observemos a ordem das palavras: 'entrou, se deteve, sentou-se'. Entrou quem de Deus se afastou; deteve-se quem se deleitou no pecado; sentou-se o obstinado na soberba, que não retrocedeu enquanto não foi libertado por quem não entrou no conselho dos ímpios, não de deteve no caminho dos pecadores, nem se sentou em cátedra pestífera. 'Mas aderiu à lei do Senhor e dia e noite a meditará'. 'A lei não é destinada ao justo', diz o Apóstolo (1 Tm 1, 9). Difere estar dentro da lei e estar sob a lei. Quem se acha dentro da lei, age conforme a lei; quem está sob a lei é coagido por ela. O primeiro é livre, o segundo é escravo. Por conseguinte, uma coisa é a lei escrita imposta ao escravo, e outra, a lei apreendida pelo intelecto de quem pode dispensar a letra. 'Dia e noite a meditará', sem interrupção; ou então, por 'dia' entende-se a alegria e por 'noite' as tribulações. Pois, foi dito: 'Abraão exultou por ver o meu dia' (Jo 8, 56); e diz-se da tribulação: 'Até de noite adverte-me o coração' (Sl 15, 7). 'Será como a árvore plantada à beira das águas correntes', isto é, ao lado da própria Sabedoria, que se dignou assumir a natureza humana, para nossa salvação. O próprio homem seria a árvore plantada à beira das águas correntes. Pode-se adotar esta interpretação também para uma passagem de outro salmo: 'O rio de Deus encheu-se de água' (Sl 64, 10). Talvez se refira ao Espírito Santo, conforme a palavra: 'Ele vos batizará com o Espírito Santo' (Mt 3, 11). E ainda: 'Se alguém tem sede, venha a mim e beba' - (Jo 7, 37). E: 'Se conhecesses o dom de Deus e quem é que te diz: Dá-me de beber, tu é que lhe pedirias e ele te daria água viva, e quem dela beber, nunca mais terá sede. Pois tornar-se-á nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna' (Jo 4, 10. 13-14). Ou talvez, 'à beira das águas correntes', isto é, os pecados dos povos, porque no Apocalipse (Ap 17, 15), águas significam os povos. Não é absurdo entender por correntes uma queda, referente a delito. A árvore, a saber, nosso Senhor, 'produzirá fruto', estabelecerá igrejas, formadas de águas correntes, os povos pecadores, que ele atrai ao caminho, às raízes de sua doutrina. 'Em tempo oportuno', depois de glorificado pela ressurreição e ascensão ao céu. Então ele produziu o fruto das Igrejas, após ter enviado o Espírito Santo aos apóstolos, fortificando-lhes a confiança e destinando-os aos povos. 'Sua folhagem não murchará', sua palavra não será vã, 'toda carne é feno e toda a sua graça como a flor do feno; secou o feno murchou a flor, mas a palavra do Senhor subsiste para sempre' (Is 40, 6-8). 'Tudo o que fizer há de prosperar', tudo o que aquela árvore produzir. Tudo, frutos e folhas, isto é, obras e palavras" (Enarrationes in Psalmos).
O Salmo 1, 4-6 diz: "Não são assim os ímpios! Não são assim! Pelo contrário: são como a palha que o vento dispersa... Por isso os ímpios não ficarão de pé no Julgamento, nem os pecadores no conselho dos justos. Sim, Deus conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perece".
A vida do justo é abençoada por Deus, exatamente porque ele não segue os conselhos do ímpio, não pára no caminho dos pecadores nem se assenta na roda dos zombadores. Por ser fiel a Deus e à sua Lei, ele prospera em tudo o que faz. Com o ímpio, isto é, com o incrédulo, descrente, herege e ateu não é assim, ele é "como a palha que o vento dispersa". O ímpio é palha "leve" que voa, justamente porque não possui Deus na alma. O ímpio é vazio da graça de Deus, por isso, não se firma no caminho que conduz à Vida Eterna, mas "voa" de um lado para o outro sem conhecer a verdadeira felicidade. Os ímpios não ficarão de pé no Julgamento, nem os pecadores no conselho dos justos: "Quando Deus chamar cada um para prestar contas de seu proceder, os malvados não poderão suster-se nem fazer parte da assembléia dos justos, isto é, da sociedade dos ditosos" (PIB). Deus vê e sabe de tudo. Ele conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perece: "Deus conhece com um conhecimento que importa aprovação e providente cuidado (2 Tm 2, 5). Com essa providência alcança-se um porto feliz" (Idem.). EUNSA comenta: "Com a árvore firme (v. 3) contrasta a palha ou o pó da eira dispersados pelo vento, com a que se compara a vida dos ímpios e os pecadores (v. 4). Estes não poderão impor-se sobre os justos (v. 5) porque, em definitivo, é o Senhor quem julga a conduta de uns e outros (v. 6)". A oração do Salmo 01 convida a prosseguir a leitura do livro dos Salmos, pois "é nos salmos onde encontramos os sentimentos de louvor, gratidão e veneração que o povo eleito é chamado a desfrutar a lei de Deus, junto com a exortação a conhecê-la, meditá-la e vivê-la" (João Paulo II, Veritatis splendor, n° 44). O Pe. Maximiliano Garcia Cordero escreve: "A contraposição com a sorte dos justos é clara, pois os ímpios levaram uma vida doente e sem sentido, impelidos como palha levada pelo vento. O salmista aqui julga assim: os justos são como o trigo, que permanece na eira, enquanto que os ímpios, sem solidez, são abanados da eira. Na literatura bíblica é habitual a comparação dos inimigos de Israel e dos pecadores com a palha levada pelo vento da justiça divina (Is 17, 13; 29, 5; 41, 15 ss; Sl 13, 3; 35, 5; Jó 21, 18; Jr 4, 11-12). A inconsistência dos ímpios se demonstrará particularmente no momento de se apresentar no juízo discriminador de Deus (v. 5). A mente do salmista parece que se translada aos tempos messiânicos, precedidos do juízo solene de Deus. Os pecadores não poderão livrar da grande prova deste juízo e, portanto, não prevalecerão nem terão acesso depois à assembléia dos santos (cfr. Is 65, 8-10; 66, 10-11. 18-23; Ml 3, 5), isto é, não participarão da nova cidadania da teocracia messiânica, à que terão acesso somente os que viveram conforme a Lei de Deus. O juízo discriminatório é o 'dia de Deus', de que tantas vezes falam os profetas (Am 5, 18. 20; Sf 1, 7.15; Is 34, 8), isto é, o dia da manifestação justiceira de Deus para purificar a sociedade israelita, da qual se salvará somente um 'resto' (Am 5, 15; 1 Rs 19, 17), do qual surgirá a nova teocracia esplendente dos justos. Em definitivo, o juízo discriminatório depende da vontade de Deus, que conhece, isto é, aprova e se preocupa com o caminho dos justos (cfr. Gn 18, 19; Am 3, 2; Sl 13, 5; Na 1, 7) enquanto que desconhece ou desaprova o caminho dos ímpios, que necessariamente terá um fim desastroso. Deus termina por castigar o pecador e premiar o de procedimento correto; sobretudo, os justos terão acesso ao reino messiânico, enquanto que os ímpios não poderão aguentar o juízo discriminador que o precederá. Esta perspectiva é 'sapiencial' e repercute a mentalidade dos últimos séculos do judaísmo anterior a Cristo. 'O autor depende, na sua maneira de expor o problema moral dos 'sábios' que escreveram uma parte do livro dos Provérbios (Pr cap. 10-22); sua doutrina da recompensa, com a menção do juízo e da comunidade dos justos, é a dos profetas...; enfim, o colorido de legalismo que acrescenta de sua obra, tão breve, uma espécie de confluente ao qual se juntam três correntes que nesta época dominavam o pensamento judeu. Formado, por uma parte, de fórmulas emprestadas, o estilo não tem nada de original e brilhante... Porém, esta composição um pouco artificial tem o mérito de resumir de maneira clara e firme as grandes lições religiosas e morais que se deduzem dos Salmos em geral, e sob este título era digno de constituir o prólogo de uma das coleções, se não da totalidade do Saltério' (E. Podechard, o. c., 12). Os Santos Padres destacaram o valor doutrinal do salmo, pois se recomenda a justiça divina que premia o justo e castiga o pecador. Conforme a perspectiva do salmista, não se orienta para a retribuição além-túmulo, contudo, conformando-se com a concepção corrente de Israel, está seguro de que a justiça divina se manifestará nesta vida, sobretudo nos tempos messiânicos, aos que não teriam acesso os ímpios, pecadores e zombadores da lei divina". Santo Agostinho comenta: "Bem diversa será a sorte dos ímpios, poeira que o vento carrega da superfície da terra'. Terra, aqui significa a estabilidade em Deus, de acordo com a palavra: 'O Senhor é a porção de minha herança. A minha herança é excelente' (Sl 15, 5-6). 'Confia no Senhor, segue seus caminhos e ele te exaltará, dando-te a terra' (Sl 36, 34). Tal comparação é aduzida porque a terra visível nutre e contém o homem exterior; o mesmo acontece à terra invisível em relação ao homem interior. Da superfície desta terra, o vento carrega o ímpio, quer dizer, a soberba que incha. Dela se precavendo, pede quem se inebriava com a abundância da casa de Deus e bebia da torrente de suas delícias: 'Não me pisoteie a soberba' (Sl 35, 9-12). A soberba carregou desta terra aquele que asseverou: 'Porei meu trono no aquilão, e serei semelhante ao Altíssimo' (Is 14, 13). Da superfície desta terra o vento carregou também aquele que, tendo consentido e provado do fruto proibido para se tornar como Deus, escondeu-se da face de Deus (Gn 3, 6-8). Pode-se entender especialmente ser essa terra relativa ao homem interior, e ter sido o homem de lá expulso por causa da soberba, conforme está escrito: 'De que se orgulha quem é terra e cinza, um ser que, vivendo, lança fora as vísceras?' (Eclo 10, 9-10). Não é absurdo afirmar que ele mesmo se lançou para fora do lugar de onde fora expulso. 'Os ímpios não se levantarão no juízo', porque como a poeira, serão carregados da superfície da terra. Com razão se afirma serem os soberbos privados do que ambicionam, o poder de julgar. Torna-se isso mais compreensível na frase seguinte: 'Nem os pecadores no conselho dos justos'. Costuma-se repetir assim, de modo mais explícito, o que já fora declarado. Pecadores são os ímpios. Acima se encontra: 'no juízo'. Aqui, 'no conselho dos justos'. Ou certamente, se ímpios e pecadores não se identificam, porque todo ímpio é pecador, todavia, nem todo pecador é ímpio. 'Os ímpios não prevalecerão no juízo', quer dizer, ressurgirão, mas não para serem julgados, porque já estão condenados a penas bem determinadas. Os pecadores, porém, não ressurgem na assembléia dos justos para julgar, mas provavelmente para serem julgados, conforme se disse a respeito deles: 'O fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a obra subsistir, o operário receberá uma recompensa. Aquele, porém, cuja obra for queimada perderá a recompensa. Ele mesmo, entretanto, será salvo, mas como que através do fogo' (1 Cor 3, 13-15). 'Porque o Senhor conhece o caminho dos justos'. Como se afirma que a medicina conhece a saúde e não as doenças, embora as doenças sejam descobertas pela arte médica, assim é possível dizer que o Senhor conhece o caminho dos justos e ignora o dos ímpios. O Senhor nada ignora; no entanto, declara aos pecadores: 'Nunca vos conheci' (Mt 7, 23). Foi dito que 'o caminho dos ímpios leva à perdição', como se dissesse: O Senhor não conhece o caminho dos ímpios. Mas explicitamente se diz que ser ignorado pelo Senhor equivale a perecer, e ser conhecido por ele significa permanecer. O ser relaciona-se com a ciência de Deus, o não ser ao desconhecimento da parte dele, porque o Senhor diz: 'Eu sou aquele que é'. E: 'Eu sou me enviou até vós' (Ex 3, 14)" (Enarrationes in Psalmos).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 23 de agosto de 2008
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