DOIS CRIMES

(Jr 2, 13)

 

 

"Porque meu povo cometeu dois crimes: Eles me abandonaram, a fonte de água viva, para cavar para si cisternas, cisternas furadas, que não podem conter água".

 

Católico, FONTE, não de água viva, mas do PRECIOSÍSSIMO SANGUE, são os DOIS SACRAMENTOS da CONFISSÃO e da SANTÍSSIMA EUCARISTIA: eles só foram dados ao católico, ao PREÇO da VIDA de um Deus. Mas o católico os abandonam, ou quanto muito, aproximam deles MUITO RARAMENTE; cavam no PECADO a sua CISTERNA ENVENENADA, que parece matar-lhe a sede, enquanto que por DENTRO o CRUCIA com o remorso, e depois o CRUCIARÁ para sempre no INFERNO.

 

Sábio e feliz é o católico que se APROXIMA com FREQUÊNCIA da "água viva", isto é, dos Sacramentos da Confissão e da Santíssima Eucaristia.

 

1. Confissão

 

Católico, não deixe de se aproximar da Confissão por causa do respeito humano; pelo contrário, aproxime do tribunal do perdão com fé e confiança na misericórdia de Deus.

 

Um taverneiro, havia anos, andava com a consciência sobrecarregada de vários pecados. Tocado pela graça divina, pensou em sair desse triste estado, recorrendo ao Pe. Hofreuter, sacerdote experimentado na arte de reconduzir a Deus os pecadores. Não quis perder tempo. Selou o cavalo, montou e partiu. Estando já à porta da casa paroquial, sentiu-se tomado de vergonha e faltava-lhe coragem para bater. Mas, eis que, por disposição de Deus, naquele momento apareceu o padre, que em tom afetuoso disse ao taverneiro: "O senhor vem para confessar-se, não é mesmo? Entre, que estou aqui para atendê-lo".

Depois de ter feito uma boa confissão, o taverneiro monta a cavalo e, com o coração aliviado, diz ao animal: "Agora, a galope, meu cavalinho, que levas cem quilos a menos".

Seis anos depois, acabando de receber os últimos sacramentos em seu leito de dores, dirigiu-se ao novo vigário, dizendo: "Peço-lhe ainda um favor: Depois da minha morte, manda dizer ao Pe. Hofreuter que, depois daquela confissão que fiz com ele, nunca mais cometi pecado mortal ou venial voluntário".

Cem quilos a menos sobre a consciência!

Sim; após uma confissão bem feita, que alívio!

 

Sobre a confissão, escreve São Francisco de Sales: "Nosso Senhor instituiu na sua Igreja o sacramento da penitência ou confissão, para purificar as nossas almas das suas culpas, todas as vezes que se acharem manchadas. Nunca permitas, Filotéia, que teu coração permaneça muito tempo contaminado do pecado, tendo um remédio tão eficaz e simples contra a sua corrupção. Uma alma subjugada por um pecado devia ter horror de si mesma; e o respeito devido aos olhos da divina Majestade, a obriga a purificar-se dele o mais cedo possível. Ah! Por que havemos de morrer desta morte espiritual, tendo nas mãos um remédio tão eficaz para nos curar?

Confessa-te com humildade e devoção todos os oito dias e, se for possível, sempre que comungares, conquanto tua consciência não te acuse de algum pecado mortal. Aí receberás não só a remissão dos pecados veniais que confessares, mas também muitas luzes para os discernir melhor, muita força para os evitar e uma maravilhosa abundância de graças para reparar as perdas que te tenham causado. E, além disso, praticarás nesse ato a humildade, a obediência, a simplicidade e o amor de Deus - numa palavra, mais virtudes que em nenhum outro ato de religião" (Introdução à Vida Devota, Parte II, Capítulo XIX).

 

Infeliz do católico que FOGE da confissão ou se CONFESSA MAL.

Um menino, chamado Fúlvio, fazia seus estudos num dos principais colégios da França. Enquanto a mãe o conservou sob suas vistas, foi o menino preservado dos graves perigos que ameaçam os pequenos; mas no colégio apegou-se Fúlvio a dois colegas maus e corrompidos com os quais vivia em estreita amizade.

Bem depressa, por causa deles, perdeu a inocência e com ela a paz do coração. Alguns livros imorais, que lhe deram os companheiros, acabaram de perdê-lo.

Aos doze anos foi admitido à primeira comunhão; infelizmente não a fez por devoção, mas apenas para obedecer à mãe, sem propósito de mudar de vida nem de abandonar as más companhias. CONFESSOU-SE SACRILEGAMENTE, calando certos pecados vergonhosos e, assim, com o demônio no coração, com o pecado mortal na alma, teve a ousadia de receber a comunhão.

Os pais, enganados pelas aparências, julgaram-no bem comportado e mandaram-no de novo ao colégio. Fúlvio, porém, por sua indisciplina e preguiça nos estudos, teve um dia de ser severamente castigado pelo diretor e encerrado por algumas horas na prisão do colégio.

Chegada a hora de o pôr em liberdade, vão ao quarto que servia de prisão e, antes de abrir a porta, escutam do lado de fora... Não ouvem nada... nenhum movimento... Bate-se à porta, e ninguém responde. Abre-se, afinal, a porta, e que é que se vê? Ai! Que horror! O infeliz rapaz enforcara-se: estava morto!

Imaginem-se os gritos e gemidos no colégio.

Sobre a mesa foi encontrada uma carta, na qual estavam expressos os sentimentos de uma alma ímpia, desesperada e sacrílega.

Tal foi o fim do desditoso rapaz, vítima de maus companheiros, e que, tendo pecado como Judas, teve também a morte de Judas.

 

Católico, NÃO DESPREZE o sacramento da confissão; pelo contrário, aproxime do sacramento da paz e da alegria com frequência: "A confissão frequente aumenta o conhecimento de si mesmo, cresce a humildade cristã, desarraiga os maus costumes, combate a negligência e tibieza espiritual, purifica a consciência, fortifica a vontade, presta-se à direção espiritual, e por virtude do mesmo sacramento aumenta as graças" (Pio XII, Mystici Corporis Christi, 87).

 

2. Santíssima Eucaristia

 

Lê-se na biografia do Cardeal Newman, um episódio edificante. Ele, antes de se tornar católico, era protestante e alto dignitário da Igreja anglicana com um vultoso salário anual, pago pelo governo inglês.

Mesmo nessa condição, quis estudar as razões e fundamento da Igreja Católica; e, conhecida a verdade, abraçou-a prontamente. Como se sabe, tornou-se um católico fervoroso; preparou-se, fez-se sacerdote e foi um apóstolo da Eucaristia.

Antes da conversão, procurou-o um amigo e disse-lhe:

- Pense seriamente no passo que vai dar; saiba que, fazendo-se católico, o governo não lhe dará mais nada e lhe retirará a ajuda.

Newman pôs-se em pé e exclamou com ar de desprezo:

- Que é um punhado de ouro, em confronto com uma COMUNHÃO?

E logo depois fez-se católico.

 

Sobre a comunhão frequente, escreve São Francisco de Sales: "É conhecido o que se diz de Mitridates, rei do Ponto, na Ásia, o qual inventou um alimento preservativo de todo veneno. Nutrindo-se dele, este rei tornou o seu temperamento tão robusto que, estando a ponto de ser preso pelos romanos e querendo evitar o cativeiro, por mais que fizesse, não conseguiu envenenar-se.

Não foi isso mesmo que fez nosso divino Salvador dum modo verdadeiro e real, no augustíssimo Sacramento do altar, onde ele nos dá o seu corpo e sangue, como um alimento, que confere a imortalidade?

É por isso que quem se aproxima muitas vezes e com devoção desta sagrada mesa, recebe tanta força e vigor, que é quase impossível que o veneno mortífero das más inclinações faça alguma impressão em sua alma. Não, não se pode viver desta carne da vida e morrer da morte do pecado. Se os homens no paraíso terrestre podiam preservar-se da morte corporal, comendo do fruto da árvore da vida, por que não poderão agora preservar-se da morte espiritual, pela virtude deste sacramento da vida?

Na verdade, se os frutos mais tenros e expostos à corrupção, como as cerejas, morangos e damascos, se conservam facilmente misturados com açúcar ou mel, não há que admirar-se que nossas almas, por mais fracas que sejam, se preservem da corrupção do pecado, se se deixam penetrar da força e suavidade do sangue incorruptível de Jesus Cristo.

Ó Filotéia, os cristãos que se condenam estarão ante o Juiz justo, sem saber o que responder-lhe, quando ele lhes fizer ver que sem razão alguma e por própria culpa morreram espiritualmente, podendo tão facilmente preservar-se da morte, em se alimentando do seu corpo.

Miseráveis, ele há de dizer-lhes, por que estais mortos, se tínheis entre as mãos o fruto da vida?

Comungar todos os dias é uma coisa que não louvo nem censuro; mas comungar todos os domingos é uma prática que aconselho e exorto a todos os fiéis, contanto que não tenham nenhuma vontade de pecar. Estas são as próprias palavras de Santo Agostinho, de acordo com o qual eu não louvo nem censuro a comunhão cotidiana, remetendo os fiéis à decisão do seu diretor espiritual, porque isto exige uma disposição tão extraordinária, que não a podemos recomendar a todos indiscriminadamente, e, porque esta disposição se pode achar em muitas almas piedosas, não a podemos proibir a todos em geral. Um juízo sobre este ponto pertence à discrição do confessor, que conhece o estado habitual e atual do penitente. Grande imprudência seria tanto aconselhar indiferentemente a todas as pessoas a prática da comunhão frequente, como vituperar alguém que, por conselho dum sábio diretor, comunga assiduamente. É porque muito aprovo a resposta judiciosa e delicada que Santa Catarina de Sena deu a certa pessoa que, não aprovando que ela comungasse diariamente, lhe disse que Santo Agostinho não o louvava nem censurava. Pois bem - respondeu ela com espírito - se Santo Agostinho não o censura, não o façais vós tampouco e me contentarei do vosso silêncio. Estás vendo, porém, Filotéia, que Santo Agostinho encarecidamente recomenda aos fiéis, por seus conselhos e exortações, comungarem em todos os domingos. Faze-o, pois, quanto está em tuas forças, desde que, tendo purificado teu coração, como presumo, de todos os afetos ao pecado mortal e venial, tens a alma mais bem disposta do que Santo Agostinho exige, porque, além de não teres vontade de pecar, nem mesmo tens afeto ao pecado. Poderás até comungar mais vezes que só aos domingos, se alcançares licença de teu diretor espiritual.

Bem sei que podes estar legitimamente impedida por motivos que podem provir tanto de tua parte como da parte daqueles com quem vives. Se alguma dependência, pois, te obriga a obedecer-lhes e respeitá-los e eles entendam tão pouco de sua religião ou tenham um caráter tão bizarro que se inquietem e perturbem por ver-te comungar todos os domingos, será talvez melhor, considerando todas as circunstâncias, condescender às suas fraquezas e comungar todos os quinze dias, uma vez que não podes superar este obstáculo. Como não se pode formular uma regra geral sobre este ponto, estamos constrangidos a deixar a decisão ao confessor; contudo, podemos dizer com toda a verdade que as pessoas que querem levar uma vida devota devem comungar ao menos uma vez por mês.

Se souberes proceder com prudência, nem pai, nem mãe, nem marido, nem mulher, impedirão tua comunhão frequente; pois, se a comunhão em ponto algum te fará descuidar dos deveres do teu estado e se, nos dias em que comungares, tiveres mais brandura e complacência com os outros, não é verossímil que te queiram demover dum exercício, que absolutamente não os incomoda, a não ser que sejam de tão mau humor ou tão desarrazoados que assim mesmo o façam. Neste caso, cumpre seguir a regra de condescendência que acabo de dar e o conselho do teu diretor.

No tocante às doenças, nenhuma delas pode ser um impedimento legítimo de comungar, a não ser aquelas que provocam vômitos frequentes.

Aqui tens as regras que te posso dar sobre a comunhão frequente. Para comungar todas as semanas é necessário não ter nenhum pecado mortal, nenhum afeto ao pecado venial e sentir um grande desejo da comunhão. Mas, para comungar todos os dias, é necessário, além disso, purificar a alma de todas as más inclinações e seguir o conselho do diretor espiritual" (Introdução à Vida Devota, Parte II, Capítulo XX), e: "A Sagrada Comunhão é a derradeira graça de amor, e nela Jesus Cristo se une espiritual e realmente ao fiel, a fim de nele produzir a perfeição de sua Vida e de sua Santidade. A alma adoradora deve, pois, tender à Comunhão, à Comunhão frequente e até cotidiana, por tudo quanto a piedade, as virtudes e o amor podem inspirar de bom, de santo e de perfeito" (São Pedro Julião Eymard, A Divina Eucaristia, Vol. 5).

 

Milhões de católicos DESPREZAM a CONFISSÃO: sacramento da PAZ e da ALEGRIA; e DESPREZAM TAMBÉM a SANTÍSSIMA EUCARISTIA: PÃO dos FORTES e ALIMENTO do ESPÍRITO,  para cavarem no PECADO a sua CISTERNA ENVENENADA, que parece matar-lhes a sede, enquanto que por DENTRO os CRUCIAM com o remorso, e depois os CRUCIARÃO para sempre no INFERNO.

Católico, lembre-se de que o PECADO  NÃO MATA  a SEDE de uma alma imortal, pelo contrário, a enche de VENENO MORTÍFERO.

O pecado mortal destrói a graça de Deus.

 

Alberto, bispo de Ratisbona, conseguira a poder de estudo e paciência, construir um homem mecânico que imitava a voz humana e os movimentos do homem, causando admiração ao mundo. Um dia, quis fazer uma surpresa a seu discípulo que se aproximava de sua habitação. Colocou, pois, a estátua a caminhar para a porta, deu-lhe corda e ocultou-se para ver a surpresa que causaria.

O discípulo, ao entrar e ver que aquele boneco se dirigia a ele, aterrorizado e suspeitando alguma coisa terrível, aturdido, tomou o que encontrou a mão e descarregou certeiros golpes sobre o trabalho mecânico.

- Pára! - gritou o artista. Mas já era tarde. A estátua estava em pedaços. Trinta anos de trabalhos e, num instante, tudo perdido!

Assim acontece com o PECADO MORTAL, que num instante DESTRÓI a graça de Deus.

 

Católico, você jamais encontrará a "água" da PAZ e da FELICIDADE no PECADO; pelo contrário, encontrará somente TRISTEZA, AMARGURA e REMORSO.

Basta UM SÓ pecado mortal para levar uma alma imortal para o INFERNO ETERNO: "As almas daqueles que saem do mundo em pecado mortal atual, imediatamente depois da sua morte descem ao Inferno, onde serão atormentadas com penas infernais" (Bento XII, Constituição "Benedictus Deus"), e: "Basta um olhar impuro para abrir as portas do inferno" (Santo Antão).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 25 de agosto de 2008

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Dois Crimes"

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