MORREU TUDO (Gn 7, 22)
“Morreu tudo o que tinha sopro de vida nas narinas. Isto é, tudo o que estava em terra firme”.
Deus disse a Noé: “Chegou o fim de toda carne, eu o decidi, pois a terra está cheia de violência por causa dos homens, e eu os farei desaparecer da terra” (Gn 6, 13). Faze uma arca de madeira resinosa (Gn 6, 14). Noé assim fez; tudo o que Deus lhe ordenara, ele o fez (Gn 6, 22). Enquanto Noé construía a ARCA, o povo se preocupava com outras coisas e ignorava o seu trabalho: “Com efeito, como naqueles dias que precederam o dilúvio, estavam eles comendo e bebendo, casando-se e dando-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam nada até que veio o dilúvio e os levou a todos” (Mt 24, 38-39; Lc 17, 27). Noé trabalhava zelosamente na construção da ARCA, e muitas pessoas ZOMBAVAM dele: “Ó velho caduco! Ó falso profeta: não vês como o céu está limpo, e tu ameaças com um dilúvio?” (São João Crisóstomo). Noé foi FIRME, não DESISTIU... e continuou a construir a ARCA; mas, o povo aumentou o DEBOCHE contra ele: “Todos gostam de gozar ar livre e céu espaçoso, e este quer fazer uma caixa de madeira para se fechar nela vivo com sua família, os animais e os trastes” (Idem.). A ARCA estava sendo construída, mas o povo continuava a mergulhar nos vícios: “Porém, enquanto a arca está sendo construída, os malvados se entregam a seus excessos... porque os mundanos ultrajam os santos que lutam...” (São Beda), e: “Quando, pois, se fabricava a arca, a mesma estava colocada à vista de todos, predizendo os males futuros. Mas os homens maus não acreditavam e se entregavam aos vícios, como se nenhum mal houvesse de acontecer” (São João Crisóstomo). Enquanto o povo xingava, Noé concluiu a ARCA e entrou nela. E o povo começou a correr em volta da ARCA com berros, com assovios e com ferozes despeitos. Mas, ao cabo de sete dias, as cataratas do céu se abriram com fragor imenso: todas as fontes rebentaram, todos os rios transbordaram, e as ondas do mar inundaram a terra. Todos pereceram no dilúvio universal: mas a ARCA FLUTUAVA sobre as águas esverdeadas, e Noé louvava o Senhor.
Católico, a NOSSA VIDA neste MUNDO é como a construção da ARCA de Noé. Toda OBRA BOA é motivo de ESCÁRNIO e de PERSEGUIÇÃO para os inimigos de Deus. É VONTADE de Deus que CONSTRUAMOS a “ARCA da NOSSA VIDA” neste mundo, que é um MAR AGITADO e FURIOSO. “ARCA” que deverá FLUTUAR sobre as “águas lamacentas” e “podres” do mundo inimigo de Deus e da SANTIDADE. Assim como ZOMBARAM e XINGARAM Noé por causa da construção da Arca, também ZOMBARÃO e nos XINGARÃO, porque o mundo ODEIA aquele que faz progresso na VIDA ESPIRITAL: “Aquele que teme o mundo jamais cumprirá coisa digna de Deus: porque a obra de Deus não se pode fazer sem que o mundo se revolte!” (Santo Inácio de Loyola).
Como construiremos a “ARCA da NOSSA VIDA”?
1. Colocando na nossa “ARCA” a “madeira fortíssima” (Gn 6, 14) dos Mandamentos da Lei de Deus e da Santa Igreja. Os mundanos, como aconteceu no tempo de Noé, nos “rodearão” para nos provocar e dirão: “Para que tanto fanatismo? Nascemos para viver em total liberdade e fazer tudo aquilo que gostamos, mesmo que seja contra Deus e a Igreja”. Católico, não dê atenção a essas provocações, mas, a exemplo de Noé, continue construindo a sua “ARCA”.
2. Fazendo em nossa “ARCA” três “andares” (Gn 6, 16) com as virtudes teologais (fé, esperança e caridade). Os incrédulos, como fizerem no tempo do dilúvio, “assoviarão” para nos desanimar, e bradarão: “Para que serve o bem que fazem, se o céu não existe?” Católico, não se intimide diante do ataque dos incrédulos, pelo contrário, continue a “martelar”, isto é, a perseverar na construção de sua “ARCA”.
3. Colocando um “teto” (Gn 6, 16) em nossa “ARCA” com as virtudes cardeais (prudência, justiça, temperança e fortaleza) e as obras de misericórdia: sete espirituais e sete corporais. Os inimigos do bem, como fizeram no passado, “vociferarão” para nos desviar do caminho do bem, e gritarão: “Para que tanta dedicação em praticar boas obras, se não existirá uma recompensa por tanto sacrifício?” Católico, não deixe de caminhar na luz por causa dos gritos dos inimigos do bem; pelo contrário, “acelere” os passos na construção de sua “ARCA”.
4. Fazendo em nossa “ARCA” um “piso” resistente com a recepção digna dos sacramentos. Os amigos das trevas, com a intenção de nos derrubar por terra, “esbravejarão” : “Se existe um Deus, com certeza ele não exige todo esse esforço e dedicação”. Católico, tape dos ouvidos para os insultos dos amantes das trevas e busque fervorosamente o alimento para fortalecer a sua “ARCA”.
Católico, não deixe de CONSTRUIR a sua “ARCA” por causa das perseguições dos inimigos da SANTIDADE; quanto maiores forem os gritos e provocações deles, MAIORES deverão ser seus ESFORÇOS, ZELOS e DEDICAÇÃO na prática do bem. São MILHÕES os que se julgam BONS e que perseguem aqueles que buscam a santidade de vida: “Na verdade, quem começar a seguir meus exemplos e preceitos, encontrará muitos que o criticam, que o impeçam, que tentem dissuadi-lo, mesmo entre os que parecem discípulos de Cristo” (Santo Agostinho, Sermões). Noé não se intimidou diante dos gritos, zombarias e xingos dos mundanos, mas continuou a construção da Arca; faça você o mesmo, busque a santidade sem se intimidar com as zombarias dos filhos das trevas: “Assim que a tua devoção se for tornando conhecida no mundo, maledicências e adulações te causarão sérias dificuldades de praticá-la. Os libertinos tomarão a tua mudança por um artifício de hipocrisia e dirão que alguma desilusão sofrida no mundo te levou por pirraça a recorrer a Deus. Os teus amigos, por sua vez, se apressarão a te dar avisos que supõem ser caridosos e prudentes sobre a melancolia da devoção, sobre a perda do teu bom nome no mundo, sobre o estado de tua saúde, sobre o incômodo que causas aos outros, sobre a necessidade de viver no mundo conformando-se aos outros e, sobretudo, sobre os meios que temos para salvar-nos sem tantos mistérios... tudo isso são loucas e vãs palavras do mundo e, na verdade, essas pessoas não têm um cuidado verdadeiro de teus negócios e de tua saúde: Se vós fôsseis do mundo, diz Nosso Senhor, amaria o mundo o que era seu; mas, como não sois do mundo, por isso ele vos aborrece” (São Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, Parte IV, 1).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 28 de agosto de 2008
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