O REI TREMEU

(2 Sm 19, 1-2)

 

“Então o rei tremeu. Subiu para a sala que está acima da porta e caiu em pranto. E dizia entre soluços: ‘Meu filho Absalão! Meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar! Absalão, meu filho! Meu filho!”

 

        

Absalão, filho do rei Davi, ia num burro, que se meteu debaixo dos galhos de um grande carvalho. A cabeça de Absalão prendeu-se no carvalho e ele ficou suspenso entre o céu e a terra enquanto o animal passava (2 Sm 18, 9). Ao ficar sabendo do acontecido, Joab tomou três dardos e os lançou no coração de Absalão, que estava ainda vivo entre os galhos do carvalho. Logo chegaram dez jovens, escudeiros de Joab, e golpearam Absalão até que o mataram (2 Sm 18, 14-15). Joab mandou um cuchita (escravo etíope), relatar ao rei Davi tudo o que viste (2 Sm 18, 21). O cuchita partiu correndo... Aquimaás também correu e ultrapassou o cuchita (2 Sm 18, 23).

Davi estava sentado entre as duas portas. A sentinela que tinha subido ao terraço da porta, sobre a muralha, estendeu a vista e notou um homem que vinha correndo, sozinho (2 Sm 18, 24). A sentinela gritou e avisou o rei, e o rei disse: “Se é um só, é que traz boas notícias nos lábios” (2 Sm 18, 25).

A sentinela avistou outro homem que vinha correndo, e a sentinela que estava sobre a porta gritou: “Vem outro homem que corre sozinho”. E Davi disse: “Este é ainda um mensageiro de bom augúrio” (2 Sm 18, 26). Disse a sentinela: “Eu reconheço o modo de correr do primeiro: é como corre Aquimaás, filho de Sadoc”. O rei disse: “É um homem de bem, e vem para dar uma notícia” (2 Sm 18, 27).

Aquimaás aproximou-se do rei e disse: “Paz!” Prostrou-se, o rosto em terra diante do rei, e disse: “Bendito seja Deus, que entregou os homens que levantaram a mão contra o senhor meu rei!” (2 Sm 18, 28). O rei perguntou: “Vai tudo bem com o moço Absalão?” E Aquimaás respondeu: “Eu vi um alvoroço no momento em que Joab, servo do rei, mandou o teu servo, mas não sei o que era (Aquimaás deixa a má notícia para o segundo mensageiro)” (2 Sm 18, 29). Disse o rei: “Passa e coloca-te ali”. E ele obedeceu e esperou (2 Sm 18, 30).

Logo chegou o cuchita e disse: “Recebe, senhor meu rei, a boa notícia. Deus te fez justiça hoje livrando-te de todos os que se levantavam contra ti” (2 Sm 18, 31). O rei perguntou ao cuchita: “Vai tudo bem com o moço Absalão?” E o cuchita disse: “Que tenham a mesma sorte desse moço todos os inimigos do senhor meu rei e todos os que se têm levantado contra ti para te fazerem mal!” (2 Sm 18, 32).

Em 2 Sm 19, 1-2 diz: “Então o rei tremeu. Subiu para a sala que está acima da porta e caiu em pranto. E dizia entre soluços: ‘Meu filho Absalão! Meu filho Absalão! Porque não morri eu em teu lugar! Absalão, meu filho! Meu filho!”

Avisaram a Joab que o rei Davi chorava e se lamentava por causa de Absalão. A vitória, naquele dia, se transformou em luto para todo o exército, porque o exército compreendeu naquele dia que o rei estava em grande angústia por causa de seu filho (2 Sm 19, 3). O rei tinha o rosto coberto e clamava em alta voz: “Meu filho Absalão! Absalão meu filho! Meu filho!” (2 Sm 19, 5).

 

Católico, o rei Davi CHOROU COPIOSAMENTE a MORTE FÍSICA de seu filho Absalão; CHOREM ABUNDANTEMENTE, também os pais, a MORTE ESPIRITUAL de seus filhos, que é bem pior que a morte física: “A alma, que pelo Santo Batismo se tornara maravilhosamente bela (adornada com a veste da graça santificante, consagrada templo do Espírito Santo), torna-se horrível pelo pecado mortal, perde toda beleza e glória sobrenatural, arruína-se e destrói-se, torna-se morta aos olhos de Deus (‘pecado mortal’)” (Pe. João Batista Lehmann), e: “Se um homem crava uma faca no seu próprio coração, morre fisicamente. Se um homem comete um pecado mortal, morre espiritualmente” (Pe. Leo J. Trese), e também: “O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infração grave da lei de Deus; desvia o homem de Deus, que é o seu fim último e a sua bem-aventurança, preferindo-lhe um bem inferior” (Catecismo da Igreja Católica, n° 1855).

 

1. Davi TREMEU (pelo horror), ao receber a notícia de que o coração de seu filho Absalão fora transpassado por lanças.

TREMAM (pelo horror), também os pais, ao saberem que a alma de seu filho ou filha fora “transpassada” pela “lança” do PECADO MORTAL.

 

2. Davi CAIU em PRANTO ao saber que Absalão estava morto.

CAIAM em PRANTO também os pais, ao saberem que o seu filho está vivendo em ADULTÉRIO, morto espiritualmente, longe da graça de Deus: “O adultério é uma injustiça. Quem o comete falta com seus compromissos. Fere o sinal da Aliança que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e prejudica a instituição do casamento, violando o contrato que o fundamenta. Compromete o bem da geração humana e dos filhos, que têm necessidade da união estável dos pais” (Idem., 2381).

 

3. O rei Davi SOLUÇAVA muito, porque o seu filho estava morto, dependurado em uma árvore.

SOLUCEM também os pais ao verem seus filhos, mortos espiritualmente, “dependurados na árvore” do mundo, inimigo de Deus e das almas: “O mundo está todo em maldade”(Pe. João Colombo).

 

4. Davi CHORAVA e se LAMENTAVA por causa de Absalão.

CHOREM e LAMENTEM os pais ao verem seus filhos nos VÍCIOS, mortos espiritualmente, com a alma MERGULHADA na ESCURIDÃO: “Se uma casa não for habitada pelo dono, ficará sepultada na escuridão, desonra e desprezo, repleta de toda espécie de imundície. Também a alma, sem a presença de seu Deus e dos anjos que nela jubilavam, cobre-se com as trevas do pecado, de sentimentos vergonhosos e de completa ignomínia.

Ai da estrada por onde ninguém passa nem se ouve voz de homem! Será morada de animais. Ai da alma, se nela não passeia Deus e com sua voz afugenta as feras espirituais da maldade! Ai da casa não habitada por seu dono! Ai da terra, sem o lavrador que a cultiva! Ai do navio, se lhe falta o piloto; sacudido pelas ondas e tempestades do mar, soçobrará! Ai da alma que não tiver em si o verdadeiro piloto, o Cristo! Porque lançada na escuridão do mar impiedoso e sacudida pelas ondas das paixões, jogada pelos maus espíritos como em tempestade de inverno, encontrará afinal a morte.

Ai da alma se lhe falta Cristo, que a cultive com diligência, para que possa germinar os bons frutos do Espírito! Deserta, coberta de espinhos e de alhures, terminará por encontrar, em vez de frutos, a queimada. Ai da alma, se seu Senhor, o Cristo, nela não habitar! Abandonada, encher-se-á com o mau cheiro das paixões, virará moradia dos vícios” (São Macário).

 

Pais católicos, de que adianta ter um filho simpático, trabalhador, estudioso, inteligente… se o mesmo VIVE longe de Deus, isto é, MORTO ESPIRITUALMENTE?

Oriente e reze pelo seu filho, para que ele CONSERVE em sua alma imortal a GRAÇA SANTIFICANTE: “Filho, deves evitar tudo quanto sabes desagradar a Deus, quer dizer, todo PECADO MORTAL, de tal forma que prefiras ser atormentado por toda sorte de martírios a cometer um PECADO MORTAL” (Do Testamento Espiritual de São Luís, Rei da França, a seu filho), e: “Meu filho, lembra-te do Senhor todos os dias e não queiras pecar nem transgredir seus mandamentos” (Tb 4, 5).

Se o seu filho estiver em PECADO MORTAL, reze e faça penitência pela sua conversão; não desista, mas imite o exemplo de Santa Mônica que rezou e chorou durante muitos anos pela conversão de Santo Agostinho:

Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho, foi ao longo dos séculos o tipo da mãe cristã; a mãe forte, que por sua resistência, suas lágrimas e orações conseguiu a conversão de um dos maiores pensadores e santos da Igreja e da humanidade. O próprio Santo Agostinho diz de sua mãe: “Que pela carne, concebeu seu filho para a vida temporal mas, pela fé e o coração, o fez nascer para a vida eterna”.

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 29 de agosto de 2008

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Depois de autorizado, é preciso citar:

Pe. Divino Antônio Lopes FP. "O rei tremeu"

www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0212.htm