TEVE UM SONHO

(Gn 28, 12)

 

“Teve um sonho: Eis que uma escada se erguia sobre a terra e o seu topo atingia o céu, e anjos de Deus subiam e desciam por ela!”

 

 

Jacó deixou Bersabéia e partiu para Harã (Gn 28, 10). Coincidiu de ele chegar a certo lugar e nele passar a noite, pois o sol havia-se posto. Tomou uma das pedras do lugar, colocou-a sob a cabeça e dormiu nesse lugar (Gn 28, 11). Teve um sonho: Eis que uma escada se erguia sobre a terra e o seu topo atingia o céu, e anjos de Deus subiam e desciam por ela! (Gn 28, 12). Eis que Deus estava de pé diante dele e lhe disse: “Eu sou Deus, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac. A terra sobre a qual dormiste, eu a dou a ti e à  tua descendência. Tua descendência se tornará numerosa como a poeira do solo; estender-se-á para o ocidente e o oriente, para o norte e o sul, e todos os clãs da terra serão abençoados por ti e por tua descendência. Eu estou contigo e te guardarei em todo lugar aonde fores, e te reconduzirei a esta terra, porque não te abandonarei enquanto não tiver realizado o que te prometi” (Gn 28, 13-15). Jacó acordou de seu sonho e disse: “Na verdade Deus está neste lugar e eu não o sabia!” (Gn 28, 16). Teve medo e disse: “Este lugar é terrível! Não é nada menos que uma casa de Deus e a porta do céu!” (Gn 28, 17). Levantando-se de madrugada, tomou a pedra que lhe servira de travesseiro, ergueu-a como uma Estela e derramou óleo sobre o seu topo (Gn 28, 18). A este lugar deu o nome de Betel, mas anteriormente a cidade se chamava Luza (Gn 28, 19). Jacó fez este voto: “Se Deus estiver comigo e me guardar no caminho por onde eu for, se me der pão para comer e roupas para me vestir, se eu voltar são e salvo para a casa de meu pai, então Deus será meu Deus e esta pedra que ergui como uma Estela será uma casa de Deus, e de tudo o que me deres eu te pagarei fielmente o dízimo” (Gn 28, 20-22).

 

Católico, em SONHO viu Jacó uma ESCADA LEVANTADA para o alto, e cujo pé se apoiava no deserto, e cujo topo TOCAVA o FIRMAMENTO.

 

A ESCADA que Jacó vê em SONHO – que poderia refletir as ESCADAS dos templos mesopotâmicos ou egípcios, colocadas nos santuários de Canaã -, tal como aparece no texto bíblico, está CHEIA de um PROFUNDO SIMBOLISMO: é o meio pelo qual se UNEM o céu e a terra.

 

I

A oração

 

O Pe. João Colombo escreve: “Não penseis procurá-la longe de vós, porque o lugar onde ela se eleva é o vosso coração. Esta ESCADA é a ORAÇÃO. Por ela os anjos, mensageiros de amor, sobem e descem: SOBEM LEVANDO a Deus as necessidades, as indigências, os desejos dos homens, e DESCEM TRAZENDO aos homens as graças, os dons, os favores de Deus. E o Senhor, nós O achamos sempre no topo dessa escada, sempre pronto a prestar o ouvido misericordioso para recolher o gemido e o suspiro que sobe de baixo”.

Católico, os anjos oferecem a Deus as nossas orações e as nossas boas obras, e assim lhas tornam mais agradáveis: Como são preciosas a Deus as nossas orações que Ele destinou os Anjos para lhe apresentarem imediatamente as que estamos fazendo... É este exatamente aquele sagrado incenso, isto é, as orações dos santos, que São  João viu subir ao Senhor, oferecido pelas mãos dos anjos. Escreveu o mesmo Santo Apóstolo que as orações dos santos são como redomas de ouro cheias de suave perfume e muito agradáveis a Deus” (Santo Afonso Maria de Ligório, A oração, Capítulo II, 1), e: “Os anjos presidem as orações dos fiéis e diariamente as oferecem a Deus” (Santo Hilário).

 

II

A providência divina que chega à terra

mediante o ministério dos anjos

 

São João Crisóstomo escreve: “A missão dos Anjos é servir a Deus com vistas à nossa salvação. Seu serviço é fazer tudo quanto se relaciona com a salvação dos homens, que é fundamentalmente a obra de Cristo. Cristo nos concede, como Senhor que é, a saúde da alma, e os Anjos coadjuvam, como servidores de Cristo”, e: “Os Anjos não se acham em peregrinação como nós, mas assistem sem interrupção, ao banquete da verdade, da luz e da sabedoria imortais. Já são, pois, bem-aventurados. Possuídos de tanta felicidade nos assistem em nossa peregrinação a caminho da celestial cidade de Jerusalém. Eles se compadecem de nós, nos auxiliam por ordem divina, a fim de que um dia alcancemos aquela pátria comum, onde, com eles, possamos nós também nos saciar finalmente na fonte suprema da verdade na eternidade” (Santo Agostinho), e também: “Os Anjos estão sempre dispostos e decididos a cumprir a vontade divina e instantaneamente se encontram onde quer que a ordem divina os envie” (São João Damasceno).

J. Chaine escreve: “A escada indica a existência de uma comunicação contínua entre o céu e a terra. Deus envia mensageiros que sobem e descem para executar suas ordens. O céu, morada de Deus, não está separado da terra...; a Providência vela pelo homem, e a distância não o separa...; há uma relação direta entre ela e o homem” (O. C., p. 317).

 

III

A cruz

 

Muitos intérpretes consideram que a escada que Jacó viu, representa a cruz... pela qual os cristãos alcançam a glória do céu.

O Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena escreve: “Eis a obrigação de todos os seus fiéis: tomar a própria cruz e seguir a Cristo até morrer com ele e, portanto, com ele e nele ressuscitar. Eis o único modo de celebrar o mistério pascal, não somente como espectadores, mas como atores que dele participam pessoal e vitalmente. A cruz, as tribulações que sempre acompanham a vida do homem, recordam ao cristão o único itinerário da salvação e, portanto, da verdadeira vida”, e: “Ó Deus, o caminho da cruz é o que reservais aos vossos eleitos: e quanto mais os amais, maiores cruzes lhes dais... Crer que admitis à vossa estreita amizade almas amantes dos prazeres e não dos sofrimentos, é disparate...” (Santa Teresa de Jesus), e também: “Salve, ó Cruz, fonte de vida, ó invencível troféu da piedade, ó Porta do paraíso, conforto dos fiéis, baluarte da Igreja” (Liturgia Oriental).

 

IV

Nossa Senhora

 

São Bernardo de Claraval escreve: “Esta (a Virgem) é a escada de Jacó, que tem doze degraus, entre os dois lados. O lado direito é o desprezo de si mesmo por amor a Deus, o lado esquerdo é o desprezo do mundo por amor ao reino. A subida por seus doze degraus são os graus de humildade. (...) Por estes degraus sobem os anjos e são elevados os homens...” (Sermo ad Beatam Virginem 4).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 05 de setembro de 2008

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. "Teve um sonho"

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