ENVIOU DE NOVO OUTROS SERVOS (Mt 21, 33-43)
"33 Escutai outra parábola. Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, abriu nela um lagar e construiu uma torre. Depois disso, arrendou-a a vinhateiros e partiu para o estrangeiro. 34 Chegada a época de colheita, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os seus frutos. 35 Os vinhateiros, porém, agarraram os servos, espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. 36 Enviou de novo outros servos, em maior número do que os primeiros, mas eles os trataram da mesma forma. 37 Por fim, enviou-lhes o seu filho, imaginando: 'Irão poupar o meu filho'. 38 Os vinhateiros, porém, vendo o filho, confabularam: 'Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança'. 39 Agarrando-o, lançaram-no para fora da vinha e o mataram. 40 Pois bem, quando vier o dono da vinha, que irá fazer com esses vinhateiros?' 41 Responderam-lhe: 'Certamente destruirá de maneira horrível esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que entregarão os frutos no tempo devido'. 42 Disse-lhes então Jesus: 'Nunca lestes nas Escrituras: 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; pelo Senhor foi feito isso e é maravilha aos nossos olhos?'43 Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que produza seus frutos".
Em Mt 21, 33 diz: "Escutai outra parábola. Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, abriu nela um lagar e construiu uma torre. Depois disso, arrendou-a a vinhateiros e partiu para o estrangeiro".
São João Crisóstomo escreve: "Depois da primeira parábola contou outra, para dar-lhes a conhecer que sua acusação é muito grave e não merece perdão. Por isso disse: 'Escutai essa parábola: Havia um pai de família" (Homiliae in Matthaem, hom. 68, 1), e: "O pai de família é Deus, que é chamado homem em algumas parábolas, à maneira de um pai que fala com seu pequeno filho infantilmente, no sentido que o pode entender e o instrui" (Orígenes, Homiliae 19 in Matthaeum), e também: "Se chama homem pelo nome e não pela natureza, por semelhança e não em verdade. Sabendo o Filho que por se chamar com nome humano havia de ser blasfemado como um simples homem, por isso chamou a Deus Pai, homem invisível; porque sendo Senhor dos anjos e dos homens por natureza, tem a benevolência de Pai" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, hom. 40), e ainda: "Plantou uma vinha, de quem disse Isaías: a vinha do Senhor é a casa de Israel (Is 5, 7). Prossegue: 'E a cercou..." (São Jerônimo), e: "Se refere ou à muralha da cidade ou ao auxílio dos anjos" (Idem.), e também: "Também pode entender-se por vala a defesa dos Santos Padres, que se levantaram como muralha no povo de Deus" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, hom. 40), e ainda: "Também pode se dizer que a vala é a defesa do mesmo Deus, e o lagar é o lugar das libações. Acerca do qual se prossegue: 'E cavando fez nela um lagar" (Orígenes, Homiliae 19 in Matthaeum), e: "Isto é, um altar, ou aqueles lagares com cujo título se designam três Salmos (Sl 8; 80; 83), isto é, os mártires" (São Jerônimo), e também: "Também considero os profetas como a certos lagares, nos quais se encontra de muitas maneiras uma grande abundância de fogo do Espírito Santo" (Santo Hilário, In Matthaeum, 22), e ainda: "O lagar é também a Palavra de Deus que corrige o homem, contradizendo a natureza da carne. Prossegue: 'E edificou uma torre" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, hom. 40), e: "Isto é, um templo de quem disse por Miquéias: torre nebulosa da filha de Sião (Mq 4, 8)" (São Jerônimo), e também: "Na torre colocou a magnificência da Lei que ia desde a terra até ao céu, e pela qual podia verificar-se a vinda de Jesus Cristo. Prossegue: 'E a arrendou a uns lavradores" (Santo Hilário, In Matthaeum, 22).
O Pe. Luis Maria Jimenez comenta Mt 21, 33. 1. O homem que plantou uma vinha; todos admitem ser Deus. 2. A vinha plantada por ele, crê Santo Atanásio, é o mundo criado pelo Senhor ou o gênero humano. E então, quem eram os colonos a quem Deus a arrendara? É a Igreja, como interpretam com muita razão alguns autores. Nela Deus quer que todos trabalhem. Já se sabe que na Escritura é metáfora muito usada a da vinha: "Ele era uma vinha: tu a tiraste do Egito, expulsaste nações para plantá-la" (Sl 79, 9). 3. A cercou, construiu nela um lagar e uma torre. As três coisas significam uma, a meu entender. Que Deus fez por sua Igreja tudo o que devia para guardá-la e cultivá-la bem. Recordemos o que disse por Isaías: "Que me restava ainda fazer à minha vinha que eu não tenha feito?"(5, 4). 4. São os colonos a quem se arrendou a vinha. Por colonos, entendem muitos autores que são os sacerdotes. Outros entendem que são os escribas e fariseus, pois tinham a seu cargo cultivar a vinha, isto é, a ensinar ao povo (Orígenes, Santo Hilário, Eutimio e Teofilacto). 5. Os servos enviados pelo pai de família em diversos tempos para recolher o fruto da vinha, são em opinião unânime de todos os autores os profetas da velha lei. 6. Cristo é o filho enviado pelo senhor como último recurso; os mesmos sacerdotes, contra quem ia a parábola, o entenderam assim.
Edições Theologica comenta Mt 21, 33. Esta parábola, tão importante, completa a anterior. A parábola dos dois filhos limitava-se a mostrar o fato da indocilidade de Israel; a dos vinhateiros homicidas projeta a sua luz sobre o castigo consequente. O Senhor compara Israel com uma vinha escolhida, provida segundo o uso oriental da sua cerca, do seu lagar, com a sua torre de vigilância algo elevada, onde se colocava o guardião encarregado de proteger a vinha contra os ladrões e os chacais. Deus não regateou nada para cultivar e embelezar a sua vinha. Os vinhateiros, na parábola, são colonos; o dono é Deus, e a vinha é Israel (Is 5, 3-5; Jr 2, 21; Jl 1, 7). Os vinhateiros a quem Deus tinha entregado o cuidado do seu povo representam os sacerdotes, escribas e anciãos. A ausência do dono dá a entender que Deus confiou realmente Israel aos seus chefes; e daqui nasce a sua responsabilidade e contas exigidas pelo dono da vinha.
O Pe. Francisco Fernández Carvajal comenta o trecho de Mt 21, 33. A Palestina era um lugar rico em vinhedos, e os Profetas do Antigo Testamento recorreram com frequência a essa imagem, tão conhecida por todos, para falar do Povo eleito. Israel era a vinha de Deus, a obra do Senhor, a alegria do seu coração: Eu tinha-lhe plantado como uma vinha escolhida, com sarmentos de boa qualidade (Jr 2, 21). A tua mãe era como uma vinha plantada junto das águas (Ez 19, 10). O próprio Senhor, como se lê no Evangelho (Mt 21, 33-43), referindo-se ao texto de Isaías, revela-nos a paciência de Deus, que manda os seus mensageiros – os Profetas do Antigo Testamento –, um após outro, em busca de frutos. Por fim, envia o seu Filho amado, o próprio Jesus, que os vinhateiros acabarão por matar: E, lançando-lhe as mãos, puseram-no fora da vinha e mataram-no. É uma referência clara à crucifixão que teve lugar fora dos muros de Jerusalém. A vinha é certamente Israel, que não correspondeu aos cuidados divinos; mas é também a Igreja, bem como cada um de nós: "Cristo é a verdadeira vide, que dá vida e fecundidade aos ramos, quer dizer, a nós que pela Igreja permanecemos n'Ele e sem Ele nada podemos fazer" (Jo 15, 1-5). Meditemos hoje se o Senhor pode encontrar frutos abundantes na nossa vida; abundantes porque é muito o que nos foi dado. Frutos de caridade, de trabalho bem feito, de apostolado com os amigos e familiares; jaculatórias, atos de amor a Deus e de desagravo ao longo do dia, ações de graças, contrariedades acolhidas com paz, pequenos sacrifícios praticados discretamente e com toda a naturalidade. Examinemos também se, ao mesmo tempo, não produzimos essas uvas amargas que são os pecados, a tibieza, a mediocridade espiritual, as faltas de que não pedimos perdão ao Senhor... Havia um pai de família que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe e cavou nela um lagar... "Cercou-a com uma sebe – comenta Santo Ambrósio –, isto é, defendeu-a com a muralha da proteção divina para que não sofresse facilmente pelas incursões das alimárias espirituais (...); e cavou um lagar onde fluísse, espiritualmente, o fruto da uva divina". Foram muitos os cuidados divinos que recebemos. A cerca, o lagar e a torre significam que Deus não economizou nada para cultivar e embelezar a sua vinha. Como é que, esperando que desce boas uvas, produziu uvas verdes?
Mt 21, 33 é comentado pelo Pe. Juan Leal. A imagem está tomada da agricultura, concretamente do cultivo das vinhas tal como se praticava na Palestina. Parecida descrição temos em Isaías (5, 1-2), e esta figura da vinha para representar o povo de Israel vemos que era frequente nos escritos do Antigo Testamento (cf. Is 27, 2-6; Jr 2, 21; 12, 10; Ex 15, 17; 19, 10-14; Jl 1, 7; Os 10, 1; Sl 80, 9s, etc.).
PIB comenta Mt 21, 33. A parábola da vinha cuidada com diligência pelo dono encontra-se também em Isaías 5, 1-7. O significado da parábola não carece de clareza; os escribas e os fariseus, aos quais se dirigia, compreenderam-no muito bem. Deus é o chefe de família; a vinha, o povo judeu; os lavradores são os sacerdotes, os escribas e os fariseus; os servos, enviados diversas vezes pelo dono, são os profetas maltratados, feridos e até mortos; o filho do chefe de família é Jesus, Filho de Deus, que eles bem depressa matariam. Jesus prediz o tremendo castigo que, por causa do deicídio, estava para desabar sobre a nação judaica. Reprovado Israel, o reino de Deus passaria aos gentios. Cita Jesus as palavras do Sl 117, 22-23, que melhor se compreendem se comparadas com as de Isaías 28, 16 (cf. At 4, 11; 1 Pd 2, 4).
Mt 21, 33 é comentado pelo Pe. Manuel de Tuya. O auditório ao qual Jesus Cristo se dirige está composto preferentemente, ainda que não exclusivamente, de chefes religiosos de Israel, príncipes dos sacerdotes e fariseus (Mt 21, 45-46; Mc 12; Lc 20, 19). Jesus Cristo lhes expõe esta parábola. Um dono "plantou uma vinha" e a rodeou de toda classe de cuidados. Mt-Mc fazem uma descrição minuciosa dela, respondendo a um quadro perfeitamente de costume. Pôs-lhe uma cerca, cavou nela um lagar e construiu uma torre. A cerca demarca a propriedade e defende a vinha de roubos e da destruição feita pelos animais. Como era comum na antiguidade, cavar nela, em seu solo, um lagar. A torre ou pequeno posto de vigilância se construía com pedras e se cobria com ramagens. Nela se vigiava, sobretudo, na época em que apareciam já os cachos. Uma vez que este dono preparou assim sua vinha, ao invés dele ou os seus cultivá-la, a "arrendou a uns lavradores". Feito isso, viajou para outro país por muito tempo (Lc). Não era raro na Galiléia que certos donos arrendassem suas terras e se afastassem para terras distantes. Porém, o arrendamento não era um presente. E assim, quando chegou o tempo de recolher os frutos, enviou seus servos àqueles lavradores para pegar seus frutos. Existiam já as formas de renda: em dinheiro ou em espécie.
Em Mt 21, 34-36 diz: "Chegada a época de colheita, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os servos, espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Enviou de novo outros servos, em maior número do que os primeiros, mas eles os trataram da mesma forma".
Pseudo-Crisóstomo escreve: "Isto é, quando foram instituídos os sacerdotes e os levitas por meio da lei, tomaram a seu cargo o governo do povo. Assim como o colono, ainda quando cumpre seu dever não agradará a seu patrão se não lhe entrega as rendas da vinha, assim o sacerdote não agrada tanto ao Senhor por sua santidade, como ensinando ao povo de Deus a prática da virtude. Porque sua santidade é única, e a do povo é muito variada" (Opus Imperfectum in Matthaeum, hom. 40), e: "Não por haver variado de lugar – porque Deus não pode dizer que está longe de nenhuma parte, sendo assim, Ele abarca tudo –, porém, parece que se separa de sua vinha para deixar aos vinhateiros a liberdade para trabalhar" (São Jerônimo), e também: "Se afastou para longe porque teve longanimidade, não querendo castigar sempre os pecados dos maus" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 68, 1), e ainda: "Digo muito oportunamente, o tempo dos frutos e não dos produtos, porque o fruto do povo rebelde é insignificante" (Rábano), e: "Os expulsaram como a Jeremias (Jr 37), os mataram como a Isaías, os apedrejaram como a Nabot (1Rs 21) e a Zacarias, a quem mataram entre o templo e o altar" (São Jerônimo), e também: "A misericórdia do Senhor aumentava conforme crescia a malícia dos judeus. E à medida que se aumentava a misericórdia do Senhor, crescia a malícia dos judeus. E assim batalhava a malícia humana contra a clemência divina. Por isso segue: 'De novo enviou outros servos" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, hom. 40), e ainda: "Enviou a muitos servos, significando aquele tempo no qual depois da pregação individual dos profetas, foram enviados simultaneamente, grande quantidade de vaticinadores" (Santo Hilário, In Matthaeum, 22), e: "Os primeiros servos enviados foram: Moisés, o primeiro legislador; Aarão, o primeiro sacerdote de Deus, os quais foram mortos pelo açoite da língua e os despacharam sem nada. Portanto, compreendamos que os outros servos foram a multidão de profetas" (Rábano).
Dom Duarte Leopoldo comenta Mt 21, 36. O sentido desta parábola é bem claro: o pai de família é o Pai celeste; a vinha, a terra de Israel; os vinhateiros que receberam esta vinha, por um contrato de arrendamento, são os judeus; os servos, enviados pelo pai de família, são os profetas: entre outros, Elias, que foi desprezado por Jezabel, Miquéias aprisionado por Acab, Eliseu perseguido por Jorão, Jeremias apedrejado, Isaías serrado pelo meio, Zacarias morto entre o altar e o Templo.
Edições Theologica comenta Mt 21, 34-36. O dono envia os seus servos de vez em quando para receber os seus frutos. Esta foi a missão dos profetas. O segundo envio dos servos para reclamar o que deviam ao seu dono, e que corre a mesma sorte que o primeiro, é uma alusão aos maus tratos infligidos aos profetas de Deus pelos reis e sacerdotes de Israel (Mt 23, 37; At 7, 42; Hb 11, 36-38).
O Pe.Manuel de Tuya comenta Mt 21, 34-36. Porém, os lavradores, no lugar de pagar o estipulado, de entregar os frutos, agrediram os servos e os maltrataram: "a um golpearam, a outro mataram, a outro o apedrejaram" (Mt). Mc e Lc só citam que o senhor enviou "um" servo, ao qual o "espancaram e mandaram de volta". Estas variantes literárias fazem ver que não interessam estes elementos descritivos minuciosos, mas a injúria que os servos recebem dos vinhateiros. Os evangelistas transmitem a substância do ensinamento de Cristo através de elementos literários seus ou da catequese, que não tem mais que este valor expressivo. Já o ensinava Santo Agostinho (De consensu evang.:ML 34, 1142ss. Sobre as possíveis interpretações desta forma). Em vista do sucedido, o dono envia pela segunda vez "servos mais numerosos". Mc e Lc expressam dizendo que não se fez este segundo envio com "um só servo". E sucede o mesmo. "O golpearam na cabeça" e o desonraram. Mc insiste com uma repetição literária insistente, reflexo pedagógico da catequese, que logo enviou outro e a este "o mataram". E depois enviou "outros muitos", e destes, a "uns espancaram e a outros mataram".
Em Mt 21, 37-39 diz: "Por fim, enviou-lhes o seu filho, imaginando: 'Irão poupar o meu filho'. Os vinhateiros, porém, vendo o filho, confabularam: 'Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança'. Agarrando-o, lançaram-no para fora da vinha e o mataram".
Santo Hilário escreve: "A vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo está representada pelo filho enviado. Por isso segue: 'Por último, os enviou seu filho" (In Matthaeum, 22), e: "E por que não o enviou primeiro? Para poder os acusar pelo que haviam feito com outros, e para que abandonando sua raiva, respeitassem ao próprio filho que vinha. Por isso segue: 'Respeitarão a meu filho" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 68, 1), e também: "Enviou a este não para trazer a sentença do castigo aos que trabalhavam mal, mas para oferecer-lhes o perdão da penitência. Ou seja, o enviou para humilhá-los e não para castigá-los" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, hom. 40), e ainda: "Quando disse, talvez respeitarão meu filho, não o disse porque ignorava. Como havia de ignorar o Pai de família que aqui representava a Deus?" (São Jerônimo), e: "Disse também isto, anunciando o que devia suceder. Porque convinha que eles se envergonhassem. Por isso quer dar a entender que é grande o pecado daqueles e que carece de toda desculpa" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 68, 1), e também: "Perguntamos a Ario e a Eunomio: eis aqui o que se diz, o Pai não sabe; tudo o que dizem a respeito do Pai, entende também a respeito do Filho, que segundo disse, não sabe quando será o dia do juízo (Mc 13)" (São Jerônimo), e ainda: "Jesus Cristo foi levado fora de Jerusalém, como fora de sua vinha, a sofrer a sentença de sua condenação" (Santo Hilário, In Matthaeum, 22), e: "E quando disse: 'O expulsaram fora da vinha', me parece que o consideraram como estranho da vinha e dos colonos. Prossegue: 'Pois quando vier o Senhor da vinha, que farão aqueles lavradores? (Orígenes).
Dom Duarte Leopoldo escreve: "O filho amado, o herdeiro é o próprio Jesus Cristo, que três dias depois foi arrastado para fora de Jerusalém e crucificado".
Edições Theologica comenta Mt 21, 37-39. Finalmente enviou-lhes o seu Filho, pensando que, sem dúvida, O respeitariam. Aqui é assinalada a diferença entre Jesus e os profetas, que eram servos, mas não 'o Filho': a parábola refere-se à filiação transcendente e única que expressa a divindade de Jesus Cristo. A intenção perversa dos vinhateiros de assassinar o filho herdeiro, para ficarem eles com a herança, é o desatino com que os chefes da sinagoga esperam ficar como donos indiscutíveis de Israel ao matarem Cristo (Mt 12, 14; 26, 4). Não pensam no castigo: a ambição cega-os. Então 'lançaram-no fora da vinha e mataram-no': referência à crucifixão que teve fora dos muros de Jerusalém.
Mt 21, 37-39 é comentado pelo Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena. Esse trecho do Evangelho resume a metáfora de Isaías 5, 1-7, e a desenvolve falando de outros imensos benefícios feitos por Deus a seu povo. Enviou-lhes repetidas vezes "seus servos", ou seja, os profetas; porém, os vinhateiros, isto é, os chefes de Israel, a quem havia sido confiada a vinha do Senhor, os maltrataram, espancaram, lapidaram e mataram. Enfim, como prova suprema de amor, enviou Deus o seu Filho divino. Mas também a este prenderam, lançaram fora da vinha e lhe deram a morte, crucificando-o "fora" dos muros de Jerusalém. Assim, a responsabilidade e a ingratidão do povo eleito cresceram enormemente! Daí as conclusões, de graves consequências: Isaías havia falado da destruição da vinha do Senhor, símbolo das derrotas de Israel e de sua deportação ao desterro; Jesus, ao invés, anuncia: "Arrendará a vinha a outros agricultores" (Mt 21, 41) e mais claramente ainda: "O reino de Deus vos será tirado e dado a um povo que produza fruto" (Mt 21, 43). Por culpa de sua ingratidão, Israel foi substituído por outros povos; a sinagoga, pela Igreja. Mas o novo povo de Deus é mais fiel que o antigo? Também para os membros do novo povo valem as parábolas de Isaías e de Jesus. Se a vinha de cada fiel, na Igreja, não der os frutos que Deus espera dele, sofrerá a mesma sorte que Israel. Isto não se aplica à Igreja como corpo social, mas a cada um dos seus membros. Todo batizado deve ser "vinha do Senhor" e dar fruto, antes de tudo, aceitando Jesus, seguindo-o e vivendo enxertado nele, "verdadeira vide", fora da qual não há mais que a morte. No Novo Testamento, com efeito, a "vinha do Senhor" não é somente o povo de Deus escolhido e amado, mas o povo escolhido e amado em Cristo, enxertado nele, que disse: "Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor... Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto: porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15, 1.5).
O Pe. Juan Leal comenta Mt 21, 37-39. Finalmente, o senhor da vinha decide mandar a seu filho, e certamente, como observa São Marcos, ao único e muito querido (12, 6), supondo que o respeitariam. É evidente que este proceder do senhor não é conforme ao que qualquer outro pai faria em semelhantes circunstâncias. Mais ainda, depois do comportamento dos lavradores, que tão duramente maltrataram e ainda mataram aos criados, antes enviados, pareceria imprudência enviar, sem mais, ao filho, expondo-o aos mesmos perigos. Isto indica que semelhante proceder do pai, humanamente incompreensível, se põe na imagem parabólica unicamente em ordem à doutrina que encerra. O mesmo, dizemos de outra circunstância não menos inexplicável em ordem dos costumes humanos. Aqueles homicidas esperam, com a morte do filho, fazer-se donos de sua herança. Também este detalhe se põe unicamente por razão do significado doutrinal que de toda a imagem conclui Cristo.
Mt 21, 37-39 é comentado pelo Pe. Manuel de Tuya. Porém o dono, ao ficar sem servos, só vê uma solução. Já não tinha mais servos para enviar àqueles vinhateiros para que lhe entregassem os frutos, porém, "tinha, todavia, um: o filho querido" (agapetón) (Mc). Pensava: "a meu filho respeitarão" (Mt). Lc o formula com a incerteza de quem temia o que sucederia: "Talvez a ele o respeitem". E o enviou à vinha. Porém, quando aqueles vinhateiros viram o filho, disseram: "Este é o filho, o herdeiro; vamos matá-lo e a herança será nossa". E o filho chegou. E o espancaram e o "expulsaram fora da vinha", e fora dela o mataram (Mt-Lc); detalhe de interesse que Mc não cita, mas que literalmente descreve a sua morte na vinha, e depois o lançaram fora dela.
Em Mt 21, 40-43 diz: "Pois bem, quando vier o dono da vinha, que irá fazer com esses vinhateiros?' Responderam-lhe: 'Certamente destruirá de maneira horrível esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que entregarão os frutos no tempo devido'. Disse-lhes então Jesus: 'Nunca lestes nas Escrituras: 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; pelo Senhor foi feito isso e é maravilha aos nossos olhos?' Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que produza seus frutos".
São Jerônimo escreve: "Pergunta-lhes o Senhor, não porque não saiba o que iam contestar, mas para que se condenassem por sua própria boca. Prossegue: 'Disseram isso: Aos maus destruirá...", e: "Como responderam a verdade, não pôde dizer que julgaram com justiça, mas que a verdade os obrigou" (Pseudo-Crisóstomo, Opus Imperfectum in Matthaeum, hom. 40), e também: "O Senhor, portanto, lhes propôs essa parábola, para que eles, sem saber, se condenassem a si mesmos, como aconteceu a Davi, a respeito de Natã. Compreenderiam, além disso, que o que se havia dito se dizia contra eles, e por isso contestaram: 'De nenhuma maneira" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 68, 1), e ainda: "Em sentido moral, a cada um se lhe entrega a vinha para que a cultive, quando se lhe administra o sacramento do batismo, para que trabalhe por meio dele. É enviado um servo, outro e um terceiro; quando a lei, o salmo e a profecia dizem, em virtude de cujos ensinamentos, deve trabalhar bem. Porém, o enviado é morto e lançado fora, se despreza sua pregação ou o que é pior, se blasfema contra ele" (Rábano), e: "Vem a dizer uma mesma coisa em diferentes parábolas: os que em uma delas se chamam operários e colonos, noutra são chamados edificadores e construtores" (São Jerônimo), e também: "Chama a Jesus Cristo de pedra; os doutores dos judeus são os edificadores que reprovaram a Jesus Cristo dizendo: 'Este não procede de Deus' (Jo 9, 16)" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 68, 1), e ainda: "Porém, ainda quando eles não queriam, consolidou a pedra o cimento do ângulo, porque uniu por meio de sua fé a todos os que quiseram; procedentes de um e de outro povo" (Rábano), e: "Foi feito cabeça do ângulo, porque há certa união entre os lados da lei e dos gentios" (Santo Hilário, In Matthaeum, 22), e também: "Depois acrescentou, para que saibam que nada do que faziam os judeus poderia contrariar a Deus: 'Pelo Senhor isto foi feito" (São João Crisóstomo, Homiliae in Matthaeum, hom. 68, 1), e ainda: "Isto é, esta pedra é um dom dado pelo edifício do universo, e é a cabeça admirável que se apresenta à nossa vista para que possamos vê-la com a luz de nossa inteligência" (Orígenes, Homiliae 19 in Matthaeum).
O Pe. Manuel de Tuya comenta Mt 21, 40-43. E Jesus pergunta aos ouvintes: "Quando voltar o senhor da vinha, que fará com aqueles lavradores?" Dizem-lhe: "Os matarão... e arrendará a vinha a outros lavradores que dêem os frutos a seu tempo" (Mt). Porém, ao ouvir este último disseram (provavelmente o grupo de fariseus): "De nenhuma maneira" sucederá isso. O resto dessa passagem (Mt vers. 42-44) está já na margem do sentido estrito da parábola. É como um comentário ou aumento de algum ponto de ocasião da mesma. Ao terminar a parábola, os três evangelistas destacam que os "príncipes dos sacerdotes e os fariseus que ouviram estas palavras" (Mt) queriam então lhe prender, porque "sabiam que havia dito esta parábola para eles" (Lc). Os riscos irreais que aparecem na parábola, uns tem simples valor literário; outros, alegórico. O sentido desta alegoria "parabolizante" é o seguinte: 1. O dono da vinha é Deus. 2. A vinha é Israel. Era uma das expressões mais características de simbolizar a Israel como vinha, já desde Isaías (Is 5, 1-7; cf. 27, 2-6; Jr 2, 21; 12, 10; Ez c. 17; 19, 10-14; Os 10, 1; Sl 80, 9ss). E no templo herodiano de Jerusalém, uma grande "vid" de ouro maciço e de proporções colossais colocada sobre a entrada do santuário, significava Israel. 3. Os vinhateiros a quem se arrenda é Israel. São especialmente os dirigentes espirituais de Israel, que são os principais "cultivadores" desta vinha espiritual. 4. Os servos que envia à sua vinha para recolher os frutos, para estimular a frutificação desta vinha, são os profetas. Nenhum comentário melhor a esta palavra de Cristo que o que Ele mesmo disse para entrar na paixão: "Ai de vocês, escribas e fariseus, que edificais sepulcros aos profetas e adornais os monumentos dos justos..." (Mt 23, 29-38). Veja também: Lc 11, 47-51; 13, 34; Hb 11, 36-37. Basta recordar Elias injuriado por Jezabel; Isaías, segundo a tradição judaica, foi serrado; Jeremias, lapidado no Egito; Miquéias, preso por Acab; Zacarias, apedrejado por ordem do rei Joás; o Batista, decapitado por ordem de Antipas; Jesus Cristo e os apóstolos, perseguidos e martirizados. 5. O dono que, depois de arrendar a vinha, foi para outro país por muito tempo, como se trata de Deus, é uma ficção literária para dar lugar ao desenvolver histórico da alegoria. 6. Os vinhateiros, homicidas dos servos, que foram enviados pelo dono, é o comportamento de Israel com os profetas e enviados de Deus para frutificar na santidade a comunidade de Israel. 7. Os frutos que vão buscar é a frutificação religiosa e moral de Israel, que devia haver terminado na disposição perfeita para receber o Messias. 8. A atitude do dono que envia novos mensageiros sem tomar precaução contra os malvados vinhateiros nem fazer justiça de sua obra, é a paciência de Deus, atenta ao desenvolvimento no tempo fixado do plano de sua Providência. 9. A conduta deliberativa do dono em enviar o seu Filho "amado", está expressa "antropomorfistamente". Mt o descreve também "como o herdeiro (kleronómos) da vinha", ou seja, das promessas messiânicas. Mc o descreve como "Amado", e Lc o determina mais com o artículo: "meu Filho, o Amado" (ho Agapetós), cuja expressão é equivalente no Antigo Testamento ao "Unigênito" (Yahid). Depois dos profetas, por último, enviou Deus a Israel seu Filho unigênito, para ver se assim renderiam os frutos da "vinha". O grande comentário sobre isso são as palavras de São Paulo aos Hebreus: "Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos" (Hb 1, 1-2). 10. Os vinhateiros reconhecem que o que vem é o "Filho" e "o herdeiro". Deus era o dono da vinha de Israel. Jesus Cristo expõe, em contraposição aos vinhateiros e aos profetas que o precederam, que Ele é o Filho do dono da vinha. Era um ensinamento constante: que Ele era o Filho de Deus. Porém, como Deus é seu Pai, se está expondo, oculta, porém realmente, sua natureza divina. João disse: "Então os judeus, com mais empenho, procuravam matá-lo, pois, além de violar o sábado, ele dizia ser Deus seu próprio pai, fazendo-se, assim, igual a Deus" (Jo 5, 18). Além disso, Ele é o "herdeiro de Israel e de todos". "Nos falou por seu Filho (encarnado), a quem constituiu herdeiro de todos" (Hb 1, 2). 11. Os vinhateiros "concordam em matá-lo" para ficar com a herança. Este último é outro elemento com valor parabólico. Jesus Cristo está fazendo, mais uma vez, a profecia de sua morte. Os "vinhateiros" que fazem esse acordo são as autoridades religiosas judias, que, muito de antemão, como dizem os evangelhos, haviam feito acordo em matar a Jesus. Porém, também, parte do povo participará na culpa e na punição. Também ele pediu sua crucifixão e que caísse "seu sangue sobre nós e sobre nossos filhos" (Mt 27, 23-25). E São Pedro dirá, no templo, depois de Pentecostes: 'Vocês negaram o Santo e o Justo... Pediram a morte para o autor da vida" (At 3, 14-15). Os vinhateiros, primeiro, "espancaram fora da vinha" o Filho, e ali o mataram. Este detalhe literário deve estar em função dos fatos históricos e dos que disse São Paulo: que Jesus Cristo "padeceu (sua morte) fora da porta (da cidade)" (Hb 13, 12). O Calvário, nos dias da morte de Jesus Cristo, estava fora dos muros da cidade, já que este muro foi edificado posteriormente por Agripa.
O Pe. Juan Leal comenta. Mt 21, 40-41. É de notar que somente São Mateus põe a resposta na boca dos "sinedritas". Segundo São Marcos e São Lucas, é o mesmo Cristo quem responde de uma maneira mais breve, porém no mesmo sentido. Acrescenta São Lucas que, ao escutar as palavras de Cristo e entender que na imagem da parábola estavam eles representados, disseram de nenhuma maneira, ou seja, que não aceitavam que o castigo que Jesus anunciava era para eles. São João Crisóstomo, a quem seguem muitos expositores antigos e modernos, explica a maneira diferente de narrar dos três evangelistas na seguinte forma: os "sinedritas" foram os primeiros a dar uma resposta tão clara à pergunta de Jesus Cristo, sem pensar que naqueles homicidas, na mente de Cristo, estavam representados eles e todo o povo judeu. Porém, ao confirmar a resposta, talvez pela severidade ou pelos termos empregados, que todo o peso da doutrina que queria ensinar com aquela imagem caía sobre eles. Então exclamaram indignados: De nenhuma maneira. Esta explicação parece confirmar-se pelas palavras com que São Lucas introduz a aplicação que Jesus Cristo fez na parábola, recorrendo a uma nova imagem profética tomada do Antigo Testamento. Disse o evangelista que fixou neles seus olhos. Deve ter feito com alguma severidade, pelo que entenderam que todo aquele discurso estava sendo diretamente para eles. Como queira que quase todos os elementos da imagem têm seu significado, crêem alguns que, mais que de uma parábola, se trata aqui de uma alegoria. Outros autores modernos, principalmente (Vosté, Lagrange, Buzy, Huby), pensam que é uma alegoria "parabolizante", ou seja, misturada com elementos parabólicos. O problema não é de importância para deduzir a doutrina espiritual que aqui se encerra. É claro que aqui a vinha representa o reino de Deus ou os bens do reino messiânico prometido aos judeus. Os lavradores que a arrendam são os israelitas, especialmente seus guias e mestres. O senhor da vinha, pai de família, é Deus. A cerca, o lagar e a torre podem representar a lei e a todas as instituições estabelecidas por Deus para defender a seu povo da contaminação dos povos gentios. Os frutos que Deus esperava eram as boas obras conformes os preceitos da lei. Os criados enviados por Deus foram os profetas, a quem o povo judeu não só expulsou, mas que lhes desprezou, lhes injuriou e matou a alguns deles (cf. Hb 11, 36ss). Deus mostra sua benignidade e mansidão, mandando uma e outra vez a seus profetas, e os judeus manifestam sua dureza e perfídia, negando-se a escutar-lhes e maltratando-lhes. Finalmente, Deus, com um ato de misericórdia infinita, manda o seu Filho unigênito, a quem os judeus com, desumana crueldade, mandam à morte de cruz fora da cidade (cf. Hb 13, 12). A esperança dos lavradores que arrendaram a vinha de poder herdá-la, se refere ao que os judeus pensavam: que, morto Jesus, as promessas messiânicas haveriam de corresponder somente a eles, com exclusão de todos os demais homens. Encerra, por outro lado, esta parábola, ensinamentos cristológicos importantes. Em primeiro lugar, Jesus, o Filho, aparece de uma dignidade superior à de todos os profetas enviados antes d'Ele. Seus direitos são universais e se equiparam aos de Deus, seu Pai. Sua vinda ao mundo para padecer uma morte violenta, para salvar a todos e incorporar-lhes a seu reino é uma prova manifesta de seu imenso amor aos homens. Mt 21, 42-43. Com uma nova imagem, a modo de parábola, tomada do Antigo Testamento, confirma o castigo que virá sobre o povo judeu por sua incredulidade. A passagem citada do Antigo Testamento está tomada do salmo 117, 22. A pedra é ali Sião ou o povo de Deus que os gentios desprezaram e quiseram destruir como nação de nenhum valor. Contudo, na mente de Deus, Israel ia ser, pela vinda do messias, a pedra fundamental do reino de Deus que o Messias havia de estabelecer na terra. Pedra fundamental pode entender-se de várias maneiras; ou como a pedra quadrada, que se colocava em um dos ângulos externos do edifício, ou como a que coroava a parte mais alta do frontispício (cf. Jr 51, 26), e ameaçava, de certo modo, aos transeuntes. Parece que no Salmo tem este último sentido. São Paulo em sua carta aos Efésios (2, 20) chama a Cristo pedra angular no primeiro sentido, quando disse que a Igreja está edificada sobre o cimento dos profetas e dos apóstolos, apoiada na pedra angular, que é Cristo Jesus. O mesmo parece que entendeu São Pedro quando mencionou esta mesma passagem no discurso aos membros do sinédrio (At 4, 11). Outra passagem parecida temos em Isaías (28, 16). Na aplicação que fazem os sinóticos, esta pedra angular é ocasião de queda para os transeuntes, porque tropeçam nela e cai do alto sobre eles. É o que do Emmanuel disse Isaías: que será pedra de queda e de tropeço, e o que profetizou Simeão (Lc 2, 34) e disse também São Paulo (Rm 9, 32-33). Veja também 1 Pe 2, 4-8).
Dom Duarte Leopoldo comenta. Mt 21, 41. Os fariseus pensaram, a princípio, que Jesus lhes contava simplesmente uma história. Compreendendo, porém, que a parábola lhes ia como uma flecha, protestaram assustados: Deus tal não permita! Qual não devia ser o tom de voz, a expressão dos olhos e do rosto de Jesus, ao proferir estas palavras terríveis: Sim, ele virá e destruirá estes agricultores, e dará a sua vinha a outros! Lembremo-nos de que também nós somos locatários de Deus. Da sua infinita misericórdia recebemos uma alma que, como a vinha da parábola, está constantemente cercada e protegida pela graça. Somos locatários e, portanto, devemos trabalhar e repartir com o dono da vinha os seus frutos de boas obras. Quantas vezes vem um servo de Deus lembrar-nos as nossas obrigações e o maltratamos, senão fisicamente, quase sempre pelo desprezo aos seus bons conselhos! Mt 21, 42. Jesus Cristo é a pedra angular do grande edifício que se chama Igreja Católica; é a obra prima, é o templo de Deus sobre a terra, onde se reúnem todos os filhos de Abraão. Jesus é a pedra angular deste templo, porque, unindo o Antigo e o Novo Testamento realizou todas as figuras da Lei, substitui-se as vitimas do Templo e, no sacrifício augusto de seu corpo e de seu sangue, fundou a Religião dos que adoram a Deus em espírito e em verdade.
Edições Theologica comenta. Jesus Cristo profetiza o castigo que Deus imporá aos malvados: dar-lhes a morte e arrendará a vinha a outros. Estamos diante de uma profecia da máxima importância: São Pedro repetirá mais tarde diante do sinédrio: "A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser pedra angular" (At 4, 11; 1 Pd 2, 4). A pedra é Jesus de Nazaré, mas os arquitetos de Israel, os que constroem e governam o povo, não quiseram usá-la na construção. Por isso, por causa da sua infidelidade, o Reino de Deus será transferido para outro povo, os gentios, que saberão dar a Deus os frutos que Ele espera da sua vinha (cf. Mt 3, 8-10; Gl 6, 16). É necessário assentar sobre esta pedra para estar solidamente edificado. E infeliz o que tropeça nela (Mt 12, 30; Lc 2, 34). Aqueles judeus primeiro, e depois todos os inimigos de Cristo e da Igreja comprovarão com dura experiência (Is 8, 14-15). Os cristãos de todos os tempos deverão considerar esta parábola como uma exortação a construir com fidelidade sobre Cristo, para não reincidir no pecado daquela geração judaica. Ao mesmo tempo deve encher-nos de esperança e de segurança: ainda que o edifício, que é a Igreja, pareça fender-se em algum momento, a sua solidez está assegurada, porque tem Cristo como pedra angular.
PIB comenta. A pedra é o Messias que os chefes de Israel rejeitaram. Deus, porém, estabeleceu que seja a pedra angular que une e sustenta os membros do edifício de Deus na terra. Ai daqueles que se embatem contra ela, pois inevitavelmente se esfacelarão.
Mt 21, 43: "Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que produza seus frutos", é comentado pelo Pe. Francisco Fernández Carvajal. O pecado é o fruto amargo das nossas vidas. A experiência das fraquezas pessoais ressalta com demasiada evidência na história da humanidade e na de cada homem. Ninguém se vê inteiramente livre da sua fraqueza, solidão ou servidão. Antes pelo contrário, todos precisam de Cristo modelo, mestre, libertador, salvador e vivificador. Os nossos pecados estão intimamente relacionados com essa morte do Filho amado, Jesus. E, lançando-lhe as mãos, puseram-no fora da vinha e mataram-no. Para produzirmos os frutos de vida que Deus espera diariamente de cada um de nós, temos em primeiro lugar de pedir ao Senhor e fomentar uma santa aversão por todas as faltas – mesmo veniais – que ofendem a Deus. Os descuidos na caridade, os juízos negativos sobre esta ou aquela pessoa, as impaciências, os agravos não esquecidos, a dispersão dos sentidos internos e externos, o trabalho mal feito... É necessário que nos empenhemos continuamente em afastar tudo aquilo que não é grato ao Senhor. A alma que detesta o pecado venial deliberado, pouco a pouco vai crescendo em delicadeza e em finura no trato com o Mestre. As fraquezas devem ajudar-nos a multiplicar os atos de reparação e de desagravo, e a tornar sempre mais viva e sincera a contrição por essas faltas. Se pedimos perdão a uma pessoa querida quando a ofendemos, e procuramos compensá-la com algum ato bom, com quanto mais razão não devemos fazê-lo quando o ofendido é Jesus, o Amigo de verdade! Então Ele nos sorri e devolve a paz às nossas almas. Convertemos assim em frutos esplêndidos o que estava perdido.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 01 de outubro de 2008
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