TENS O PODER DE PURIFICAR-ME (Mc 1, 40-45)
“40 Um leproso foi até ele, implorando-lhe de joelhos: ‘Se queres, tens o poder de purificar-me’. 41 Movido de compaixão, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: ‘Eu quero, sê purificado’. 42 E logo a lepra o deixou. E ficou purificado. 43 Advertindo-o severamente, despediu-o logo, 44 dizendo-lhe: ‘Não digas nada a ninguém; mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece por tua purificação o que Moisés prescreveu, para que lhes sirva de prova’. 45 Ele, porém, assim que partiu, começou a proclamar ainda mais e a divulgar a notícia, de modo que Jesus já não podia entrar publicamente numa cidade: permanecia fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo”.
Santo Agostinho escreve: “O que disse São Marcos deste leproso curado, faz que por suas muitas coincidências, deva considerar-se o mesmo de quem disse São Mateus, que foi curado depois que Cristo desceu da pregação que estava sendo feita no monte” (De Cons. Evang., lib. 2, cap. 19), e: “Não disse: Se rogares a Deus, mas, sendo Deus: Se queres” (Teofilacto), e também: “Não duvidou da vontade de Deus como qualquer ímpio, mas como aquele que sabe que é indigno pelas manchas que o torna feio. ‘Jesus, compadecido dele, estendeu a mão, e tocando-o, lhe disse: fica limpo” (São Beda), e ainda: “Não se deve entender e ler: quero curar, como se entende a maior parte dos latinos, mas separadamente, isto é, dizendo primeiro, quero, e mandando depois: fica curado” (São Jerônimo), e: “Ainda que podia curar o leproso só com a palavra, o toca, porque a lei de Moisés dizia (Lv 22, 4-6): ‘O que tocasse o leproso ficaria impuro até a noite’. Com isso queria mostrar que esta impureza era segundo a natureza. E como não havia ditado a lei para Ele, mas somente para os homens, e como era Ele mesmo propriamente o Senhor da lei, e curava como Senhor e não como servo, tocou com razão o leproso, ainda que não fosse necessário o tato para que se operasse a cura” (São João Crisóstomo, Hom. 26, sobre São Mateus), e também: “O tocou também para provar que não podia contaminar-se. É de admirar, ao mesmo tempo, que curou do mesmo modo como este lhe havia rogado: ‘Se tu queres, disse o leproso, podes curar-me’. ‘Quero’, disse Cristo, eis aqui a vontade. ‘Sê curado’, eis aqui o efeito da piedade” (São Beda), e ainda: “Não há mediação, pois, entre a obra de Deus e a ordem, porque na ordem está a obra (Sl 148, 5): disse, pois, e tudo foi feito. ‘E Jesus o despediu logo dizendo: Não digas a ninguém” (Idem.), e: “Como se dissesse: Não é tempo agora de publicar minha obra, nem necessito que tu a divulgues. Deste modo nos ensina a não buscar a honra entre os homens como retribuição por nossas obras. O Salvador o envia ao sacerdote para que testifique a cura e para que não ficasse mais fora do templo, podendo rezar nele com os demais. O mandou também para cumprir com o prescrito pela lei, e para aplacar a maledicência dos judeus. Assim, pois, completou a obra mandando-lhes a prova dela” (São João Crisóstomo), também: “Para que, o sacerdote, visse com toda evidência que havia sido curado não por ordem da lei, mas por graça de Deus que está sobre ela. ‘Oferece por sua purificação o que Moisés prescreveu, para que lhes sirva de prova” (São Beda), e ainda: “Manda que dê o que tinham costume de dar aos que eram purificados. Com isso demonstra que, em vez de opor-se à lei, a confirma mais, posto que Ele mesmo guarda seus preceitos” (Teofilacto), e ainda: “Mesmo o Senhor tendo proibido, o leproso divulgou o benefício. ‘Mas aquele homem, diz, assim que se afastou, começou a falar de sua cura e a espalhar por toda parte’. Convém que o favorecido seja grato e agradeça, ainda que não necessite disso o benfeitor” (Idem.), e: “A perfeita saúde de um, conduz a multidão para o Senhor. ‘De modo que prossegue, já não podia Jesus entrar manifestamente na cidade, mas que andava fora por lugares solitários” (São Beda), e também: “O leproso, pois, anunciava por todas partes a admirável cura, de modo que todos corriam para ver ao que o havia curado e para crer n’Ele. Isso tornou impossível que o Senhor pregasse nas cidades, tendo que pregar nos desertos” (São João Crisóstomo), e ainda: “Em sentido místico, nossa lepra é o pecado do primeiro homem, em quem começou quando desejou os reinos do mundo. Porque a raiz de todos os males é a cobiça...” (São Jerônimo), e: “Estendida verdadeiramente a mão do Salvador, isto é, encarnado o Verbo de Deus e tocando à natureza humana, purifica esta dos diversos e antigos erros” (São Beda), e também: “Que Jesus não podia entrar na cidade, significa que Jesus não se manifesta a todos os que buscam louvores nas palavras públicas e que servem a própria vontade. Se manifesta aos que saem fora com Pedro e estão em lugares desertos... Se manifesta aos que abandonam verdadeiramente os prazeres do mundo e todos os que dizem: Minha porção é o Senhor. A glória do Senhor se manifesta verdadeiramente aos que chegam de todas as partes, pelas planícies e montanhas...” (São Jerônimo), e ainda: “Depois de realizado o milagre na cidade, o Senhor se retira ao deserto para manifestar que prefere a vida calma e separada das preocupações do mundo, e que por esta preferência se consagra ao cuidado de curar os corpos” (São Beda).
Edições Theologica comenta Mc 1, 40-45. Na lepra via-se um castigo de Deus (cfr Nm 12, 10-15). O desaparecimento desta doença era considerado como uma das bênçãos da época messiânica (Is 35, 8; cfr Mt 11, 5; Lc 7, 22). Ao doente de lepra, pelo caráter contagioso desta doença, a Lei tinha-o declarado impuro e transmissor de impureza àquelas pessoas que tocava, ou àqueles lugares em que entrava. Por isso tinha de viver isolado (Nm 5, 2; 12, 14 ss.), e mostrar, por um conjunto de sinais externos, a sua condição de leproso. A passagem mostra-nos a oração, cheia de fé e confiança, de um homem que necessita da ajuda de Jesus e pede-a seguro de que, se o Senhor o quer, tem poder para o livrar do mal de que padece. São Beda escreve: “Aquele homem ajoelha prostrando-se em terra – o que é sinal de humildade e de vergonha -, para que cada um se envergonhe das manchas da sua vida. Mas a vergonha não há de impedir a confissão: o leproso mostrou a chaga e pediu o remédio. A sua confissão está cheia de piedade e de fé. Se queres, diz podes: isto é, reconheceu que o poder de curar estava nas mãos do Senhor” (In Marci Evangelium expositio, ad loc.).
O trecho de Mc 1, 40-45 é comentado pelo Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena. Vindo Jesus a redimir o homem do pecado e de suas consequências, tem todo o direito de ultrapassar a antiga lei e o faz com gesto resoluto de quem tem plenos poderes. “Veio ter com Jesus um leproso implorando auxílio. Lançando-se de joelhos, lhe disse: ‘Se quiseres, podes curar-me” (Mc 1, 40). Esplêndida fé! Aquele pobrezinho abandonado pelos homens, e tido como abandonado por Deus, tem mais fé que muitos seguidores de Cristo. A fé autêntica não se perde em sutis raciocínios, tem uma lógica simplíssima: pode Deus fazer tudo o que quer, basta-lhe, pois, querer. Ao corajoso pedido cheio de ilimitada confiança, responde Jesus com um gesto inaudito para aquele povo a quem se proibia qualquer contato com os leprosos: “... estendeu a mão e o tocou”. Deus é Senhor da lei e pode transgredi-la. “Quero — diz, como que repetindo a expressão do leproso —, fica curado!” (Idem. 41). Ao acolher e tocar o leproso, Jesus transgride a lei. Cumpre-a, logo em seguida, dizendo: “Vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou” (Idem. 44). Pode a caridade legitimar a infração de determinados preceitos, mas jamais aprova a atitude de quem quisesse desprezar qualquer lei, sob pretexto de maior liberdade no exercício do amor. A primeira lei é certamente o amor, mas não é ele autêntico se não for ordenado segundo Deus e se não colocar Deus e sua vontade acima de tudo. Explica Marcos que fez Jesus o milagre, “movido de compaixão” (Idem. 41); frase repetida várias vezes no Evangelho. Tem Jesus compaixão da lepra que destrói o corpo; ainda mais, porém, da que mata as almas. Ao curar aquela, prova querer e poder curar esta. Aparece, assim, com a missão de Salvador que desempenhará plenamente quando tomar sobre si a lepra do pecado. Então, será também ele “desprezado e rejeitado pelos homens... como um castigado, ferido por Deus e humilhado” (Is 53,3-4).
Dom Duarte Leopoldo comenta esse trecho de São Marcos. Próximo da cidade, como melhor se vê em São Mateus, porque os leprosos não podiam entrar nas cidades. A lei proibia tocar um leproso, mas Jesus o tocou, fazendo ver que nada é impuro para Ele, exceto o pecado. Sendo a caridade por essência, Jesus lava todas as manchas, e a sua própria humanidade tem uma virtude salutar e vivificante. Todo leproso, uma vez curado, devia apresentar-se aos sacerdotes, para que estes verificassem a cura e o restituíssem à comunhão dos homens. A lepra, enfermidade que entre nós se denomina vulgarmente morféia ou mal de São Lázaro, é uma doença gravíssima. O leproso, esse cadáver ambulante, roído pela terrível enfermidade, coberto de úlceras, é a imagem fiel do pecador. Ninguém se compadece da sua desgraça, nenhuma mão caridosa lhe cura as chagas purulentas, nenhuma voz amiga murmura-lhe ao ouvido uma palavra de consolação. Isolado em sua solidão, todos o evitam, todos lhe fogem ao contágio. Jesus se compadece do pecador: “Eu o quero; fica curado; mas vai mostrar-te ao sacerdote”. É Jesus quem nos cura; é no banho misterioso de Seu Sangue divino que Ele nos purifica da lepra do pecado, e uma vida nova circula em nossas veias. Ouvi a sentença pronunciada sobre a cabeça do pecador arrependido: - Que o Senhor Jesus te perdoe, e eu, por sua autoridade, te absolvo de todos os teus pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. – Jesus tinha imposto o silêncio por humildade; mas o leproso não estava obrigado a ocultar o seu reconhecimento. A fim de que isto lhes sirva de testemunho, isto é, de prova do meu poder e fidelidade em observar a Lei.
O Pe. Francisco Fernández-Carvajal comenta Mc 1, 40-45. A cura do leproso deve ter comovido muito as multidões. É o que transparece do fato de ter sido relatada com tanto pormenor por três Evangelistas. Um deles, São Lucas, diz que o milagre se realizou numa cidade e que a doença se encontrava já muito avançada: estava todo coberto de lepra. A lepra era considerada então como uma doença incurável e era muito temida pelas deformações, acompanhadas de grandes sofrimentos, que produzia em todo o corpo. Além disso, era contagiosa; os leprosos eram segregados das cidades e dos caminhos e declarados legalmente impuros. Obrigados a levar a cabeça descoberta e as vestes esfarrapadas, deviam dar-se a conhecer de longe quando passavam pelas proximidades de um lugar habitado. As pessoas fugiam deles, como também os próprios familiares; e em muitos casos interpretava-se a sua doença como um castigo de Deus pelos seus pecados. Por esse conjunto de circunstâncias, estranha ver este leproso numa cidade. Talvez tivesse ouvido falar de Jesus e estivesse há muito tempo em busca de uma oportunidade para se aproximar d’Ele. Agora, finalmente, encontra-O, e é tal o desejo de falar-Lhe que passa por cima das rigorosas prescrições da antiga lei mosaica. Cristo é a sua esperança, a sua única esperança. A cena deve ter sido extraordinária. O leproso prostrou-se diante de Jesus e disse-lhe: Senhor, se quiseres, podes limpar-me. Se quiseres... Talvez tivesse preparado um discurso mais longo, com mais explicações..., mas por fim tudo ficou reduzido a essa jaculatória cheia de simplicidade, de confiança e de delicadeza: Se quiseres, podes... Nessas poucas palavras condensava-se uma oração poderosa. Jesus compadeceu-se; e os três Evangelistas que contam o episódio transmitem-nos o gesto surpreendente do Senhor: Estendeu a mão e o tocou. Até àquele momento, todos os homens haviam fugido dele com medo e repugnância. Cristo, porém, que podia tê-lo curado à distância — como já o fizera em outras ocasiões —, não só não se afasta dele, como chega a tocar a sua lepra. Não é difícil imaginar a ternura de Cristo e a gratidão do doente quando viu o gesto do Senhor e ouviu as suas palavras: Quero, sê limpo. O Senhor sempre deseja curar-nos das nossas fraquezas e dos nossos pecados. E não temos necessidade de esperar meses nem mesmo dias para que passe perto da nossa cidade... No Sacrário mais próximo, na intimidade da alma em graça, no sacramento da Penitência, encontramos o mesmo Jesus de Nazaré que curou o leproso. Ele é Médico, e cura o nosso egoísmo se deixarmos que a sua graça nos penetre até o fundo da alma. Jesus advertiu-nos que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular os pecados próprios. Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma sinceridade absoluta, que lhe expliquemos toda a verdade e digamos: Senhor, se quiseres — e Tu queres sempre —, podes curar-me. Tu conheces a minha debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras fraquezas. E descobrimos com simplicidade as chagas; e o pus, se houver pus; todas as misérias da nossa vida. Pela sua fealdade e repugnância, pelo isolamento a que obrigava, os Santos Padres viram na lepra a imagem do pecado. Contudo, o pecado, mesmo o venial, é incomparavelmente pior do que a lepra, pois são infinitamente maiores a sua fealdade, a sua repugnância e os efeitos trágicos que produz nesta vida e na outra. “Se tivéssemos fé e víssemos uma alma em estado de pecado mortal, morreríamos de terror” (São João Maria Vianney). Todos somos pecadores, ainda que pela misericórdia divina estejamos longe do pecado mortal. É uma realidade que não devemos esquecer, e Jesus é o único que nos pode curar. Só Ele. O Senhor vem buscar os enfermos e somente Ele pode avaliar e medir em toda a sua tremenda realidade a ofensa do pecado. Por isso comove-nos vê-Lo aproximar-se do pecador e tocá-lo. Ele, que é a própria Santidade, não se apresenta cheio de ira, mas com grande delicadeza e respeito. Esse é o estilo de Jesus. O que Ele nos diz é que veio perdoar, redimir, veio livrar-nos dessa lepra da alma que é o pecado. E proclama o seu perdão como um sinal de onipotência, como sinal de um poder que só o próprio Deus pode exercer. Cada uma das nossas confissões é expressão do poder e da misericórdia de Deus. Os sacerdotes não exercem esse poder por virtude própria, mas em nome de Cristo, como instrumentos nas mãos do Senhor. “Jesus identifica-nos de tal modo consigo próprio no exercício dos poderes que nos conferiu — dizia João Paulo II aos sacerdotes no Rio de Janeiro —, que a nossa personalidade como que desaparece diante da Sua, já que é Ele quem age por meio de nós [...]. É o próprio Jesus quem, no Sacramento da Penitência, pronuncia a palavra autorizada e paterna: Os teus pecados te são perdoados”. Quando nos confessamos, aproximamo-nos com veneração e agradecimento do próprio Cristo; na voz do sacerdote, ouvimos Jesus, o único que pode curar as nossas doenças. — Senhor! —se quiseres, podes curar-me. — “Que bela oração para que a digas muitas vezes, com a fé do pobre leproso, quando te acontecer o que Deus e tu e eu sabemos! — Não tardarás a sentir a resposta do Mestre: — Quero, sê limpo!” (São Josemaría Escrivá, Caminho, 142). Temos que aprender do leproso: com toda a sua sinceridade, coloca-se diante do Senhor e, de joelhos, reconhece a sua doença e pede para ser curado. Disse-lhe o Senhor: Quero, sê limpo. E imediatamente desapareceu dele a lepra e ficou limpo. Não podemos imaginar a imensa alegria que se apossou daquele que era leproso até aquele momento. Foi tal a sua alegria que, apesar da advertência do Senhor, começou a proclamar e a divulgar por toda a parte a notícia do bem imenso que recebera. Não pôde reter tanta felicidade só para si, e sentiu a necessidade de fazer participar a todos da sua boa sorte. Esta deve ser a nossa atitude no que diz respeito ao sacramento da Confissão. Pois nela também nós ficamos livres das nossas enfermidades, por maiores que possam ser. E não só ficamos limpos do pecado, como adquirimos uma nova juventude, uma renovação da vida de Cristo em nós. Ficamos unidos ao Senhor de uma maneira diferente e particular. E desse novo ser e dessa nova alegria que encontramos em cada confissão, devemos fazer participar aqueles que mais estimamos e todos aqueles que passam pela nossa vida. Não nos deve bastar termos encontrado o Médico; devemos fazer chegar a notícia a muitos que não sabem que estão doentes ou pensam que os seus males não têm cura. Levar muitos a abeirar-se do sacramento da Confissão é uma das tarefas que Cristo nos confia nestes tempos em que verdadeiras multidões se afastaram daquilo que mais precisam: o perdão dos seus pecados. Em certos casos, teremos que começar por uma catequese elementar, talvez aconselhando aos nossos amigos um livro de leitura acessível e explicando-lhes com uma linguagem compreensível os pontos fundamentais da fé e da moral. Ajuda-los-emos a ver que a sua tristeza e o seu vazio interior provém da ausência de Deus em suas vidas. E, no momento adequado, anima-los-emos a procurar o sacerdote — talvez o mesmo com quem nós nos confessamos habitualmente — e a abrir-lhe a alma de um modo simples e humilde, contando tudo o que os afasta do Senhor, desse Deus que os está esperando. A nossa oração, o oferecimento das horas de trabalho e de algum pequeno sacrifício por eles, bem como a nossa própria confissão periódica, atrairão de Deus novas graças eficazes para esses nossos amigos. Aquele dia foi inesquecível para o leproso. Cada um dos nossos encontros com Cristo é também inesquecível, e os amigos que ajudamos a caminhar para Deus nunca se esquecerão também da paz e do júbilo do seu encontro com o Mestre. E converter-se-ão por sua vez em apóstolos que propagam a Boa Nova, a alegria de uma confissão bem feita.
O Pe. Manuel de Tuya comenta os versículos 43 e 45 do capítulo 1° de São Marcos. V. 43. Marcos disse que Cristo antes de proibir Sua divulgação teve uma forte comoção em seu ânimo (embrimesámenos). É, seguramente, a forte severidade com que o advertiu e lhe fez a proibição. V. 45. Marcos diz que o curado não cumpriu a ordem de Cristo de não divulgar a notícia. A gratidão e a satisfação de sua cura, que era a sua reabilitação moral, o fez divulgar a notícia. Isto fez que a notícia se divulgasse pela Galiléia, fazendo que Cristo não pudesse entrar “publicamente” nas cidades, porque estas se comoviam, proclamando-o Messias antes do tempo, com os perigos de alvoroço messiânico mal entendido e as possíveis repercussões políticas de Roma na Palestina.
O Pe. Juan Leal comenta esse trecho do Evangelho de São Marcos. V. 40. A lepra em questão é, provavelmente, não a lepra de hoje, mas a que se descreve em Lv 13, 1-59, e que compreendia diferentes enfermidades da pele. De qualquer maneira, se a enfermidade da lepra em alguns textos aparece curável – por exemplo, do fato que em caso de uma cura deve o enfermo apresentar-se ao sacerdote para que dê testemunho da cura -, outros textos a apresentam como uma terrível enfermidade e incurável (cfr. Nm 12, 10-15; Dt 28, 35; 2 Cr 26, 19). Os leprosos deviam viver afastados da sociedade. VV. 41-42. O v. 41 apresenta uma variante de importância. Uns códigos dizem que Jesus, movido a piedade, curou ao leproso. Outros que, movido de ira, o curou. Esta é a lição de Diatessaron de Taciano, como consta do Comentário de Santo Efrém. Santo Efrém escreve: “O Senhor lhe mostra duas coisas por estas duas atitudes: repreensão, ao irritar-se com ele, e misericórdia, ao curar-lhe. Porque disse: Se queres se irritou; porque acrescentou: Podes, o curou”. V. 44. Os requisitos que tinha que cumprir o leproso curado estão narrados em Lv 14, 1-32. A ordem de não dizer a ninguém é outro exemplo das imposições escondidas nos milagres que são características de Marcos. Convinha a Jesus proceder com prudência e não suscitar manifestações populares que obstaculizassem o desenvolver de seu ministério. V. 45. Se explica facilmente que o leproso, diante da alegria de ver-se curado, desobedece a ordem de Jesus e dera a conhecer a todo o mundo o fato portentoso.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 10 de fevereiro de 2009
|
|