DEUS É MAIOR

(Jó 33, 12)

 

“... pois Deus é maior do que o homem”.

 

 

O que é o homem?

O homem é uma criatura racional, composta de alma e corpo.

O homem é um grande abismo. Pode-se contar todos os seus cabelos, sem que se perca um sequer. Mais inumeráveis, porém, do que os cabelos de sua cabeça são as afeições e os sentimentos do seu coração.

O  homem é nada antes de nascer, barro em vida e cinza nas mãos da morte!

Não é de bronze o seu corpo, mas “uma folha seca que o vento leva” (Jó 13, 25).

As doenças têm no homem a sua sede. Se há misérias no mundo, se há lágrimas amargas, se há dores inconfortáveis, se há agonias e morte, é porque também há homens na terra!

Que limitado é o poder do homem! Ele pode cultivar a terra, lançar nela a semente; mas não pode fazer crescer o grão, nem tornar floridas as árvores!

A sua força, comparada com a de outros animais, é a mesma fraqueza! Cônscio dela, não ousa medir-se com o tigre das selvas, e sente tremuras em todo o corpo ao ouvir perto o rugido do leão e os uivos dos lobos.

O estampido do trovão empalidece-lhe o rosto, e não sabe nem pode defender-se do raio que lhe cai aos pés!

O mar zomba de suas artes. Com uma onda mete-lhe no fundo o mais possante navio, inutilizando-lhe num instante, anos de trabalho e gastos enormes!

A terra não deixa de oscilar e transformar em escombros e ruínas os suntuosos palácios, por serem erguidos pela mão do homem!

E que sabe ele? Por mais que saiba, muito mais é o que ignora. Os mais sábios são os menos ignorantes.

O que sabe o homem do futuro? Conjeturas!

O que ele sabe com certeza é que há de vir um dia em que há de morrer!

A sentença de morte foi escrita para todo o gênero humano. O homem deve morrer: “Só a morte é certa; os demais bens e males nossos são incertos” (Santo Agostinho). É incerto se o recém-nascido será rico ou pobre, se terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho. Tudo isto é incerto, mas é indubitavelmente certo que deve morrer. A morte é certa. Tantos cristãos sabem-no, o crêem, o vêem e, entretanto, vivem no esquecimento da morte como se nunca tivessem que morrer!

E a formosura do homem? Como desaparece à vista da eterna beleza de Deus! O rosto mais gentil é uma caveira... Toda a beleza do homem é fugaz como as cores da aurora, efêmera como a flor do campo, que de manhã desdobra, o sol cresta e a aragem desfolha.

Se investigarmos a nobreza do homem, encontramo-nos com o filho do nada! Do nada foi criado! Nada foi antes de existir, e agora, que existe, tão perto está do nada, que, se o soltasse a mão de Deus, que lhe está conservando a vida, tornaria ao não ser, seria o que hoje são todos os que não existem.

O que é o homem colocado no meio do mundo, misturado com os demais seres? A sua existência passa despercebida. É como um grão de areia no vasto litoral do oceano! É uma folha deitada pelo vento à beira da estrada, e a que ninguém dá atenção. É um navio perdido entre as ondas do mar desta vida, açoitado pelos vaivéns  da fortuna, e arrojado a uma praia inóspita e desconhecida.

E o que é o homem entre os mesmos homens? Poucos,  pouquíssimos são os que se preocupam com a sua personalidade. De quase ninguém é sabido o seu nome e de muito menos ainda a terra onde nasceu!

Quem se interessa por ele? Cravado num leito de padecimento, passarão  uns e outros pela sua porta, rindo e folgando; mas, quem se lembra de olhar para a sua miséria? Quem lhe envia uma palavra de condolência, de amizade e amor?

Se morre, não se nota a sua falta! Depressa é esquecido dos poucos que o conheciam. E até os parentes procuram tirá-lo de casa o mais depressa que a lei permite! “Vês o estado a que  chegou aquele soberbo, aquele dissoluto! Ainda há pouco, via-se acolhido e cortejado pela sociedade; agora tornou-se o horror e o espanto de quem o contempla. Os parentes apressam-se a afastá-lo de casa e pagam aos coveiros para que o enterrem em um esquife e lhe dêem sepultura... Há bem poucos instantes ainda se apregoava a fama, o talento, a finura, a polidez e a graça desse homem; mas apenas está morto, nem sua lembrança se conserva” (Santo Afonso Maria de Ligório).

E quem és tu, ó homem, diante dos Anjos e Santos do céu? Como se perde o teu ser num abismo de miséria!

Eles, coroados de glória, tu, de confusão! Eles ricos de merecimento, tu cheio de fealdades! Eles ostentando as palmas do triunfo, tu coberto de feridas!

E que são os Anjos e Santos em presença de Deus? Todas as gentes diante de Deus, diz a Escritura Sagrada, são como se nada fossem (Is 40, 17).

Que será, pois, o homem diante do seu Criador? É menos que uma gota d’água comparada com a vastidão do oceano. É menos que um argueiro cotejado com a massa do globo. É menos que nada...  de todo desaparece!

Que pensas, pois, de ti, ó homem? Desenrola os pergaminhos de tua grandeza e dize-nos o que és.

- Nada, pó, cinza, fraqueza, enfermidade, ignorância – são os títulos que te nobilitam a face do céu e da terra!

Este é o homem! E, todavia, quem não conhece a sua altivez? Quem não sabe até onde o tem levado o desenvolvimento de si próprio e o seu orgulho?

Sendo nada, quer ser mais que o mesmo Deus! – Sendo a mesma fraqueza, quer medir-se com o Onipotente! – Sendo a mesma baixeza, quer emparelhar seu trono com o do Altíssimo! – Sendo a mesma ignorância, quer inventar leis mais sábias que aquelas que Deus lhe impôs!

Que arrogância! Quantas vezes este nada se ergueu do barro de que foi feito e quis ameaçar o seu Criador.

Quantas vezes não sacudiu de si o jugo das leis de seu Rei e Senhor, por ver, falsamente, na observância delas, lesado a sua autonomia, cerceada a sua liberdade e apoucada a sua pessoa?

Que rebeldia! Quantas vezes não levantou o grito de revolta, que ergueu Lúcifer, recusando servir ao Autor de seus dias?

Quão grande é a paciência de Deus diante das insolências de sua criatura!

Homem, reconhece a tua baixeza. Confessa a tua dependência do grande Senhor que te criou e te conserva a existência, de que te serves para O ultrajar!

Curva-te diante do Onipotente. Dobra o joelho diante de seu trono, adora reverente e prostrado no pó do teu nada ao que é o teu Rei, o teu Senhor e teu Deus!

Levanta, por um instante, os olhos da terra para o céu e exclama, do fundo do teu coração:

Meu Senhor e meu Deus, Vós sois tudo e eu sou nada!

Vós sois onipotente e grande; - eu a mesma fraqueza e pequenez!

Vós sois a sabedoria infinita, eterna e incriada; - eu a mesma ignorância!

Vós sois Rei, eu vassalo! – Vós, Senhor, eu escravo!

- Vós o meu Deus e o meu tudo, eu vossa criatura e vosso servo!

A Vós compete reinar, a mim servir-Vos.

A Vós toca mandar-me, pois sois Senhor dos senhores e o Rei dos reis; a mim obedecer-Vos, pois sou obra de Vossas mãos, criatura e servo de Vossa infinita Majestade!

Numa só coisa se funda a grandeza do homem: - Servir a Deus!

Só no serviço de um tão grande Senhor se engrandecerá o homem e se elevará acima do próprio nada.

Só assim se enobrecerá, porque ser um homem servo de Deus é a maior nobreza, a mais distinta fidalguia e a maior glória de uma criatura racional.

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 04 de março de 2009

 

 

Bibliografia

 

Bíblia Sagrada

Santo Agostinho, Escritos

São Pio X, Catecismo Maior

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de Luz

Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte

          

 

 

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