MUITOS CRERAM EM SEU NOME (Jo 2, 23-25)
“23 Enquanto estava em Jerusalém, para a festa da Páscoa, vendo os sinais que fazia, muitos creram em seu nome. 24 Mas Jesus não tinha confiança neles, porque os conhecia a todos 25 e não necessitava que lhe dessem testemunho sobre o homem, porque ele conhecia o que havia no homem”.
Edições Theologica comenta Jo 2, 23-25. Os milagres de Jesus levaram muitos judeus a reconhecer que n’Ele havia poderes divinos e extraordinários. Mas isto não é ainda a perfeita fé teologal. Jesus conhecia a limitação daquela fé. Além disso, a adesão dos judeus mostrava-se geralmente superficial, ávida de manifestações extraordinárias. Por isso, Jesus desconfia deles (cfr Jo 6, 15.26). “Muitos agora são iguais. Têm o nome de fiéis, mas são volúveis e inconstantes” (São João Crisóstomo Hom. sobre São João, 23,1). O conhecimento que Jesus tem do interior do homem é uma prova mais da Sua divindade. Assim, por exemplo, Natanael e a samaritana reconheceram-No como o Messias, rendidos diante da evidência do poder sobrenatural que Jesus Cristo mostrava ao conhecer a sua intimidade (cfr Jo 1,49; 4,29).
O Pe. Juan Leal comenta esse trecho da Palavra de Deus. V. 23. Na festa, durante o período 14-21 de nisan. V. 24. Não confiava neles. Não lhes entregava o mistério de sua pessoa e de sua doutrina plenamente. Sabia que aquela fé estava contagiada de prejulgamentos humanos e tão pouco ia ser duradoura. Por si mesmo sabia. O conhecimento interior do homem é uma ciência própria de Deus, segundo as Escrituras (1 Sm 16, 7; 1 Rs 8, 39; Jr 17, 9ss; Sl 32, 15). Em João é uma afirmação implícita de sua fé na divindade de Jesus.
Esse trecho de São João 2, 23-25 é comentado pelo Pe. Juan de Maldonado. V. 23. Estando em Jerusalém durante a Páscoa. Jesus foi à cidade desde a Galiléia para celebrar a Páscoa. Indica o evangelista que Jesus celebrou a Páscoa em Jerusalém, e em seguida voltou para a Galiléia; e, entretanto, sendo tão breve o tempo que esteve na cidade, foram muitos os que acreditaram n’Ele, pelos numerosos e grandes milagres que fazia. Não é certo, ainda que provável, que Páscoa e festa se tomam neste lugar pelos sete dias inteiros dos ázimos. Pois, parece dar a entender o evangelista, que, ainda que podendo o Senhor realizar todos aqueles milagres num só dia, entretanto, não é para acreditar que isso tenha acontecido. Tão pouco diz o evangelista quais foram os milagres que determinaram a fé de tantos em Cristo. Não sou do parecer de São João Crisóstomo, Teofilacto e Eutimio, que julgam serem simuladas e falta de sinceridade aquelas conversões; pois aparece bem claro que o autor, para ponderar a importância daqueles prodígios do Salvador, disse que muitos homens incrédulos e hostis se converteram; e faltaria o argumento de serem simuladas aquelas conversões. Para crer de brincadeira não eram necessário maravilhas; que, com razão argumenta Santo Agostinho, não diria o evangelista que muitos acreditaram em seu nome se não lhes tivesse dado verdadeiro testemunho. Orígenes considera como um daqueles milagres, o Senhor ter expulsado do templo os homens com um chicote. V. 24. Porém, Jesus não confiava neles. Variam aqui os intérpretes... a quem se refere o pronome eles? Muitos afirmam que aos mesmos que acabaram de crer, e se pergunta: como é possível que não confiasse neles, se haviam acreditado n’Ele? (Orígenes, São Cirilo, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, São Beda, Teofilacto, Ruperto e Eutimio). Todos estes mostram a razão de tão estranha conduta em que os convertidos não haviam acreditado de verdade, ou tão perfeita e constantemente como deviam; pois, segundo Orígenes, uma coisa é crer no nome de Cristo e outra crer em Cristo; os que creem no nome de Cristo não O imitam, e os que creem n’Ele, sim. Eis porque o Salvador não confiava naqueles que só acreditavam em seu nome. Algo parecido a isto ensinam São João Crisóstomo, Teofilacto e Eutimio, a saber, que alguns acreditaram só pelas Escrituras e outros pelos milagres que viram, e, em consequência, estes imperfeitamente e aqueles perfeitamente, pelo qual Cristo só confiava nos primeiros. Santo Agostinho, São Cirilo e São Beda aplicam o caso aos catecúmenos, que ainda quando acreditavam em Cristo, não eram confiáveis, porque possuíam a fé fraca. Mas, em que consiste não confiar Cristo neles? De diversa maneira o interpretam os autores. São João Crisóstomo, Teofilacto e Eutimio e o poeta Nono o explicam neste sentido: Não acreditava Cristo, quando lhe diziam que acreditavam n’Ele, não acreditava em suas palavras, porque sabia que lhe falavam com fingimento; então não lhes explicava maiores mistérios. Segundo Santo Agostinho, São Cirilo e São Beda, não se entregava a eles, não se dava a eles, como não dá agora aos catecúmenos seu Corpo e Sangue. Porém, já sabiam estes Padres que tal interpretação é mística e não literal. Entendo que não ignoravam o sentido legítimo destas palavras, a saber, que Cristo não confiava nos convertidos porque não estava seguro deles, pois sabia que chegaria o tempo em que, mudando de opinião, o perseguiriam e o matariam. Alguns encontram mais claro o sentido de referir o pronome eles, não aos que haviam acreditado, mas a todos os judeus em geral, pelo menos aos de Jerusalém. Ainda que muitos judeus vendo os milagres de Cristo acreditassem, entretanto, Cristo não confiava nos judeus, porque sabia que não acreditavam n’Ele e o odiavam com toda a alma. Pode ser que alguns admitam esta interpretação nova, porém, temo que peque, como outras muitas, de demasiado sutil. O que segue: Porque Ele conhece a todos, é expressão de que o evangelista, sem dúvida, fala daqueles mesmos que acreditaram... Quem não vê que este sentido é bem claro? “Ainda que eles acreditassem n’Ele, Cristo não confiava neles, porque conhecia sua história”. Não que visse que a fé deles era fingida, como pensa São João Crisóstomo, mas porque, ainda vendo-a verdadeira, entretanto, via ao mesmo tempo que haviam de mudar de parecer. São João mesmo nos fala em outro lugar dos que primeiro creram n’Ele e depois o deixaram (6, 66). Para mim, João fez esta observação em plano do argumento da divindade do Senhor, que vê os corações presentes e futuros, e a resposta silenciosa do porquê não permaneceu Cristo mais tempo em Jerusalém: não confiava nos judeus. V. 25. E não necessitava que lhe dessem testemunho sobre o homem. Com toda razão os Padres usaram deste trecho em seus escritos contra os arianos para demonstrar a divindade de Cristo (São João Crisóstomo, Santo Agostinho e São Cirilo). Pois a Escritura diz que é próprio de Deus conhecer os corações dos homens.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 11 de março de 2009
Vide também: Os vendedores expulsos do templo
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