OBRA DIVINA

(1 Cor 3, 9)

 

“Nós somos cooperadores de Deus...”

 

 

 

I.  Procurar salvar almas é uma obra toda divina

 

Católico, descruze os braços, saia do comodismo e da “poltronice” e trabalhe fervorosamente pela salvação das almas: “Nada há de mais precioso que uma alma” (São João Crisóstomo).

Quem ama verdadeiramente a Deus e ao próximo não consegue ficar de braços cruzados vendo tantas almas se perderem: “Uma alma inflamada do amor de Deus não consegue ficar inativa” (Santa Teresa do Menino Jesus), e: “Quem ama a Deus de verdade, também ama o próximo; o verdadeiro zeloso é o mesmo que ama, mas em grau maior, conforme o grau de amor; quanto arde de amor, tanto mais é impelido pelo zelo” (Santo Antônio Maria Claret).

Precisamos interessar-nos pela alma do nosso próximo, especialmente pelas pessoas que estão ligadas a nós por vínculos particulares, ou de parentesco, ou de serviço, ou de amizade: “Sentia o atrativo do lar, da vida de família, que abandonei quando era tão pequena; de voltar ao seio dos meus para fazer o bem, para sacrificar-me por eles a cada instante” (Santa Teresa dos Andes).

 

Conta que São João Evangelista, já velho, viu no meio da multidão de uma cidade asiática um jovem de pupila ardente, de aspecto belo, e de alma ainda mais bela do que o rosto. Tomou-o à parte, disse-lhe palavras que o tocassem no coração; depois, devendo voltar a Éfeso, confiou-o ao bispo daquela cidade dizendo: “Confio-o perante a Igreja e perante Cristo. Voltarei para retomá-lo”. O bispo acolheu aquele jovem em sua casa; o instruiu e o batizou. Mas, depois que ele foi assinalado com o selo do Espírito Santo, começou a frequentar companheiros ociosos, impudentes e de costumes licenciosos.

Percorreu, em grandes etapas, a trilha do mal: a princípio festas com mulheres, depois ladrão de noite, finalmente também crimes de sangue. E, no abismo que se lhe abrira na consciência, ele lançou dentro a fé e toda lembrança da graça e da bondade.

E eis que São João volta. “Ó bispo, devolve-me o meu depósito que eu te havia confiado na presença de Cristo e da Igreja”.

O bispo empalideceu, baixou os olhos e os lábios lhe tremeram. “Morreu”. “Morreu?” “Mas de que morte?” “Morreu para Deus e para a graça: luxurioso e violento, vive nas montanhas assaltando os peregrinos”.

São João pediu um cavalo, e ,velho como era, saltou-lhe na garupa e esporeou-o. Deu com um bando de ladrões, e lhes disse: “Suplico-vos me conduzais ao vosso chefe, preciso falar-lhe”. Mas o chefe deles, quando reconheceu aquele que o chamava, possuído de grande vergonha fugiu desesperadamente.

E o santo, arquejante sobre o cavalo, perseguia-o e lançava-lhe estes gritos: “Para! Sou eu, o teu velho pai. Ainda há esperança. Darei a minha alma pela tua. Cristo me manda. Para, pois me quebras os ossos! Para, pois o coração se me rebenta!”  E o outro parou, não podendo mais resistir. Estava branco como a morte.

Então São João, descendo do cavalo, lançou-se àqueles pés rebeldes. Rogava, incentivava, afagava...

O chefe dos ladrões pôs as mãos nos olhos e desatou a chorar. As lágrimas lavavam daqueles dedos a rapina e o sangue. Ele estava salvo, estava vivo. Vivo em Cristo e na graça, vivo da vida verdadeira.

Será que você, católico, possui esse amor e zelo pela salvação das almas? Se não possui, o que está esperando para começar?

Cuidado! Deus pedirá conta das almas que você deixou se perderem: “Quando eu disser ao ímpio: ‘Ó ímpio, certamente hás de morrer’ e tu não o desviares do seu caminho ímpio, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas o seu sangue o requererei de ti” (Ez 33, 8).

                   

Católico, tirar uma alma do pecado e ganhá-la para Deus é mais do que dar a liberdade a províncias inteiras... é mais do que conquistar o mundo. É uma obra essencialmente divina: é a obra de Jesus Cristo que desceu do céu à terra somente para isto: “Salvar as almas, é entre as obras divinas, a mais divina” (São Dionísio Areopagita).

Para efetuá-la, fez dela duas partes: uma para Ele e outra para nós. Quanto à sua parte, subiu à cruz, e ali derramou todo o Seu sangue; fechou o inferno, abriu o céu, alcançou para o mundo a fé para conhecer a verdade, a graça para praticar o bem, e instituiu os sacramentos para comunicar a todos os homens os frutos da Sua morte. Quanto a outra parte, reservou-se para os homens que Ele convidou por esta forma a serem seus cooperadores, os salvadores do mundo, juntamente com Ele. O sangue derramado na cruz pode salvar o mundo; com ele, todos podem entrar no céu. Com ele, a fé foi trazida à terra, e será útil quando outros homens a ensinarem aos que a ignoram. Com ele, foi dada a graça ao mundo para praticar o bem; mas o bem somente se fará, quando outros homens ensinarem a conhecê-lo e exortarem a amá-lo. Os sacramentos são tesouros inexauríveis de riquezas e bens espirituais; mas estes tesouros não aproveitarão ao mundo, senão quando outros homens convencerem os pecadores a recebê-los. É assim que o homem foi constituído cooperador de Jesus Cristo na grande obra da salvação. Que glória para nós! E podia Deus fazer-nos maior honra? Compete-nos apreciá-la, mostrar-nos dignos dela, lançando mão de todos os meios de trabalhar na salvação de nossos irmãos e de convertê-los.

Quando se trata de salvar as almas imortais, nada deverá nos deter. Precisamos, sim, com o coração abrasado de amor e zelo: trabalhar, rezar, sofrer... pelo bem das almas: “Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida. Quer queiras quer não, assim farei. E se, em minha busca, os espinhos dos bosques me rasgarem, eu me obrigarei a ir por todos os atalhos difíceis; baterei todos os cercados; enquanto me der forças o Senhor que me ameaça, percorrerei tudo sem descanso. Reconduzirei a desgarrada, procurarei a perdida. Se não me queres atrás de ti, não te desgarres, não te percas” (Santo Agostinho).

 

II. Não esforçar-se em salvar almas é ofender a Jesus Cristo

 

O que dizer daquele católico que não se preocupa em salvar as almas imortais? É um soldado fracassado, ou melhor, é um defunto ambulante: “Não há nada mais frio do que um cristão que não se preocupa pela salvação dos outros” (São João Crisóstomo).

O que dizer de milhões de católicos que, além de não trabalharem pela salvação das almas, ainda as empurram para o Inferno Eterno, promovendo carnaval, bailes... construindo prostíbulos... vendendo revistas e filmes pornográficos... confeccionando roupas imorais... cantando músicas com letras depravadas? “... ai do homem pelo qual o escândalo vem!” (Mt 18, 7).

Esses católicos trabalham para o demônio, são discípulos “e satélites de Satanás” (São Gabriel de Nossa Senhora das Dores).

Analisando com sinceridade, são piores que Lúcifer: “Quem dá escândalo, completa a obra do demônio, seduzindo as almas e levando-as à eterna perdição; é pior que o demônio, que afinal nada mais pode fazer senão rodear-nos qual leão que ruge, porém, dum modo invisível, e em certa distância, sempre em atitude de fugir quando nota resistência da nossa parte. Inteiramente outra é a influência de quem dá escândalo. Este, com semblante de amigo se acerca de nós; à nossa resistência ele opõe suas blandícias, e não desiste dos seus maus intentos enquanto não os tiver realizado” (Pe. João Batista Lehmann).

Por que a maioria dos católicos diz não “ter jeito” para trabalhar para o bem das almas, mas estão prontos e decididos a dar escândalo? “Induzir as almas ao pecado pelo escândalo é, entre as obras diabólicas, a mais diabólica” (São Dionísio Areopagita).

Negam trabalhar para Deus, mas trabalham diariamente para o Demônio. Que vergonha! Quanta ingratidão!  

Nenhum católico pode fugir desse dever: trabalhar pela salvação das almas: “Não digas: não posso ajudá-los, porque, se és cristão de verdade, é impossível que não o possas fazer. Não há maneira de negar as propriedades das coisas naturais; o mesmo acontece com isto que agora afirmamos, pois está na natureza do cristão agir dessa forma (...). É mais fácil o sol deixar de iluminar ou de aquecer do que um cristão deixar de dar luz; mais fácil do que isso seria que a luz fosse trevas. Não digas que é impossível; impossível é o contrário (...). Se orientarmos bem a nossa conduta, o resto sairá como consequência natural. Não se pode ocultar a luz dos cristãos, não se pode ocultar uma lâmpada que brilha tanto” (São João Crisóstomo), e: “Nenhum crente, nenhuma instituição da Igreja pode esquivar-se deste dever supremo: anunciar Cristo a todos os povos” (João Paulo II).

Se Deus nos constituiu seus cooperadores na obra da salvação das almas, é sem dúvida para que nela trabalhássemos com Ele. Conforme Lhe dermos ou Lhe recusarmos o nosso concurso, será decidido por nós se certas almas, com quem temos relações, se salvarão ou se condenarão; isto é, se para elas o sangue de Jesus Cristo terá sido derramado inutilmente, se os seus trabalhos terão sido baldados, os seus sacramentos estéreis, as suas graças vãs, o céu perdido e a redenção frustrada. Ora, fazer frustrar por nossa negligência uma obra que custou tão caro ao Filho de Deus; deixar, não fazendo caso de seu amor, perecer almas que Ele tanto preza, quando com algum zelo e alguma boa vontade poderíamos salvá-las, que tremenda responsabilidade para nós!  Todas as chagas de Jesus Cristo nos clamam: “Tende zelo; se vos faltar, será em vão que teremos sido abertas para essa alma”. Todo o Seu Coração nos clama: “Tende zelo; porque se não o tiverdes será em vão que eu terei amado essa alma”.

“Ó meu Deus, todas estas vozes me chegam ao coração. Se eu não recusaria a um amigo um serviço que me pedisse no leito de morte, como poderei não atender a Vós, o melhor dos amigos, que do alto da Vossa cruz, como de Vosso leito de morte me conjurais que Vos ajude a salvar o mundo? Eu ouço o Vosso Apóstolo que me brada por seu lado: Deixareis perecer o vosso irmão fraco, pelo qual morreu Jesus Cristo?  Não somente contra vosso irmão, mas contra Jesus Cristo, que pecaríeis e no dia do juízo vos pediria conta de Seu sangue inutilizado por vossa culpa. Ó infiel ecônomo do sangue de um Deus, que castigo te está reservado! Mas, Senhor, eu evitarei essa acusação: diligenciarei ganhar-Vos as almas com os meus conselhos, exemplos e orações” (M. Hamon).

 

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 27 de abril de 2009

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

Santa Teresa dos Andes, Escritos

Santo Antônio Maria Claret, Obras

Santa Teresa do Menino Jesus, Escritos

São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus; Atos dos Apóstolos

Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos santos

Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!

São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, Cartas

Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica

João Paulo II, Carta Encíclica “Redemptoris Missio”

Santo Agostinho, Sermões sobre os pastores

 

  

 

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