E FOI UMA VITÓRIA GRANDIOSA (Jz 20, 14-36)
“14 Os benjaminitas, deixando as suas cidades, se concentraram em Gabaá para combater contra os filhos de Israel. 15 Contaram-se naquele dia os benjaminitas vindos das diversas cidades: eram vinte e seis mil homens hábeis no manejo da espada, sem contar os habitantes de Gabaá. 16 Em todo esse exército havia setecentos homens de escol, canhotos. Todos eles, com a pedra da sua funda, eram capazes de acertar um fio de cabelo sem errar. 17 Os homens de Israel foram também contados, sem incluir Benjamim; eram quatrocentos mil que sabiam brandir a espada, todos homens de guerra. 18 Puseram-se em marcha para ir a Betel, a fim de consultar a Deus. ‘Quem de nós subirá primeiro para o combate contra os benjaminitas?’, indagaram os filhos de Israel. E Deus respondeu: ‘Judá subirá primeiro’. 19 Pela manhã, os filhos de Israel saíram e acamparam defronte a Gabaá. 20 Os de Israel avançaram para o combate contra Benjamim, e se dispuseram em ordem de batalha diante de Gabaá. 21 Mas os benjaminitas saíram de Gabaá e, naquele dia, massacraram vinte e dois mil homens de Israel. 23 Os filhos de Israel vieram chorar na presença de Deus até à tarde, e depois consultaram a Deus, dizendo: ‘Devo ainda voltar a lutar contra os filhos de Benjamim, meu irmão?’ E Deus respondeu: ‘Marchai contra ele!’ 22 Então o exército do povo de Israel se encheu de coragem e outra vez se dispôs em ordem de batalha, da mesma forma como no primeiro dia. 24 No segundo dia, os filhos de Israel chegaram perto dos benjaminitas, 25 porém, nesse segundo dia, Benjamim saiu de Gabaá ao seu encontro e massacrou ainda dezoito mil homens dos filhos de Israel, todos eles guerreiros hábeis no manejo da espada. 26 Então todos os filhos de Israel e todo o povo vieram a Betel, choraram, ficaram ali diante de Deus, jejuaram todo o dia até à tarde, e ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão perante Deus; 27 e depois os filhos de Israel consultaram a Deus. – A Arca da Aliança de Deus estava, naqueles dias, naquela região, 28 e Finéias, filho de Eleazar, filho de Aarão, prestava serviço a ela. – Eles disseram: ‘Devo sair ainda para combater contra os filhos de Benjamim, meu irmão, ou devo desistir?’ E Deus respondeu: ‘Marchai, porque amanhã o entregarei nas vossas mãos’. 29 Então Israel arranjou as tropas em emboscadas, em redor de Gabaá. 30 No terceiro dia, os filhos de Israel marcharam contra os benjaminitas e, como das outras vezes, se organizaram em ordem de batalha defronte de Gabaá. 31 Os benjaminitas saíram ao encontro do povo e foram atraídos para longe da cidade. Começaram, como das outras vezes, a ferir alguns do povo, pelos caminhos que vão um para Betel, outro para Gabaá pelo campo: uns trinta homens de Israel. 32 Os benjaminitas pensaram: ‘Vencemos como da primeira vez’, mas os filhos de Israel disseram: ‘Vamos fugir para atraí-los para longe da cidade, nos caminhos’. 33 Então todos os homens de Israel abandonaram as suas posições e se organizaram em Baal-Tamar, e a emboscada de Israel surgiu do lugar em que estava, a oeste de Gaba. 34 Dez mil homens de elite, escolhidos de todo o Israel, vieram contra Gabaá; recrudesceu o combate, mas os outros não sabiam a desgraça que os aguardava. 35 Deus feriu Benjamim na presença de Israel e, naquele dia, os filhos de Israel mataram vinte e cinco mil e cem homens, todos hábeis no manejo da espada. 36 Os benjaminitas perceberam que tinham sido vencidos”. Obs: “Como exige o sentido, invertemos os vv. 22 e 23; na realidade, esses dois vv. não pertencem à mesma tradição” (Nota de rodapé da Bíblia de Jerusalém).
Não bastou o primeiro recurso a Deus, porque não foi precedido por nenhuma obra: “Os filhos de Israel vieram chorar na presença de Deus até à tarde” (Jz 20, 23). Depois bastou, porque foi acompanhado da mortificação e do sacrifício: “Então todos os filhos de Israel e todo o povo vieram a Betel, choraram, ficaram ali diante de Deus, jejuaram todo o dia até à tarde, e ofereceram holocaustos e sacrifícios de comunhão perante Deus” (Jz 20, 26). Católico, também nós, nesta vida, estamos circundados por um inimigo terrível que sabe ferir-nos com a mão esquerda como com a direita: o Demônio imundo. O Demônio é um inimigo que não dorme e que trabalha continuamente para nos perder: “O infame não cessará com seus ataques até o último suspiro da alma que não soube defender-se já contra os primeiros golpes... Na luta contra aquele maligno, porém, nunca haverá pausa; nunca poderás despojar-te das armas, nunca poderás entregar-te ao descanso, caso quiseres ficar ileso... Aquele adversário infame mantém sempre sua linha de combate perto de nós, pronta para nos perder tão logo note algum relaxamento em nossa vigilância. Podes estar certo: mais zelo emprega ele para a nossa perdição do que nós para a nossa salvação!” (São João Crisóstomo), e: “Em primeiro lugar, do diabo procede a ventania de numerosas imaginações e tentações” (Santa Catarina de Sena). Milhares de católicos pensam que para vencer o Demônio basta aquela lânguida oração recitada com mente distraída, outros esperam que basta alguma lágrima sobre as culpas passadas, alguma lamentação sobre a fraqueza da nossa natureza e sobre a fragilidade dos nossos propósitos. Não! O Demônio é um forte armado que vigia com toda astúcia para lançar-se a depredar na alma; é preciso fazer-se mais forte do que ele, ir-lhe em cima e arrancar-lhe a sua arma e a sua presa: “Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir às insídias do diabo. Pois o nosso combate não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os Principados, contra as Autoridades, contra os Dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do Mal que povoam as regiões celestiais. Por isso deveis vestir a armadura de Deus, para poderdes resistir no dia mau e sair firmes de todo o combate” (Ef 6, 11-13). Dizem centenas de católicos desanimados: Como fez São Luiz Gonzaga para conservar ileso o seu lírio de pureza? Como fez? Com a vigilância e com a mortificação.
I. Com a vigilância
São Luiz Gonzaga vigiou sobre seus ouvidos. Quando em Turim, no palácio de Jerônimo della Rovere, ouviu um velho falar equivocamente, não se deteve, sorrindo com o prurido da mórbida curiosidade, mas, sem respeito humano, gritou: “Velho! Não tens vergonha de corromper os jovens, tu que tens um pé na cova?” Vigiou sobre seus olhos; os olhos que, sobejas vezes, são a porta do Demônio; nunca leu livro nem desonesto nem vão, e caminhava com tanta modéstia, que em Milão, ao cabo de alguns meses de ir à escola, ainda não aprendera bem o caminho.
II. Com a mortificação
São Luiz Gonzaga macerou o seu corpo inocente, talvez mais do que os anacoretas da Tebaida. Menino, na casa principesca não queria nenhuma almofada debaixo dos joelhos para rezar; nunca rezou sentado nem apoiando-se nos cotovelos. Tinha a fortaleza de rezar ainda mesmo quando a febre serpeava nas suas veias e lhe sacudia os seus frágeis membros de menino de oito anos apenas. Frequentemente se disciplinava até ao sangue e, uma vez tendo falta de cilício, usava cingidas na carne nua, as esporas de cavalgar, e as rodas dentadas fincavam em sua carne. Católico, está claro que a nossa luta não é contra os benjaminitas, mas sim, contra o Demônio. Por isso é preciso vigiar e mortificar a nossa carne. Não basta chorar e lamentar como fizeram os israelitas; mas é preciso confiar em Deus e lutar... fazer a nossa parte; agindo assim, o Senhor nos defenderá e a vitória será segura: “Deus feriu Benjamim na presença de Israel e, naquele dia, os filhos de Israel mataram vinte e cinco mil e cem homens, todos hábeis no manejo da espada” (Jz 20, 35). O Deus que disse aos israelitas: “Marchai” (Jz 20, 28), também nos ordena que marchemos na luta contra o mal... o Senhor quer a nossa colaboração: “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti” (Santo Agostinho). São Josemaría Escrivá comenta: “Compreendo muito bem aquelas palavras do Bispo de Hipona, que soam como um maravilhoso cântico à liberdade: Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti, porque todos nós, tu e eu, temos sempre a possibilidade - a triste desventura - de levantar-nos contra Deus, de rejeitá-lo - talvez com a nossa conduta - ou de exclamar: Não queremos que ele reine sobre nós. (...)”
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 22 de julho de 2010
Bibliografia Sagrada Escritura São João Crisóstomo, O sacerdócio Santa Catarina de Sena, Cartas São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus Santo Agostinho, Sermões Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as Festas do Senhor e dos Santos
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