CARTA À IGREJA EM FILADÉLFIA

(Ap 3, 7-13)

 

7Ao Anjo da Igreja em Filadélfia, escreve: Assim diz o Santo, o Verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, o que abre e ninguém mais fecha, e fechando, ninguém mais abre. 8 Conheço tua conduta: eis que pus à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá fechar, pois tens pouca força, mas guardaste minha palavra e não renegaste meu nome. 9 Vou entregar-te alguns da sinagoga de Satanás, que se afirmam judeus mas não são, pois mentem; farei com que venham prostrar-se a teus pés e reconheçam que eu te amo. 10 Visto que guardaste minha palavra de perseverança, também eu te guardarei da hora da tentação que virá sobre o mundo inteiro, para colocar à prova os habitantes da terra. 11 Venho logo! Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. 12 Quanto ao vencedor, farei dele uma coluna no templo do meu Deus, e daí nunca mais sairá. Escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da Cidade do meu Deus – e o meu novo nome. 13 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas”.

 

 

Em Apocalipse 3, 7 diz: “Ao Anjo da Igreja em Filadélfia, escreve: Assim diz o Santo, o Verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, o que abre e ninguém mais fecha, e fechando, ninguém mais abre”.

 

Filadélfia, fundada por Átalo II Filadelfo, que lhe deu seu nome (159-138 a. C.), pertencia à província da Lídia e estava situada a cerca de 45 quilômetros a sudeste de Sardes, região vulcânica muito fértil. A sua situação geográfica tornava-a uma porta de acesso a toda a Frigia. Por isso dirá o autor sagrado que há nela uma porta aberta, expressão que também usa São Paulo para se referir às possibilidades no apostolado: “Cheguei então a Trôade para lá pregar o Evangelho de Cristo, e, embora o Senhor me tivesse aberto uma porta grande” (2 Cor 2, 12).

Tinha sofrido um terremoto pelo ano 17 d. C, circunstância a que se alude com a promessa de que se tornará sólida coluna do templo de Deus (v. 12). Ao ser reconstruída por Tibério, mudou-lhe o nome, chamando-se Neocesareia, nome que depressa caiu em desuso. Pelo contrário, o nome que aqui se promete (cfr v. 12), o nome de Deus e o da nova Jerusalém, o nome novo, permanecerá para sempre. Em Filadélfia havia um grupo numeroso e influente de Judeus aos quais se refere o v. 9, onde se fala de que muitos deles acabarão por se converter e reconhecer a Igreja, Esposa muito amada de Jesus Cristo.

Os títulos com que Jesus Cristo se denomina manifestam claramente a Sua divindade: o qualificativo de “o Santo” é próprio de Yahwéh, como vemos com frequência no Antigo Testamento: “Pois sou eu, Yahwéh, o vosso Deus. Fostes santificados e vos tornastes santos, pois que eu sou santo; não vos torneis, portanto, impuros com todos esses répteis que rastejam sobre a terra” (Lv 11, 44), e: “Disse então Josué ao povo: ‘Não podeis servir a Yahwéh, pois ele é um Deus santo, um Deus ciumento, que não suportará as vossas transgressões, nem os vossos pecados” (Js 24, 19). Quanto ao título “o Veraz”, o Verdadeiro – empregado também por São João no seu Evangelho: “O Verbo era a luz verdadeira que ilumina todo homem, ele vinha ao mundo” (Jo 1, 9) –, evoca a firmeza e a constância, a fidelidade (émet em hebraico) do Senhor em cumprir as suas promessas: “Tu, Senhor, Deus de piedade e compaixão, lento para a cólera, cheio de amor e fidelidade” (Sl 86, 15). Por outro lado, a expressão “Aquele que tem a chave de Davi”, com poder de abrir e fechar significa a soberania absoluta de Cristo no Reino messiânico. Esta mesma metáfora tinha sido utilizada pelo Senhor ao conferir o Primado a São Pedro (cfr Mt 16, 19) e ao transmitir os seus poderes ao Colégio Apostólico (cfr Mt 18, 18).

 

Em Apocalipse 3, 8-13 diz: “Conheço tua conduta: eis que pus à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá fechar, pois tens pouca força, mas guardaste minha palavra e não renegaste meu nome. Vou entregar-te alguns da sinagoga de Satanás, que se afirmam judeus mas não são, pois mentem; farei com que venham prostrar-se a teus pés e reconheçam que eu te amo. Visto que guardaste minha palavra de perseverança, também eu te guardarei da hora da tentação que virá sobre o mundo inteiro, para colocar à prova os habitantes da terra. Venho logo! Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Quanto ao vencedor, farei dele uma coluna no templo do meu Deus, e daí nunca mais sairá. Escreverei sobre ele o nome do meu Deus e o nome da Cidade do meu Deus – e o meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas”.

 

Elogia a fidelidade destes cristãos apesar das suas limitações. Como prêmio concede-lhes uma porta aberta, que o inimigo não poderá fechar. Com esta metáfora assegura-lhes o êxito apostólico, por cima das dificuldades que os inimigos suscitarão: “Pois aqui se abriu uma porta larga, cheia de perspectivas para mim, e os adversários são numerosos” (1 Cor 19, 9). Também se podem interpretar essas palavras como uma promessa de ter livre a entrada no Reino: “Uma porta aberta significa uma oportunidade de pregar com fruto o Evangelho, que se dão circunstâncias propícias para que o esforço missionário seja eficaz” (Pe. Miguel Nicolau).

“Vou entregar-te alguns da sinagoga de Satanás, que se afirmam judeus mas não são, pois mentem; farei com que venham prostrar-se a teus pés e reconheçam que eu te amo”. Promete-se a Filadélfia a conversão dos judeus da cidade. Eles se chamam a si mesmos sinagoga de Yahwéh (Nm 16, 3), porém não dizem a verdade, porque atuam contra Cristo e sua obra que é a Igreja; vão contra Yahwéh e fazem causa comum com Satanás, o inimigo de Cristo.

A promessa de que os inimigos reconhecerão a sua derrota e acatarão o vencedor recorda a Isaías 49, 23 e 60, 14, onde se prediz a homenagem e acatamento que as nações professarão ao Povo escolhido. Antes, porém, sobrevirá uma tribulação de alcance universal, tal como se descreve mais adiante (cfr Ap 8-9 e 16). Então serão protegidos os que permanecerem fiéis. Quanto à chegada iminente que se anuncia, recordemos o dito em Ap 1, 1, relativamente à amplitude com que devemos considerar o valor temporal destas frases: “Eis que eu venho em breve, e trago comigo o salário para retribuir a cada um conforme o seu trabalho... Aquele que atesta estas coisas diz: ‘Sim, venho muito em breve!’ Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22, 12. 20). No fim, depois da luta e da vitória, a Igreja de Filadélfia será coluna do templo, ou seja, ocupará um lugar proeminente: “E conhecendo a graça em mim concedida, Tiago, Cefas e João, os notáveis tidos como colunas, estenderam-nos a mão, a mim e a Barnabé, em sinal de comunhão: nós pregaríamos aos gentios e eles para a Circuncisão” (Gl 2, 9).

Ao dizer que não negou o nome de Jesus, apesar das suas poucas forças, está a assinalar de forma implícita que a fortaleza para vencer veio de Deus, que muitas vezes atua e triunfa por meio da debilidade e da limitação do homem. Já São Paulo dizia neste sentido aos fiéis de Corinto: “Vede, pois, quem sois, irmãos, vós que recebestes o chamado de Deus; não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa. Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus” (1 Cor 1, 26-29).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 08 de setembro de 2010

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Miguel Nicolau, A Sagrada Escritura, texto e comentário

Edições Theologica

 

 

 

 

 

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