RETRATO DE MARIA SANTÍSSIMA (Ct 4, 7)
“És toda bela, minha amada, e não tens um só defeito!”
A liturgia aplica esta passagem de Cânticos dos Cânticos à Imaculada Conceição de Maria. Conta-se que Guido di Pietro (Fra Angélico), o genial artista do pincel, concebeu a idéia de passar para a tela o retrato de Maria Santíssima com traços incomparáveis, assim como ele, em seu arrojado vôo de fantasia a ideava. Pretendia traçar o quadro da Anunciação. Mas o celebrado pintor concebia de tal forma a Virgem, que o instrumento criador de telas magníficas e encantadoras, caiu-lhe das mãos. Viu-se Fra Angélico incapaz de reproduzi-la num famoso quadro. Aflito, lançou-se aos pés de sua mãe, e esta, comovida pelas lágrimas do filho, disse que ficaria satisfeita se ele acabasse por representar apenas os anjos. De igual forma estarão todos os que desejarem pintar o retrato da Mãe querida. Ó Virgem Maria, impossibilitados de subirmos aos Céus e não possuindo talentos de anjos, falecem-nos as forças para descrever-vos assim qual sois: “... toda bela, minha amada” (Ct 4, 7). Não há palavras humanas e nem pincel magnífico que vos possam pintar, ó “Virgem eleita”. Nessa contingência ouso, escreve o professor Ângelo Antônio Dallegrave, apenas dizer com certo temor: “Maria estava moça. De encanto sem par, a simplicidade do vestir dava-lhe deslumbrante colorido a realçar-lhe a beleza. Jovem tão linda assim deveria ser mais do Céu que da terra. De gracioso porte, jamais tivera a afetação das beldades gregas ou os presunçosos meneios das moças de hoje... Formosa a mais não ser, aqueles olhos profundos e inspiradores nunca suscitaram afetos menos dignos, porque sendo humanos, irradiavam a pureza angelical da graça; formosa a mais não ser, aqueles lábios não conheceram outros beijos que os dos pais e só conheceriam os afagos dos beijos de seu divino Filho; formosa a mais não ser, aquele vulto de anjo purificou a terra e todos que a conheceram, porque, ‘cheia de graça’ (Lc 1, 28), brotava-lhe do ser o encanto sobrenatural a extravasar-lhe da alma beatíssima”. Conserva-nos a Tradição pelo testemunho de Nicéforo, algo do seu retrato. Maria, diz ele, era de “estatura mediana, pele morena como o dos trigos maduros, e cabelos que lembravam a cor do ouro. Tinha os olhos vivos em que só desenhavam pupilas de um matiz tirante ao da azeitona... sobrancelhas arqueadas... lábios de doçura maravilhosa, e tinha-lhe a conversação grande suavidade. As mãos eram grandes, com dedos afilados. O vestido não tinha outra cor que a que lhe era natural, enfim, uma atitude humilde e tão apagada que se lhe via apenas a simplicidade cheia toda de graça e verdadeiramente divina”. Dirigindo-se a Ela, numa de suas profundíssimas orações e com vôo de gênio, Santo Agostinho assim se expressou: “Sois toda bela, vossa beleza não conhece mancha, e vossa alegria é sem rival. Que digo? Não brilhais somente acima de todas as mulheres da terra por vossos encantos exteriores, mas, pela vossa santidade ultrapassais os próprios espíritos angélicos”. Gerson escreve: “É em vão que procuramos descrever a beleza da bem-aventurada Virgem. Ela reunia em si todas as belezas repartidas entre todas as criaturas e em tal grau de perfeição, que, fora de Deus, é impossível imaginar beleza mais deslumbrante”. São Dionísio Areopagita escreve sobre uma visita feita à Virgem Maria. Ele fala sobre a beleza física de Nossa Senhora: “Confesso na verdade, que não pensava que fora de Deus fosse possível beleza tão sublime e celestial, como a que contemplei. Vi a Maria Santíssima! Pude ver e rever com meus próprios olhos a Mãe de Jesus Cristo! Confesso mais uma vez que, quando João me levou à presença deífica da Virgem altíssima, fiquei deslumbrado por um esplendor tão grande, que me desfaleceu o coração e faltou a respiração, oprimido como estava pela glória de tamanha majestade”. Em razão disto, cantaram-lhe as glórias e belezas os profetas do Antigo Testamento, sem a conhecer; os seus contemporâneos ficaram extasiados e confusos ante seu recato, humildade e formosura; os poetas e os santos, os sábios e os humildes, os grandes e pequenos... todos a chamarão bem-aventurada de século em século, até a eternidade: “Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada” (Lc 1, 48). Maria Santíssima é: “Mãe de Deus, Rainha do universo... grande Princesa” (Santo Efrém), e: “Única mulher em quem o Salvador achou repouso... belo jardim em que Deus pôs todas as flores que ornam a Igreja... Mãe da beleza...” (São Bernardo de Claraval), e também: “Estrela e vaso de eleição... criatura mais preciosa da criação... lâmpada inextinguível... alegria dos Anjos, júbilo dos arcanjos...” (São Cirilo de Alexandria).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 15 de setembro de 2010
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