HIPOCRISIA

(Lc 18, 11)

 

“... não sou como o resto dos homens...”

 

A oração do fariseu não é agradável a Deus devido ao seu orgulho, que o leva a fixar-se em si mesmo e a desprezar os outros. Começa a dar graças a Deus, mas é claro que não se trata de verdadeira ação de graças, visto que se ufana do bem que fez, e não é capaz de reconhecer os seus pecados.

De todas as parábolas de Nosso Senhor, a do fariseu e do publicano tornou-se mais célebre, e encontramo-la não só nos livros religiosos, mas também em muitas obras literárias não cristãs. O fariseu e o publicano tornaram-se célebres na história. É particularmente a figura do fariseu que mais atrai a atenção. O que nele mais ressalta é sua eloquência em altear suas boas qualidades, a basofia com que estabelece comparação entre ele e os outros homens, achando neles toda a sorte de vícios e pecados. A figura do fariseu, por mais que este se enalteça, é antipática, justamente por causa da inverdade que há nas suas comparações e da parcialidade no julgamento do seu próximo, quando cada palavra que diz é denunciadora da sua flagrante hipocrisia. É este feio pecado, o da hipocrisia, que se prende à pessoa do fariseu. Tratemos da hipocrisia, uma vez que é certo que a raça dos fariseus ainda não se extinguiu; pelo contrario, é bastante numerosa e é certo também que em nós todos reside um bom pedaço do fariseu. Que Deus nos ajude a descobrir a hipocrisia e eliminá-la da nossa vida.

Hipocrisia é mentira em ato, que consiste em aparentar qualidades que não se tem, para os outros nos julgarem menos culpados ou mais virtuosos... consiste em aparentar exteriormente o que não se é na realidade, a fim de conquistar a estima dos outros.

1.° É sempre feio fingir; mas fingir virtude que não existe, é das simulações, a pior: “Menor pecado é pecar abertamente que simular santidade” (São Jerônimo). A hipocrisia é o vicio dos fariseus: “Guardai-vos do fermento dos fariseus que é a hipocrisia”, disse Nosso Senhor. E Jesus, que era tão bondoso no tratar aos pecadores, era terrível quando se via diante da baixeza dos hipócritas: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que fechais o reino dos céus diante dos homens; pois nem vós entrais, nem aos que vem para isso deixais entrar. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; porque, ao recitar extensas orações, devorais as casas das viúvas; por isso haveis de sofrer um julgamento mais rigoroso. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas; porque girais mar e terra para fazer um prosélito; e, depois de o ter ganho, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós. Ai de vós, guias cegos, que dizeis: qualquer juramento pelo templo é nada; mas todo aquele que jurar pelo ouro do templo é devedor. Estultos e cegos! Pois qual é mais, o ouro ou o templo que santifica o ouro? E qualquer juramento pelo altar é nada; mas todo o que jurar pela oferenda que está sobre ele é devedor. Cegos!  Pois qual é mais, a oferenda ou o altar que santifica a oferenda? Aquele, pois, que jura pelo altar jura por ele e por tudo quanto sobre ele está; e todo o que jurar pelo templo jura por ele e pelo que habita nele, e o que jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que está sentado nele. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e deixastes em abandono as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas vos cumpria praticar sem omitir aquelas. Guias cegos que coais um mosquito e engolis um camelo. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque limpais o que está por fora do copo e do prato e por dentro estais cheios de rapina e de imundície. Fariseu cego, purifica primeiro o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que aos homens parecem belos por fora, e por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda a asquerosidade. Assim também vós no exterior pareceis realmente justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e iniquidade. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que erigis sepulcros aos profetas e adornais os monumentos dos justos. E dizeis: ‘Se houvéssemos vivido nos dias de nossos pais não teríamos sido seus cúmplices no sangue dos profetas. Dais assim testemunho contra vós mesmos de que sois filhos daqueles que mataram os profetas. Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras, como escapareis da condenação da geena? Por isso, eu vos envio profetas, sábios e escribas; e a uns deles matareis e crucificareis, e a outros açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade. Para que recaia sobre vós todo o sangue dos justos que tem sido derramado sobre a terra” (Mt 23, 13-35).

2.° A hipocrisia dos modernos fariseus não mais se esconde sob o véu da santidade e da religião, mas se veste do manto vistoso da pátria, da liberdade e do progresso. Assim revestidos, também eles, como seus colegas do tempo de Cristo, fecham os olhos à verdade, e tudo fazem para que os outros dela se conservem afastados. Tudo isto praticam pretextando seus ideais ambíguos em que eles próprios não crêem, só para poder devorar o patrimônio de todos e se enriquecer às custas da pobreza e da miséria. Também eles correm mares e terras em serviço de sua pérfida propaganda. Também eles, cegos e tolos que são, fazem-se de guias de cegos e estultos. Tendo sempre nos lábios palavras melífluas da pátria terrestre, já renunciaram a pátria celeste. Também eles são sepulcros caiados, serpentes e raça de víbora. Contra a Igreja de Jesus Cristo levantam-se com a mesma ferocidade e intolerância que os antigos fariseus manifestaram contra a pessoa de Jesus Cristo. E tudo isto é feito acompanhado de frases bombásticas de cooperarem pela felicidade do povo e pela prosperidade da humanidade. Hipócritas, ai de vós; mas ai também dos seus cúmplices.

3.° Seus cúmplices. Cúmplices são aqueles católicos que querendo servir a Deus e ao “mammon” (é um demônio relacionado com a avareza), não interrompem seu sono tranquilo diante da hipocrisia imperante. Da parte desses católicos em vão se espera uma oposição, mínima que seja; eles não fazem a mínima resistência, a mínima tentativa para desmascarar os impostores. Antes procuram conciliar Cristo com “Beliel” (Personagem da mitologia cananita que determinava este Beliel como o adversário do povo ‘escolhido’), mostram-se satisfeitos, honrados até com a convivência com aquelas serpentes e raças de víboras. Desta maneira, a moderna hipocrisia se desenvolve cada vez mais e põe a máscara da honestidade; e ao seu lado, vemos formarem-se as fileiras dos corrompidos descendentes daqueles mártires generosos, que preferiam dar o sangue e a vida a oferecer um único grão de incenso às falsas divindades. Assim os modernos fariseus encontram preparado o caminho para realizar seus malvados intentos, como o acharam preparado os antigos fariseus para condenar à morte Jesus Cristo, quando puderam dispor de uma multidão velhaca e trabalhada.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 06 de outubro de 2010

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Bertetti, Escritos

São Jerônimo, Escritos

Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!

Edições Theologica

Monsenhor Cauly, Curso de Instrução Religiosa

Ricardo Sada e Alfonso Monroy, Curso de Teologia Moral

 

 

 

 

 

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