TOMOU O MENINO DURANTE A NOITE

(Mt 2, 14)

 

“Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito”.

 

Católico, o rei Assuero, numa noite em que não podia pegar no sono, mandou ler para si os anais do seu reino. Na quietude noturna, o leitor evocava os feitos do rei insone: as batalhas sangrentas, as vitórias ecoantes de gritos, os movimentos mais palpitantes de alegria e os movimentos dolorosos de perigo... e chegou a uma conspiração.

Uma conspiração tramada por dois oficiais no próprio palácio real. Fatalmente o rei teria caído sob a lâmina dos conspiradores, se a sagacidade vigilante do primeiro ministro não chegasse a desvendar a trama iníqua em tempo oportuno.

“Para!” Exclamou Assuero saltando do leito de ouro... “Quem foi que me salvou?”

“O primeiro ministro, majestade”.

“E que recompensa teve?”

“Até agora nenhuma”.

Então o rei Assuero ordenou que, ao nascer do sol, o primeiro ministro fosse revestido com vestes reais e cavalgasse o seu cavalo mais belo, e passasse pelas ruas de toda a cidade, enquanto um oficial gritasse diante dele: - Assim é honrado aquele a quem o rei quer exaltar. – Estas ordens foram executadas; e quem quer que precisasse de graça dirigia-se ao primeiro ministro seguro de ser atendido pelo rei (Livro de Ester).

Católico, também São José salvou a vida do Rei do Céu, - do Menino Jesus, - quando a conspiração de Herodes procurou sufocá-la no sangue: “Após sua partida, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se em sonho a José e lhe disse: ‘Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito. Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo’. Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito” (Mt 2, 13-14).

Será que o Rei do Céu foi menos generoso que o rei Assuero? Será que a Bondade Infinita deixou de recompensar São José? Como poderá Deus negar uma graça quando aquele que lha pede é São José? “Nunca se ouviu dizer que alguém tenha recorrido à bondade de São José e não tenha sido atendido. Se não me credes, por amor de Deus vos suplico fazerdes a experiência e me crereis” (Santa Teresa de Jesus).

Nosso Senhor pregando à multidão ensinava: “Quem der em meu nome ainda que seja um simples copo d’água fria ao último pobre deste mundo terá grande recompensa” (Mt 10, 42).

Que recompensa não recebeu, pois, no Céu, São José, que, não deu apenas um copo d’água ao último pobre, mas por trinta anos sustentou e protegeu em sua casa o Filho de Deus? “Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e diante dos homens” (Lc 2, 51-52). Alegremo-nos, pois temos junto ao trono do Altíssimo um protetor que pode e deseja socorrer-nos em todos os trabalhamos da vida.

A vida é um peso e o experimentamos todos os dias: peso por causa das dores, peso por causa dos trabalhos e peso por causa da morte: “O homem, nascido de mulher, tem a vida curta e cheia de tormentos” (Jó 14, 1).

Recorramos com confiança a São José e ele nos ajudará.

1.° Recorramos a São José na dor. A vida desse grande santo foi cheia de sofrimentos: na noite do nascimento do Menino Jesus bateu de porta em porta e foi forçado a colocá-Lo numa manjedoura... numa gruta. Teve que fugir para o Egito, longe de seus parentes... deixou casa, oficina...longe dos seus negócios... fugiu para uma terra estranha...  mais tarde,sofreu  procurando o Menino Jesus por três dias: “Quem lhes oferece agasalho? Eles são pobres e como pobres são desprezados; são tratados ainda pior do que os outros pobres” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Que São José nos ensine a fazermos a vontade de Deus quando estivermos atribulados; que nos dê paciência de viver neste vale de lágrimas... que nos conforte quando o “mundo” pesar em nossos ombros: “As tribulações, consideradas em si mesmas, são espantosas; mas, consideradas na vontade de Deus, são amor e alegria” (São Francisco de Sales).

2.° Recorramos a São José no trabalho. Há algumas vezes em que os negócios vão mal e o sustento nos falta; parece que vamos à ruína... nós e nossa família: “Ergamos o olhar para São José, porque ele também experimentou angústias. Quem sabe quantas vezes na oficina de Nazaré ele se sentiu abatido e fatigado, e quantas vezes não teria visto os seus modestos negócios tomarem má afeição; e talvez tenha chorado com o temor de fazer sofrer duramente a Virgem Maria e o Filho, dos quais tinha a guarda e a responsabilidade. Este santo que, antes de nós, experimentou o que nós sofremos não nos há de negar o que pedirmos com reta intenção” (Pe. João Colombo).

Mas, antes de exigirmos que ele nos escute, precisamos esforçar-nos nas pegadas de suas virtudes. Somos honestos no trabalho como ele o foi?

3.° Recorramos a São José para obtermos uma boa morte. Morrer bem é a coisa mais importante deste mundo. Todavia, não é coisa fácil: os progressos da civilização, automóveis, trens, aviões, navios... têm assinalado um crescente número de mortes imprevistas; a corrupção dos costumes tem assinalado um grande número de mortes impenitentes. É preciso um protetor para uma boa morte: este é São José.

Realmente, São José teve uma boa morte. Quando ele morreu, de um lado tinha Nossa Senhora, do outro Jesus Cristo que lhe amparava a cabeça: “São José morreu de puro amor a Deus” (São Francisco de Sales), e: “Considera como São José, depois de ter servido tão fielmente a Jesus e Maria, chegou ao termo de sua vida na casa de Nazaré. Ali, cercado de Anjos e assistido pelo Rei dos anjos, Jesus Cristo e por Maria, sua esposa, que se colocaram aos lados de seu pobre leito, saiu desta vida miserável em tão doce e sublime companhia e com paz paradisíaca na alma. Pela presença de tão digna esposa e de tão nobre Filho, a morte de José tornou-se extremamente doce e suave. – E como podia ser-lhe a morte amargosa, morrendo nos braços daquele que é a vida? Quem jamais poderá dizer ou entender as suaves doçuras, as consolações, as doces esperanças, os atos de resignação, as chamas de amor, que foram inspirados ao coração de José pelas palavras de vida eterna que Jesus e Maria lhe dirigiam alternadamente naquela suprema hora?” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Morrer bem! Esta seria a graça mais bela e maior que São José poderia fazer-nos: “Bem-aventurada, pois, a alma que na última hora for assistida por tão poderoso advogado, que, por ter morrido assistido por Jesus e Maria, e por ter livrado o Menino Jesus do perigo de morte, fugindo com ele para o Egito, obteve o privilégio de ser padroeiro da boa morte e de livrar seus devotos moribundos do perigo da morte eterna” (Idem.).

Rezemos com fé e devoção: “Meu santo protetor, justo é que vossa morte tenha sido santa, porque foi santa toda a vossa vida. Quanto a mim, com razão devia esperar uma morte infeliz, visto que a mereci pela minha vida desregrada. Mas se vós me defenderdes, não serei condenado. Não só tendes sido grande amigo de meu Juiz, mas, além disso, seu guarda e seu aio. Se vós me recomendardes a Jesus, ele não me poderá condenar. Meu santo patriarca, eu vos elejo, depois de Maria, por meu principal advogado e protetor. Prometo-vos honrar-vos cada dia em toda a vida que me resta com algum obséquio especial, pondo-me debaixo da vossa proteção. Sou indigno do favor que vos peço, mas pelo amor que tendes a Jesus e Maria, aceitai-me por vosso servo perpétuo. Pela doce companhia que Jesus e Maria vos fizeram na vossa vida, protegei-me sempre enquanto viver, afim de que nunca mais me aparte de Deus pela perda de sua graça. E pela assistência que Jesus e Maria vos prestaram na morte, protegei-me particularmente na hora da minha morte, afim de que, morrendo assistido por vós, por Jesus e por Maria, possa ir um dia agradecer-vos no céu.

Virgem Santíssima, já sabeis que, primeiro pelos merecimentos de Jesus Cristo, e depois pela vossa intercessão, espero obter uma boa morte e salvar-me. Minha Mãe, não me desampareis nunca; mas assisti-me especialmente no grande momento de minha morte; alcançai-me a graça de morrer invocando e amando a vós e a meu Jesus.

E Vós, meu amado Redentor, perdoai-me todas as ofensas que Vos fiz e de que me arrependo com toda a minha alma. Perdoai-me antes que chegue a hora da minha morte, quando sereis o meu Juiz. E na vida que ainda me resta, concedei-me que me ajudem os méritos do esposo de vossa Mãe Santíssima, para que por sua intercessão me conceda o que as minha forças não podem obter” (Santo Afonso Maria de Ligório).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 30 de junho de 2011

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Santa Teresa de Jesus, Escritos

Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos

Santo Afonso Maria de Ligório, Meditações

São Francisco de Sales, Tratado do amor de Deus, 1. 9, c. 2

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Tomou o menino durante a noite”

www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0352.htm