PARA QUE ESTOU NO MUNDO?

(Sl 2, 11)

 

“Servi a Deus com temor”.

 

Não estamos aqui nesse mundo para passear, dançar, pecar, servir o mundo e nos apegar às criaturas... mas sim, para “construir” a nossa morada na eternidade: “... operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2, 12).

Deus nos criou para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo... nos criou para que entesourássemos tesouros no céu sem perder tempo com aquilo que passa... tudo o que praticarmos afora isto estamos jogando o tempo fora e roubando de Deus: “Como é belo, como é grande conhecer, amar e servir a Deus! É a única coisa que temos para fazer neste mundo. Tudo o que fazemos afora isto é tempo perdido” (São João Maria Vianney), e: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros nos céus, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam” (Mt 6, 19-20).

Da vida presente depende a futura. Do bom ou mau uso da primeira depende a sorte feliz ou infeliz da segunda. Não é, pois, indiferente ao homem viver neste mundo desta ou daquela maneira. Não lhe é de igual vantagem trilhar o caminho da virtude ou do vício, servir ao Senhor do céu e ao mundo, amar a Deus e as criaturas: “Os nossos atos são bons ou maus, nunca indiferentes, isto é, nunca destituídos de valor moral. Ou se faz o bem ou se faz o mal” (Monge Edouard Clerc).

O homem não tem duas naturezas: uma para a vida presente e outra para a futura; uma para a terra, outra para o céu; uma para Deus, outra para o demônio.

Os mesmos que vivemos aqui na terra, havemos de viver, depois da morte, ou no céu ou no inferno!

É, pois, necessário haver uma determinação na vida, um plano de ação, um alvo fixo, aonde atiremos sem medo de errar: “Exorto-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, a andardes de modo digno da vocação a que fostes chamados” (Ef 4, 1), e: “Assim andareis de maneira digna do Senhor, fazendo tudo o que é do seu agrado, dando frutos em boas obras e crescendo no conhecimento de Deus” (Cl 1, 10), e também: “... nós vos exortávamos, vos encorajávamos e vos conjurávamos a viver de maneira digna de Deus” (1 Ts 2, 12).

E como consegui-lo? Pondo diante dos olhos o fim para que estamos neste mundo.

E qual é ele? – Nada que nos seja impossível. O que Deus exige de cada um de nós está muito em nossa mão: é que o sirvamos: “... a ninguém mais sirvais a não ser a ele” (1 Sm 7, 3).

Criando Deus tanta variedade de seres, ordenou que, servindo os inferiores aos superiores, todos concorressem para serviço do homem. – Os minerais servem aos vegetais, os vegetais aos animais e os animais ao homem. O sol serve ao homem, aquecendo-o e iluminando-o, e serve à terra para a produção dos frutos. A terra serve às plantas, nutrindo-as; as plantas servem aos animais, sustentando-os; e os animais servem ao homem, dando-lhe uns a subsistência e outros o auxiliando nos trabalhos.

E o homem, a quem serve? O homem não tem outro ser a quem servir, senão Deus. Para servir a Deus lhe foi dada a existência, para isto está neste mundo: “Deus é Senhor da nossa vida inteira. Não queiramos deixar para a velhice o servi-Lo, entregando ao demônio e ao mundo as forças da mocidade; mas desde a nossa juventude sirvamo-Lo para não sentirmos um dia os cruéis remorsos que sentem os escravos do mundo” (Frei Mateus Maria do Souto).

Deus não só deu ao homem o fim de servi-Lo, mas, para o cumprimento deste fim, dotou-o de três faculdades principais: inteligência, memória e vontade.

Com a inteligência o homem deve conhecer a Deus e louvar a sua Onipotência, Sabedoria e Bondade: “Deve conhecer que tudo vem de Deus, que tudo está em Deus e que tudo existe para Deus. – Tudo vem de Deus, pois Ele criou tudo que existe. Tudo está em Deus, pois Ele está conservando o ser a tudo que criou. Tudo existe para Deus, pois Ele fez que tudo concorresse para apregoar a sua glória e manifestar o seu poder, sabedoria, bondade e justiça (Pe. Alexandrino Monteiro).

A voz da minha inteligência não há de ser outra senão esta: seja conhecido, ó meu Deus, louvado e santificado o vosso nome!

Com a memória, o homem há de servir também a Deus e tê-Lo por seu fim único: “Com ela deve lembrar-se que Deus está presente em todas as criaturas, e que vive em nós, dando-nos tudo que somos, tudo que valemos e tudo que possuímos” (Idem.).

O homem deve servir a Deus em toda parte, pois Ele está presente em toda parte.

Convicto desta verdade devemos trazer sempre gravada na memória aquela sentença do profeta: “Pela vida do Senhor, o Deus de Israel, a quem sirvo” (1 Rs 17, 1).

Com a vontade devemos também servir ao Senhor que nos chamou à vida.

Servir é fazer a vontade a alguém e ser-lhe útil. Ora, ser útil a Deus, tomada esta expressão em todo o rigor, não é possível a nenhum mortal. Pois, sendo Deus suficiente em seu ser, não tem precisão do serviço de suas criaturas. Só nos resta, pois, servi-Lo, fazendo sua vontade. Mas, como encontrá-la? Muito fácil: examinando atentamente os dez mandamentos da Lei de Deus; os cinco mandamentos da Igreja; as ordens de nossos superiores; a consciência, pela qual nos fala Deus, aconselhando-nos o bem e desviando-nos do mal; as disposições de sua providência quando nos visita com doenças, com dores, com privações, com a própria morte... pois tudo isso é vontade do Criador: “Toda a santidade consiste em amar a Deus, e todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade. Devemos, pois, acolher sem reserva todas as disposições da Providência a nosso respeito e, consequentemente, abraçar em paz tudo o que nos acontece de favorável ou desfavorável, nosso estado de vida, nossa saúde, tudo o que Deus quer” (Santo Afonso Maria de Ligório).

Este serviço nos exige Deus quando nos manda rezar: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6, 10). Este serviço que prestamos a Deus na tribulação, nos ensina Jesus Cristo na agonia do Horto, quando dirige a seu  Eterno Pai estas palavras: “Não se faça a minha vontade, mas a vossa” (Lc 22, 42).

Para isso, pois, é a vida do homem: para servir a Deus em tudo, louvá-Lo por tudo e reverenciá-Lo sempre. Amá-Lo com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças.

Olhe para o sol, a lua e as estrelas. Que fidelidade, que perseverança, que pontualidade em seguir os decretos da divina Providência! Quando é que o sol disse, cansado de seus movimentos: Não alumiarei mais o mundo? – Quando é que a lua nos deixou de mandar os seus influxos? – Quando é que a terra saltou para fora do seu eixo ou parou nas suas rotações e translações?

Quem viu o mar em pleno repouso? Quando é que houve primavera sem flores, verão ou outono sem searas e frutos, e inverno sem chuvas e neves?

Tudo serve o Senhor, tudo O engrandece, tudo canta os seus louvores, tudo apregoa a sua glória: - só o homem que anda longe de seu fim está fora deste concerto universal... é uma nota desafinada no hino que o universo entoa à glória de Deus.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 05 de julho de 2011

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz

São João Maria Vianney, Escritos

Monge Edouard Clerc, Que há para além da morte?

Frei Mateus Maria do Souto, Verdade e luz

Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Para que estou no mundo?”

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