FALSIFICAR A PALAVRA DE DEUS (1 Cor 2, 17)
“Não somos como aqueles muitos que falsificam a palavra de Deus; é, antes, com sinceridade, como enviados de Deus, que falamos, na presença de Deus, em Cristo”.
Apenas os doze Apóstolos difundiram pelo mundo o Evangelho, aquele Evangelho que o Filho de Deus lhes ensinara e que o Espírito Santo lhes explicara, logo se levantaram os falsos doutores para o falsificarem. E foram primeiramente os gnósticos que se gabavam de ter achado a sublime doutrina de Cristo, ao passo que os doze rudes pescadores não tinham sabido compreender senão a casca externa da verdade. E depois levantou-se, para profetizar falsamente, Ário, que negava a divindade verdadeira de Cristo. E depois levantou-se Nestório, para dizer que em Cristo havia duas pessoas distintas. E, depois dele, Eutíquio, para dizer que Cristo não era um homem verdadeiro. E depois Fócio, e depois Lutero... todos falsos profetas. Mas naqueles tempos eles apareciam um a um, era fácil descobri-los, de todas as partes se gritava “ao lobo!”, de modo que só os imprudentes eram enganados. O Pe. João Colombo escreve: “Nos nossos tempos, ao contrário, os falsos são tão numerosos, que a gente já quase se acostumou a vê-los e a ouvi-los. E, em todas as escolas, da cátedra eles vomitam os seus erros nas jovens almas de nossos filhos”. Existem muitos falsos profetas adulterando a Palavra de Deus. Também dentro da Santa Igreja Católica Apostólica Romana existem bispos e sacerdotes que distorcem e adulteram a Palavra de Deus com grande prejuízo para as almas imortais; por isso, a Santa Igreja os adverte: “Para ser autêntica, a palavra deve ser transmitida ‘sem duplicidade e sem falsificação, mas manifestando com franqueza a verdade diante de Deus’ (2 Cor 4, 2). O presbítero, com uma maturidade responsável, evitará DISFARÇAR, REDUZIR, DISTORCER ou DILUIR o conteúdo da mensagem divina. Com efeito, a sua missão ‘não é de ensinar uma sabedoria própria, mas sim, de ensinar a PALAVRA de DEUS e de convidar insistentemente a todos à conversão e à santidade” (Diretório para o ministério e a vida do presbítero, 45). Centenas de bispos e milhares de sacerdotes pregam frouxamente a Palavra de Deus... adulterando-a... escondendo-a na “despensa” da omissão... preocupados somente em agradar aos ouvintes e com os olhos fixos em seus bolsos, sedentos do dízimo e dos elogios: “Adulterar a palavra de Deus é ou sentir nela algo distinto do que na realidade é, ou buscar por ela não os frutos espirituais, mas os fetos adulterinos do louvor humano. Pregar com sinceridade é buscar a glória do autor e criador” (São Gregório Magno), e: “... em suas pregações procure apenas agradar a Deus” (São João Crisóstomo). O clero “beija-flor” é a ruína e a desgraça para as almas. Com os seus “biquinhos” açucarados e melosos adulteram a Palavra de Deus e distorcem o Magistério da Santa Igreja com o desejo de tirar o néctar (dinheiro) do bolso de seus ouvintes: “Aqueles que não conseguem corromper um cristão fornecendo-lhe veneno, acrescentam algumas gotas de mel, para que o amargo se neutralize pelo doce e assim seja bebido para a própria ruína” (Santo Agostinho). É horrível e repugnante ouvir muitos bispos e sacerdotes pregarem a Palavra de Deus; os mesmos falam para os ouvintes não entenderem... falam superficialmente... adulteram e distorcem... escondem a verdade... falam pela metade... fazem rodeios e não dizem o que deveria ser dito... “pisam” na verdade e gracejam com historinhas e piadinhas durante a homilia ou sermão... “sentam” sobre a verdade e jogam “pétalas de rosas” e “açúcar” sobre os ouvintes... esses são os pregadores ambíguos: “Parece que há medo de falar com clareza; fazem-se concessões que o Magistério da Igreja nunca fez; ‘barateiam-se’ as exigências morais para não afastar as pessoas, ou perder adeptos, ou, melhor, por temor de se receber a alcunha de ‘duro’, ‘intransigente’, ‘quadrado’, ‘ultrapassado’, ‘pouco arejado” (Dom Rafael Llano Cifuentes). É preciso pregar a Palavra de Deus com sinceridade sem falsificá-la: “Não somos como aqueles muitos que falsificam a palavra de Deus; é, antes, com sinceridade, como enviados de Deus, que falamos, na presença de Deus, em Cristo” (2 Cor 2, 17). Onde falta a fidelidade à verdade, não pode existir um bom trabalho evangelizador: “A verdade não conhece meios termos e o amor sacrificado não admite descontos nem pode ser objeto de compromissos. Uma das condições de toda a ação apostólica é a fidelidade à doutrina, ainda que em alguns casos esta se mostre difícil de cumprir e chegue até a exigir um comportamento heróico ou, pelo menos, cheio de fortaleza” (Pe. Francisco Fernández Carvajal). Milhões de católicos vivem frouxa e anemicamente, porque ouvem de bispos e sacerdotes uma pregação que não convence nem os fortalece... e assim caminham com o coração transbordando de incertezas e inseguranças: “Não se pode falar da verdade de Deus de maneira morna, melancólica, insegura. As verdades do cristianismo apóiam-se na própria autoridade de Deus que revela e que não pode enganar-se nem enganar-nos. Ele nunca quis deixar-nos entregues a um estado nebuloso, indefinido, de dúvidas e incertezas. Que querem esses cristãos que têm obrigação de transmitir as verdades eternas, as únicas verdades que levam à saúde espiritual? Sacrificar as certezas do Magistério da Igreja às suas dúvidas particulares? Dizer meias-verdades, deixando que as almas se arrastem nas suas enfermidades espirituais, numa situação de meia-saúde, de meia-vida e de meia-morte?, permitir que o metabolismo espiritual dos que lhes pedem critério fique condenado a uma fraqueza e languidez crônicas, que a sua ofegante respiração sobrenatural mal lhes consinta oxigenar o seu organismo? Que deseja esse tipo de pessoas: deixar as almas oscilarem entre um pouco de verdade e um pouco de erro? Entre um pouco de pecado e um pouco de virtude? Entre um pouco de vida e um pouco de morte? Não podemos permitir que alguém traga ao coração da Igreja essa névoa de perplexidade e de ambiguidade amorfa! Temos que lutar com todas as forças para que todos irradiemos o esplendor e a segurança e o calor do sol da fé. Temos que fitar de frente a Verdade, procurar vivamente o rosto de Deus e dilatar as nossas pupilas para mergulhar no olhar amabilíssimo do Senhor, e terminar apaixonado-nos por essa Verdade Infinita que é ao mesmo tempo a infinita Beleza de Deus. O Senhor sempre proclamou a verdade de maneira nítida, e os homens de Deus de todas as épocas dela se fizeram eco como fidedignos transmissores. Eles encarnaram essas verdades, eles as sentiram nas suas vísceras de tal forma e com tal intensidade que não podiam silenciá-las. Eram verdades que transbordavam deles como transbordam as águas de um lago dilatadas pelo temporal. A verdade de Deus não é uma verdade que se possa dizer timidamente, tepidamente, ambiguamente... É uma avalanche de força avassaladora” (Dom Rafael Llano Cifuentes). Infelizmente, vêem-se milhões de católicos se arrastando anemicamente... enfermos espiritualmente... presas fáceis dos lobos insaciáveis... isso por não conhecerem a verdade; por não conhecê-la vivem escravizados, porque somente “a verdade vos libertará” (Jo 8, 32) e: “Em um mundo transtornado por erros, teorias falsas e costumes depravados, só se salva quem pratica o Evangelho. Somente nele podemos encontrar a verdade da doutrina e da vida” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena). Os bispos e sacerdotes que adulteram e distorcem a Palavra de Deus são inimigos de Cristo e discípulos do Demônio que é pai da mentira e odeia a verdade: “Vós sois do diabo, vosso pai... porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). Esses não ouvem a Cristo Jesus e não O segue: “Quem é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 37), e também: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (Jo 14, 6).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 13 de julho de 2011
Bibliografia
Sagrada Escritura Diretório para o ministério e a vida do presbítero, 45 São Gregório Magno, Moralia, 22. 12 São João Crisóstomo, O sacerdócio, Livro V, 7 Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos Dom Rafael Llano Cifuentes, Vidas sinceras Santo Agostinho, Escritos Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina, 86, 1
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