SANTIDADE NÃO É MÁSCARA

(Mt 5, 48)

 

“Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.

 

O que é ser perfeito?

 

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Toda a santidade e toda a perfeição de uma pessoa consiste em amar a Jesus Cristo, nosso Deus, nosso maior bem, nosso Salvador”.

São Francisco de Sales diz: “Alguns põem a perfeição na austeridade da vida, outros na oração, estes na frequência dos sacramentos, aqueles nas esmolas. Enganam-se. A perfeição consiste em amar a Deus de todo o coração”.

A boa vontade, sustentada pela graça e pelas virtudes infusas, não é suficiente para produzir os frutos de santidade que o Evangelho espera dos discípulos de Cristo. Fica sempre uma desproporção a preencher, isto é, a do modo de agir humano diante das exigências da santidade que é participação da vida e da própria santidade de Deus! “Portanto, deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 48). Pode e deve o homem exercitar as virtudes, mas estas, embora sobrenaturais, agem por meio das faculdades naturais; a fé, por exemplo, o ilumina através da inteligência que pode ser mais ou menos limitada; a caridade é infundida nele através da vontade que pode ser mais ou menos dócil, e assim por diante.

Em sentido estrito, é impossível que a criatura tenha a perfeição de Deus. Portanto, o Senhor quer dizer aqui que a perfeição divina deve ser o modelo para o qual há de tender o fiel cristão, sabendo que há uma distância infinita em relação ao seu Criador. Isto, porém, não rebaixa nada a força deste mandamento, mas, pelo contrário, ilumina-o. Juntamente com a exigência deste mandato de Jesus Cristo, há que considerar a magnitude da graça que promete, para que sejamos capazes de tender, nada menos, que à perfeição divina.

Duas coisas são necessárias à verdadeira santidade: o hábito e a solidez das virtudes: “O cristão busca a Deus justamente pelo exercício assíduo das virtudes que, embora insuficiente para atingir a santidade, é indispensável para provar ao Senhor nossa boa vontade. Assim como o marinheiro que quer chegar ao porto não fica ocioso à espera do sopro do vento, mas, enquanto o aguarda, se põe a remar com vigor, assim também a alma que deseja encontrar a Deus, enquanto aguarda que ele a atraia a si, não se entrega ao ócio, mas se aplica com fervor a buscá-lo com as próprias iniciativas, com esforços pessoais. Nestes esforços é que inserirá o Espírito Santo sua influência, por meio da atuação dos dons. O preguiçoso, que não se aplica com empenho ao exercício das virtudes, não pode esperar o socorro dos dons” (Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena), e: “Aquele, porém, que não deseja a perfeição, andará sempre para trás e se torna mais imperfeito do que no começo. Na caminhada para Deus quem não avança, sempre retrocede arrastado pela correnteza de nossa natureza corrompida” (Santo Agostinho).

O hábito adquire-se pela repetição dos atos e é indispensável à perfeição: “Quem deseja de verdade a perfeição nunca deixa de progredir nela e, se não ficar desanimado, vai consegui-la” (Santo Afonso Maria de Ligório). Não se diz que alguém é sábio por haver dito uma palavra de ciência, nem é virtuoso por ter feito uma ação santa; é o hábito de falar sabiamente e de agir santamente que lhe merece os títulos de sábio e santo. Os atos passageiros deixam-nos sempre fracos e inconstantes, mas o hábito enraíza em nós a virtude, torna-a firme e perseverante, transforma-a, por assim dizer, numa segunda natureza.

A santidade estará então consumada numa alma? Não, deve ainda passar pela prova da adversidade e da humilhação. Quando as almas começam a trabalhar na sua santificação, Deus as auxilia sensivelmente, e elas produzem então, com facilidade, atos de humildade, caridade, penitência e devoção. Mais tarde, quando já adquiriram mais alto grau de virtude, que faz o Senhor? Tira-lhes sua assistência sensível, deixa-as entregues ao desgosto, às dores do espírito e às tentações; dá-lhes frequentes ocasiões de fazer atos generosos de abnegação, confiança, castidade, paciência e abandono à vontade divina. Assim são elas purificadas, exercitadas, trabalhadas como a estátua pelo estatuário até à perfeita semelhança com seu divino modelo, Jesus Crucificado.

Você que deseja ser santo aprova quando Deus te humilha, prova e mortifica? Quantas repugnâncias, tristezas, abatimentos e queixas por causa de uma leve contrariedade! Seria isso virtude sólida? “Mesmo que faças muitas coisas, se não aprenderes a negar a tua vontade e a sujeitar-te, descuidado de ti e de tuas coisas, não adiantarás na perfeição” (São João da Cruz).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 14 de setembro de 2011

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Luís Bronchain, Meditações para todos os dias do ano

Edições Theologica

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

São João da Cruz, Ditos de luz e amor, 70

Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo

Santo Agostinho, Pelágio, Epístola ad Demetriadem, c. 27, ML 33-1118

São Francisco de Sales, Introdução à Vida devota, p. I, c. 1

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Santidade não é máscara”

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