A SAGRADA ESCRITURA E A TRADIÇÃO COMO FONTES DA FÉ (2 Ts 2, 15)
“Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito”.
NEM TUDO o que Nosso Senhor revelou está contido na Bíblia: “Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam” (Jo 21, 25). Cristo Jesus disse também: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas não podeis agora suportar. Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras” (Jo 16, 12-13). O que Jesus Cristo ENSINOU e FEZ nos foi transmitido pela Tradição Apostólica. A Bíblia e a Tradição são as fontes da Revelação. Existe a Tradição Apostólica: “Portanto, irmãos, ficai firmes; guardai as TRADIÇÕES que vos ensinamos ORALMENTE ou por ESCRITO” (2 Ts 2, 15), e: “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos afasteis de todo irmão que leve vida desordenada e contrária à TRADIÇÃO que de nós receberam” (2 Ts 3, 6), e também: “Toma por modelo as sãs palavras que de mim ouviste, com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, por meio do Espírito Santo que habita em vós” (2 Tm 1, 13-14), e ainda: “Eu vos louvo por vos recordardes de mim em todas as ocasiões e por conservardes as TRADIÇÕES tais como vo-las transmiti (1 Cor 11, 2). Está claro que NEM TUDO o que Nosso Senhor revelou está contido na Bíblia. Depois da Ressurreição, Cristo Jesus permaneceu por quarenta dias com os Apóstolos. Ele não permaneceu MUDO, mas FALOU MUITO: “Fiz meu primeiro relato, ó Teófilo, a respeito de todas as coisas que Jesus fez e ensinou desde o início, até o dia em que foi arrebatado, depois de ter dado INSTRUÇÕES aos apóstolos que escolhera sob a ação do Espírito Santo. Ainda a eles, apresentou-se vivo depois da sua paixão, com muitas provas incontestáveis: durante quarenta dias apareceu-lhes e lhes FALOU do que concerne ao Reino de Deus” (At 1, 1-3). Será que tudo o que Cristo Jesus disse depois da Ressurreição está na Bíblia? Claro que não. Então deixa de ser palavra de Deus? Não tem nenhum valor? Claro que tem valor. Numa bela manhã, os Apóstolos estavam agrupados no alto de um monte da Galiléia. Nos seus rostos se estampava a alegria e a esperança, como se estivessem aguardando um acontecimento de beleza e glória. De repente surgiu no meio deles Jesus Cristo, resplandecente de beleza e glória. Todos esperavam com ansiedade as suas palavras, pois daí a pouco deveria partir para o Céu, tendo passado quarenta dias sobre a terra, depois de ressuscitado: “Todo o poder me foi dado no céu e na terra, disse Cristo. Ide, ensinai a todos os povos, e batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-lhes a observar tudo o que eu vos mandei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28, 18-20). Era a ordem para a pregação da religião fundada por Nosso Senhor. Daí em diante sempre houve apóstolos que ensinaram a doutrina de Cristo e sempre houve fieis que acreditaram e praticaram esta doutrina. A ordem dada por Cristo aos apóstolos foi executada. Jesus Cristo passara três anos a pregar uma nova religião, a ensinar novas doutrinas, a dar novas leis, a formar novos ritos. Ao partir para o céu, entregava como depósito aos apóstolos tudo aquilo que Ele ensinara aos homens e que os homens deviam aceitar pela fé, e prometia estar com os apóstolos até o fim do mundo, a fim de que este depósito da fé não fosse alterado pela ignorância ou pela maldade dos homens. E o que continha este depósito da fé? Abramos o Evangelho de São Marcos no capítulo 16, e encontraremos esta frase de Cristo dirigida aos apóstolos, antes de partir para o céu: “Ide a todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado”. “Evangelho” quer dizer a boa nova, e significa todos os ensinamentos, preceitos e instituições de Cristo. Ora, Cristo não veio negar as verdades já ensinadas por Deus mediante os patriarcas e profetas do Antigo Testamento, mas completá-las e ao mesmo tempo aperfeiçoar os mandamentos e as cerimônias religiosas. Portanto, o “evangelho” compreende tudo o que havia de verdadeiro e bom da lei antiga e mais o que Cristo viera ensinar. Por conseguinte, o “depósito da fé” contém todas as verdades reveladas por Deus à humanidade, quer antes de Cristo, quer no tempo de Cristo, quer depois de Cristo, até a morte do último apóstolo, pois desde então Deus não tem mais falado a todos os homens, mas somente a alguns, para uso particular deles. Desde Adão até a morte do último apóstolo, Deus não cessou de ensinar aos homens novas verdades, que deviam ser aceitas pela fé, e estas verdades foram sendo guardadas reverentemente pela verdadeira religião, como um depósito sagrado, formando assim o “depósito da fé”: “O patrimônio sagrado’ da fé (‘depositum fidei’), contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja” (Catecismo da Igreja Católica). Hoje, a Igreja Católica é a guarda vigilante deste depósito, e, acreditando nas verdades que ela ensina como verdades de fé, não fazemos outra coisa que acreditar na palavra do próprio Deus. Deus falou à humanidade, e a Igreja guarda religiosamente estas palavras divinas. Mas onde é que podemos encontrar estas palavras de Deus? Quais são as fontes onde devemos ir procurar esta água pura e vivificadora da revelação de Deus aos homens? – Esta pergunta sobre as “fontes de revelação” tem a máxima importância para nós. Uma resposta errada pode levar ao protestantismo. Aqui está mesmo a maior diferença que há entre católicos e protestantes. Antes de responder voltemos aos começos da Igreja Católica. Quando Cristo veio ao mundo, a religião judaica era possuidora de certos livros sagrados que continham a palavra de Deus. O próprio Deus tinha inspirado certos homens a escreverem aqueles livros e de tal maneira influiu neles que podemos dizer com toda a verdade que estes livros foram escritos pelo próprio Deus. Se eu dito uma carta e envio esta carta a um amigo, o meu amigo receberá aquela carta como minha, e não como da pessoa que a escreveu. Aqueles livros sagrados dos judeus eram uma carta de Deus aos homens, mas escrita por homens inspirados e movidos por Deus. Quando Jesus Cristo começou o seu ensino, Deus estava falando mais uma vez aos homens, mas desta vez de viva voz e não por escrito. Ao partir do mundo para o céu, Cristo deixou aos apóstolos a ordem de ensinar a todos os povos tudo aquilo que Ele viera dizer aos homens, e prometeu-lhes que o Espírito Santo havia de ensinar-lhes tudo o que Ele lhes tinha dito (Jo 14,16). Cristo, portanto, deixou as suas doutrinas, não escritas num livro, mas na memória dos apóstolos. O Espírito Santo ainda haveria de ensinar outras verdades até a morte do último apóstolo. Recebida a ordem de Cristo, os apóstolos se espalharam pelo mundo para pregarem o Evangelho. O Espírito Santo estava com eles, para não permitir que eles errassem. Passaram-se muitos anos sem que os apóstolos tivessem necessidade de escrever qualquer coisa. Jesus Cristo não mandou os apóstolos escreverem livros, mas ordenou que pregassem. E o próprio Cristo só pregou e não escreveu nenhum livro. Mas a Divina Providência achou conveniente deixar-nos por escrito muitas das verdades ensinadas por Cristo, deixando, contudo, outras, para serem transmitidas só por palavras, como atesta São João no final do seu Evangelho. É assim que o Espírito Santo inspirou a alguns apóstolos para que eles escrevessem, em nome de Deus, uma parte das verdades reveladas por Cristo. A coleção desses escritos tem o nome de “Novo Testamento”, enquanto a coleção dos livros sagrados escritos antes de Cristo recebeu o nome de “Antigo Testamento”. Todos esses livros juntos, isto é, o Novo Testamento e o Antigo Testamento, formam a Bíblia ou Sagrada Escritura. A Bíblia portanto é a coleção de todas as verdades reveladas que Deus nos quis deixar por escrito. É, como dissemos, um livro escrito por Deus para os homens, utilizando-se da pena de homens inspirados e movidos especialmente por Ele. As outras verdades que não foram escritas deveriam ser transmitidas de boca em boca e por isso foram designadas com o nome de Tradição oral: “A Tradição é a palavra de Deus não escrita, mas comunicada de viva voz por Jesus Cristo e pelos Apóstolos, e que chegou sem alteração, de século em século, por meio da Igreja, até nós” (São Pio X). Apenas dizemos que elas não estão nos livros inspirados por Deus, isto é, na Bíblia. Já desde os primeiros anos da Igreja apareceram por escrito essas verdades que a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, sempre vem ensinando. Mas só a Igreja pode decidir qual é a verdade ensinada por Cristo e que não está na Bíblia. Agora já podemos responder a pergunta feita anteriormente. Perguntamo-nos onde é que podemos encontrar as verdades que Deus ensinou aos homens? Tudo que Deus revelou aos homens, isto é, todo o depósito da fé, está ou na Bíblia ou na Tradição oral. Gravemos, portanto, profundamente na memória que nem tudo que Deus revelou aos homens está na Bíblia. Uma parte está na Bíblia e outra parte está na Tradição. Bíblia e Tradição são as duas fontes da revelação divina: “A Tradição deve ter-se na mesma consideração em que se tem a palavra de Deus contida na Sagrada Escritura” (São Pio X). Os protestantes negam esta verdade e dizem que tudo o que Deus revelou aos homens está na Bíblia e só na Bíblia. Mas como podem eles ter certeza que a Bíblia é a palavra de Deus? Em nenhuma parte da Bíblia se lê que a Bíblia é a palavra de Deus. Nós católicos dizemos que sabemos disto pela Tradiçao oral. Deus escreveu a Bíblia e além disto revelou que a Bíblia era um livro feito por Ele. Procuremos conhecer a palavra de Deus. Leiamos a Bíblia, principalmente o Novo Testamento. Procuremos para isto uma Bíblia com a aprovação da Igreja, pois é errado aos católicos lerem ou possuirem bíblias protestantes: “Sustentáculo poderoso para não se cometer pecado é a leitura das Escrituras... Grande precipício e profundo abismo é desconhecer as Escrituras” (Santo Epifânio). Procuremos também estudar a nossa religião, transmitida pela Igreja, a qual é a única depositária de todas as verdades divinas contidas quer na Bíblia, quer na Tradição.
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 11 de janeiro de 2012
Bibliografia
Sagrada Escritura Leituras da Doutrina Cristã São Pio X, Catecismo Maior Lúcio Navarro, Legítima interpretação da Bíblia Catecismo da Igreja Católica Santo Epifânio, Escritos
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