APAIXONAR-SE POR DEUS (Jo 21, 7)
“... e lançou-se ao mar”.
Simão Pedro quando ouviu que era o Senhor... lançou-se ao mar. E os outros discípulos vieram na barca. O primeiro a reconhecer o Senhor foi São João Evangelista. O primeiro a agir foi São Pedro. Lançou-se ao mar... o amor verdadeiro vence tudo... ultrapassa as barreiras e escala altíssimas montanhas. Ele não mediu as consequências... o verdadeiro amor não conhece obstáculos... mas nos obriga, nos força e nos sacode: “A caridade de Cristo nos constrange” (2 Cor 5, 14). Um coração apaixonado por Deus não mede esforços nem treme diante das barreiras que se levantam pelo caminho: “Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não temerá; ainda que uma guerra estoure contra mim, mesmo assim estarei confiante” (Sl 27, 3). Aquele que ama apaixonadamente a Deus deseja ardentemente estar sempre perto d’Ele; e para conseguir essa aproximação, enfrenta todos os obstáculos, dificuldades e barreiras: “Aqueles que verdadeiramente encontraram Cristo são incapazes de manter o silêncio acerca dele” (Bento XVI). Quem encontrou a verdadeira Face de Jesus Cristo não consegue se desviar dela... não sabe fixar outro rosto... não quer se distrair, porque já encontrou o verdadeiro bem... nada mais o atrai: “Contigo, nada mais me agrada na terra... Quanto a mim, estar junto de Deus é o meu bem!” (Sl 73, 25.28). São Pedro “lançou-se ao mar...” não para se aproximar de uma criatura... para juntar pedras preciosas... para seguir as máximas do mundo; mas sim, para se aproximar de Nosso Senhor, da verdadeira alegria e repouso seguro. Se Jesus Cristo, verdadeira riqueza, está à nossa frente... pra que perder tempo com as coisas que são caducas e passam velozmente deixando um amargo nas almas apegadas? São Beda diz que São Pedro “não foi andando sobre as águas, mas nadou com os próprios pés... enquanto os outros foram de barco”. Está claro que para se aproximar de Nosso Senhor é preciso querer... é preciso sacrifício, luta, garra, esforço... ousadia, coragem e santo atrevimento. Para se aproximar de Nosso Senhor é preciso “lançar-se ao mar”, isto é, ter confiança, fé, desejo da vida eterna... é preciso amar apaixonadamente a Jesus Cristo. São Pedro não ficou com um pé no barco e o outro na água... não duvidou... não titubeou... não cambaleou, mas “lançou-se ao mar” em direção a Cristo Jesus. Ele não ficou entre o quero e não quero... ninguém o obrigou... o seu amor por Cristo o “empurrou” do barco... no seu coração não reinava a tibieza, mas sim, o amor... amor que vence todas as barreiras: “O cristão não deve ser tíbio. O Apocalipse diz-nos que este é o maior perigo do cristão: não diz não, mas diz um sim tíbio. Precisamente esta tibiez desacredita o cristianismo. A fé deve tornar-se em nós chama do amor, chama que acende realmente o meu ser, se torna grande paixão do meu ser, e assim acende o próximo” (Bento XVI). Hoje, milhões de católicos ouvem dos lábios dos sacerdotes durante as homilias e sermões: “É o Senhor!” (Jo 21, 7). Ouvem... recebem o Senhor na Comunhão... e continuam acomodados dentro do “barco”, agarrados às “redes” dos afazeres... e não “nadam” para perto de Nosso Senhor. Quanta ingratidão! Que assombroso apego! Que egoísmo perigoso! Milhões de católicos sentem medo e insegurança de “lançar-se ao mar” das dificuldades, dos desapegos de amigos e familiares, das provações para encontrarem a Jesus Cristo... para encontrarem Aquele que é a verdadeira segurança e proteção; mas estão prontos para enfrentarem qualquer desafio para ganhar dólares nos Estados Unidos, Euro na Europa... para conseguirem um emprego rendoso e lucrativo na Ásia. Quanta vaidade! Grande ilusão! Terrível perda de tempo! O grande amor de São Pedro por Nosso Senhor Jesus Cristo o deixou impaciente. Esqueceu-se da pesca e até do perigo, procurando unicamente chegar, o mais cedo possível, a Jesus Cristo. O caminho de Deus é um só! É diferente, porém, o modo de caminhar. O amor verdadeiro faz correr, isto é, não receia nem cansaço nem obstáculo (cfr. Frei Pedro Sinzig, Breves meditações para todos os dias do ano). São Pedro gostava muito de pescar, mas deixou o barco, as redes e amigos para ir ao encontro da maior felicidade: Jesus Cristo. Façamos o mesmo! Não prendamos os nossos pés nas coisas caducas e embaraçosas dessa vida, porque somente em Deus encontramos a verdadeira liberdade, felicidade e alegria. Deus espera de cada um de nós esse ato de coragem... coragem de deixar tudo para trás e lançar-se em sua direção. Se possuirmos o Deus Infinito em nossa alma espiritual e imortal, o que nos interessa mais as coisas desse mundo? Aquele que possui o Tudo não tem necessidade do nada. Quem se apaixona por Cristo não se apega aos bens da terra, porque sabe muito bem que Ele é a verdadeira riqueza... riqueza que jamais será roubada ou corroída. É preciso comparar a indiferença de milhões de católicos com o amor ardente de São Pedro. É lamentável contemplar a frieza, tibieza, relaxamento e preguiça de milhões de católicos em relação a Deus; esses, com certeza, não se salvarão: “Não basta para nos salvarmos o sermos de qualquer maneira membros da Igreja Católica, mas é preciso que sejamos seus membros vivos” (São Pio X, Catecismo Maior, 165). Milhões de católicos não “lançam-se ao mar” em direção a Jesus Cristo; mas sim, lançam-se na lama do pecado à procura de prazeres... e vivem tristes, amargurados e revoltados: “Tudo o que não se faz para Deus, transforma-se em sofrimento” (Santo Afonso Maria de Ligório).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 30 de dezembro de 2012
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