QUE FELICIDADE DEUS CONCEDE, DESDE ESTE MUNDO, ÀS ALMAS MORTIFICADAS

(2 Cor 1, 3-4)

 

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação! Ele nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus”.

 

Em 2 Cor 1, 3 diz: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação!”

O texto grego admite duas interpretações: a) Deus (Pai) que é o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo; b) Deus (Pai) que é o Deus e o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A segunda, que parece aqui mais provável, poderia à primeira vista parecer estranha: não nos oferece, no entanto, qualquer dificuldade, se se tiver em conta que o próprio Jesus chama no Evangelho ao Pai “Meu Deus”: “Subo para Meu Pai e vosso Pai, para o Meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Tendo em conta as duas naturezas – a humana e a divina – que há em Cristo, a expressão “o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo” faz referência a Jesus enquanto homem; a outra, “o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo”, faz referência à filiação de Jesus Cristo, tanto como Deus (filiação eterna do Verbo) quanto como homem (concepção virginal no tempo, nas entranhas puríssimas de Santa Maria, por obra do Espírito Santo, sem concurso de varão).

“Pai das misericórdias”: É um hebraísmo, muito frequente no Antigo Testamento, para designar que Deus tem entranhas de misericórdia.

A misericórdia é, diz Santo Agostinho, “certa compaixão da miséria alheia nascida no nosso coração, pela qual, se podemos, nos vemos impelidos a socorrê-la”. Daí, explica Santo Tomás de Aquino, que a misericórdia seja própria fundamentalmente de Deus: “Compadecer-se é próprio de Deus; e nisto se manifesta maximamente a sua onipotência”. Já que por ela pode remediar todas as misérias.

O Pe. Juan Leal comenta: “... o apóstolo expressa a sua gratidão a Deus por ter-lhe livrado de gravíssimos males”.

Em 2 Cor 1, 4 diz: “Ele nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus”.

Quando Deus vê no seu serviço almas generosas que não receiam fazer-Lhe sacrifícios, não se deixa vencer em generosidade para com elas: compraz-se em infundir-lhes consolações e delícias; há entre essas almas e Ele uma como que santa emulação de amor: “Por meio da misericórdia divina o Apóstolo é consolado nos seus sofrimentos, de maneira que pode por sua vez consolar os outros. Este Deus misericordioso é Aquele que nos foi revelado por Jesus Cristo” (Edições Theologica), e: “Revelada em Cristo, a verdade acerca de Deus como ‘Pai das misericórdias’ (2 Cor 1, 3), permite-nos ‘vê-Lo’ especialmente próximo do homem, sobretudo, quando sofre, quando está ameaçado no próprio núcleo da sua existência e dignidade” (Bem-aventurado João Paulo II).

Estas nobres almas, estes verdadeiros católicos alegram-se de achar ocasiões de padecer e violentar-se (exercer violência sobre si). Muito longe de deixar escapar as que se lhe oferecem, por mais opostas que sejam à sua índole, aproveitam-se como uma das maiores felicidades da vida.

Se essas almas são provadas pelo próximo, não se alteram, não se ressentem, e mostram sempre a mesma afabilidade e bondade. Nunca se queixam das dificuldades que acompanham a virtude, nem amaldiçoam os exercícios de piedade, sob pretexto de que são penosos. Sempre prontas a renunciar a toda a satisfação, ainda mesmo lícita que poderiam ter nesta vida, fogem dos prazeres do mundo e de toda a sensualidade.

Como sabem que o corpo é um escravo que, bem alimentado, se revolta contra o seu Senhor, enfraquecem-no, reduzem-no à servidão; nunca se entregam ao prazer que se sente no uso das criaturas, e procuram conformar-se em todas as coisas com Jesus Cristo crucificado.

O grande São Paulo exclama: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação! Ele nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus” (2 Cor 1, 3-4).

Os santos não fugiam das renúncias nem das provações.

Quando São Francisco Xavier encontrava dificuldades pelo caminho, aceitava-as e pedia que se multiplicassem. No mesmo instante Deus concedia-lhe em recompensa uma abundância de alegria e felicidade, que o forçava a exclamar: Basta, Senhor, basta!

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 11 de janeiro de 2013

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

Edições Theologica

Santo Agostinho, De civitate Dei, IX, 5

Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 30, a.4

Bem-aventurado João Paulo II, Dives in misericordia, 2

Pe. Juan Leal, Texto e comentário da Sagrada Escritura

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “'Que felicidade Deus concede, desde este mundo, às almas mortificadas”

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