A PERFEITA CONFORMIDADE COM A VONTADE DE DEUS É O SEGREDO DA FELICIDADE ATÉ NESTE MUNDO (Jó 1, 21-22)
“O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor. Apesar de tudo isso, Jó não cometeu pecado nem protestou contra Deus”.
Longe de se desesperar diante da provação, Jó reconheceu o dedo da Providência em tudo, fazendo atos externos pela perda de entes queridos. Conforme as práticas, rasgou as vestes e raspou a cabeça, prostrando-se por terra em sinal de humilhação, de adoração e de aceitação dos desígnios de Deus a respeito de sua vida. A resignação de Jó é total e perfeita: nenhum protesto, mas sim, aceitação total da vontade divina: “Toda a santidade consiste em amar a Deus, e todo o amor a Deus consiste em fazer a sua vontade. Devemos, pois, acolher sem reserva todas as disposições da Providência a nosso respeito e, consequentemente, abraçar em paz tudo o que nos acontece de favorável ou desfavorável, nosso estado de vida, nossa saúde, tudo o que Deus quer. Todas as nossas orações devem ser dirigidas pedindo que Ele nos ajude a cumprir sua santa vontade” (Santo Afonso Maria de Ligório). Quando recebemos todas as coisas como enviadas pela Providência, e vivemos numa completa submissão a tudo o que quer esta adorável Providência, nunca ficamos contrariados. Como não temos outra vontade senão a de Deus, e vemos esta amabilíssima vontade em tudo o que acontece, temos sempre tudo o que queremos e desejamos. A exemplo do rei Davi, deixemo-nos tomar confiantemente pela mão de Deus e conduzir segundo a sua vontade, e desse modo toda a nossa vida decorrerá suave, alegre e santamente. Nenhum acontecimento nos inquieta nem perturba, porque sabemos que tudo vem de Deus e que a sua vontade, mil vezes amável, dirige a tudo. Este pensamento muda o sofrimento em alegria, a amargura em doçura... e o que desconsola os outros, consola-nos, quando nos conformamos com a vontade de Deus. Então provém uma tranquilidade e uma paz interior que nada pode alterar; uma serenidade incessante, um modo de agir e de falar que mostra quanta razão tinha o Apóstolo em afirmar que “aos que amam a Deus todas as coisas lhes contribuem para seu bem” (Rm 8, 28). Podemos ser provados por Deus como o foi Jó; mas como ele, digamos a Deus: Provais-me de um modo que me encanta; e nem a nossa paz interior será alterada, nem o nosso exterior deixará escapar uma palavra ou um gesto de ira ou impaciência. Diz Santo Agostinho: “Todo o homem deseja a felicidade; mas nem todos os homens a buscam onde se acha”. Não a buscam na vontade de Deus, e então se condenam a uma vida desgraçada e infeliz. Só encontram desenganos nas coisas, pessoas e lugares a que se afeiçoam, porque tudo muda na terra. Ainda que tudo não mudasse, mudamos nós mesmos; e o que nos agradava ontem, nos desagrada hoje. O povo de Israel gostava do maná no princípio; pouco depois se enjoou dele. Estava contente vendo-se livre da tirania do Faraó, pouco depois se desgostou da liberdade do deserto e quis voltar para o Egito. Ora, com estas mudanças de gosto, como é possível não ser miserável, desgraçado e infeliz? Santo Agostinho diz: “Quem busca a sua satisfação em si próprio viverá mergulhado na tristeza, e será feliz somente aquele que põe a sua alegria em Deus, porque Deus é imutável”. Compenetrado desta verdade, um santo religioso, testemunha dessas alegrias e dessas mudanças da vontade, a que os homens se entregam, segundo as mudanças das coisas a que se afeiçoam, exclamava: Quanto a mim, nada poderá tirar-me a alegria, porque nada poderá arrancar Jesus Cristo do meu coração, que é toda a minha felicidade; e Santo Agostinho dirigia a Deus estas belas palavras: “Fizestes-nos para vós, Senhor, e o nosso coração está irrequieto até que descanse em vós”. Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Em nossas ações e pensamentos, não tenhamos em vista a nossa satisfação, mas somente a vontade de Deus; por isso, não nos perturbemos quando não somos bem sucedidos em qualquer trabalho. E quando nos saímos bem, não procuremos os aplausos e os agradecimentos dos homens; se, pelo contrário, falam mal de nós, não façamos caso, pois trabalhamos para agradar a Deus e não aos homens”, e: “Há, com efeito, três graus de perfeição na maneira de cumprir a vontade de Deus. O primeiro é a ‘conformidade’: conformar a nossa vontade à vontade de Deus. O segundo – a ‘uniformidade’: fazer da vontade de Deus uma só coisa com a nossa. O terceiro – a ‘deiformidade’, ou seja, suprimir a nossa vontade para que reine em nós somente a vontade de Deus” (Bem-aventurado José Allamano), e também: “Querer o que Deus quer; querê-lo no modo, no tempo e nas circunstâncias que Ele quer; e querer tudo isto não por outros motivos, mas somente porque Deus quer assim” (São José Cafasso).
Pe. Divino Antônio Lopes FP. Anápolis, 15 de janeiro de 2013
Bibliografia
Sagrada Escritura M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano Santo Agostinho, Escritos Pe. Maximiliano Garcia Cordero, Bíblia comentada Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo Bem-aventurado José Allamano, A vida espiritual São José Cafasso, Meditações
|
Este texto não pode ser reproduzido sob
nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por
escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP. www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0406.htm |