DEVEMOS RECORRER A DEUS EM NOSSAS AFLIÇÕES

(Mt 9, 18)

 

“Enquanto Jesus lhes falava sobre essas coisas, veio um chefe e prostrou-se diante dele, dizendo: ‘Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe a mão e ela viverá”.

 

Esse trecho do Evangelho de São Mateus mostra-nos um chefe da sinagoga que, aflito com a morte de sua filha, se aproxima de Jesus Cristo e prostra aos seus pés e O adora como Senhor da vida e da morte: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe-lhe a mão e ela viverá”. É possível haver mais fé no poder do Salvador e mais confiança na sua bondade? Por isso a fé e a confiança desse chefe em Jesus Cristo não ficaram frustradas.

Quem confia na bondade de Deus jamais sofrerá decepção, porque Ele não despreza um coração confiante: “Eis o Deus, meu Salvador, eu confio e nada temo; o Senhor é minha força, meu louvor e salvação” (Is 12, 2), e: “Quando o medo me invadir, ó Deus Altíssimo, porei em vós a minha inteira confiança” (Sl 55, 4), e também: “Confio em Deus e louvarei sua promessa; é no Senhor que eu confio e nada temo: que poderia contra mim um ser mortal?” (Sl 55, 11-12).

Infeliz da pessoa que despreza a Deus para depositar a confiança em suas forças: “Sabeis donde provêm a desconfiança e o desânimo? Da demasiada confiança que colocamos em nós mesmos e em nossas forças” (Bem-aventurado José Allamano), e: “Grava bem este pensamento na tua mente: a natureza corrompida nos leva facilmente a conceber uma falsa estima de nós mesmos; assim, embora não sejamos nada, procuramos convencer-nos de que somos alguma coisa e, sem razão plausível, presumimos das nossas próprias forças. Este é um defeito muito difícil de conhecer e muito desagradável aos olhos de Deus. Nosso Senhor quer que tenhamos um conhecimento exato desta verdade: é somente dele – fonte de todo o bem – que deriva toda graça e virtude; de nós mesmos nada pode provir que lhe agrade, nem um bom pensamento sequer” (Scúpoli), e também: “Só os medíocres e imperfeitos é que se julgam alguma coisa” (Sertillanges), e ainda: “Se ficarmos apenas com a nossa desconfiança, fugiremos ou seremos vencidos pelos inimigos; por isso, enquanto desconfiamos de nós mesmos, devemos depositar total confiança em Deus, esperar somente dele todo o bem, auxílio e vitória” (Scúpoli).

O trecho do Evangelho (Mt 9, 25) diz que Jesus toma pela mão a menina e ela levanta-se. A cura é imediata e completa; todos são forçados a reconhecer quanto convém confiar no poder e bondade de Jesus Cristo, e quanto Ele sente os nossos males e se compadece de todas as nossas aflições: “Repouso tranquilo e firme segurança para os fracos, só nas chagas do Salvador! Ali permaneço seguro porque Ele é poderoso para salvar. O mundo agita, o corpo dificulta, o demônio arma ciladas; não caio, estou firme na rocha” (São Bernardo de Claraval), e: “Para ser cristão, há que ter esta fé em Jesus Cristo; nem é possível ser cristão, se não preferirmos as palavras, a vontade, os mandamentos de Cristo ao nosso próprio pensamento, aos nossos interesses pessoais” (Bem-aventurado Columba Marmion).

No mesmo dia, uma mulher que durante doze anos padecia de um fluxo de sangue, não ousando apresentar-se diante do Salvador, tão indigna se julgava de lhe falar, chegou-se por detrás d’Ele e lhe tocou a orla da veste dizendo consigo mesma: “Se eu tocar ainda que seja a orla do seu manto ficarei curada” (Mt 9, 21). Jesus Cristo que conhecia o que se passava no fundo dos corações, ouviu o que ela dizia interiormente; e vendo, por um lado, tanta humildade, e por outro, tão viva fé e tão completa confiança no mais fraco dos meios, no simples contato do seu manto, volta-se e diz-lhe: “Tem confiança, filha; a tua fé te salvou” (Mt 9, 22), e imediatamente ela ficou sã.

Admirável efeito da oração feita com humildade e confiança. A humildade sem a confiança é inútil, e a confiança sem a humildade é presunção. A humildade e a confiança juntas podem tudo do Coração de Jesus. Feliz aquele que com estas santas disposições assiste a Santa Missa, comunga, visita o Santíssimo Sacramento, onde, muito melhor que o manto do Salvador, possuímos o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Santo Afonso Maria de Ligório escreve: “Conservemos a confiança em Deus, porque assim poderemos esperar uma grande recompensa. Assim como for a nossa confiança, do mesmo modo serão as graças de Deus”.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 17 de janeiro de 2013

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Bem-aventurado José Allamano, A vida espiritual

Santo Afonso Maria de Ligório, A Oração

M. Hamon, Meditações para todos os dias do ano

Scúpoli, O combate espiritual

Sertillanges, Vida de São Tomás de Aquino

São Bernardo de Claraval, Escritos

Bem-aventurado Columba Marmion, Jesus Cristo: ideal do monge

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Devemos recorrer a Deus em nossas aflições”

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