COMPANHEIROS DE JESUS CRISTO

(Hb 3, 13-14)

 

“Exortai-vos, antes, uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’, para que ninguém de vós se endureça seduzido pelo pecado. Pois nos tornamos companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa confiança inicial”.

 

Não basta exortar, aconselhar, persuadir, animar e encorajar o próximo uma vez por ano ou por mês; mas sim, a cada dia: “... dia após dia”.

Essa exortação sincera e cheia de caridade anima e entusiasma o próximo a ser fiel a Deus... a buscar com perseverança e fervor os bens superiores.

É preciso acordar o próximo hoje, e não amanhã, “... para que ninguém de vós se endureça seduzido pelo pecado”. No pecado há um engano e decepção, porque, por um prazer passageiro e inferior, se renuncia a um bem permanente e superior.

O católico santo não pode calar a boca diante dos católicos mundanos e amigos dos vícios; porque o demônio, pai da mentira, trabalha continuamente para perdê-los.

É preciso exortá-los continuamente... a cada dia... para que com a frequência do aviso fraterno não fechem os olhos e não endureçam o coração com a mentira do pecado. Porque, na medida em que se abre o coração para o pecado, fecha-o para Deus.

Infeliz do católico que permanecer calado diante dos pecados do próximo: “Quando eu disser ao ímpio: ‘Ó ímpio, certamente hás de morrer’ e tu não o desviares do seu caminho ímpio, o ímpio morrerá por causa da sua iniquidade, mas o seu sangue o requererei de ti” (Ez 33, 8).

Na medida em que se viva a caridade, os fiéis poderão com mais facilidade perseverar na fé. A fraternidade, a ajuda mútua entre irmãos, será como uma muralha contra os enganos do Demônio que pretende induzir o homem ao pecado. O irmão ajudado pelo irmão é tão forte como uma cidade amuralhada.

Consciente da própria debilidade e da necessidade da ajuda mútua, o cristão esforça-se continuamente por viver essa fraternidade. Ele ama nos outros tudo o que têm de bom e luta para desterrar de si e dos outros tudo o que possa ser um defeito. A fraternidade leva, portanto, à correção fraterna, acompanhada sempre pela compreensão, o desejo de conviver com todos, o esforço de eliminar divisões e barreira. A fraternidade cristã é o fundamento da unidade.

São Josemaría Escrivá escreve: “Não é em vão que existe no fundo do homem uma forte aspiração à paz, à união com os seus semelhantes e ao respeito mútuo pelos direitos da pessoa, de modo que tal aspiração se transforme em fraternidade. Isto reflete uma nota característica do que há de mais valioso na condição humana: se todos somos filhos de Deus, a fraternidade nem se reduz a uma figura de retórica, nem consiste num ideal ilusório, pois surge como meta difícil, mas real”.

Não basta começar bem, mas é preciso perseverar até o fim no caminho da luz: “Pois nos tornamos companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos firme até o fim a nossa confiança inicial”.

Disse São Jerônimo que muitos começam bem, mas poucos são os que perseveram. Um Saul, um Judas e um Tertuliano começaram bem, mas acabaram mal, porque não perseveraram como deviam: “Nos cristãos não se procura o princípio, mas o fim” (São Jerônimo). O Senhor — prossegue o mesmo Santo — não exige somente o começo da boa vida, quer também seu bom termo; o fim é que alcançará a recompensa. É por isso que São Lourenço Justiniano chama a perseverança de porta do céu. Quem não der com essa porta, não poderá entrar na glória.

Não existe amizade com Jesus Cristo longe da perseverança.

O cristão vive desde o começo da sua vocação, uma existência que é participação da vida e da glória de Cristo, mas que não será perfeita até depois da morte, quando gozará da visão do Senhor.

Esta participação da graça de Cristo é um bem que levamos em “vasos de barro” (2 Cor 4, 7) e que podemos perdem em qualquer momento, pelo pecado. Por isso, devemos cuidar dessa graça para conservar intacta a nossa fé, com esforço e vigilância, ao longo de toda a vida: “Participamos da morte com Cristo Senhor mediante o santo Batismo e fomos sepultados com Ele, participamos da sua Ressurreição, com a condição de que conservemos firme a nossa fé” (Teodoreto de Ciro).

A vida cristã consiste em retornar continuamente a Deus, em voltar a começar, e em corrigir com humildade e energia o rumo perdido por debilidade ou indiferença: “Que importa tropeçar, se na dor da queda encontramos a energia que nos levanta de novo e nos impulsiona a prosseguir com renovado alento? Não esqueçais que santo não é o que não cai, mas o que se levanta sempre, com humildade e com santa persistência... não nos devemos espantar nem desalentar perante as misérias pessoais, perante os nossos tropeços, porque continuaremos em frente, se procurarmos a fortaleza n’Aquele que nos prometeu: Vinde a Mim todos os que andais cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei” (São Josemaría Escrivá).

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP.

Anápolis, 06 de setembro de 2013

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Edições Theologica

São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, 131 e 233

Teodoreto de Ciro, Interpretatio Ep. Ad Haebr, III

Pe. Miguel Nicolau, La Sagrada Escritura

Pe. Lorenzo Turrado, Biblia comentada

São Jerônimo, Escritos

São Lourenço Justiniano, Escritos

Santo Afonso Maria de Ligório, Preparação para a morte, Consideração XXXI, I

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Companheiros de Jesus Cristo”

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