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OS VOSSOS ADVERSÁRIOS SÃO DO MUNDO (1 Jo 4, 5-6)
“5 Os vossos adversários são do mundo; por isso, agem conforme o mundo, e o mundo lhes presta ouvidos. 6 Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus, escuta-nos; quem não é de Deus não nos escuta. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro”.
Em 1 Jo 4, 5 diz: “Os vossos adversários são do mundo; por isso, agem conforme o mundo, e o mundo lhes presta ouvidos”.
São João Evangelista diz que os falsos profetas são do mundo, porque agem conforme o mundo... pertencem ao mundo, porque participam do seu espírito e seguem suas inspirações. MUNDO. Está tomado aqui no sentido pejorativo: indica os homens rebeldes a Deus e a Jesus Cristo. Aos falsos doutores, a inspiração para propor suas falsas doutrinas lhes vem do mundo, não de Deus. Por isso mesmo obtém fáceis êxitos diante daqueles que pertencem ao mundo. Aos mundanos é prazeroso OUVIR a sabedoria do mundo. Então, ouvem os falsos doutores, porque acreditam ter encontrado neles essa sabedoria mundana. A propaganda destes hereges devia conquistar prosélitos entre os cristãos pouco seguros na fé. Talvez formasse já um grupo separado, uma espécie de seita separada da verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Santo Agostinho comenta: “Eles são do mundo’ (1 Jo 4, 5). Quem? Os anticristos. Já ouvistes quem são eles. Se bem que não sejais anticristos, vós o conheceis, mas aquele que é anticristo não se conhece. ‘Eles são do mundo; por isso falam segundo o mundo e o mundo os ouve’ (1 Jo 4, 5). Quem são esses que falam a linguagem do mundo? Aqueles que falam contra a caridade. Ouvistes o Senhor vos dizer: ‘Se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso pai celeste vos perdoará, mas se não perdoardes aos homens o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos’ (Mt 6, 14-15). É palavra da Verdade. Só quem não for da Verdade, ousa contradizer. Se és cristão e crês em Cristo, é ele mesmo que diz: ‘Eu sou a Verdade’ (Jo 14, 6). Palavra essa que é verdadeira , é segura. Escuta agora os homens que falam a linguagem do mundo: - E tu não hás de te vingar? Aquele homem irá se vangloriar da injúria que te fez? Vamos! Que ele sinta que tem de se medir com homem de verdade! – Eis aí o que dizem cada dia. Falam a linguagem do mundo aqueles que assim se exprimem. E o mundo os escuta. Só falam assim os que amam o mundo. Só escutam essas coisas os que amam o mundo. Ora, quem ama o mundo e não se preocupa com a caridade, nega Cristo ter vindo na carne”.
Em 1 Jo 4, 6 diz: “Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus, escuta-nos; quem não é de Deus não nos escuta. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro”.
“Quem conhece a Deus, escuta-nos”. Como num lugar da Carta há uma mudança da segunda pessoa – vós – para a primeira – nós – (cfr 1 Jo 2, 19). Poder-se-ia pensar que o Apóstolo só pretende incluir-se no conjunto da comunidade cristã, como se dissesse: “Aquele que conhece a Deus escuta os cristãos”. Mas o sentido óbvio é referir a “nós” àqueles que têm autoridade na Igreja, em perfeita sintonia com o dito por Jesus Cristo: “Quem vos ouve, ouve-me a mim” (Lc 10, 16). A obediência ao Magistério vivo da Igreja é, portanto, o critério para distinguir o espírito da verdade e o espírito do erro. Não pode ser de outra maneira, já que é o mesmo Espírito Santo o que leva o Magistério da Igreja a ensinar e os fiéis a receber os seus ensinamentos: “A estas definições (do supremo Magistério) nunca pode faltar o assentimento da Igreja em virtude da ação do mesmo Espírito Santo, pela qual a grei toda de Cristo se mantém e progride na unidade da fé” (Lumen gentium, 25). São João, identificando-se com a hierarquia da Igreja e com os pregadores do Evangelho, fala na primeira pessoa do plural, contrapondo-se aos falsos profetas. A oposição é estabelecida entre os verdadeiros e falsos profetas (cf. 1 Cor 14, 37). Os chefes da Igreja, entre os quais se conta São João, SÃO DE DEUS, isto é, falam segundo Deus, segundo a verdade. E os fiéis que CONHECEM A DEUS ESCUTAM a palavra de seus apóstolos, reconhecem a verdade de seu ensinamento. O critério que permite discernir os bons espíritos é a submissão ao magistério hierárquico. Jesus Cristo já havia dito: “Quem vos ouve, a mim ouve, e o que vos despreza, a mim despreza” (Lc 10, 16; Jo 8, 47). A atitude ante a doutrina ensinada pelos apóstolos é um critério que permite discernir os espíritos. Santo Inácio de Antioquia dizia no início do século II que a maneira de livrar-se das heresias é manter-se “inseparavelmente unidos a Deus, a Jesus Cristo, ao bispo e aos ensinamentos dos apóstolos”. A fé, transmitida unanimemente nas igrejas e ensinada pelos bispos em comunhão com o Papa, é a norma suprema dos fiéis, o critério último da doutrina ortodoxa. Os que a escutam e obedecem são de Deus; os que não a ouvem não são de Deus, mas pertencem ao bando de Satanás. Santo Agostinho comenta: “Nós somos de Deus’ (1 Jo 4, 6). Vejamos porque o somos. Vejamos se por alguma outra razão que não a caridade. ‘Nós somos de Deus. Quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. Nisto reconhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro’ (1 Jo 4, 6). Com efeito, que nos ouve, possui o espírito da verdade, quem recusa nos ouvir, possui o espírito do erro. Verifiquemos quem nos instrui e escutemos de preferência aquele que nos instrui no espírito da verdade. Não escutemos os anticristos, nem os amantes do mundo, nem o mundo, se nós nascemos de Deus”.
FUJAMOS DO MUNDO! ELE É FALSO E ENGANADOR
O mundo se faz de sábio e canta hinos ao progresso; mas ele, mais do que nunca, parece regressar para a ignorância completa das verdades religiosas. Anda cego, com o pó que tem levantado o progresso e com a fumaça de tanta soberba! Por toda a parte surgem os inventos do gênio e se revelam novas descobertas nos campos da ciência e da arte; - só o mundo, no sentido em que tomamos, caminha para a decadência, para esta decadência tão funesta do espírito que leva à negação da moralidade e ao desconhecimento de Deus! A divisa do mundo é – aproveitar! Na sua bandeira lê - se: - Liberdade! Mas nas dobras soletra-se: - guerra à religião, a Deus e ao altar! A sua historia é conhecida! Desde a morte do inocente Abel até hoje o mundo foi sempre o mesmo: - um foco de ódios, de vinganças e de ciúmes! O dilúvio não o corrigiu! O fogo sobre Sodoma e Gomorra não extinguiu a raça dos mundanos! Quando no Calvário se ergueu uma cruz e nela expirou o Redentor do gênero humano, o mundo deu uma volta; mas esta volta foi só para extremarem melhor os campos: o de Cristo e o do mundo! Os que lutam no campo do mundo cada vez se afastam mais de Cristo; e o seu ódio à Igreja, à virtude e aos bons, cresce de dia para dia. Os que lutam no campo de Cristo vão se afastando das enganosas máximas do mundo pela observância dos mandamentos e exercícios das virtudes. Este é o mundo em si! E o que é ele para o Cristão? O que foi para Jesus e para os Santos. Para Jesus, o mundo foi um inimigo. Por isso disse dele: Eu venci o mundo (Jo 16,33). Venceu-o na vida santa, trabalhosa, mortificada... em oposição à vida ociosa e regalada dos mundanos. Venceu-o na doutrina, pois o que Ele ensinou, em oposição ao mundo, permanece e ainda há de permanecer até a consumação dos séculos. Venceu-o no poder, pois nunca o mundo conseguirá destruir a sua obra. A Igreja só acabará quando deixar de existir homens na terra. Também tu, ó católico, hás de poder dizer com Jesus: Eu venci o mundo. Venci-o, porque repeli de mim todas as seduções que tentava desviar-me da virtude. Venci-o, porque calquei aos pés a suas vaidades, porque não lhe dei os pulsos às algemas, com que tentava prender-me à sua escravidão. Venci-o, porque ao ouvir os seus conselhos não os segui; ao ouvir a sua doutrina não me regulei por ela; ao ver os seus exemplos não me conformei com eles. Conheci a falsidade de suas promessas e não me vendi ao seu serviço. E o que foi o mundo para os Santos? O que foi para São Paulo, que dizia: “Longe de mim gloriar- me, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem estou crucificado ao mundo e o mundo a mim” (Gl 6, 14). Estar crucificado para o mundo é estar privado dos prazeres dele. Todo verdadeiro cristão deve estar crucificado para o mundo, abstendo-se de todos os seus prazeres ilícitos. O que foi o mundo para o Apostolo São Tiago? Ouve como proíbe aos cristãos serem amigos dele: Não sabeis, adúlteros, que a amizade deste mundo é inimiga de Deus? Quem quiser ser amigo deste século, torna-se inimigo de Deus (Tg 4, 4). E por que é má esta amizade? Porque amar o mundo é odiar a Deus. Disse São João claramente: Não queirais amar o mundo, nem as coisas que nele há. Se alguém ama o mundo, não tem em si a caridade de Deus, porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida (1 Jo 2, 15). Qual é a sorte do mundo? O mundo passará diz São João, e sua concupiscência (1 Jo 2, 17). A sentença da condenação do mundo já está lavrada, pois diz São Paulo: Enquanto somos julgados, somos castigados pelo Senhor, para não sermos condenados com este mundo (1 Cor 11, 32). O mundo está condenado ao eterno choro, ao passo que os que, pelo desprezo do mundo, seguirem a Cristo, depois das lágrimas do exílio, verão a sua tristeza convertida em alegria!
Oração
Meu Jesus despregado, amor e alegria da minha vida. Com vosso exemplo, tornaste possível aos que vos amam, amar também os desprezos. De hoje em diante eu vos prometo sofrer, por vosso amor, todas as ofensas, já que por meu amor fostes tão injuriado pelos homens, neste mundo. Dai-me forças para realizá-lo, fazei-me conhecer e praticar tudo o que desejais de mim. Meu Deus e meu tudo, não quero procurar outro bem fora de vós, bondade infinita. Vós que cuidais tanto do meu progresso, fazei que eu não tenha outro cuidado senão o de vos dar alegria. Fazei que meus pensamentos sejam empregados sempre em fugir de tudo o que vos ofenda, em procurar o modo de vos agradar em tudo. Afastai de mim toda a ocasião que me afaste do vosso amor. Privo-me de minha liberdade e a consagro toda à vossa divina vontade. Eu vos amo, bondade sem fim. Verbo encarnado, amo-vos mais do que a mim mesmo. Tende piedade de mim e curai todas as feridas de que sofre minha alma por causa das ofensas que vos fiz. Abandono-me inteiramente em vossos braços, meu bom Jesus: quero vos pertencer, quero sofrer por vosso amor, só a vós desejo. Maria, Virgem santa e minha Mãe, eu vos amo e em vós confio. Socorrei-me com a vossa poderosa intercessão!
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 04 de junho de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Edições Theologica Lumen gentium, 25 Pe. Alexandrino Monteiro, Raios de luz Santo Inácio de Antioquia, Ad Trall. 7, 1 Teodorico da Castel S. Pietro, La Chiesa nella lettera agli Ebrei – 1945 Santo Afonso Maria de Ligório, A prática do amor a Jesus Cristo, cap. 12 Santo Agostinho, Comentário da Primeira Epístola de São João Pe. José Salguero, Bíblia comentada Pe. Miguel Nicolau, A Sagrada Escritura
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