O ESPÍRITO SANTO E A ATIVIDADE

(Jo 14, 26)

 

“Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse”.

 

Dom Duarte Leopoldo escreve: “O Espírito Santo é a vida, a alma da Igreja. É Ele que ilumina os espíritos, fortalece os corações e inspira a prática da virtude”.

Jesus expôs com clareza a sua doutrina, mas os Apóstolos não podiam entendê-la plenamente; entendê-la-ão depois, quando receberem o Espírito Santo, o Espírito da Verdade que os guiará até a verdade completa (cfr Jo 16, 13). “Com efeito, o Espírito Santo ensinou e recordou: ensinou tudo aquilo que Cristo não tinha dito por superar as nossas forças, e recordou o que o Senhor tinha ensinando e que, quer pela obscuridade das coisas, quer pela rudeza do seu entendimento, eles não tinham podido conservar na memória” (Teofilacto).

O termo que traduzimos por “recordar” inclui também a ideia de “sugerir”: o Espírito Santo trará à memória dos Apóstolos o que já tinham escutado de Jesus, mas com uma luz tal que os capacitará para descobrir a profundidade e a riqueza do que tinham visto e escutado. Assim, “os Apóstolos transmitiram aos seus ouvintes, com aquela compreensão mais plena de que eles, instruídos pelos acontecimentos gloriosos de Cristo e iluminados pelo Espírito de verdade, gozavam as coisas que Ele tinha dito e feito” (Dei Verbum).

São João Paulo II escreve: “Cristo não deixou os seus seguidores sem guia na tarefa de compreender e viver o Evangelho. Antes de voltar ao Pai prometeu enviar o seu Espírito Santo à Igreja: ‘Mas o paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará tudo e vos recordará todas as coisas que vos disse’. Este mesmo Espírito guia os sucessores dos Apóstolos, os vossos Bispos unidos ao Bispo de Roma, a quem encarregou de manter a fé e ‘pregar o Evangelho a toda a criatura’ (Mc 16, 15). Escutai a sua voz, pois vos transmiti a palavra do Senhor”.

Nos Evangelhos ficaram escritas, sob o carisma da inspiração divina, as recordações e a compreensão que tinham os Apóstolos, depois de Pentecostes, daquelas coisas de que tinham sido testemunhas. Por isso tais escritos sagrados “narram fielmente o que Jesus, o Filho de Deus, vivendo entre os homens, fez e ensinou realmente até o dia da Ascensão” (Dei Verbum). Por isso, também a Igreja tem recomendado insistentemente a leitura da Sagrada Escritura e especialmente dos Evangelhos: “Oxalá fossem tais as tuas atitudes e as tuas palavras, que todos pudessem dizer quando te vissem ou ouvissem falar: ‘Este lê a vida de Jesus Cristo’” (São Josemaría Escrivá).

 

PRECISAMOS DEIXAR-NOS GUIAR PELO ESPÍRITO SANTO

 

A Igreja Católica afirma, na oração ao Espírito Santo, que Deus instrui seus fiéis iluminando seus corações com a luz do Espírito Santo (Missal Romano); e, segundo a palavra de Jesus, esta ação do divino Paráclito estende-se a tudo: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14, 26). Não só, portanto, a ORAÇÃO, mas também a ATIVIDADE do cristão deve ser ILUMINADA e DIRIGIDA pelo Espírito Santo.

É útil considerar em primeiro lugar aquela ATIVIDADE mais estritamente unida à vida espiritual, que consiste em buscar e praticar dia por dia os bons propósitos formulados na oração. Ótimo esforço, todavia, reduzido muitas vezes a um trabalho predominantemente “moral” e muito pouco “teologal”. Por outras palavras, o fiel procura corrigir os próprios defeitos e exercitar as virtudes com a intenção de agradar a Deus, mas na prática permanece quase desligado de Deus. Trabalha, então, sozinho o cristão, esquecendo que nele há quem poderia não só ajudá-lo, mas trabalhar muito melhor do que ele. Não deve certamente descuidar o trabalho espiritual, mas fazê-lo de modo mais interior, mais teologal, ou seja, mais dependente de Deus, da ação do Espírito Santo. Em vez de tomar como alvo diretamente um defeito ou uma virtude, alcançará maior proveito tomado como meta a contínua dependência do Mestre interior e passando ao ato depois de ter ouvido sua voz íntima e silenciosa. Enfim, trata-se de agir em todas as coisas, adaptando-se ao movimento interior da graça, à inspiração do Espírito Santo; trata-se de ceder e confiar o andamento da própria vida interior à direção do divino Paráclito.

Mesmo nas relações com o próximo, no desempenho dos deveres cotidianos, na atividade profissional e especialmente nas obras de apostolado, precisamos deixar-nos guiar pelo Espírito Santo. Deve Ele tomar a direção de toda a nossa conduta. Para tal fim é necessário manter-nos em contato com Ele, até em meio da ação; breves momentos de pausa ajudarão, de vez em quando, a intensificar este contato ou a restabelecê-lo, quando a excessiva atividade ou os impulsos das paixões o houvesse, de qualquer modo, interrompido: “Nada faço por mim mesmo, mas digo as coisas que o Pai me ensinou” (Jo 8, 28). Era esta a norma da conduta de Jesus Cristo e deve ser também a do cristão: agir em contínua dependência de Deus que, por meio do seu Espírito, inspira o que devemos fazer e ajuda na execução.

Neste campo, porém, é necessário saber distinguir as inspirações do Espírito Santo dos movimentos da natureza e das insinuações do espírito maligno. Sem este prudente discernimento poderíamos facilmente cair em ilusões ou enganos, julgando inspirações divinas o que não passa, ao contrário, de impulsos mais ou menos inconscientes da própria natureza. As verdadeiras inspirações do Espírito Santo nos mantêm, ou antes, nos levam a penetrar cada vez mais a linha da vontade de Deus, isto é, a linha das ordens dos superiores e dos deveres do próprio estado. Quando verificamos o contrário, tudo é de temer, pois o Espírito Santo só pode impelir ao cumprimento da vontade de Deus; nada, por conseguinte, pode inspirar contra a obediência e os próprios deveres. Nos casos duvidosos, cumpre recorrer ao conselho de pessoa iluminada e prudente, e então quem é de fato conduzido pelo Espírito Santo será dócil em se submeter à opinião alheia, mesmo se contrária à sua.

O Espírito Santo, disse Jesus Cristo, “permanece entre vós e estará em vós” (Jo 14, 17). Que loucura, pois, seria agir independentemente d’Ele! Ele, que distribui aos fiéis a variedade de seus dons, com magnificência proporcional à sua riqueza e às necessidades do ofício e dos deveres de cada um!

 

Oração

 

Ó Espírito divino que soprais onde quereis porque sois sumamente bom; mostrai comigo vossa bondade... inspirando-me frequentemente o que devo pensar, falar e fazer, a fim de que, movido por vós, a vós me assemelhe em todas as coisas.

Já que sois Senhor absoluto das minhas potências, batei à sua porta e, ao mesmo tempo abri, chamando com tanta eficácia, que eu vos responda logo sem vos deixar esperar. Assim podereis fazer em mim e de mim o que vos aprouver... Falai dentro de mim, que vosso servo escuta... Dizeis que desejais ouvir minha voz: “Ressoe tua voz aos meus ouvidos”, mas eu é que desejo ardentemente ouvir a vossa: “Fazei-me ouvir vossa voz”, e suspiro por sentir seus efeitos: só assim poderei, por minha vez, responder-vos e praticar obras semelhantes às vossas.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 06 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Pe. Luiz da Ponte, Meditações V, 26, 2-3

Edições Theologica

Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos

Teofilacto, Enarratio in Evangelium Ioannis, ad loc.

Dei Verbum

São João Paulo II, Homilia Santuário de Knock

São Josemaría Escrivá, Caminho, 2

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “O Espírito Santo e a atividade”

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