VOS ENSINARÁ... VOS RECORDARÁ (Jo 14, 26)
“... vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse”.
O “ensinamento temporal e visível de Jesus Cristo vai ser substituído pelo definitivo e invisível do Paráclito, o Espírito Santo” (Pe. Juan Leal). UNIDADE PERFEITA entre os dois ensinamentos. A obra do Paráclito se expressa com DOIS VERBOS: ensinará e recordará. As duas expressões alternam como sinônimos no Salmo 24, 5.9. Não existe oposição entre os ensinamentos de Jesus Cristo e do Espírito Santo. Trata-se do mesmo grupo de verdades. O Espírito Santo centraliza seu ensinamento em torno da pregação de Jesus Cristo que RECORDARÁ e FARÁ COMPREENDER melhor (cf. Jo 2, 17; 12, 16). As novas verdades de que fala Jo 16, 12 não se devem entender tanto no número quanto na explicação e melhor conhecimento. O mesmo nome do Espírito Santo indica também a natureza interior de seu ensinamento, que não será por palavras exteriores, mas inspirações internas. RECORDARÁ: este verbo o aplica Lc 22, 61 à recordação que tem São Pedro das palavras de Jesus Cristo. A obra do Espírito Santo centraliza em torno da pregação anterior de Jesus Cristo. Assim se explica também a última frase que se refere à pregação passada, histórica: “... tudo o que eu vos disse”. Literalmente, pois, trata do ensinamento de Jesus Cristo aos discípulos. Isto é o que dá o contexto imediato e geral, quando se expõe a obra do Espírito. A primeira frase: “ensinará tudo”, não se restringe ao que Cristo tem pregado, enquanto que a segunda frase: “... vos recordará tudo o que eu vos disse”, se restringe tanto pelo verbo – recordar – quanto pela proposição relativa: o que eu tenho dito. A tese de que a revelação não se fechou até a morte do último apóstolo tem aqui um bom apoio, já que os apóstolos foram testemunhas da pregação de Jesus Cristo e a eles se dirigem estas palavras. Não consta, contudo, que se excluíam os demais discípulos, testemunhas também da pregação de Jesus Cristo. A ação do Espírito Santo iluminando a mensagem de Cristo se exerce depois sobre muitos que não são apóstolos, como se vê no caso de Santo Estevão e São Barnabé. A ação do Espírito Santo é sobre toda a Igreja, que desde o princípio se organiza hierárquica, como se vê também no discurso de São Pedro para eleger o sucessor de Judas Iscariotes. A condição que põe é que tenha estado com Jesus desde o batismo até o dia da Ascensão (At 1, 21-22). “... em meu nome”, por analogia com Jo 5, 43; 10, 25, “como o Filho veio da parte do Pai e para falar em seu lugar, assim o Espírito Santo viera representando o Filho e para falar e ensinar em seu lugar”(Lagrange). O fim da missão do Filho foi revelar o Pai, dar a conhecer seu nome (Jo 17, 6); assim, o fim da missão do Espírito Santo é revelar o Filho, dar a conhecer o seu nome. O “nome de Cristo é todo Ele, seu ser e sua obra” (Wescott). Essa é a esfera do ensinamento ativo do Espírito Santo.
ESPÍRITO SANTO: HÓSPEDE DA ALMA
Quando o Apóstolo São Paulo chegou a Atenas, viu um altar no qual estava escrito: “Ao Deus desconhecido”. Disse São Paulo aos sábios de Atenas: “Eu venho vos anunciar o Deus que vós adorais sem conhecer”.Nós conhecemos o verdadeiro Deus e a verdadeira Religião, porém há uma verdade fundamental no cristianismo, uma verdade básica, que poucos, também entre os cristãos cultos, conhecem. Verdade das mais difíceis, mas também uma das mais consoladoras. Por isso prestemos muita atenção. Sabemos que o Espírito Santo é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade e alma da Igreja. Agora vamos considerar o Espírito Santo vivo na alma dos fiéis, nas nossas almas. Podemos afirmar que o Espírito Santo é como a alma da nossa alma, porque dá para nossa alma uma vida nova, vida divina. Satanás prometeu a Adão e Eva que se tornariam Deus. Mas era uma armadilha. O que o Demônio prometeu e não cumpriu, Jesus Cristo prometeu e cumpriu. Diz São João que Jesus deu aos homens o poder de tornar-se filhos de Deus. Dar-nos a vida divina, tornar-nos filhos de Deus é a obra principal do Espírito Santo em nós: mas o que é tudo isso? Expliquemos com alguns exemplos. Deus criou muitas coisas neste mundo. Porém, nem todas as coisas são igualmente perfeitas: as criaturas de Deus estão como numa escada, umas mais abaixo, outras mais acima, e sobre todas está o Criador. Eis a escada: pedras no primeiro lugar, árvores no segundo, animais no terceiro, homens no quarto, anjos no quinto e Deus infinitamente acima de tudo. Olhai: as pedras só existem, não tem nenhuma vida. As árvores, além de existir, vivem, brotem, crescem, nutrem-se, produzem outras árvores: o que as pedras não podem fazer. Os animais tem uma vida mais perfeita que as árvores: eles podem sentir gozo, sentir dor, ouvir, ver: o que as árvorem não podem fazer. O homem tem uma vida mais perfeita que a dos animais: ele pensa, quer, fala: o que nenhum animal pode fazer. Deus é vida perfeitíssima, acima de todos. Então, pode uma pedra tornar-se uma árvore, uma bananeira tornar-se um animal? Também não, se Deus não fizer o milagre. Pode um animal, um cachorro, tornar-se um homem? Outra vez não, a não ser que Deus intervenha com milagre. Agora pode um homem tornar-se filho de Deus? Evidentemente não, mas Deus pode fazer esta maravilha. E Deus fez esta maravilha, que o homem possa tornar-se filho de Deus, embora filho adotivo, porém verdadeiro filho de Deus. São Paulo, repetindo o que disse São João, afirma que somos verdadeiros filho de Deus. Reparem bem que Deus não nos faz seus filhos só recebendo-nos na sua casa e tratando-nos como se fôssemos filhos (como costumam fazer os homens que adotam filhos de outras pessoas), mas deposita na nossa alma uma força misteriosa que é a sua própria vida que se chama graça santificante. Isto é, Deus que é todo poderoso quando nos faz seus filhos, dá-nos um pouco de sua vida transformando assim um homem num verdadeiro filho de Deus. Quando recebemos a graça santificante, na nossa alma acontece qualquer coisa de semelhante ao que acontece na lâmpada elétrica quando ligamos a corrente: aquele pedacinho de fio opaco, insignificante, quase invisível, torna-se um foco brilhante de luz esplêndida e incandescente, semelhante ao sol. Neste mundo, a nossa alma pela graça torna-se semelhante a Deus. Só pela fé sabemos deste efeito maravilhoso que se produz na nossa alma, no céu poderemos ver esta maravilha. A primeira vez que o Espírito Santo acendeu essa luz na nossa alma foi no dia do nosso batismo: quando o sacerdote derramou a água na nossa cabeça, consagrando-nos à Santíssima Trindade, o Espírito Santo apagou na nossa alma o pecado original, deu-nos a graça santificante e além disso escolheu a nossa alma como sua morada. Nós, porém, podemos cortar a corrente com a lâmpada, que se tornará sem brilho e sem esplendor. Também podemos apagar a luz que o Espírito Santo acendeu na nossa alma. Isto acontece quando cometemos um pecado mortal. É, por isso, que o sacerdote entrega para a pessoa que foi batizada uma vela acesa, que simboliza a fé e a graça que o batizado deve conservar para conquistar a vida eterna. É uma coisa terrível ter que expulsar alguém de nossa casa. Somos obrigados a fazer isso quando se trata duma pessoa indigna que nos ofendeu gravemente. Ora, é essa coisa terrível que faz o pecador... mas muito mais grave ainda porque expulsa a Deus, seu Senhor e Benfeitor, que lhe conserva a vida, a saúde, as forças... só para agradar uma criatura que lhe vai enganar. E quem morrer neste estado de pecado, porque não quis ser filho de Deus, não irá para o céu e sim para o inferno, onde Satanás recolhe os seus servidores. Repararemos no seguinte: A alma quando não tem a graça de Deus não pode ganhar nenhum mérito para o céu. São Domingos Sávio, desde menino, dizia: “Prefiro morrer a cometer um só pecado mortal”, propósito que todos devemos fazer para sermos bons cristãos. O Espírito Santo não só nos deu a graça santificante no dia do batismo (isto é, fez-nos filhos de Deus), mas também ajuda a aumentá-la, a não perdê-la e a recuperá-la se por desgraça a tivermos perdido. Aumentamos a graça quando recebemos os sacramentos: a Crisma, o Matrimônio e da Unção dos Enfermos; e, especialmente quando recebemos os sacramentos da Confissão e da Comunhão. Estes dois últimos podemos receber muitas vezes durante a vida: quanto mais comungamos, maiores graças ganhamos e por conseguinte mais lindo será o nosso céu. O Espírito Santo ajuda-nos também e não perder a graça santificante... e isto faz por meio de auxílios especiais que chamamos graças atuais. O Espírito Santo ajuda também a recuperar a graça perdida. Quando caímos num poço fundo e quebramos pernas e braços, não podemos sair sozinhos... também quando caímos no pecado mortal nunca poderíamos recuperar a graça se o Espírito Santo não pusesse na nossa alma o remorso e não nos chamasse com repreensões e impulsos para despertar no nosso coração a contrição dos pecados e a vontade de nos arrepender e nos confessar. Saibamos ouvir a voz de Deus que nos chama para o perdão e para o seu amor.
Oração
Ó Espírito Santo, ponho-me diante de vós como pequeno fruto azedo que precisa amadurecer ao sol, como palhinha a ser queimada no fogo, como cera informe pronta a receber a impressão, como gota de orvalho a ser absorvida pelo sol, como criança ignorante que precisa ser instruída... Ó Espírito Santo, vós vos derramais na alma pequena, pobre e humilde. Nesta atitude quero apresentar-me a vós e com estas disposições vos invoco: Vinde, Espírito Santo, santificai-me! Tenho tanto desejo da santidade! Santificai-me e fazei-me santo (a), grande santo (a), logo santo (a), sem que eu o saiba.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 07 de junho de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Lagrange, Escritos Wescott, Escritos Irmã Carmela do Espírito Santo, Escritos Leituras da Doutrina Cristã Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura (texto e comentário)
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