ESPÍRITO DE SANTIDADE

(Rm 1, 4)

 

“... estabelecido Filho de Deus com poder por sua ressurreição dos mortos, segundo o Espírito de santidade, Jesus Cristo nosso Senhor”.

 

O Pe. Juan Leal escreve: “Em oposição a esta condição humana foi estabelecido Filho de Deus, isto é, constituído em sua missão messiânica com o poder que corresponde a este papel em virtude da ressurreição dentre os mortos, que o colocou no estado de espírito vivificante, capaz de dar a vida ao mundo. Este Filho de Deus feito homem e glorificado é chamado por São Paulo, Jesus Cristo nosso Senhor, fórmula plena que assinala ao Filho de Deus encarnado, glorificado, cheio do poder divino, ao qual os fiéis adoram”.

Durante a vida de Jesus Cristo na terra antes da Ressurreição, a sua Humanidade, mesmo estando unida ao verbo, não estava plenamente glorificada, nem quanto à sua alma, nem, sobretudo, quanto ao seu corpo. Além disso, embora seja certo que durante este período da sua vida Ele manifestou suficientemente a sua divindade com milagres (cfr Jo 2, 11) e com palavras confirmadas por esses mesmos milagres (cfr Jo 10, 37 ss.), também é claro que era, sobretudo, a sua natureza humana que ficava continuamente mais patente. A partir da Ressurreição, a sua Humanidade – na sua alma e no seu corpo – foi plenamente glorificada e,  como consequência, tornou-se ainda mais manifesta a sua natureza divina. Tanto a mudança real que mediante a Ressurreição aconteceu na Humanidade de Cristo, como a maior manifestação da sua divindade que facilitava o ser reconhecido como Deus, vêm resumidos – em frase densa – nesta expressão paulina: “Constituído Filho de Deus em todo o seu poder, segundo o espírito de santidade, pela sua Ressurreição dos mortos”.

As palavras “segundo o espírito de santidade” podem referir-se tanto à natureza divina de Cristo (tal como as palavras “quanto à carne” se referiam à natureza humana), como à ação do Espírito Santo, cuja eficácia se manifesta mais a partir da Ressurreição e, de maneira eminente, a partir de Pentecostes.

 

SE VIVEMOS PELO ESPÍRITO, CAMINHEMOS SEGUNDO O ESPÍRITO

 

O Espírito Santo é “o Espírito de santificação” (Rm 1, 4), enviado por Jesus Cristo para santificar toda a sua Igreja e cada um dos fiéis. O Vaticano II insiste neste conceito ao dizer que a santidade da Igreja “manifesta-se nos frutos da graça que o Espírito produz nos fiéis”; exprime também o Concílio o desejo de que vivam os fiéis “como convém aos santos”, revistam-se das virtudes e “produzam os frutos do Espírito Santo pela santificação”. Fala São Paulo aos Gálatas, exatamente destes preciosos frutos em oposição às “obras da carne”. “O fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22). Os nomes são idênticos aos das virtudes, mas trata-se de virtudes tão aperfeiçoadas pela intervenção do Espírito Santo, que passam a constituir, desde então, o fruto maduro da santidade. Significativo é chamar o Apóstolo “obras da carne” aos vícios; são estes o produto exclusivo do homem, o resultado de sua atividade dominada pelas paixões. Chama, ao contrário, “fruto do Espírito”, as obras da santidade que não pode o homem cumprir sem o socorro do Espírito Santo. Mais ou menos como a planta que, possuindo embora fecundidade intrínseca, não pode dar frutos e levá-los à maturação sem a chuva e o sol que só Deus pode enviar. Embora pelo batismo seja o cristão apto a dar frutos de santidade, não os pode levar à plena maturação sem especial influxo do Espírito Santo. É necessário que o divino Paráclito irrigue abundantemente com sua graça, aqueça com seu amor e fecunde com seu vigor as virtudes do homem.

É o fruto da santidade justamente o prêmio dado pelo Espírito Santo a quem se empenha com todas as forças no exercício generoso da virtude e, ao mesmo tempo, cônscio da própria insuficiência, invoca com toda a confiança seu socorro.

“Se vivemos pelo Espírito, caminhemos segundo o Espírito” (Gl 5, 25). Mediante o batismo, o cristão recebe vida do Espírito Santo, é por Ele regenerado, vivificado; está, portanto, em seu poder “caminhar”, isto é, viver segundo o Espírito, conformando-se com seus modos, com seus desígnios.

Tendo começado a viver no Espírito, não pode favorecer a carne. “Caminhai segundo o Espírito – exorta São Paulo – e não satisfareis os desejos da carne: tem a carne desejos contrários ao Espírito e o Espírito desejos contrários à carne” (Gl 5, 16-17). Por carne deve-se entender não só o corpo, mas todo o homem – corpo e alma – que enquanto vive na terra está sempre sujeito às paixões que tentam arrastá-lo ao mal, afastando-o de Deus. Nem o cristão seriamente empenhado na vida espiritual está isento desta penosa luta: realidade humilhante, mas que não deve induzi-lo ao desânimo, ao abatimento. Quando sente renascerem em si desejos carnais e  terrenos, deve recordar que não está sozinho a conhecer: com ele está o Espírito Santo para sustentá-lO com sua força, com sua graça. Se decidiu seguir “os desejos do Espírito” não poderá sucumbir aos da carne, não tanto por virtude própria, como pela poderosa ajuda que dá o Espírito Santo a quem confia em sua guia. Ao mesmo tempo, a experiência da própria fragilidade e miséria torná-lo-á mais humilde e o impelirá a invocar com mais ardor o Espírito Santo, persuadido de que só dele pode vir a santificação.

Por isso ensina a Igreja a invocar continuamente o Espírito Santo: “Vinde, ó Espírito santificador, visitai as mentes de vossos fiéis... Sede luz para os sentidos, infundi amor nos corações, sustentai nossa fraqueza com vossa poderosa força” (Veni Creator). A mente humana necessita de sabedoria superior para entender as coisas de Deus e discernir o caminho que a Ele conduz; os sentidos muitas vezes obscurecidos pelas paixões necessitam de luz que os oriente para os bens verdadeiros e eternos; necessita o coração de amor sobrenatural para se entregar generosamente a Deus e ao próximo; a fraqueza conatural do homem necessita ser sustentada pela virtude divina. A todas estas necessidades, humildemente reconhecidas, responde o Espírito Santo infundindo luz, amor, vigor, graça, guiando e sustentando o cristão no caminho da santidade.

 

Oração

 

Ó Espírito Santo, vós nos manifestais o que devemos fazer para agradar à Trindade, interiormente com vossas inspirações e exteriormente com a pregação e os avisos, pois todos procedem de vós, já que ninguém pode pronunciar o doce e suave nome de Jesus, se não for movido por vós.

Sois o dispensador dos tesouros que estão no seio do Pai, e o tesoureiro dos conselhos que se realizam entre o Pai e o Verbo. Sois aquela vara que bate na pedra e faz sair água que sacia todas as criaturas. As cataratas do céu estão sempre abertas a jorrar para nós a graça, mas não conservamos aberta a boca do desejo para recebê-la.

Vinde, vinde, ó ameníssimo Espírito! Espírito de bondade! Contemplo-vos enquanto partis do seio do Pai, entrais no lado aberto do Verbo e depois, saindo do Coração do Verbo, vindes a nós aqui na terra. Do seio do Pai nos trazeis o poder; do coração do Verbo, o amor ardente.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 07 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Lumen gentium, 39-40

Santa Maria Madalena de Pazzi, Escritos

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Edições Theologica

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Espírito de santidade”

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