ESPÍRITO DA VERDADE (Jo 16, 13)
“Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras”.
Dom Duarte Leopoldo escreve: “O Espírito Santo é Espírito da verdade, porque é a luz de Deus que é a verdade. Ele ensina toda a verdade, porque só ensina o que ouviu de Deus”, e: “Ora, Ele ouviu tudo, e por isso ensina toda a verdade. Faz parte do Grande Conselho em que se diz tudo. O Pai diz tudo a seu Filho, que é seu pensamento eterno e igual ao pai, e do Pai e do Filho procede o Espírito de luz que nos diz toda a verdade” (Bossuet). O Espírito Santo é quem leva à plena compreensão da verdade revelada por Cristo. Com efeito, como ensina o Concílio Vaticano II, o Senhor “com o envio do Espírito da verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação”. “... ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo”. Santo Agostinho e São Beda comentam: não falar o Espírito Santo de si mesmo é não ser de si mesmo, mas do Pai e do Filho, de quem procede. E, por conseguinte, não falará senão do que o Pai e o Filho lhes transmitem em sua processão. “... não falará de si mesmo”, significa que não dirá o contrário do que Jesus Cristo disse por vontade do pai (afirmam isso: São Cirilo de Jerusalém, São João Crisóstomo, Teofilacto, Eutímio e Ruperto). Observa Ruperto, e talvez acertando, que o Espírito Santo parece contrapor neste lugar ao espírito dos falsos profetas que não vem de Deus e falam da sua cabeça o que Deus não quer. “... mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras”. Segundo Teodoro de Mopsuestia, São Cirilo de Jerusalém e Teofilacto, que Jesus Cristo confirmou com estas palavras o que havia declarado do Paráclito, a saber, que era Espírito da verdade, já que lhes revelaria o futuro com o qual recomendado lhes ficava o peso da autoridade que haviam de dar a seu testemunho. Por aqui consta que, entre os demais dons que o Espírito Santo infundiu aos apóstolos, também se conta o espírito de profecia (At 11, 28; 21, 11).
O ESPÍRITO SANTO NOS CONDUZIRÁ À VERDADE PLENA
Falando do Espírito Santo, chama-O Jesus Cristo quase sempre “Espírito da verdade”, e assim especifica sua missão: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras” (Jo 16, 13; 14, 26). Ao Espírito Santo é atribuído, de modo particular, o papel de iluminar os fiéis no sentido profundo do Evangelho, de toda a Revelação e dos mistérios divinos; verdades todas que transcendem a mente humana. Embora possuindo a fé, procede o homem sempre por meio de idéias, de conceitos que, por serem limitados, são insuficientes para exprimir as realidades divinas. A própria Revelação chega ao homem por meio de palavras humanas, incapazes, portanto, de manifestar a íntima essência de Deus e das verdades reveladas. Sustentado somente pela fé, o cristão tem de contentar-se com um conhecimento mormente externo e obscuro dos mistérios; sabe com certeza que foram revelados por Deus, aceita-os e adere a eles com todas as forças, mas não lhe capta o sentido profundo. Quando, ao contrário, intervém o influxo do Espírito de verdade, o fiel recebe uma inteligência penetrante: intui que em Deus e nos seus mistérios há algo imensamente mais profundo e sublime do que possa ele compreender; e tão viva é esta intuição que, embora não a podendo exprimir, dá-lhe um conhecimento totalmente novo dos mistérios divinos. Nada de novo é acrescentado aos dados da revelação, mas são estes iluminados por dentro e assim são percebidos de modo antes desconhecido. O Espírito Santo, mediante seus dons, quase parece rasgar o véu das proposições, dos conceitos humanos e permitir ao fiel lançar rápido, mas penetrante na substância dos mistérios. Os mistérios da Santíssima Trindade, da Encarnação, da Redenção, da Igreja... deixam de ser verdades abstratas e se tornam realidades vivas e vitais, atuais e familiares que invadem e orientam toda a vida do cristão. Somente o Espírito Santo, que é Deus, pode dar ao homem a inteligência dos mistérios divinos. Diz expressamente São Paulo: “O que olho não viu, nem ouvido ouviu... revelou-nos Deus mediante o Espírito; sonda o Espírito todas as coisas, até as profundezas de Deus... Os segredos de Deus ninguém jamais pode conhecer senão o Espírito de Deus. E nós recebemos não o espírito do mundo, mas o Espírito de Deus para conhecer os dons que Ele nos fez” (1 Cor 2, 9-12). Eis a maravilhosa ação do Espírito Santo nos fiéis que vivem unidos a Ele pelo amor! Ele se faz seu mestre, tornando-os participantes de seu conhecimento das “profundezas” e dos “segredos” de Deus. E isto a partir não do exterior, mas do íntimo dos corações, penetrando-os com sua voz divina para dar a entender a sublime grandeza dos “dons de Deus”. Quanto mais vive o cristão, por meio da caridade, em comunhão com o Espírito Santo que nele habita, tanto mais apto a receber suas preciosas comunicações. Então se cumprirá a palavra de Jesus: “Ele vos ensinará todas as coisas” (Jo 14, 26). O Espírito da verdade aclara com sua luz o estudo e a meditação das coisas divinas, faz penetrar o sentido das Sagradas Escrituras, dá a inteligência plena da lei de Deus. De tal modo Ele não só aperfeiçoa continuamente a fé por meio de seus dons, mas leva o cristão a contemplar e a saborear os mistérios divinos. Seu influxo torna a oração mais simples e profunda; já não necessita o orante de raciocinar ou ir em busca de motivos persuasivos mas, sob o toque iluminador do Espírito Santo, detém-se e fixa o olhar na verdade. Este simples olhar contemplativo lhe revela Deus mais do que qualquer estudo teológico; pressente abismar-se no divino, percebe um abismo sem fundo em que goza ao imergir; nada vê, nada distingue de preciso, mas sente Deus e tem certeza de estar em contato com Ele. Tudo isto alimenta o espírito, afina-o, impele-o a procurar e a amar a Deus e sua vontade acima de todas as coisas.
Oração
Onipotente Espírito Paráclito, clementíssimo consolador dos tristes, penetrai o íntimo do meu coração com a vossa poderosa virtude. Alegrai com o fulgor de vossa esplêndida luz, ó piedoso hóspede, todos os recantos escuros da minha alma e, visitando-a, fecundai com a abundância de vosso orvalho tudo o que uma longa aridez deixou lânguido e macilento… Saciai-me na torrente do vosso amor, para que jamais queira eu provar as vãs doçuras do mundo… Ensinai-me a cumprir a vossa vontade, porque sois o meu Deus… Feliz de quem merece hospedar-vos! Por vós, estabelecem nele sua morada o Pai e o Filho. Vinde, portanto, benigníssimo Consolador da alma aflita, auxílio nas tribulações! Vinde, vós que purificais do pecado e curais as feridas. Vinde, fortaleza dos fracos, sustento dos que caem; vinde, mestre dos humildes, vós que derrubais os soberbos. Vinde, doce pai dos órfãos, das viúvas piedoso defensor. Vinde, esperança dos pobres, saúde dos enfermos. Vinde, estrela dos navegantes, porto dos náufragos. Vinde, adorno singular de todos os vivos e única salvação dos moribundos.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 08 de junho de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Santo Anselmo, Escritos Dom Duarte Leopoldo, Concordância dos Santos Evangelhos Bossuet, Escritos Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina Edições Theologica Dei Verbum, 4 Santo Agostinho, Escritos São Beda, Escritos Ruperto, Escritos Pe. Luis Maria Jimenez Font, Comentários aos Quatro Evangelhos
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