ESPÍRITO DE FORTALEZA

(At 1, 8)

 

“Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e dareis testemunho de mim”.

 

A FORTALEZA “é um dom que nos incute energia e coragem para observar fielmente a santa Lei de Deus e da Igreja, vencendo todos os obstáculos, e os assaltos dos nossos inimigos” (São Pio X).

Anuncia-se agora o plano do livro dos Atos dos Apóstolos: narrar o desenvolvimento da Igreja, que começa em Jerusalém e vai estender-se através da Judéia e da Samaria, até aos últimos confins da terra. É o esquema geográfico que São Lucas seguirá na sua exposição. Se Jerusalém é no terceiro Evangelho ponto de chegada da vida pública de Jesus – que partiu da Galiléia -, aqui é ponto de partida.

A missão dos Apóstolos estende-se ao mundo inteiro. Para além da geografia, está latente nas palavras do versículo a esperança universalista do Antigo Testamento, anunciada por Isaías: “Sucederá em dias futuros que o monte da casa do Senhor será assentado no cume dos montes e se elevará por cima das colinas. Confluirão a Ele todas as nações, e acorrerão povos numerosos. E dirão: vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que Ele nos ensine os seus caminhos e nós sigamos as suas veredas. Pois de Sião sairá a Lei e de Jerusalém a palavra do Senhor” (Is 2, 2-3).

O efeito próprio da VINDA do ESPÍRITO SANTO se caracteriza pela FORÇA. O ESPÍRITO SANTO na Escritura é a manifestação dinâmica de Deus. Esta FORÇA divina era necessária aos apóstolos para a missão particular deles: a de serem testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo em todo o universo.

 

DEUS NÃO NOS DEU UM ESPÍRITO DE MEDO, MAS DE FORÇA

 

O Espírito Santo, ao mesmo tempo em que instrui o cristão sobre seus deveres de filho de Deus, dá-lhe também a força de cumpri-los. “Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós, e dareis testemunho de mim” (At 1,8), disse Jesus Cristo aos seus discípulos, momentos antes de subir ao céu. Não se trata de virtude da fortaleza outorgada ao batismo, junto com as demais virtudes infusas, mas de um dom particular do Espírito Santo que supera o modo humano de agir, ultrapassando as limitações e debilidades que persistem até no homem mais virtuoso.

Depois de Pentecostes, os apóstolos, revestidos deste dom, apareceram completamente transformados. Quando Jesus foi preso, haviam fugido; e depois de sua morte, encerraram-se em casa “com medo dos judeus” (Jo 20,19). Mas, após terem recebido o Espírito Santo, apresentaram-se ao povo e, sem nenhum temor, iniciaram a pregação. Nada os conteve: nem a força moral da autoridade pública que os queria obrigar a calar, nem a força dos sofrimentos físicos com que foram ameaçados e castigados. Tornaram-se testemunhas, mensageiros e mártires. A força do Espírito Santo agia neles.

A força do Espírito Santo não diminui: continua também hoje revestindo os que têm fé, transformando-os, de débeis homens e mulheres, em intrépidas testemunhas do Evangelho. “Deus não nos deu um Espírito de temor, mas de força”, que faz o cristão capaz de defender “o bom depósito” da fé “com o auxilio do Espírito Santo que habita em nós” (2 Tm 1, 7.14). Neste mundo entenebrecido por um aluvião de erros e imoralidades, onde a fé e a lei de Deus são frequentemente menosprezados, o fiel tem grande necessidade de força para não se deixar atemorizar por escárnios, ameaças ou perseguições mais ou menos astuciosos. O Espírito Santo está nele – “ele permanecerá convosco para sempre” (Jo 14,16), disse o Senhor – e dá-lhe a força de obedecer mais a Deus que aos homens (At 4,19). Dá-lhe a força de não claudicar na lei de Deus, de ser um “arauto da fé”, que sem vacilação une “a vida de fé à profissão da mesma fé”.

São Paulo pede a Deus sejam os fiéis “corroborados pela ação do seu Espírito no homem interior” (Ef 3,16). O homem interior é o homem novo regenerado pelo batismo; deve crescer e desenvolver-se. E como o seu nascimento foi por virtude do Espírito Santo, assim também o é o seu crescimento. O homem interior deve ser “robustecido”, fortalecido e corroborado pelo Espírito para alcançar a idade perfeita, a “estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4,13). Toda a ação do Espírito Santo tem em vista plasmar o cristão perfeito, filho adotivo de Deus, conforme “a imagem de seu filho... primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29). É necessário, portanto, que o fiel se deixe prender e possuir pelo Espírito; deixe-se formar e reformar segundo seu beneplácito. Dar-lhe-á o mesmo Espírito a força de dizer sempre “sim” às suas inspirações, a força de seguir continuamente seus chamamentos.

Precisamos de coragem para ser fiéis a todo custo à lei de Deus e suportar valorosamente todas as tribulações da vida. Mais ainda, para secundar o trabalho interior do Paráclito, e não retroceder ante as provas com que purifica e robustece os que se entregam a ele. Mestre doce e suave, mas também exigente, já que não pode levar o cristão à plena conformidade com Cristo, sem ser pelo caminho da cruz e sem pedir-lhe tudo. Justamente neste campo, o homem espiritual experimenta sua fraqueza: intui o que Deus quer dele, às vezes o vê com clareza, porém não tem forças para realizá-lo, ao menos totalmente. É o grande tormento de quem tem boa vontade, mas ainda é imaturo. Há de pedir humildemente o socorro do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, não desistir das tentativas pessoais. Os esforços repetidos com constância são uma tácita, porém eficaz invocação do dom da fortaleza. No momento oportuno intervirá o Espírito Santo com seu poder para robustecer quem é débil e pusilânime.

 

Oração

 

Ó Espírito Santo, vinde ao meu coração! Pelo vosso poder atraí-o a vós, Deus verdadeiro! Concedei-me caridade com temor, guardai-me, Cristo, de todo mau pensamento, aquecei-me e inflamai-me no vosso dulcíssimo amor, de modo que toda pena me pareça leve. Meu santo Pai e meu doce Senhor, ajudai-me agora em todas as minha ações. Cristo Amor! Cristo Amor! Amor!

Ó Trindade eterna, vós que sois luz, fazeis a alma participar da vossa luz! Vós que sois fogo, partilhais com ela o fogo, e no vosso fogo, fundis vossa vontade com a sua e a sua com a vossa! Vós, sabedoria, lhe dais sabedoria para conhecer e discernir vossa verdade. Vós, que sois fortaleza, lhe dais fortaleza! E tão forte se faz que nem o demônio nem qualquer outra criatura podem tirar-lhe a fortaleza, se ela não o quiser. E não o quererá, enquanto estiver revestida da vossa vontade, porque só a sua vontade é que a enfraquece. Vós, Deus infinito, a fazei infinita, pela conformidade que fizeste com ela, por graça, nesta vida, enquanto é peregrina, e na vida eterna, pela vossa perpétua visão. Ali viverá tão perfeitamente conformada convosco, que o livre arbítrio estará ligado de modo a não poder separá-la de vós.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 10 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

São Pio X, Catecismo Maior, 918

Concílio Vaticano II

Santa Catarina de Sena, Orações e elevações

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Edições Theologica

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Espírito de fortaleza”

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