ESPÍRITO CONSOLADOR

(Rm 14, 17)

 

“O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”.

 

O reino de Deus não é COMIDA ou BEBIDA, não se estabelece, não progride COMENDO ou BEBENDO; mas é JUSTIÇA, PAZ e ALEGRIA no ESPÍRITO SANTO. O reino de Deus se estabelece com a aquisição da JUSTIÇA que nos põe em PAZ com Deus e produz a ALEGRIA espiritual. Quem compreende isso e com esta disposição serve a Jesus Cristo, é grato a Deus, encontra a complacência divina e é aprovado pelos homens, se concilia a benevolência dos que o rodeiam.

 

ESPÍRITO SANTO: CONSOLADOR PERFEITO

 

Além do nome de Espírito de verdade, Jesus dá ao Espírito Santo o de “Paráclito”, nome grego denso de significado, que pode ser traduzido como advogado, defensor, protetor e consolador. Muitos usam, sem mais, esta última expressão “Consolador”, aceita também pela Liturgia que invoca o Espírito Santo com o título de “Consolador perfeito” e roga para que os fiéis gozem “sempre do seu conforto” (Missal Romano), o que corresponde muito bem à missão do Espírito para com os discípulos depois da Ascensão de Jesus e, portanto, para toda a Igreja. “É bom para vós que eu vá, porque se eu não for, o Paráclito não virá a vós, mas se eu for, vo-lo enviarei” (Jo 16,7). É o Espírito Santo enviado para continuar invisivelmente a obra de Cristo: assiste e conforta os Apóstolos privados da presença do Mestre, fortalece e interioriza sua fé, defende-os e os sustenta nas perseguições, converte-os em arautos valorosos e fiéis até ao supremo testemunho do martírio.

No último ano de seu ministério, proclamara Jesus solenemente: “Quem tiver sede venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, de seu seio correrão rios de água viva”. E comenta o evangelista: “Dizia isto a respeito do Espírito que haviam de receber os que cressem nele” (Jo 7, 37-38). É o Espírito Santo o manancial da água viva da graça, com a qual vivifica os fiéis, sacia seus corações, e os enche de santa alegria, prelúdio da eterna bem-aventurança. São Paulo fala repetidas vezes da “alegria” do Espírito Santo que permanece no coração do cristão ainda no meio das grandes tribulações (1Ts 1,6), acompanhada pela paz. “O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). O cristão possui o segredo da verdadeira alegria, alegria e paz do Espírito Santo, indício de uma consciência tranquila diante de Deus e diante dos homens, de um coração que é morada do Espírito Santo e está inteiramente possuído por ele.

O cristão goza a alegria e a paz do Espírito Santo na medida em que é verdadeiramente dócil às suas inspirações, não lhe opondo resistência. “Não entristeçais o Espírito Santo” (Ef 4,30), recomenda São Paulo, quase suplicando. O trabalho do Espírito Santo no coração dos fiéis é tão delicado, que é necessária fineza espiritual para reconhecê-lo. A sua palavra interior é tão tênue e suave, que só pode ser percebida no recolhimento. O ruído, as distrações, a curiosidade, a vã tagarelice, assim como a agitação proveniente da desordem das paixões, embotam o espírito, impedindo-o de acolher a voz e luz do Espírito Santo. E o impede também de discernir as inspirações autênticas do Espírito Santo, dos movimentos da natureza e dos impulsos pessoais, frutos frequentes do orgulho ou do espírito de partido. O Espírito nunca se contradiz! Ele, único e idêntico, “opera tudo em todos” (1Cor 12,6). Eis porque suas inspirações nunca estão em contraste com a Sangrada Escritura, com a voz autorizada da Hierarquia, com a doutrina da Igreja e com a palavra do Papa. Todo dom ou carisma do Espírito Santo é dado “para utilidade comum”... portanto, para unir e não dividir, “pois Deus não é Deus de confusão, mas de paz” (1 Cor 14,33). Por isso, não somente cada fiel não pode ter inveja dos dons dos outros, mas todos os carismas devem estar sujeitos ao juízo da Igreja. Os antagonismos entre irmãos ou entre os fiéis e a Hierarquia nunca podem ser sugeridos pelo Espírito Santo. Santa Teresa de Jesus, rica de dons, os quais sempre submeteu ao juízo da Igreja, afirma que a alma “fundada na verdade... não se deixaria desviar no mínimo ponto do que ensina a Igreja, ainda que visse os céus abertos”.

Só com esta submissão à Igreja, pode o fiel entregar-se à direção interior do Espírito Santo, sem temer errar. E só assim pode, como os primeiros discípulos, viver cheio “de alegria e do Espírito Santo” (At 13,52), pode contribuir para o bem da comunidade e cooperar, a fim de que caminhe a Igreja “cheia da consolação do Espírito Santo” (At 9,31).

 

Oração

 

Ó Espírito Santo, presente estais em todas as coisas de modo imaterial, sem forma, sem mudança. Permaneceis inefavelmente imutável junto com o Pai, e vos difundis por toda parte e tudo contendes e em todas as coisas habitais inconfundível. Penetrais em nossos pensamentos e nos seres a nós invisíveis. Tudo perscrutais, e, assim sendo, tudo conheceis. Ressoais sem voz  e ouvis as almas que intimamente gritam em silêncio. De todos e em tudo tendes piedade, sem delongas, e os revigorais. Indizível alegria comunicais a todos os seres, onde quer que estejam. Envolveis a totalidade deste universo, tendes todas as criaturas sob vosso poder, com divina luz as iluminais e as cumulais de benefícios com vossa atividade e bondade.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 13 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

R. Schnackenburg, Escritos

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Santa Teresa de Jesus, Escritos

Dídimo, o Cego, De Trinitate II, 4

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Espírito consolador”

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