APARECERAM COMO UMAS LÍNGUAS DE FOGO

(At 2, 3)

 

“Apareceram-lhes, então, línguas como de fogo, que se repartiam e que pousaram sobre cada um deles”.

 

No FOGO encontra-se o simbolismo da ação do ESPÍRITO SANTO, que ao ILUMINAR as inteligências dos discípulos, os faz compreender os ensinamentos de Jesus Cristo, como prometeu na Última Ceia (cfr Jo 16, 4-14); ao inflamar de amor os seus corações, elimina os  seus temores e move-os a pregar Cristo Jesus com valentia. O FOGO, além disso, PURIFICA, tal como a ação divina limpa a alma de todo o pecado.

O Pe. Juan Leal comenta: “Outro sinal sensível do Espírito Santo são as línguas como que de fogo, figuras em forma de línguas vermelhas, parecidas com o vermelho do fogo. As línguas se pareciam ao vermelho vivo e ágil da chama de fogo. Se dividiam e moviam para repousar-se sobre cada um dos presentes”.

O Pe. Lorenzo Turrado diz: “Esse fenômeno pretende chamar a atenção das pessoas reunidas de que algo extraordinário está sucedendo”.

 

I. O fogo transforma

 

Uma massa informe de ferro que não serve para nada, colocada em contato com o fogo torna-se mole, esplendente e pode-se transformá-la em objetos necessários e úteis à vida e ao trabalho.

Muitíssimos produtos animais e vegetais que deixados tais como são não podem matar a fome do homem; quando o fogo os cozinha tornam-se comida sã que alimenta a vida e restaura as forças.

Uma transformação, porém, mais íntima e mais admirável faz nas almas o fogo do ESPÍRITO SANTO. Sob a sua ação silenciosa, porém, ativa e fecunda, o homem, livre já do pecado, pouco a pouco se inflama no amor de Deus, aprecia as coisas celestes e escuta as inspirações santas. A vinda do ESPÍRITO SANTO à nossa alma é o princípio da divinização que a sua permanência irá depois continuando. Sim! Porque ter o ESPÍRITO de Deus é também participar da própria vida de Deus.

Quando Samuel, inspirado pelo Céu, derramou sobre a cabeça de Saul um frasquinho de óleo para consagrá-lo Rei, dirigiu-lhe estas palavras: “O Espírito do Senhor te investirá, e serás mudado num homem inteiramente outro!” (1 Sm 10, 6). “Até agora tens vivido uma vida campestre, tens cuidado somente das tuas ovelhas e dos gados; tens tratado de coisas baixas e vis; mas agora terás em mente pensamentos nobres e altos; o teu modo de viver deverá tornar-se distinto e régio; os negócios que terás em mão já não serão indignos de um rei”. O povo não sabia que Saul era o Rei eleito, mas, quando pôde observar longamente a conduta dele, ficou tão admirado, que dizia: “Saul?! Que foi que se tornou o filho de um pobre pastor?”

Católicos, ainda maiores são as coisas que o ESPÍRITO SANTO faz na alma do homem. Vede. Se Ele não estivesse em nós, nenhum homem jamais teria pensado em se chamar filho de Deus, nem em invocar a Deus como Pai.

Somente no Céu poderemos compreender melhor a nossa dignidade sublime. Quantas almas, um dia, soltaram um grito de surpresa, descobrindo toda a maravilhosa grandeza interior que traziam em si e que talvez houvessem ignorado!

Então o ESPÍRITO SANTO não nos tornou maiores do que o rei Saul?

Ora, se assim é, seja a nossa vida conforme a tanta dignidade. Se temos vivido os nossos dias passados contentando mais o espírito mau do que o Hóspede divino, daqui por diante será mister mudarmos absolutamente.

Direis, acaso, que faz honra ao ESPÍRITO SANTO quem pensa só e sempre nas misérias da terra, nos seus ganhos, ou, pior, quem tem a fantasia sempre atulhada de sórdidas imagens?

Direis porventura que contenta o ESPÍRITO SANTO quem, mesmo sem desprezar a lei de Deus, nunca sente uma palpitação por uma vida mais santa, nunca emprega um esforço para subir mais alto?

Na vida do Venerável Olier lemos que frequentemente ele ouvia uma voz interior que, com suavidade imperiosa, lhe sussurrava: “Vida divina! Vida divina!” A sua existência “assemelhava-se a um santo domingo”. Assim deve ser também de nós. Todo dia ouçamos a voz do ESPÍRITO SANTO que nos chama à vida divina da graça e da virtude, e a nossa existência será deveras um perene domingo.

 

II. O fogo destrói

 

Quantas vezes sucedem-nos ler nos jornais que o fogo destruiu muitas casas, regiões inteiras, acarretando danos incalculáveis! Ai de quem deixasse cair um fósforo aceso num monte de feno, num palheiro! Em poucas horas seria destruído. Este fogo precisamos temê-lo, e, visto que de costume ele advém por desgraças imprevistas, todos põem no seguro quanto possuem. Mas o fogo do ESPÍRITO SANTO não é um fogo que se deva temer: seria o máximo da estultice subtrairmos os nossos pecados – a única coisa verdadeiramente nossa – à destruição que deles faz o Espírito de Deus.

Outrora Sansão, acompanhado por seus pais, dirigia-se à aldeia de Tamnata. E eis que, chegados às vinhas daquele lugarejo, veio-lhes ao encontro um leão feroz que soltava rugidos espantosos. Seu pai e sua mãe, banhados em suor frio, ficaram imóveis pelo horror. Mas Sansão não!  O Espírito do Senhor investiu Sansão, que, sem nada em mão, esquartejou o leão com a facilidade com que faria em pedaços um cabrito.

Católicos, o Demônio, qual leão rugidor, gira em torno de nós procurando poder devorar-nos. Enquanto movemos os nossos passos no caminho da vida, rumo a uma pátria que não é deste mundo, tendo na alma uma viva aspiração a uma felicidade que ainda não vemos, o anjo das trevas detém-nos o passo. O pecado é o nosso maior inimigo, mais nocivo do que qualquer mal, porque nos tira a amizade de Deus e é a ruína da alma. Que valem diante do Senhor as benevolências dos homens, as recomendações junto aos grandes? Quando tivermos de comparecer na presença de Deus precisaremos ter pureza de coração. É tão grande o horror d’Ele ao pecado, que a condenação ao inferno será inevitável, e assim o leão infernal, depois de ferir-nos durante a vida, abocanhar-nos-á horrivelmente depois da morte para nos tornar eternamente infelizes.

Mas nós podemos vencê-lo. Basta invocarmos o ESPÍRITO SANTO, e este, com a sua força, dar-nos-á aquele vigor que Ele infundiu na alma de Sansão. Com o seu auxílio, também nós nos tornamos formidáveis: o ESPÍRITO CELESTE tem o poder de vencer os espíritos infernais.

Portanto, se estamos em pecado e queremos a todo custo tirá-lo de nós, se a tentação quer arrancar-nos a vida da alma, invoquemos o ESPÍRITO SANTO com as próprias palavras da Igreja: “Repele para longe o inimigo, e dá-nos depressa a paz, de modo que, guiados por ti, possamos evitar todo mal”.

 

O ESPÍRITO SANTO DESCEU SOBRE NÓS NO BATISMO

 

Foi terrível a vingança de Deus contra as cidades do pecado: Sodoma e Gomorra. Quando o Senhor não conseguiu achar nem sequer um grupo de justos, decidiu enviar em grande castigo: o dilúvio de fogo.

Ardentes chamas caíram como chuva do céu, e em pouco tempo destruíram as cidades. O fétido dos pecados dos homens provocara a náusea de Deus, e veio o dia da maldição.

Mas, do santo recolhimento do Cenáculo de Jerusalém, elevava-se ao céu, cheiroso como o incenso, o perfume suave da prece. Havia dez dias que os Apóstolos, juntamente com Maria, a Santíssima Mãe de Jesus, apressavam o cumprimento das divinas promessas: finalmente veio o dia das bênçãos.

Não desceu o fogo do castigo, porém o do prêmio. Não o fogo da vingança, porém a chama da misericórdia: já não era preciso punir o pecado, mas sim, difundir a graça e o perdão em todas as gentes.

Na manhã de Pentecostes, cinquenta dias depois da Páscoa, eis que um ímpeto veemente de vento irrompe do céu e abala toda a casa onde com tanto fervor se rezava. Apareceram então chamas que pousaram sobre a cabeça de cada um dos presentes: todos sentiram-se cheios do ESPÍRITO SANTO e começaram a falar em várias línguas. Os estrangeiros que naqueles dias estavam em Jerusalém os ouviram pregar no seu próprio idioma e ficaram todos maravilhados.

O ESPÍRITO SANTO, numa forma invisível, porém verdadeira e real, desceu também sobre cada um de nós no Sacramento do Batismo, e depois, ainda, na Crisma. Desde pequenos, quando sobre os joelhos maternos aprendemos a amar o Senhor, nós nos lembramos da terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Mas depois, temos pensado muito raramente, talvez nunca; e, na prática da nossa vida, vamos adiante como se Ele não existisse ou fosse uma Pessoa que não nos interessa.

Se hoje quisermos conhecer o que é que faz em nós o ESPÍRITO SANTO e o que devemos fazer para possuí-lo em nossas almas, observemos o sinal com que Ele se manifestou aos Apóstolos: o fogo.

Assim como o fogo destrói, assim também o ESPÍRITO SANTO destrói o pecado.

Assim como o fogo transforma, assim também o ESPÍRITO SANTO transforma o nosso coração e as nossas ações.

 

Oração

 

Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor!

Ó Espírito Santo, concedei-me o dom do temor de Deus, para que eu sempre me lembre com suma reverência e profundo respeito da vossa divina presença; trema, como os Anjos, diante de vossa divina majestade e nada receie tanto como desagradar aos vossos santos olhos.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 21 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos

Frei Ambrósio Johanning, Alimento da alma devota, ano de 1910

Edições Theologica

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Apareceram como umas línguas de fogo”

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