CREIO NO ESPÍRITO SANTO (At 19, 2)
“Recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?’ Eles responderam: ‘Mas nem ouvimos dizer que haja um Espírito Santo”.
São Paulo mesmo os considera como cristãos, pois disse que “abraçaram a fé”, que deve entender-se em Jesus Messias. O cristianismo deles, no entanto, era muito imperfeito, pois não haviam ouvido falar do ESPÍRITO SANTO. Não ignoram a existência do ESPÍRITO SANTO “que era conhecido no Antigo Testamento” (Pe. Juan Leal), mas a sua efusão, como realização das profecias messiânicas. À margem das questões sobre a origem e caráter religioso preciso deste grupo de discípulos, a sua simples declaração de ignorância acerca da existência do ESPÍRITO SANTO e o papel que lhe diz respeito na realização das promessas messiânicas, fala-nos da necessidade de pregar a doutrina cristã de maneira gradual, ordenada e completa. A catequese cristã – recorda São João Paulo II – “deve ser um ensino sistemático, não improvisado, seguindo um programa que lhe permite chegar a um fim preciso; um ensino elementar que não pretenda abordar todas as questões disputadas nem transforma-se em investigação teológica ou em exegese científica; um ensino, porém, bastante completo, que não se detenha no primeiro anúncio do mistério cristão, tal como o temos no kérygma; uma iniciação cristã integral, aberta a todas as esferas da vida segundo o Evangelho”.
I. Espírito da verdade
O mau exemplo do pai, e, sobretudo, os divertimentos e a paixão impura, arrastaram ao erro do maniqueísmo (doutrina religiosa pregada por Maniqueu) uma das mais belas inteligências: Agostinho de Tagaste (Santo Agostinho). E, no erro, ele sentia necessidade de um mestre poderoso que o arrancasse dos sórdidos vapores em que se sufocava, para uma região de serenidade. Estudou Platão e escutou Santo Ambrósio. E, se bem que, de dia para dia, se aproximasse da verdade, nunca podia atingi-la. Um dia, com a alma dolorida pelo martírio interior, pôs-se debaixo de uma figueira e suspirava a Deus com lágrimas: “Senhor, até quando terei de tatear assim na dúvida?” Depois adormeceu. Mas naquele momento ouviu-se um grito: “Toma e lê”. Ante essa voz, Agostinho pula, pálido e trêmulo, impelido por uma força interior, toma um livro ao acaso e lê: “Removamos de nós as obras das trevas e revistamo-nos com as armas da luz”. E foi um raio que caiu do alto e os seus olhos viram... e a sua alma viu: ele chorou e creu. De quem era esse grito misterioso? Quem foi que pôde, num segundo, persuadi-lo, decidi-lo e convencê-lo? Não foi um homem: porque os homens ensinam lentamente através de numerosas palavras. Não foi um homem: porque há verdades que repugnam à carne e ao sangue, verdades que quebram a soberba da nossa razão, das quais ninguém pode persuadir-nos senão Aquele que conhece todas as trilhas do coração: o ESPÍRITO SANTO. O ESPÍRITO SANTO ensinou Santo Agostinho, como já ensinara e iluminara os Apóstolos. Os Apóstolos eram rudes e duros de compreender... eram materiais e não julgavam senão com os sentidos... O próprio Jesus Cristo indignava-se, às vezes, com eles. Porém, descido o ESPÍRITO SANTO, de estultos eles se tornaram sábios, de incrédulos tornaram-se a base e a coluna da fé. Quantas vezes também nós temos, talvez, ouvido ressoar um grito como Santo Agostinho, ou temos visto interiormente uma luz nova, como os Apóstolos! Quantas vezes, talvez, também nós, lendo um bom livro, escutando uma pregação, mesmo no meio das ocupações diárias, temo-nos visto iluminar interiormente e libertar de toda dúvida! Era o ESPÍRITO SANTO que nos ensinava a verdade.
II. Espírito de fortaleza
Em Siracusa (cidade da ilha da Sicília – Itália), perante o tribunal de Pascácio (Prefeito de Siracusa) foi arrastada a virgem Luzia (Santa Luzia). A tímida moça não tremia, mas dizia ao juiz: “Tu observas os decretos do teu César, e eu observo a lei do meu Deus, dia e noite”. Diabolicamente, Pascácio ordenou conduzirem-na a um lugar infame (casa de prostituição), e, depois, fazerem-na passar de tortura em tortura. Mas, quando os soldados pegaram nela para levá-la, não conseguiram movê-la um passo e caíram por terra. Recorreu-se à força dos bois, porém, a virgem de Jesus Cristo ficou firme como uma rocha. Todos a acusavam de bruxa e lançavam-lhe em cima amuletos e esconjuros. Pascácio lhe disse: “Qual é a arte mágica que te dá tanta força?” E Santa Luiza respondeu: “É o ESPÍRITO SANTO: sinto-o em mim que diz: mil à tua esquerda e dez mil à tua direita, mas não te tocarão”. Já agora glorificada, a virgem pedia a Deus aceitar a sua vida. Um soldado cortou-lhe a cabeça, e ela achou-se no Paraíso. Também a nossa alma, neste mundo, tem muitos inimigos que quereriam arrastá-la a um lugar infame, e, depois, de pecado em pecado: é o Demônio, são as paixões, é o mundo com as suas lisonjas, o estímulo dos sentidos... os maus companheiros. Quem poderá sustentar-nos na dura guerra da vida, se nos sentimos tão fracos e tão propensos ao mal? Aquele que fortificou a menina (Santa Luzia) de Siracusa: o ESPÍRITO SANTO, que é o ESPÍRITO de FORÇA. Os Apóstolos também não eram pessoas fracas? Todos haviam fugido na hora das trevas, e São Pedro por três vezes perjurou antes que o galo cantasse. Mas, depois de descido o ESPÍRITO SANTO, eles exprobravam (censuravam) intrepidamente aos judeus o seu deicídio (“matar Deus”)... “Recusastes o Santo, o Justo. Pedistes graça para um ladrão homicida, e fizestes morreu o autor da vida”. Espantados, os judeus gritavam: “Calai-vos! Calai-vos!” E eles: “Não podemos calar-nos”. “Podemos sofrer, podemos morrer, mas não podemos trair o Evangelho”. E das palavras passaram aos fatos, e dos fatos ao supremo testemunho do sangue. Que vergonha para nós, que, mesmo tendo recebido o ESPÍRITO SANTO, ainda somos tão vis! Para nós que somos católicos esquecidos do catolicismo, para nós a quem hoje talvez o ESPÍRITO SANTO reprove. Não há mais perseguições cruentas em todos os lugares; porém outra perseguição elevou-se na Igreja: a perseguição do mundo e da sua tirania. É a lei do mundo que, por qualquer meio, é preciso ganhar uma posição. É lei do mundo que perdoar é vileza. É lei do mundo que o prazer impuro é uma necessidade da natureza. E nós, não seremos escravos dele?
III. Espírito de amor
Enquanto São Paulo se achava em Cesaréia, hóspede da casa de Filipe, ali chegou certo Ágabo, profeta. Este tomou o cinto de Paulo e com ele atou as mãos e os pés. Os circunstantes olhavam estupefatos. Mas ele, profetizando, disse: “Deste modo será atado pelos judeus em Jerusalém o homem a quem pertence este cinto” (At 21, 11). Filipe, suas quatro filhas e os discípulos de Cesaréia prorromperam em pranto ante esse triste presságio, e ajoelharam-se diante de Paulo conjurando-o a não mais voltar para Jerusalém. Paulo, porém, respondeu: “Não choreis assim, pois as vossas lágrimas fazem mal ao meu coração. Por minha conta estou pronto, não só a ser atado, mas também a morrer em Jerusalém pelo nome de Jesus” (At 21, 12 ss). Quanto amor! A morte não o assustava, mas ele não podia ver aqueles católicos chorarem: era melhor derramar todo o seu sangue, mas não uma lágrima deles. E é ainda São Paulo que recomenda aos fiéis: “Se alguém vos maldisser, bendizei-o! Se alguém vos fizer mal, fazei-lhe bem. Bendizei e amai”. E alhures diz: “Chorai com os que choram e alegrai-vos com os que se alegram. Eu me tenho feito doente com os doentes: tenho-me feito todo de todos”. Quando os primeiros católicos viam algum pobre na Igreja, cada um se culpava a si mesmo daquela miséria, e todos punham seus bens em comum para que todos se alegrassem igualmente. Os homens que assim falavam e agiam eram os mesmos que, antes da descida do ESPÍRITO SANTO, litigavam para ganhar o primeiro lugar e invocavam fogo do céu sobre as cidades que os recebiam mal. E o ESPÍRITO SANTO, que é ESPÍRITO de AMOR, que transformação terá operado no nosso coração? Quantas invejas, quantos rancores e quantas vinganças ainda acham lugar entre nós! E como é avarenta a nossa mão em distribuir e em ajudar! O amor do próximo é um sinal do amor de Deus: só quando formos capazes de amar o nosso próximo como a nós mesmos, só então é que amaremos a Deus mais do que a nós mesmos.
DESCEU COMO VENTO
São Paulo encontrou em Éfeso um pequeno grupo de fiéis: talvez fossem uns doze (At 19, 2). Perguntou-lhes: Credes no Espírito Santo e o recebestes? Admirados, aqueles se olharam em rosto, e depois responderam: “Mas nem ouvimos dizer que haja um Espírito Santo”. São Paulo teve um frêmito de compaixão e replicou: “Mas como então pudestes ser batizados?” (At 19, 3). A mesma compaixão e a mesma censura o Apóstolo poderia dirigir ainda a não poucos católicos que, se não ignoram o ESPÍRITO SANTO, contudo vivem como se O ignorassem. Para esses, então, foi vão o milagre de Pentecostes. Eram passados cinquenta dias da Ressurreição, e todos os discípulos estavam reunidos no cenáculo. E veio do céu, repentinamente, um som de como se se houvesse levantado uma impetuosa ventania: toda a casa tremeu. Apareceram então línguas como de fogo que pousaram sobre cada um dos presentes. Quem é o ESPÍRITO SANTO, cuja primícia (primeiros frutos) os Apóstolos receberam? Desde os joelhos maternos nós aprendemos a adorá-lO como sendo a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Mas, no dia de Pentecostes, em que a Igreja Católica comemora o mistério da sua descida, quiséssemos conhecê-lO melhor, observemos os sinais com que Ele se manifestou. Desceu como vento: o vento que liberta o céu de toda nuvem significa como o ESPÍRITO SANTO liberta a nossa alma de todo erro e de toda dúvida. Ele é ESPÍRITO da VERDADE. Desceu como um tremor veemente que sacudiu e encheu todo o cenáculo para significar como Ele sabe sacudir as almas, torná-las capazes de falar, de agir e de morrer como heróis. Ele é ESPÍRITO de FORTALEZA. Desceu como um fogo: o fogo que aquece e dilata é símbolo do amor que o ESPÍRITO SANTO acenderia no coração dos fiéis. Ele é ESPÍRITO de AMOR.
Oração
Espírito Santo, concedei-me o dom da piedade que me tornará deliciosos o trato e o colóquio convosco na oração e me fará amar a Deus, com íntimo amor, como a meu Pai, a Maria Santíssima como a minha Mãe e a todos os homens como meus irmãos em Jesus Cristo. Amém.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 22 de junho de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Pe. João Colombo, Pensamentos sobre os Evangelhos e sobre as festas do Senhor e dos Santos Frei Ambrósio Johanning, Alimento da alma devota, ano de 1910 Edições Theologica São João Paulo II, Catechesi tradendae, 21 Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada
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