VINDE ESPÍRITO CRIADOR

(Lc 1, 35)

 

“O Espírito Santo virá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”.

 

Que significa aqui a expressão “cobrirá com sua sombra?” Os diversos significados com que aparece usada – obscurecer, cobrir de trevas, cobrir, velar, proteger, defender – não convém a este respeito, pois aqui não se trata de “proteger” nem de “velar” ou “cobrir”, mas de FECUNDAR.  Esta frase do anjo significa que o ESPÍRITO SANTO – a AÇÃO DIVINA fecundará sobrenaturalmente a Virgem Maria; e que por essa fecundação a virtude do Altíssimo “descerá” sobre ela, “estará” nela, como no tabernáculo. Porém, ao apresentar assim a Virgem Maria como templo, é dizer que o que nela vai morar é Deus; que seu Filho para quem ela vai ser tabernáculo e templo, é o Filho de Deus.

A “sombra” é um símbolo da presença de Deus. Quando Israel caminhava pelo deserto, a glória de Deus enchia o Tabernáculo e uma nuvem cobria a Arca da Aliança (Ex 40, 34-36). De modo semelhante quando Deus entregou a Moisés as tábuas da Lei, uma nuvem cobria a montanha do Sinai (Ex 24, 15-16), e também na Transfiguração de Jesus Cristo se ouve a voz de Deus Pai no meio de uma nuvem (Lc 9, 35).

No momento da Encarnação o poder de Deus enroupa com a sua sombra Nossa Senhora. É a expressão da ação onipotente de Deus. O ESPÍRITO de Deus – que, segundo o relato do Gênesis (1,2), pairava sobre as águas dando vida às coisas – desce agora sobre Maria Santíssima. E o fruto do seu ventre será obra do ESPÍRITO SANTO. A Virgem Maria, que foi concebida sem mancha de pecado (cfr Ineffabilis Deus), fica depois da Encarnação constituída em novo Tabernáculo de Deus. Este é o Mistério que recordamos todos os dias na recitação do Angelus.

 

RECEBEI O ESPÍRITO SANTO

 

Vinde Espírito Criador é o cântico solene que entoado no dia de Pentecostes na Basílica de São Pedro em Roma, jubilosamente ecoa em todas as igrejas do orbe católico. É a Festa do DIVINO ESPÍRITO SANTO, a cuja alegria devemos abrir os nossos corações.

Desde a ETERNIDADE o DIVINO ESPÍRITO SANTO teve sua existência oculta nas profundezas da DIVINDADE. O Antigo Testamento teve um conhecimento vago d’Ele. No Novo Testamento, porém, na aliança da graça de Deus, do amor e da filiação de Deus, o ESPÍRITO SANTO, como Deus se revelou aos homens. Pela primeira vez e pela boca de um anjo o mundo ouviu o seu SANTO NOME. De todas as criaturas, só Maria Santíssima, esposa do ESPÍRITO SANTO, foi achada digna de saber o doce e grandioso mistério do ESPÍRITO SANTO; no momento, naquela hora santíssima da história da humanidade, em que o Verbo se fez homem e veio morar entre nós; quando o anjo do Senhor disse a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti”.

Uma segunda vez o DIVINO ESPÍRITO SANTO se manifestou e já de modo visível, quando o Filho do homem, Jesus Cristo, antes de iniciar sua vinda pública, por São João Batista foi batizado no Jordão.

No dia de Pentecostes, o DIVINO ESPÍRITO SANTO apareceu aos Apóstolos em forma de língua de fogo e sob o ruído de grande tempestade. Pentecostes é a festa do nascimento da SANTA MÃE IGREJA, da IGREJA CATÓLICA... ÚNICA IGREJA VERDADEIRA. É o dia do nascimento da vida em Deus, da vida da graça: Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita em vós? Pergunta-nos o Apóstolo São Paulo, o grande mensageiro do ESPÍRITO SANTO. Somos, realmente, TEMPLOS do ESPÍRITO SANTO; com o Papa São Leão devemos dizer: “Lembra-te, ó homem, da tua alta dignidade!”

A primeira vez que o ESPÍRITO SANTO consagrou a nossa alma, transformando-a em seu TEMPLO, foi no BATISMO. Quando fomos CRISMADOS, o ESPÍRITO SANTO acendeu a lâmpada sagrada dentro do tabernáculo vivo do nosso coração que em toda a Santa Comunhão que fazemos o recebe em seu santo recinto. O Corpo de Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento é essencialmente idêntico àquele que o ESPÍRITO SANTO formou do Sangue puríssimo da Virgem Imaculada.

“Recebei o Espírito Santo”, disse Jesus Cristo aos Apóstolos quando lhes comunicou o poder de perdoar os pecados. Desde então o ESPÍRITO SANTO em cada confissão opera o milagre da ressurreição da alma separada de Deus e morta pelo pecado. Em cada absolvição que a alma do justo recebe, o ESPÍRITO SANTO a adorna mais no esplendor da virtude e na plenitude da graça que lhe confere.

No Sacramento da Unção dos Enfermos é o ESPÍRITO SANTO que mais uma vez conforta a alma para o último combate; é seu “consolador” na hora da máxima tristeza e seu “advogado” no tribunal do eterno juiz.

No Sacramento da Ordem, Ele ESPOSA (toma em casamento) a alma do jovem consagrado a seu Deus e Senhor, para que na patena áurea deste sacramento receba as bênçãos da Redenção, com o fim de comunicá-las às almas dos filhos de Deus pela vida sobrenatural da graça.

No grande sacramento do Matrimônio católico, o ESPÍRITO SANTO une duas almas num amor indissolúvel, vitalício e fiel, para que no cálice argênteo (feito de prata) deste sacramento obtenham a bênção credora de Deus e a comuniquem a novos seres.

Deste modo, o ESPÍRITO SANTO nos é companheiro desde o berço até a morte, desde a hora que recebemos a vela branca no batismo, até que esta mesma vela ilumine o nosso semblante na hora da agonia.

Desde que o ESPÍRITO SANTO apareceu em línguas de fogo, por intermédio da Igreja nos é comunicada sua palavra ardente, palavra da verdade e de alcance eterno. Qual sol fulgente o Evangelho inspirado pelo ESPÍRITO SANTO mostra a todas as almas errantes e vacilantes a última razão de ser, a finalidade exata da vida na terra, o merecimento da dor, a grandeza de Deus, como também a grandeza sobrenatural do homem como filho de Deus, no estado da graça, o valor do tempo e o prêmio da eternidade.

 

Oração

 

Vinde, Espírito Criador, visitai-me e enchei meu coração que vós criastes com a vossa divina graça. Vinde e repousai sobre mim, Espírito de sabedoria e Inteligência, Espírito de conselho e fortaleza, Espírito de ciência, de piedade e de temor de Deus. Vinde Espírito Santo, ficai comigo e derramai sobre mim as vossas divinas bênçãos. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 27 de junho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

Pe. Manuel de Tuya, Bíblia comentada

Pe. João Batista Lehmann, Euntes... Praedicate!

Papa São Leão, Escritos

Lionnet, Il racconto dell’Anunciazione

H. Sahlin, Der Messias und das Gottesvolk

A. G. Hebert, La Vierge Marie, Fille de Sion

Coppens, La Vierge Marie dans l’ Ancien Testament

Max Thurian, Marie Mère du Seigneur

Frei Ambrósio Johanning, Alimento da alma devota, ano de 1910

Edições Theologica

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Vinde Espírito Criador”

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