GUIADOS PELO ESPÍRITO

(Rm 8, 14)

 

“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”.

 

Depois desta advertência que põe os romanos diante da alternativa de uma morte ou uma vida eterna, retoma São Paulo a descrição da vida cristã. O ESPÍRITO que habita nos fiéis estabelece entre eles e Deus uma relação tão estreita, que o único termo apropriado para designá-la é o da filiação. Somos verdadeiramente filhos de Deus, e Deus nos trata como tais. Com efeito, disse São Paulo: “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14).

 

O ESPÍRITO SANTO NÃO VIOLENTA... NÃO OBRIGA O HOMEM

 

“Infunda em nós, Senhor, vosso Espírito seus celestes dons e forme em nós um coração que nos seja agradável” (Missal Romano). Convida-nos esta oração a refletirmos ainda sobre a ação interior do ESPÍRITO SANTO nos fiéis. A graça santificante, as virtudes teologais e morais infundidas no batismo situam o católico no plano sobrenatural e lhe dão a possibilidade de agir sobrenaturalmente, de tender para Deus e para a santidade.

Todavia, o modo de proceder do católico continua humano e, portanto, limitado e imperfeito. A inteligência humana, mesmo depois de iluminada pela fé, continua sempre sem capacidade para atingir a Deus, impotente para conhecê-lO como Ele é! Enquanto vive nesta terra, o homem conhece a Deus “como por um espelho, em imagem”, só no céu vê-lo-á “face a face” (1 Cor 13, 12).

Conhecendo imperfeitamente a Deus, é também incapaz de orientar-se perfeitamente para Ele, de amá-lO efetivamente “com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente” (Mt 22, 37). O caminho que conduz a Deus, e, portanto, as exigências da santidade, só até certo ponto lhe são manifestadas. Muitas vezes não sabe discernir a vontade de Deus a seu respeito, não sabe distinguir o que é mais perfeito e mais agradável ao Senhor.

Se tal é a sua condição, deverá o homem renunciar à santidade? Não! Deus que o quer santo lhe dá também o modo de vir a sê-lo: “O Espírito Santo... vos ensinará tudo” (Jo 14, 26). Infalível é a promessa de Jesus Cristo.

O ESPÍRITO SANTO que “tudo penetra, até as profundezas de Deus” (1 Cor 2, 10), que conhece perfeitamente a natureza e os mistérios de Deus e, ao mesmo tempo, todas as exigências da santidade, como também os limites e as fraquezas do homem, vem em auxílio dele como pai e mestre, para guiá-lo à santidade. Trata-se de magistério interior que, enquanto ilumina o fiel sobre os mistérios divinos, forma seu coração de modo que seja agradável a Deus: “Vinde, ó Espírito Criador, visitai as almas de vossos fiéis, enchei da graça celeste os corações por vós criados” (Veni Creator).

“Todos os que se deixam guiar pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14). Devem os filhos parecer-se com o Pai, ter seu mesmo Espírito. Deu o Senhor a todos os batizados seu Espírito, mas nem todos se deixam guiar por Ele, por isso nem todos realizam sua qualidade de filhos. Só os que se abandonam docilmente à ação do ESPÍRITO SANTO vivem em plenitude a graça da adoção e, como verdadeiros filhos, alcançam sem fim: a comunhão com Deus, no amor.

Enquanto procede o homem por iniciativa própria, incompleta é sua orientação para Deus, porque é sempre um modo humano. Mas quando se deixa guiar pelo ESPÍRITO SANTO, agindo este de modo divino, orienta-o perfeitamente para Deus.

O ESPÍRITO SANTO, com seus dons, age diretamente sobre a vontade do homem, solicita-a, inflama-a e a atrai a si através do amor; ilumina também sua inteligência. Daqui nasce aquele inexprimível sentido de Deus e das coisas divinas que leva o fiel a saborear o Senhor, e que o orienta para as coisas divinas mais que qualquer raciocínio e esforço humano. Deste modo, intui o católico que Deus é o Único, infinitamente acima de todas as criaturas, que merece todo o amor; sente que, diante da amabilidade infinita, tudo o que pode fazer por Deus, nada é. E então se decide ao dom total de si.

É exatamente assim que, sob a ação do ESPÍRITO SANTO, vai a Deus o batizado como filho, inteiramente cativo do amor do Pai, e do desejo de fazer sua vontade. Eis o verdadeiro e único caminho para a santidade.

Poderosíssima e eficacíssima é a ação do ESPÍRITO SANTO. Contudo, o Espírito de amor não violenta o homem: aguarda que siga livremente os divinos impulsos e lhe entregue, por amor, a própria vontade. Se nele encontra resistência, retira suas graças e o deixa na mediocridade. Por isso exorta São Paulo a não viver “segundo a carne”, isto é, segundo as inclinações que levam o homem a afirmar-se e a satisfazer a própria vontade mais ou menos independentemente de Deus; mas exorta-o a viver “segundo o Espírito” (Rm 8, 4). Porque “os desejos da carne são morte, enquanto as aspirações do Espírito são vida e paz” (Rm 8, 6). Eis a vida e a paz dos filhos de Deus: “deixarem-se guiar pelo Espírito!” Tal é a lógica de quem quer viver o próprio batismo: “Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também segundo o Espírito” (Gl 5, 25).

 

Oração

 

Bem o sabeis, Senhor Jesus, não de guia visível tem necessidade o homem... mas, sobretudo, e antes de tudo, de auxílio interior, íntimo e invisível. Vós vos dignastes proporcionar-lhe cura completa e não parcial somente! Não vos contentastes de corrigir o que está na superfície, mas quisestes eliminar o motivo base, a raiz de todos os seus males. Por isso pensastes em penetrar a alma do homem, e vos afastastes dele corporalmente para poder voltar a ele no Espírito. Não quisestes ficar com os Apóstolos como nos dias de vossa vida terrena, mas vos estabelecestes para sempre no seu íntimo, estreitando com eles relações mais diretas e verdadeiras, na virtude do Consolador. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 03 de julho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

Concílio Vaticano II

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

John Henry Newman, Maturidade cristã

Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

 

 

 

 

Este texto não pode ser reproduzido sob nenhuma forma; por fotocópia ou outro meio qualquer sem autorização por escrito do autor Pe. Divino Antônio Lopes FP.
Depois de autorizado, é preciso citar:
Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Guiados pelo Espírito”

www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0466.htm