O ESPÍRITO SANTO E A ORAÇÃO (Rm 8, 26)
“Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis”.
Nestas expansões da nossa alma intervém o ESPÍRITO SANTO para dirigi-la de um modo agradável a Deus. E, assim mesmo, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. “... o Espírito socorre a nossa fraqueza”. Em que consiste nossa fraqueza? Segundo alguns autores antigos, em dois pontos: não sabemos o que pedir nem como pedir. Cornely opina que a fraqueza consiste em que não sabemos o que pedir. Lagrange diz que não sabemos como pedir. “... mas o próprio Espírito intercede por nós”. O Espírito é, evidentemente, o ESPÍRIO SANTO, distinto de nós, que habita em nós. Não é, na realidade, um novo personagem que entra em cena, mas que vive em nós e vem em nosso socorro (cfr Lagrange e Schelkle). A alma cristã é impotente para expressar-se com uma súplica que iguale a sua aspiração e desejo. O ESPÍRITO SANTO vem em nossa ajuda e presta sua colaboração, porque nós não sabemos como pedir para rezar como convém: Se trata de uma súplica impotente e que sente sua impotência sem ignorar seu objeto. Como rezar a Deus e que disposições adotar para tocar o seu coração? Jesus Cristo nos ensinou na oração do Pai-Nosso; porém, isso não afasta as angústias da súplica. Fatigada por seus esforços, descontenta do que vai dizer, a alma não diz nada determinado, e é o Espírito quem reza nela (cfr Lagrange). O Espírito não só põe em nossa alma as disposições requeridas, mas também intercede por nós. O resultado desta intercessão são gemidos que não podem traduzir-se em palavras e, por conseguinte, não correspondem a ideias claras de ordem natural.
O ESPÍRITO VEM EM AUXÍLIO DA NOSSA FRAQUEZA
São nossas relações com Deus essencialmente relações de filhos; devem, portanto, ser cheias de plena confiança e abandono, já que não somos estrangeiros, mas “familiares de Deus” (Ef 2, 19), pertencentes à sua família. Eis porque há de ser a oração cristã a expressão dos sentimentos do filho que gosta de se entreter coração a coração com o Pai e se lança nos seus braços com todo o abandono. Infelizmente, porém, o homem sempre é pecador, e a consciência das próprias misérias e infidelidades procura paralisar seu ímpeto filial, gerando certo temor, pelo que muitas vezes lhe sai espontâneo aos lábios o grito de São Pedro: “Senhor, afastai-vos de mim, que sou um pecador” (Lc 5, 8). Tal se dá, mormente, quando a alma atravessa períodos obscuros de lutas, tentações e dificuldades que tentam lançá-la na agitação e na perturbação, impelindo aquele surto do coração que mergulha em Deus todas as preocupações. Eis, porém, que, num momento, vê-se de repente a alma inundada de nova luz que expulsa todo temor; não é uma ideia, mas certeza nova, íntima, com que profundamente percebe ser filha de Deus e ser Deus seu Pai. É influência do dom da piedade, atuado pelo ESPÍRITO SANTO. Já dizia São Paulo aos primeiros cristãos: “Não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção qual clamamos: ‘Abba, Pai!’ O Espírito mesmo se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus” (Rm 8, 15-16). É, pois, o ESPÍRITO SANTO que infunde no coração este profundo senso de piedade filial, de plena confiança no Pai celeste, aliás, Ele próprio em nós, com gemidos inenarráveis vai sussurrando: “Pai!” Reforça o Concílio Vaticano II este conceito e afirma: “O Espírito Santo habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo. Neles ora e dá testemunho de que são filhos adotivos”. A oração profunda é uma comunicação íntima com Deus; mas quem poderá ensinar ao homem, tão grosseiro e material, as finezas requeridas para tratar intimamente com o Rei do Céu e da terra? Jamais haverá cerimonial num livro devoto capaz de regular, de modo digno, as íntimas relações de amizade entre a criatura e o Criador. Há, porém, um Mestre cuja capacidade é plenamente adequada à familiaridade e cujo ensinamento está ao alcance de qualquer católico. É o ESPÍRITO SANTO: “O Espírito vem em auxílio de nossa fraqueza. Porque não sabemos o que devemos pedir, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). Realidade tanto mais consoladora para quem sabe da própria impotência e incapacidade de tratar com Deus; para quem sente a necessidade de uma oração proporcionada à bondade infinita daquele Deus que amou os homens até se fazer um de nós; e sente ao mesmo tempo a necessidade de uma oração conveniente à soberana majestade, à transcendência infinita do Altíssimo. E eis que o ESPÍRITO SANTO alterna no católico sentimentos de plena confiança e de profunda adoração, de amizade amorosa e de confissão da suprema grandeza de Deus: “Enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho que grita: ‘Abba, Pai!’” (Gl 4, 6); e o mesmo Espírito repete: “... bênção, a glória, a sabedoria, a graça, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos!” (Ap 7, 12). Mesmo quando o nosso espírito está árido, o coração frio e a mente entenebrecida, reza em nós o ESPÍRITO SANTO, e podemos sempre oferecer a Deus a prece do Espírito. Eis a mais verdadeira oração, a mais preciosa, e que certamente será atendida, visto não poder o ESPÍRITO SANTO inspirar sentimentos e desejos contrários ao divino beneplácito, mas “intercede pelos santos (os fiéis) conforme os desígnios de Deus” (Rm 8, 27).
Oração
Ó minha alma, não sentiste alguma vez no íntimo da consciência o Espírito do Filho a clamar “Abba, Pai?” Podes, pois, presumir serdes amada com afeto paterno, tu que te sabes tomada pelo mesmo Espírito com que foi tomado o Filho. Confia... confia, sem a mínima hesitação. No Espírito do Filho reconhece-te filha do eterno Pai, esposa e irmã do Filho. Ó Espírito Santo, só em vós podemos exclamar: Abba, Pai; em vós que rezais pelos santos com gemidos inenarráveis. E se assim rezais em nossos corações, qual será vossa oração no coração do Pai? Em nossos corações sois Advogado junto do Pai, no coração do Pai sois o Senhor nosso. Enquanto nos capacitais para pedir, nos inspirais o que pedir; e assim como nos elevais ao Pai com filial confiança, assim, por vossa benigna misericórdia, inclinais Deus para nós. Amém.
Pe. Divino Antônio Lopes FP (C) Anápolis, 05 de julho de 2014
Bibliografia
Sagrada Escritura Concílio Vaticano II Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina São Bernardo de Claraval, In Cantica Cant. 8, 9; Na festa de Pentecostes 1, 4 Lagrange, Escritos Schelkle, Escritos Cornely, Escritos Pe. Lorenzo Turrado, Bíblia comentada Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura
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