JESUS CRISTO: UNGIDO PELO ESPÍRITO SANTO

(At 10, 37-38)

 

“Sabeis o que aconteceu por toda a Judéia: Jesus de Nazaré, começando pela Galiléia, depois do batismo proclamado por João, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder, ele que passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo, porque Deus estava com ele”.

 

São Pedro, testemunha ocular do batismo de Jesus Cristo, em seu discurso a Cornélio, apresentava este fato como o início da vida apostólica do Senhor: Sabeis o que aconteceu por toda a Judéia: Jesus de Nazaré, começando pela Galiléia, depois do batismo proclamado por João, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder, ele que passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo, porque Deus estava com ele”. Suas palavras fazem eco às de Isaías e do Evangelho.

Em todos os textos, Jesus é apresentado repleto, “ungido” pelo ESPÍRITO SANTO. Como começou sua vida terrena por obra do ESPÍRITO SANTO, assim inicia sua vida apostólica com particular intervenção do mesmo ESPÍRITO: é totalmente possuído pelo mesmo ESPÍRITO e por Ele guiado no cumprimento de sua missão.

De modo análogo, o mesmo acontece ao cristão: com o batismo, nasce para a vida em Cristo, por intervenção do ESPÍRITO SANTO que o justifica e o renova em todo o seu ser, formando nele um filho de Deus. E quando, crescido em idade, deve abraçar, de modo consciente e responsável da vida cristã, intervém o ESPÍRITO SANTO com nova efusão, através da crisma, para confirmá-lo na fé e torná-lo válida testemunha de Cristo. Desenvolve-se toda a vida do cristão sob o influxo do ESPÍRITO SANTO.

Ao narrar o batismo de Jesus Cristo, nota o evangelista Mateus que o Batista não queria aceitar a incumbência: “Sou eu que devo ser batizado por ti e vens a mim?” (Mt 3, 14). Evidentemente não tinha o Senhor necessidade de ser batizado. Todavia, vai ao Jordão, juntando-se com os que iam pedir o batismo de penitência, e insiste, dizendo a João: “Deixa por agora: convém cumpramos assim toda a justiça” (Mt 3, 15). A “Justiça” que Jesus quer é o cumprimento perfeito da vontade do Pai: e, assim, como em resposta àquele gesto tão humilde que o assemelha aos pecadores, revela o Pai ao mundo sua dignidade de Messias e desce o ESPÍRITO SANTO sobre Ele em forma visível.

Condição indispensável ao cristão para fazer frutificar a graça batismal e deixar-se conduzir pelo ESPÍRITO SANTO é a humildade que o leva a procurar, em todas as coisas, a vontade de Deus, acima de qualquer proveito pessoal.

O Pe. Juan Leal comenta: “Refere-se ao nome de Cristo que quer dizer ungido. Deus no batismo revelou que com Jesus estava o Espírito e o poder de Deus para realizar milagres. Segundo Isaías 11, 2; 61, 1, o Messias possui a plenitude do Espírito de Deus”.

 

O DOM DA CIÊNCIA

 

As criaturas são como que vestígios da passagem de Deus. Por esses

vestígios rastreia-se a sua grandeza, poder e sabedoria, bem como todos os seus atributos. São como um espelho em que se reflete o esplendor da sua beleza, da sua bondade e do seu poder: Os céus narram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.

Não obstante, muitas vezes, por causa do pecado original e dos pecados pessoais, os homens não sabem interpretar esse rasto de Deus no mundo e não conseguem reconhecer Aquele que é a fonte de todos os bens: Não souberam reconhecer o Artífice pela consideração das suas obras. Seduzidos pela beleza das coisas criadas, tomaram essas coisas por seus deuses. Aprendam então a saber quanto o seu Senhor prevalece sobre elas — diz a Escrituraporque Ele é o criador da beleza que as fez.

O DOM DA CIÊNCIA permite que o homem veja mais facilmente as coisas criadas como sinais que levam a Deus, e que compreenda o que significa a elevação à ordem sobrenatural. Através do mundo da natureza e da graça, o Espírito Santo faz-nos perceber e contemplar a infinita sabedoria de Deus, a sua onipotência e bondade, a sua natureza íntima. É um dom contemplativo cujo olhar penetra, como o do dom do entendimento e o da sabedoria, no próprio mistério de Deus.

Mediante este dom, o cristão percebe e entende com toda a clareza que a criação inteira, o movimento da terra e dos astros, as ações retas das criaturas e tudo quanto há de positivo no curso da história, tudo, numa palavra, veio de Deus e para Deus se ordena. É uma disposição sobrenatural pela qual participa da ciência de Deus, descobre as relações que existem entre todas as coisas criadas e o seu Criador e em que medida e sentido estão a serviço do fim último do homem.

Uma manifestação do DOM DA CIÊNCIA é o Cântico dos três jovens, como o lemos no Livro de Daniel, que muitos cristãos recitam na ação de graças depois da Santa Missa. Pede-se a todas as coisas criadas que louvem e dêem glória ao Criador: Obras todas do Senhor, bendizei ao Senhor; louvai-o e exaltai-o pelo séculos dos séculos. Anjos do Senhor, bendizei o Senhor. Céus… Águas que estais sobre os céus… Sol e lua… Estrelas do céu… Chuva e orvalho… Todos os ventos… Frio e calor… Orvalhos e geadas… Noites e dias… Luz e trevas… Montanhas e colinas… Todas as plantas… Fontes… Mares e rios… Cetáceos e peixes… Aves… Animais selvagens e rebanhos… Sacerdotes do Senhor… Espíritos e almas dos justos… Santos e humildes de coração… Cantai-lhe e dai-lhe graças porque é eterna a sua misericórdia.

Este cântico admirável de toda a criação, de todos os seres vivos e de todas as coisas inanimadas, é um hino de glória ao Criador. É uma das mais puras e ardentes expressões do dom da ciência: que o céus e toda a Criação cantem a glória de Deus. Em muitas ocasiões, poderá também ajudar-nos a dar graças ao Senhor depois de participarmos na obra que mais glória lhe dá: a Santa Missa.

Mediante o DOM DA CIÊNCIA, o cristão dócil ao Espírito Santo sabe discernir com perfeita clareza o que o conduz a Deus e o que o separa d’Ele. E isto no ambiente, nas modas, na arte, nas ideologias… Verdadeiramente, esse cristão pode dizer: O Senhor guia o justo por caminhos retos e comunica-lhe a ciência das coisas santas. O Paráclito previne-nos também quando as coisas boas e retas em si mesmas se podem converter em nocivas porque nos afastam do nosso fim sobrenatural: por um desejo desordenado de posse, por um apego do coração que não o deixa livre para Deus…

O cristão, que deve santificar-se no meio do mundo, tem uma especial necessidade deste dom para encaminhar para Deus as suas atividades temporais, convertendo-as em meio de santidade e apostolado. Mediante esse dom, a mãe de família compreende mais profundamente que a sua tarefa doméstica é caminho que leva a Deus, se a realiza com retidão de intenção e desejos de agradar ao Senhor; assim como o estudante passa a entender que o seu estudo é o meio habitual de que dispõe para amar a Deus, desenvolver a sua ação apostólica e servir a sociedade; e o arquiteto encara da mesma maneira os seus projetos; e a enfermeira, o cuidado dos seus doentes… Compreende-se então por que devemos amar o mundo (não inimigo de Deus) e as realidades temporais, e como há algo de santo, divino, escondido nas situações mais comuns, que cabe a cada um de vós descobrir.

Deste modo, quando um cristão desempenha com amor a mais intranscendente das ações diárias, está desempenhando algo donde transborda a transcendência de Deus. Por isso, a vocação cristã consiste em transformar em poesia heróica a prosa de cada dia. Esse verso heróico para Deus, nós o compomos com os episódios corriqueiros da tarefa diária, dos problemas e alegrias que encontramos à nossa passagem.

Amamos as coisas da terra, mas passamos a avaliá-las no seu justo valor, no valor que têm para Deus. E assim passamos a dar uma importância capital a esse sermos templos do Espírito Santo, porque se Deus mora na nossa alma, tudo o resto, por mais importante que pareça, é acidental e transitório. Em contrapartida, nós, em Deus, somos o permanente.

À luz do DOM DA CIÊNCIA, o cristão reconhece a brevidade da vida humana sobre a terra, a relativa felicidade que este mundo pode dar, comparada com a que Deus prometeu aos que O amam, a inutilidade de tanto esforço se não se realiza de olhos postos em Deus… Ao recordar-se da vida passada, em que talvez Deus não tenha estado em primeiro lugar, a alma sente uma profunda contrição por tanto mal e por tantas ocasiões perdidas, e nasce nela o desejo de recuperar o tempo perdido, sendo mais fiel ao Senhor.

Todas as coisas do mundo — deste mundo que amamos e em que nos devemos santificar — aparecem-nos à luz deste dom sob a marca da caducidade, ao mesmo tempo que compreendemos com toda a nitidez o fim sobrenatural do homem e a necessidade de subordinar-lhe todas as realidades terrenas.

Esta visão do mundo, dos acontecimentos e das pessoas a partir da fé pode obscurecer-se e mesmo apagar-se em consequência daquilo que São João chama a concupiscência dos olhos. É como se a mente rejeitasse a luz verdadeira e já não soubesse orientar para Deus as realidades terrenas, que passam a ser encaradas como fim. O desejo desordenado de bens materiais e a ânsia de uma felicidade procurada nas coisas da terra dificultam ou anulam a ação desse dom. A alma cai então numa espécie de cegueira que a impede de reconhecer e saborear os verdadeiros bens, os que não perecem, e a esperança sobrenatural transforma-se num desejo cada vez maior de bem-estar material, levando a fugir de tudo aquilo que exige mortificação e sacrifício.

A visão puramente humana da realidade acaba por desembocar na ignorância das verdades de Deus ou por fazê-las parecer teóricas, sem sentido prático para a vida corrente, sem capacidade para impregnar a existência de todos os dias. Os pecados contra este dom deixam-nos sem luz, e assim se explica essa grande ignorância de Deus de que sofre o mundo. Por vezes, chega-se a uma verdadeira incapacidade de entender ou assimilar aquilo que é sobrenatural, porque os olhos da alma estão completamente obcecados pelos bens parciais e enganosos, e fecham-se

aos verdadeiros. Para nos prepararmos para receber este dom, necessitamos de pedir ao Espírito Santo que nos ajude a viver a liberdade e o desprendimento dos bens materiais, bem como a ser mais humildes, para podermos ser ensinados acerca do verdadeiro valor das coisas.

Juntamente com estas disposições, devemos fomentar os atos que nos levam à presença de Deus, de modo a vermos o Senhor no meio dos nossos trabalhos; e fazer o propósito decidido de considerar na oração os acontecimentos que vão determinando a nossa vida e as realidades do dia-a-dia: a família, os colegas de trabalho, aquilo que mais nos preocupa… A oração sempre é um farol poderoso que ilumina a verdadeira realidade das coisas e dos acontecimentos.

 

Oração

 

Ó Fogo Divino, quando, vindo do alto, começais a inflamar o coração do homem, as paixões logo diminuem e perdem a força; seu peso, de grave que era, faz-se mais leve; e na medida em que cresce o ardor, não é difícil sentir-se o coração humano tão leve que tome asas como de pomba.

Ó bem-aventurado Fogo que não consumis mais iluminais! E se consumis, destruís as más disposições para que não se acabe a vida! Quem me dera me envolvesse tal fogo! Fogo que me purifique, tirando do meu espírito, com a luz da verdadeira sabedoria, as trevas da ignorância, a escuridão da consciência errônea. Fogo que transforme em amor ardente o frio da preguiça, do egoísmo e da negligência. Fogo que não permita ao meu coração endurecer-me, mas com seu calor o torne sempre maleável, obediente e devoto, liberte-me do pesado jugo das preocupações e dos desejos terrenos!

Nas asas da santa contemplação que nutre e aumenta a caridade, tanto eleve este Fogo meu coração, que me faça repetir com o profeta: Alegrai a alma de vosso servo; ó Senhor, a vós elevo minha alma. Amém.

 

Pe. Divino Antônio Lopes FP (C)

Anápolis, 30 de julho de 2014

 

 

Bibliografia

 

Sagrada Escritura

São Roberto Belarmino, Escritos

Pe. Gabriel de Santa Maria Madalena, Intimidade Divina

Pe. Francisco Fernández Carvajal, Falar com Deus

M. M. Philipon, Los dones del  Espíritu Santo

São Josemaría Escrivá, Escritos

São João da Cruz, Cântico espiritual, 5, 3

Pe. Juan Leal, A Sagrada Escritura

 

 

 

 

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Pe. Divino Antônio Lopes FP. “Jesus Cristo: Ungido pelo Espírito Santo”

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